<b>Sumário | Editorial</b>

Autores

  • Irene Machado

Resumo

Um dos propósitos que tem orientado a edição de Galáxia é a publicação de trabalhos que provoquem discussões e sejam capazes de introduzir abordagens e metodologias de estudo na área de sua competência a partir, prioritariamente, de um ponto de vista semiótico. O que rege essa “carta de intenções” é a divulgação de temas e problemas atuais, inovadores e norteadores do pensamento. Até agora a sorte não nos deixou à deriva graças, sobretudo, à confiança que os colaboradores depositam na revista. Neste sexto número, Galáxia apresenta contribuições inéditas para se compreender a dimensão sensorial da imagem no cinema e nas artes, a semiótica da guerra, a dinâmica dos gêneros e formatos na comunicação mediada, a noção de design como intervenção cultural, a semiose dos gestos no discurso polí­tico veiculado pela mí­dia, o imaginário e o espaço na cibercultura. Esses são alguns dos temas de que o exercí­cio competente do pensamento sobre a comunicação na cultura não pode prescindir. Para a seção fórum, o incansável investigador da imagem Jacques Aumont nos ofertou uma de suas mais recentes pesquisas sobre a base sensorial da imagem. Em seu ensaio, examina o processo de superposição a partir da continuidade da imagem móvel e da descontinuidade da montagem. Esse é um tema que não apenas redimensiona as bases semióticas do cinema, como também revela a interferência que o processo cinematográfico continua exercendo na constituição da linguagem audiovisual como um todo. A abordagem de Aumont é surpreendente e, até agora, única, daí­ a decisão de dedicar a ela todo o espaço da seção. Trata-se de um trabalho que teve uma edição restrita no Les Cahiers du Musée National d’Art Modern (MNAM) de Paris, uma publicação quadrimestral, editada por Jean-Pierre Criqui (historiador e crí­tico de arte), e voltada para a discussão da arte contemporânea na França. Vinculado ao Centre Georges Pompidou, o MNAM abriga uma das mais importantes coleções públicas sobre a criação no século XX. O texto traduzido por Alexandre Figueiroa é, de certo modo, uma publicação inédita: além da pesquisa iconográfica os tópicos foram especialmente organizados para a publicação em português. Com isso, Jacques Aumont busca criar novos canais de interlocução entre os pesquisadores brasileiros. Galáxia agrade não apenas a Jacques Aumont como também a Jean-Pierre Criqui o prioridade de publicação. Contamos igualmente com a confiança do pesquisador e ensaista Eduardo Neiva, brasileiro radicado nos Estados Unidos, que nos ofertou um trabalho atualí­ssimo sobre um tema que também começa a ganhar projeção e a provocar reflexões mais pontuais: a semiótica da guerra. Neiva é um problematizador de questões e, com isso, estabelece rotas inimagináveis para os temas que analisa. Sua escolha não poderia ser mais rica: como um conflito de proporções da guerra do Peloponeso, pode ser avaliada a partir de um sistema semiótico tão precisamente articulado que é a oração fúnebre. Da análise dessa organização discursiva Neiva extrai lições que se acomodam perfeitamente no cenário de nossa discussão contemporânea sobre a guerra. Redimensionar o discurso polí­tico da guerra por meio dos epitáfios, da cidade, da cultura é uma forma de examinar os diversos ní­veis de semiose propiciadas pelos confrontos de largas dimensões sociais. Uma outra leitura semiótica da guerra nos foi oferecida pelo artista catalão Antoni Muntadas. Muntadas recolheu imagens de gestos de polí­ticos envolvidos na última guerra do Iraque. George Bush, Tony Blair, Saddam Hussein e outros mostram as inflexões de seus pensamentos que ganham toda uma força expressiva em marcantes gestos de mãos. O ensaio dessas imagens consta da capa e também da seção Projeto. O crescimento de oferta de textos recebidos para a organização desta edição de Galáxia nos obrigou a solicitar um trabalho mais intenso do conselho editorial para a seleção de artigos. Agradecemos de antemão o trabalho rigoroso e competente de nossos pareceristas que não mediram esforços para selecionar os textos que contribuem para o aprimoramento do padrão de qualidade de Galáxia. Com isso, podemos publicar artigos sobre questões que formam as balizas que anunciamos como configuradoras do pensamento atual. São eles: a perspectiva e percepção do espaço (por Suely Fragoso); a semiose na canção cubana (por Sidney Molina); a importância da organização sensorial em programas como os reality show (por Fernando Andacht); e, finalizando a seção de artigos, o provocante estudo sobre o imaginário tecnológico da cultura contemporânea (por Erick Felinto). A importância do espaço urbano e da cidade, da percepção na cultura foi um tema que não ficou restrito aos artigos mas foi calorosamente discutido na seção Diálogo, organizado com todo empenho por Lucrécia D´Aléssio Ferrara e seu grupo de pesquisa interdisciplinar sediado na FAU-USP. Durante mais ou menos duas horas, os pesquisadores discutiram suas idéias de design como intervenção cultural no espaço urbano. Para isso, os pesquisadores mostraram a importância das modificações que estão ocorrendo nas áreas de conhecimento envolvidas: arquitetura, design, urbanismo e como a universidade está administrando essas confluências. Não foi apenas o grupo de pesquisa que se dispôs a conversar com Galáxia e enriquecer o espaço de nossa discussão com os temas emergentes de suas pesquisas. Em meio à apertada agenda de lançamento de seu filme documentário Edifí­cio Master, no Recife, Eduardo Coutinho arrumou um tempo para conversar sobre seu cinema cujas idéias resultaram na entrevista. Garantindo nosso compromisso de resenhar os tí­tulos importantes da área, contamos com o trabalho de resenhistas que prontamente concordaram em ler e escrever sobre publicações recentes: a reedição do livro de Glauber Rocha sobre a revisão do cinema brasileiro (por Josette Monzani); as relações entre cinema e literatura, de Sylvie Debs (por Alexandre Figueiroa); o papel da televisão na eleição de Lula, de Antonio Fausto Neto e Eliseo Veron (por Antonio Faro); análises de textos culturais dentro de uma perspectiva semiótica, de Aldo Bizzoch (por Vander Casaqui); as relações entre design e espaço urbano, de Lucrécia d’Aléssio Ferrara (por Raquel Rennó); análise semiótica da televisão, de Fernando Andacht (por Geraldo do Nascimento). As notí­cias deste número destacam a morte de Julio Plaza e de Ilya Prigogine. Graças à prontidão de estudiosos, as idéias e trabalhos dessas personalidades de nosso meio intelectual foram resenhadas.

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Publicado

2007-02-22

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