Uma tradução visual e sonora da feira do Ver-O-Peso: em Belém do Pará, a estética na Cultura de Bordas

Autores

  • Marlise Borges Doutoranda em Comunicação e Semiótica, pela PUC-SP
  • Cilene Nabiça Mestranda em Artes, pela UFPA

Palavras-chave:

Cultura de bordas, Ver-o-Peso, Paisagens estéticas

Resumo

Este trabalho se reporta a alguns percursos construídos, onde os sujeitos se apropriam do espaço cotidiano, agregando valores e interferindo em sua totalidade e suas partes, criando estética ambiental, cultural e socialmente vinculada às várias interfaces da realidade. Nessa diversidade, o sujeito constrói seu trajeto imerso na relação cíclica que vai do local para o global e que o transforma de apreciador passivo em tradutor e co-autor das tantas simbologias heterogêneas que compõem seu contexto e intercontexto. Para uma compreensão desses processos expressivos, apresentamos o conceito de “Cultura de Bordas”, definido por Jerusa Pires Ferreira (1990), como a exclusão do centro, aquilo que fica numa faixa de transição entre uns e outros, entre as culturas tradicionais reconhecidas como folclore e aquelas que detêm maior atualização e prestígio; uma produção que se dirige a públicos populares de vários tipos, inclusive àqueles das periferias urbanas, as “bordas”, que, afinal, podem ser entendidas como expressões de grupos com identidades específicas, marcadas por práticas que vão desde a influência típica do folclore, até as supostas culturas mais elaboradas, dotadas de requinte e sofisticação. Apresentamos as culturas de bordas enquanto interferências espaciais, assentadas na feira do Ver-O-Peso, em Belém do Pará (a maior feira ao ar livre da América Latina), onde o trajeto estético cotidiano se manifesta através das expressividades compositivas existentes nas bancas de camelôs, frequentes nas áreas comerciais da cidade. Os produtos populares resistem diante das tecnologias, das novas tendências e designs arrojados. Perfilados, estão na trajetória cotidiana como interferências estéticas abertas a outras tantas interferências dos sujeitos envolvidos, personagens que criam e recriam as infindáveis paisagens estéticas. É certo que existem múltiplas identidades no espaço de expressão em que estes sujeitos intervêm, se apropriam e provocam. Há os que transgridem e agridem, os que revelam em infindáveis possibilidades as formas de linguagem e expressão que somente o ato humano é capaz de realizar com tamanho dinamismo. Rastrear o trajeto estético das intervenções das culturas de bordas refaz o ato do olhar, transforma conceitos e interpretações, recria sons e formas, pois adentra no movimento do imaginário coletivo, onde estão as falas, as identidades culturais e sociais. Através da fragmentação dos acontecimentos estéticos decodificados em sons e imagens, acompanhamos o processo rotineiro das manifestações, fruto do trabalho informal, da sobrevivência, da ilegalidade e do fugidio. O rastreamento estético absorveu o fenômeno revelado através da “decupagem” dos impulsos sonoros e visuais e re-significou a relação espacial entre sujeito e objeto, buscando a subjetividade presente na atmosfera híbrida que alimenta a dinâmica dos movimentos expressos em som e imagem.

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