“Estremeço de pena pelo barro mortal” Jack Miles e uma Introdução ao Livro de Jó

Autores

DOI:

https://doi.org/10.19143/2236-9937.2018v8n16p293-321

Palavras-chave:

Bíblia Hebraica, Exegese da Bíblia Hebraica, Jó, Jó 42, 1-6, ironia

Resumo

A partir do romance literário “Deus. Uma Biografia”, de Jack Miles, o artigo defende a hipótese de que Jó 3,1-42,6* constitua o cerne original crítico de Jó, ao qual, na forma de moldura, se acrescenta o prólogo (Jó 1-2) e o epílogo (42,7-17) conservadores. A despeito do caráter literário de sua obra, Miles contribui exegeticamente para a correção da interpretação tradicional de Jó 42,1-6, que se traduz não como capitulação do personagem, mas como ratificação de sua atitude presente em todo o corpo poético da obra. Com base na tradução de Jó 42,1-6 de Jack Miles, o artigo aprofunda as implicações exegéticas da tradução proposta. Em primeiro lugar, aprofundando a atitude crítica do personagem, que, a despeito do breve exercício exegético aplicado a Jó 42,1-6 pelo romancista, não foi suficientemente considerado, por força do caráter expressamente pós-crítico do romance. A tradução de Miles implica hermeneuticamente na mais radical crítica ao caráter divino da Bíblia Hebraica. Em segundo lugar, no campo da Introdução ao Livro de Jó, considerar uma história da cooptação conservadora do núcleo poético original como estratégia de sufocamento da crítica original.

Biografia do Autor

Osvaldo Luiz Ribeiro, Faculdade Unida de Vitória

Programa de Mestrado Profissional em Ciências das Religiões

Faculdade Unida de Vitória

Pós-doutor em Ciências da Religião (UFJF)

Doutor em Teologia (PUC-Rio)

Referências

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista. São Paulo: Paulinas, 1989.

A BIBLIA SAGRADA. Velho Testamento e Novo Testamento. Versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo com os melhores textos em hebraico e grego. 13 impressão. São Paulo: Candeia; Rio de Janeiro: IBB, 2000.

ALONSO-SCHÖKEL, L. Dicionário bíblico hebraico-português. São Paulo: Paulus, 1997.

BRUEGGEMANN, W. Teologia do Antigo Testamento. Testemunho, disputa, defesa. São Paulo: Paulus; Santo André: Academia Cristã, 2014.

CHERNEY, K. A. Exegetical Brief: Did Job ‘Repent’? (42:6). Wisconsin: Wisconsin Lutheran Seminary, 2014.

CLINES, D. J. A. O Deus de Jó. Concilium – Revista Internacional de Teologia, n. 307, 2004, p. 42-56.

DOAK, B. R. Monster Violence in the Book of Job. Journal of Religion and Violence, v. 3, n. 2, 2015, p. 269-287.

FROST, R. A masque of reason. New York: Henry Hold and Company, 1945.

HABEL, N. C. O veredicto sobre Deus e Deus no final do livro de Jó. Concilium – Revista Internacional de Teologia, n. 307, 2004, p. 28-41.

HOFFMAN, Y. A Blemished Perfection. The Book of Job in Context. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1996.

INGRAM, Virginia. The Book of Job as a satire with mention of verbal irony. St Mark’s Review, n. 239, 2017, p. 51-62.

KOEHLER, L e BAUMGARTNER, W. The Hebrew and Aramaic lexicon of the Old Testament. V. 1. Leiden: Brill, 2001.

KURIAKOS, J. The Book of Job: a Greco-Hebrew rhetorical drama. English Language and Literature Studies, v. 6, n. 2, 2016, p. 72-78.

LEITE, E. O silêncio de Jó: O Livro de Jó e a critica sapiencial à teologia sacerdotal. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 4, n. 10, 2011, p. 23-34.

MANASSÉ, A. De cara al creador. (Lectura de Job em diálogo con La moprdedura de La nada de Ramón Kuri. Analogín Filosófica, v. 26, n. 2. 2012, p. 41-56.

MATHEWSON, D. Death and survival in the Book of Job. Desymbolization and Traumatic Experience. New York: T. & T. Clark, 2006.

MILES, J. Deus. Uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

MILES, J. God. A biography. New York: Vintage Books, 1996.

PARSONS, G. W. Literary features of the Book of Job. Bibliotheca Sacra, v. 138, n. 551, 1981, p. 213-229.

PERDUE, L. G. Wisdom in revolt. Metaphorical theology in the Book of Job. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1991.

PINKER, A. The core story in the Prologue–Epilogue of the Book of Job. The Journal of Hebrew Scriptures, v. 6, 2006, p. 1-27.

RENDTORFF, R. Antigo Testamento. Uma Introdução. Santo André: Academia Cristã, 2009.

RIBEIRO, O. L. “Morte de Deus” e(m) Literatura - esboço angular de síntese entre Literatura, Teologia e Política. In: CABRAL, J. S. e BINGERMER, M. C. Finitude e mistério. Mística e literatura moderna. Rio de Janeiro: Mauad e PUC-Rio, 2014, p. 53-80.

RIBEIRO, O. L. “Com seu vento, ele pôs Yam em sua rede” – proposta (de H. R. [Chaim] Cohen) de correção do texto de Jó 26,13a na BHS. Horizonte, v. 13, n. 38, 2015, p. 862-877.

SAFIRE, W. The first dissident: the book of Job in today's politics. New York: Random House, 1992.

SCHNIEDEWIND, W. How the Bible became a book. The textualization of Ancient Israel. Cambridge: Cambridge, 2004.

SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, L. O Livro de Jó. In: ZENGER e outros. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003.

SCHWIENHORST-SCHÖNBERGER, L. Um caminho através do sofrimento. O Livro de Jó. São Paulo: Paulus, 2011.

STORDALEN, T. The Canonical Taming of Job (Job 42:1-6). In: JARICK, J. (org). Perspectives on Israelite wisdom. Proceedings of the Oxford Old Testament Seminar. London: T. & T. Clark, 2016, p. 187-207.

VAN HECKE, P. “Mas eu quero falar com o Todo-poderoso” (Jó 13,3). Jó e seus amigos a respeito de Deus. Concilium – Revista Internacional de Teologia, n. 307, 2004, p. 18-27.

VAN WOLDE, E. Job 42, 1-6: The Reversal of Job. In: BEUKEN, W. A. M. (org). The Book of Job. Leuven: University Press, 1994, p. 223-250.

Downloads

Publicado

2018-12-23

Como Citar

Ribeiro, O. L. (2018). “Estremeço de pena pelo barro mortal” Jack Miles e uma Introdução ao Livro de Jó. TEOLITERARIA - Revista De Literaturas E Teologias, 8(16), 293–321. https://doi.org/10.19143/2236-9937.2018v8n16p293-321