Algumas considerações sobre a relação fonoaudiólogo-criança

Autores

  • Lúcia Helena Figueiredo Neto Universidade Católica de Pernambuco

Resumo

A relação terapêutica em Fonoaudiologia é aqui discutida enfocando-se a relação social adulto-criança. O vínculo fonoaudiólogo-criança é tratado a partir da determinação histórico-social que o permeia, sendo ressaltada a presença do jogo de interesses (de poder) entre o terapeuta e o cliente.
Na relação adulto-criança, a autoridade do adulto é vista como natural e necessária, já que a criança é socialmente dependente do adulto devido a sua importância fisiológica. Essa condição gera, além da relação de dependência da criança para com adulto, a contra-dependência do adulto para com a criança, à medida que o adulto não pode abdicar do seu papel do provedor de proteção e cuidados à criança.
Essa dependência social recíproca entre adultos e crianças também deve ser considerada na relação terapêutica. Além dela, outros aspectos peculiares à relação profissional são considerados neste artigo. O principal deles refere-se ao poder conferido ao terapeuta ao possuir este um saber específico que lhe permite agir sobre a criança; esta, por outro lado, ao apresentar o distúrbio de comunicação, leva o fonoaudiólogo a sentir-se compromissado a elimina-lo. Surgem dessa condição, formas variadas de jogo de interesse entre fonoaudiólogos e crianças.
Este artigo pretende levantar alguns aspectos sobre a relação fonoaudiólogo-criança numa perspectiva de análise do papel do terapeuta e da criança na vivência clínica do Fonoaudiologia.
No contato com os profissionais da área percebo a tendência de tratar esse assunto sob a ótica da relação indivíduo-indivíduo, com enfoque nas características pessoais (emocionais) de cada um – a subjetividade e a peculiaridade de cada relação são os aspectos mais enfatizados na definição da mesma. Considerando que, tratar a relação tendo como única referencia o aspecto afetivo, individualizante, não corresponde à totalidade de sua compreensão, pretendo chamar a atenção para a dimensão social da questão.
Convicta de que na construção da relação em fonoaudiologia fatores pessoais e sociais se mesclam e se influenciam, o enfoque de análise terá como abordagem teórica principal a relação social adulto-criança, já que o fonoaudiólogo e a criança serão encarados sob o prisma da determinação social que os define. Não se pode deixar de lado que, antes de qualquer especificação advinda da relação terapêutica e simultaneamente à relação inter-pessoal, o terapeuta e o cliente são seres sociais inseridos num determinado contexto histórico-social.