LEITURAS DE UMA CERTA LOUCURA: A ESCRITURA ENTRE O SINTOMA E A RECRIA AO DE SI

Resumo

Em 1909, a camponesa chamada Pierina - 28 anos, branca, casada, filha de imigrantes, habitante de uma antiga colônia italiana do Rio Grande do Sui - foi internada no Hospício São Pedro, de Porto Alegre, sob a suspeita de sofrer das "faculdades mentais", após ser indiciada em processo criminal por ter afogado sua filha pequena. Lá estando, escreveu algumas cartas nas quais quis contar aos "doutos" e mesmo ao "povo", tudo o que tinha passado em "sua triste vida", e nesse sentido, mobilizou crenças, sentimentos e sensações diversas. Este texto apresenta uma reflexão sobre as diferentes possibilidades de apreensão de uma "escritura" a partir do contraste entre duas leituras de tais cartas: as cartas como um locus privilegiado para uma percepção clara dos "sintomas" de uma certa doença mental ou como um  lugar de rememoração catártica e recriação de si.