COGNITIO-ESTUDOS

Revista Eletrônica de Filosofia
Philosophy Eletronic Journal
ISSN 1809-8428

São Paulo: Centro de Estudos de Pragmatismo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Disponível em http://www.pucsp.br/pragmatismo

Vol. 9, nº.1, janeiro-junho, 2012

Pag.I

EDITORIAL

Dando continuidade ao projeto editorial do Centro de Estudos de Pragmatismo (CEP) da PUC-SP, no intuito de promover um crescente diálogo nacional e internacional no âmbito filosófico proporcionado pelo Pragmatismo, trazemos à luz este primeiro número de 2012 da COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia.

Como certamente o leitor notará, esse número caracteriza-se por uma ampla variedade de temas, que refletem a diversidade de interesses e perspectivas dos seus autores bem como a complexidade do veio que os une, revelando a presença efetiva de uma comunidade de investigadores que traz temas instigantes para a reflexão filosófica.

Na presente edição, contamos com duas abordagens extremamente ricas sobre a filosofia de William James. Francisco de Assis Razzo, em "Consciência e Experiência no Empirismo Radical de William James", desenvolve uma reflexão acerca da relação entre as concepções de consciência e experiência no interior da epistemologia e da metafísica do empirismo radical de James, explorando detalhadamente dois ensaios do autor, a saber, "A Consciência existe?" e "Um Mundo de Experiência Pura". Com um estilo claro e preciso, Francisco mostra como as dimensões filosóficas da noção de consciência como função do conhecimento na experiência, ajudam a compreender os fundamentos, a gênese e os desdobramentos do empirismo radical como metafísica pluralista, bem como o sentido da superação do dualismo "mente e matéria" e das explicações reducionistas a respeito da consciência.

De outro lado, no artigo "Método e Verdade em William James", Pablo Henrique Abraham Zunino, mostra como o pensamento de James "se constrói em torno de uma peculiar teoria da verdade". A partir da exploração da gênese e das características da teoria da verdade jamesiana, o autor desenvolve uma instigante reflexão acerca de como essa teoria da verdade funciona como "um núcleo a partir do qual podemos compreender a singularidade do método pragmatista", em sua vertente jamesiana e, ao mesmo tempo, acerca de como é possível reconstruir a formulação do problema da concepção de verdade como correspondência, procurando compreender a solução que James oferece para superá-lo.

No artigo "A Pragmatist Philosophy of the City: Dewey, Mead and Contemporary Best Practices", David W. Woods, da Southern Connecticut State University, New Haven, Connecticut, Estados Unidos, nos brinda com uma brilhante e extremamente contemporânea análise sobre o "entrelaçamento entre arquitetura, preservação ambiental e uma arquitetura social fundamentada em uma participação democrática profunda, que pode construir uma natural e socialmente sustentável cidade para o futuro". Woods explora exemplos reais, presentes nas principais cidades do mundo, focando a forma como tais cidades lidam com as questões interligadas da diversidade racial e renda, fortalecimento da comunidade, educação do cidadão e bem comum, a relação entre planejamento da natureza e planejamento do bem-estar humano e quais são algumas soluções que têm surgido dentro do planejamento colaborativo para o uso da terra, transporte, desenvolvimento econômico e sustentabilidade sócio-natural. Todos os exemplos utilizados por Woods são costurados pela abordagem pragmatista proposta por Dewey e Mead e, longe de serem apenas descritivos, apontam diretamente para o futuro, na forma de ações nas quais todos nós estamos envolvidos de maneira direta e responsável.


Mônica Aiub, em seu artigo "Filosofia Clínica e Pragmatismo: aproximações iniciais" mostra os múltiplos sentidos em que a prática da filosofia clínica encontra fundamento no pragmatismo de Charles Sanders Peirce. O conceito de aprendizagem como mudança de hábitos e a recusa de traçar dualidades entre mundo interno e externo no interior do pragmatismo de Peirce são o ponto de partida para uma conexão com o método utilizado pela filosofia clínica, onde "as questões cotidianas são abordadas a partir de suas interações com o universo circundante, observados os padrões de regularidade apresentados na historicidade da pessoa".

Em "Os modos de representação do cinema documentário e o realismo peirciano", Eduardo Tulio Baggio, propõe uma discussão sobre as posturas éticas dos modos de representação do cinema documentário e suas consequentes opções de linguagem diante da pragmática e da semiótica peircianas. O realismo e a fenomenologia de Peirce são o ponto de partida da análise do cinema documentário proposta pelo autor, contrapondo-se aos paradigmas de estudos cinematográficos balizados na dependência da linguagem. O autor busca responder em seu artigo a duas perguntas fundamentais, a saber, uma vez que "a realidade tem independência em relação à linguagem, como pode ser analisado um tipo de mediação que trabalha na tradição de uma linguagem específica - a do cinema - mas que busca uma relação particular com a realidade ao produzir asserções sobre esta? E, como podem ser pensados parâmetros éticos para tais asserções sobre a realidade a partir do realismo peirciano?" Através deste artigo, a revista proporciona ao leitor mais uma oportunidade de refletir sobre como o Pragmatismo e a Semiótica peircianas mostram suas interfaces.

Em quatro outros artigos do presente número da COGNITIO-ESTUDOS, os temas se expandem em abordagens cuja ligação com o Pragmatismo se encontra no profundo diálogo que este sempre procurou travar com as tradições filosóficas que lhe antecederam, bem como lhe sucederam. Assim, seremos presenteados com artigos que tratam do empirismo humeano, do kantismo, do darwinismo e da filosofia da Mente.

No artigo "Argumentos utilizados por Hume para mostrar que a relação causal não existe", Eliene Cristina Praxedes Fernandes analisa os quatro argumentos utilizados por David Hume para rejeitar a ideia de causa necessária e, ao mesmo tempo, mostra a extensão da influência humeana na filosofia moderna. A tradição empirista foi palco de profícuo diálogo com o Pragmatismo, de forma tal que os leitores da revista muito ganharão com as reflexões proporcionadas por este artigo.


A contribuição do opúsculo de Kant intitulado "Sobre o primeiro fundamento da distinção de direções no espaço", datado de 1768, à Doutrina do espaço encontrada na "Estética Transcendental" da "Crítica da Razão Pura" é o tema do artigo de Lucas Amaral, sob o título "The 1768 Opuscule: On the Ultimate Ground of the Differentiation of Regions in Space and its Contribution to the Space theme in Kant's Transcendental Aesthetic". O autor explora, para além da abordagem meramente histórica, alguns pressupostos nem sempre discutidos acerca do Kant anterior à Crítica da Razão Pura, proporcionando ao leitor uma rica fonte de reflexão sobre o kantismo e sua influência sui generis na história da filosofia Moderna e Contemporânea, Pragmatismo incluso.

Em "O que o darwinismo explica?", Edson Cláudio Mesquita Pinto explora os detalhes do poder criativo da seleção natural no âmbito da Biologia Evolutiva, discutindo a questão do real poder explicativo do programa adaptacionista. O chamado "poder criativo da seleção natural" é "o que a torna diferente, justificando, em parte, a pressuposição adaptacionista que elege a seleção natural como um processo ímpar para a evolução." Nem é preciso dizer o quanto o darwinismo influenciou as origens do Pragmatismo, sobretudo Peirce. Assim, este artigo oferecerá ao leitor um rico manancial especulativo sobre o qual se debruçar detidamente.

Contamos também com a inestimável contribuição de Everaldo Cescon e Gleyson Dias de Oliveira, no artigo "As Teorias não reducionistas da Consciência", cuja temática explora as reflexões da Filosofia da Mente acerca da conexão entre os fenômenos mentais e o comportamento, ou, mais especificamente, acerca da ligação entre a mente e o cérebro. O artigo aborda as teorias não reducionistas da consciência através da análise de caminhos indicados por Frank Jackson, Thomas Nagel e David Chalmers.

Por fim, o presente número da COGNITIO-ESTUDOS, inclui em seu repertório duas cuidadosas resenhas. Na primeira, de autoria de Marcelo Fischborn, nos é apresentado o livro "The Scientific study of Dreams" de William Domhoff. Na segunda, sob o título de "Os novos paradigmas entre ciência pragmática e religião", Marcel Henrique Rodrigues nos apresenta o livro "Pertencendo ao Universo: Explorações nas fronteiras da ciência e da espiritualidade", dos autores Fritjof Capra, David Steindl e Thomas Matus.

Esperamos, com esta breve apresentação, ter instigado os leitores da COGNITIO-ESTUDOS a, sem demora, mergulhar no estudo das tão diversas quanto profundas abordagens sobre o Pragmatismo e outras correntes da Filosofia presentes nesta edição, mantendo acesa a continuidade e seriedade de sua proposta editorial.



Rodrigo Vieira de Almeida
Editor Assistente/COGNITIO-ESTUDOS
Centro de Estudos do Pragmatismo, PUC-SP, Brasil