Vivendo a Arte – O Pragmatismo e a Estetização da Vida

Autores

  • Ricardo Nascimento Fabbrini

Palavras-chave:

Estética, Arte popular, Pragmatismo, Experiência da pósmodernidade, Rap

Resumo

O objetivo de Pragmatist aesthetics, de 1992, de Richard Shusterman, é mostrar que o livro Art as experience, de 1934, de John Dewey, é uma obra-chave para a estética contemporânea, pois permite analisar a continuidade entre a experiência estética e os processos normais da vida, no interior da dita sociedade pós-moderna. Shusterman contrapõe a estética pragmatista à estética analítica, pois essa privilegia a análise do objeto de arte em detrimento da experiência estética; e, à estética continental, em particular ao marxismo austero, sombrio e elitista, atribuído a Theodor W. Adorno. Nosso objetivo, neste ensaio é mostrar que a autonomia da obra de arte autêntica, defendida por Adorno, foi interpretada por Shusterman como o isolamento da arte do mundo material e real da práxis, o que implicaria a neutralização de seu potencial de crítica social. Esse juízo de Shusterman decorre de sua identificação entre a autonomia da obra de arte e o esoterismo artístico, desconsiderando que a defesa da autonomia da arte moderna é inseparável do programa vanguardista do início do século, de estetização da vida. Diferentemente desse ideário vanguardista, Shusterman pensa, entretanto, a estetização do real no plano da sociedade de consumo, ou seja, a partir dos meios de comunicação de massa. É a cultura popular (pop) como o rap, que, assumindo um caráter eminentemente político, pode, segundo o autor, violar os ideais de pureza e integridade de certos formalismos artísticos. Destacamos, por fim, que o intento de Pragmatist aesthetics é reagir às críticas da estética analítica e continental, afirmando a realidade estética, e a dimensão política, da arte popular; e que a consolidação da estética pragmatista no interior da filosofia americana depende, desde sua publicação, da produção de ensaios que interpretem obras singulares da arte popular situando-as em contextos históricos cuidadosamente constituídos; se isso ocorrer, esse livro de Shusterman terá cumprido sua função: a de programa para outros trabalhos.