A Teologia e os Novos Areopágos (os lugares teológicos)

Autores

  • Donizete José Xavier

DOI:

https://doi.org/10.23925/rct.i93.43751

Resumo

Perguntar pelo lugar ou lugares da teologia é perguntar pela sua natureza e seus fundamentos. É discernir seus novos Areópagos, lugares eclesiais, sociais e históricos que oferecem garantias para que a revelação de Deus seja ouvida e acolhida. É buscar a racionabilidade de uma fé que se articule com a elaboração intelectual de uma reflexão coerente e significativa, a todos que acolhem, imaginativamente e com esperança, a relação dialógica e amorosa entre Deus e a pessoa humana. Hoje somos, cada vez mais, conscientes de que a teologia existe, germinalmente, em tantos lugares onde a Palavra de Deus é dirigida ao ser humano e acolhida eticamente por ele. Diante disso, a teologia não pode deixar, à margem da sua reflexão, o conteúdo fecundo que uma experiência cultural lhe oferece. Ela deve reencontrar o significado das praças públicas como lugar onde se agitam as questões pertinentes que indagam e preocupam toda a sociedade em que vivemos. Esperamos que os textos que compõem o presente volume da nossa revista possam contribuir para uma discussão profunda, motivada pelo desejo de acolher uma experiência cultural e eclesiológica em diálogo e continuidade crítica com as situações de injustiças e os apelos dos “sinais dos tempos”. Nessa perspectiva, Susana Vilas Boas, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa em Braga e membra da European Society for Catholic Theology, em seu artigo Catéchèse de l'expérience: un défi pour nos jours, aborda a questão da pastoral e do método catequético como um grande desafio para as comunidades eclesiais e para a Igreja Universal. A partir de várias perguntas de cunho pastoral, a autora procura demonstrar diferentes caminhos para uma catequese que possa estabelecer uma relação estreita entre a realidade atual, a pedagogia divina e a identidade cristã. O artigo se pauta em uma perspectiva de esperança e de abertura à ação de Deus como manifestação, força e vida das comunidades de fé. A autora Maria de Lurdes Correa Lima, em seu artigo Culto no Israel do Norte, no século VIII a.C.: a concepção do livro de Oseias, ressalta que os textos do profeta dão acesso à compreensão, na ótica do livro, da situação religiosa do Israel do Norte no século VIII a.C. Considerado o contexto literário, a análise terminológica permite identificar três formas de culto criticadas pelo profeta e, com isso, delinear os critérios principais que orientam suas palavras: a importância da instrução sacerdotal acerca das tradições israelitas e o “conhecimento de Deus”. Danilo Dourado Guerra, em Apontamentos sobre cristologia joanina: pressupostos epistemológicos da saga cristológica do herói do quarto evangelho, procura fornecer alguns substratos teóricos interpretativos para um ensaio de decodificação da enigmática face do Jesus apresentado no Quarto Evangelho. O primeiro substrato teórico a ser apontado diz respeito ao âmbito dialógico entre a cristologia joanina e o restante do arcabouço cristológico neotestamentário. A segunda camada teórico-interpretativa abordada alude aos vetores interpretativos circunstanciais da vida da comunidade joanina, que corroboram ou influenciam na construção da imagem do herói do Evangelho. Gilvan Leite de Araujo, em Maria Madalena, reafirma que a personagem emblemática do Quarto Evangelho pertence ao imaginário popular e tem servido de inspiração para romances e pinturas, entre tantos outros. Habitualmente, é concebida como uma prostituta que teria se arrependido e lavado os pés de Jesus. Sabe-se que foi a primeira pessoa a ver o Ressuscitado, segundo as narrativas evangélicas. No Quarto Evangelho, é apresentada nas narrativas da paixão e da ressurreição. O autor se ocupa em perguntar: quem, de fato, é essa extraordinária mulher na ótica joanina? Passando pelos Evangelhos Sinóticos, procura situar a figura de Maria Madalena no Quarto Evangelho, fornecendo melhor compreensão dessa intrigante mulher.

Heitor Carlos Santos Utrini nos fala do sonho de uma “Igreja Samaritana”. Analisando a perícope de Lc 10,25-37 como paradigma do agir cristão a partir do Documento de Aparecida, ressalta que, entre todos os textos bíblicos citados pelo Documento de Aparecida, a passagem do “Bom Samaritano” funciona como chave de leitura para o texto. Por outro lado, a própria Igreja, em sua estrutura, é atingida por esse apelo ético-evangélico. Hernane Santos Módena e Ney de Souza, em Medellín e a “Pastoral popular”: A evangelização a partir da base, abordam, de forma analítica o documento sobre a Pastoral Popular, produzido pela II Conferência do Episcopado Latino-Americano em Medellín – Colômbia. O texto evidencia como as inversões eclesiológicas presentes nos documentos do Vaticano II foram decisivas e fundamentais para uma nova relação da Igreja com o mundo contemporâneo. Na América Latina, Medellín, além de acolher as decisões da assembleia conciliar, também adotou o método utilizado pelo Concílio, sobretudo pela Gaudium et Spes, o ver-julgar-agir. Por meio da leitura dos “sinais dos tempos”, a realidade dos povos latino-americanos, principalmente a dos pobres e a dos que mais sofrem, pôde ser contemplada, questionada, iluminada pela Palavra de Deus e discernida, para, então, propor uma nova ação evangelizadora. Karla Christine Araújo Souza, Joscelito Marques Ferreira e Ailton Siqueira de Souza Fonseca, em Práticas e saberes de Francisco: de Assis para a humanidade do passado e do presente, ressaltam que a vida de Francisco de Assis apresentou práticas, como a integração com o outro, o cuidado, a metanóia, a esperança e a emergência dos arquétipos, que podem auxiliar a compreender e construir soluções criativas que contribuam para desbancar a crise sistêmica atual. Elias Wolff e Raquel de Fatima Colet, em Fronteiras eclesiais no Pontificado de Francisco, afirmam que, para compreender o pontificado de Francisco, é preciso analisar os percursos fronteiriços pelos quais ele transita. Para os autores, o papa Francisco faz o discernimento das fronteiras que se justificam evangelicamente na igreja e aponta para a superação daquelas que não se legitimam na proposta de uma “igreja em saída”, por um processo de reformas como permanente conversão pastoral. Lisâneos Francisco Prates, em Renovação da Vida Religiosa Consagrada: indicações do Papa Francisco, afirma que a Vida Religiosa Consagrada nasceu no coração da Igreja e do mundo para ser sinal de comunhão, tendo como proposta uma missão carismática na diversidade e na singularidade de cada carisma. Por outro lado, a figura carismática do Papa Francisco e sua inspiração renovadora da missão da Igreja trazem consigo a proposição de renovação da Vida Religiosa Consagrada e a consoante atualização de sua missão carismática no atual momento cultural da história. Cirio Alezzandro Jacito, em A Ressurreição de Jesus sob a categoria de “Promessa”: uma contribuição a partir da Teologia da Esperança de J. Moltmann, afirma que, sob a lente da ideia de “promessa” e a partir dela, é possível olhar para o túmulo vazio e para a experiência que levou os discípulos a acreditarem na Ressurreição e apontar algumas reflexões acerca do compromisso social, que procedem da fé na Ressurreição. Fernando Cardoso Bertoldo, em Um possível diálogo entre teologia e psicanálise a partir de Jürgen Moltmann e Sigmund Freud, desenvolve um diálogo entre a teologia de Moltmann e a psicanálise de Freud a partir do conceito de onipotência nas teorias freudianas, dialogando com o conceito da natureza humana de Deus segundo Jürgen Moltmann. Paulo Sergio Gonçalves, em Nova Teologia Política: memória passionis e mistica de olhos abertos, analisa filosófico e teologicamente as categorias memoria passionis e “mística de olhos abertos”, desenvolvidas na nova teologia política de Johann Baptist Metz. Para atingir o objetivo proposto, o autor expõe a pertinência e a relevância da nova teologia política em termos contemporâneos, cuja concentração bibliográfica remete aos primórdios dessa teologia. Consequentemente, espera-se, com a análise apresentada, contribuir com o debate sobre a teologia política no contexto de pós-modernidade e de globalização, em que se requer da teologia fidelidade ontológica ao que ela é: discurso contemporâneo sobre Deus. Márcio Luiz Fernandes e Cleiton Costa de Santana, em Dom e Carisma na economia: reflexões a partir do pensamento de Chiara Lubich, aproximando do carisma e do pensamento de Chiara Lubich e perscrutando, nesses, os elementos antropológicos e a lógica relacional que sejam capazes de infundir a economia, entendem que, como realidade comunitária, o carisma engendra e fortalece, nas relações, a dinâmica do dom, sendo capaz de realocar a lógica instrumental para aquelas relações que são estritamente instrumentais. Os autores apresentam a Economia de Comunhão como exemplo concreto de realização econômica que busca estabelecer novas formas de pensar e agir na economia. Sergio Lucas Camara, Tiago Gurgel do Vale e Marlise Aparecida Bassani, em A preparação dos padres para lidarem com a situação de morte no Brasil: uma revisão documental e crítica, realizam uma revisão documental crítica de como a Igreja Católica considera, em seus documentos oficiais, a preparação dos clérigos para lidar com a situação de morte, com orientações para a prática pastoral no Brasil, a partir do Concílio Vaticano II. Maria Cristiane dos Santos e Mathias Grenzer, em Quem é o próximo? A procura da personagem presente na formulação jurídica em Lv 19, 18c, comunicam que a lei em Lv 19,18c prescreve, de forma imperativa, o “amor ao próximo” e que, na perspectiva pentatêutica, o conceito de “próximo” precisa ser aplicado de forma mais abrangente. Por fim, nossa revista nos apresenta duas resenhas elaboradas pelos nossos autores. Elton Nunes e Ney de Souza analisam a obra de LEMAHNN DA SILVA, Nelson. A Religião Civil do Estado Moderno. 2. ed. rev. e aum. Campinas: vide, 2016. Emerson Sbardelotti analisa a obra UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Utopias do Vaticano II. Que sociedade queremos? – Diálogos. São Paulo: Paulinas, 2013.

Desejo a todos os leitores uma boa leitura.

Prof. Dr. Donizete José Xavier

Editor Científico

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Publicado

2019-06-30

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Editorial