COGNITIO-ESTUDOS, V.7, N.1, janeiro-junho, 2010

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EDITORIAL

Em seu primeiro número de 2010 a COGNITIO-ESTUDOS evidencia a consolidação das pesquisas sobre o pragmatismo no Brasil, tanto pelo volume quanto pela qualidade dos artigos reunidos neste volume. Tal resultado, por sua vez, não seria alcançado sem o persistente trabalho dos centros de estudos de pragmatismo na formação de pesquisadores e em sua divulgação através de encontros e publicações. Ao lado de centros de referência, como o Centro de Estudos de Pragmatismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (CEP/PUC-SP), vemos surgir novos grupos em várias partes do país, o que permite uma maior pluralidade de pontos de vista e o consequente enriquecimento do diálogo.

Especificamente sobre o pragmatismo peirciano, temos o artigo de Gilberto César L. Rodrigues e João A. de Moraes, em que discutem o conceito peirciano de informação genuína no contexto da ação significativa, a partir da hipótese de que a ação é o movimento regido por informação genuína. Enquanto Vinícius Romanini explica porque a dedução não é uma inferência genuína, embora tradicionalmente figure, ao lado da abdução e da indução, como modos de inferência. Em seu artigo, Romanini acompanha a intensa inquirição de Peirce sobre esse tema a partir da hipótese de que a dedução seria, na verdade, apenas uma estratégia de revelação das relações lógicas baseada em abduções e induções. René A. Dentz, em seu artigo Percepção e generalidade em Charles Peirce, destaca o papel da metafísica na investigação do estatuto ontológico dos objetos, ou perceptos, inscritos em nosso espaço semiótico de ação. O autor apresenta as conexões entre o realismo de Peirce e as noções de generalidade e continuidade de modo a nos fornecer uma chave que permite compreender como tais elementos se articulam no sistema peirciano. Ainda no campo da metafísica peirciana, Tiago da Costa e Silva realiza em seu artigo uma análise comparativa entre o idealismo objetivo em Schelling e a gênese da estética de Peirce, tendo como fio condutor os conceitos de primeiridade, segundidade e terceiridade, que permitem acompanhar como a estética está presente em vários momentos da filosofia peirciana.

José Renato Salatiel nos brinda com a segunda parte de seu artigo sobre as fontes gregas da teoria do acaso ou tiquismo (a primeria parte publicada no V6, N2 desta Revista). Desta vez, analisando as influências de Aristóteles na teoria de Peirce. No presente artigo, Salatiel explica como os conceitos aristotélicos de potência e de possibilidade se aproximam mais do que Peirce pretendia com sua ontologia do acaso e fornecem suporte ao seu pragmatismo.

Temos ainda, neste número, três estudos comparados sobre o filósofo John Dewey. Ivan F. da Cunha discute a relação entre Rudolf Carnap e o pragmatismo de Dewey, mostrando que não há um desacordo fundamental entre os dois autores, mas apenas uma diferença de abordagem. Segundo Cunha, é possível entender a teoria da valoração de Dewey como uma ciência empírica legítima no sentido de Carnap, o que permitiria um ponto de contato entre ambos os autores. Por seu turno, Edna M. M. do Nascimento analisa a apropriação do pragmatismo de John Dewey segundo Richard Rorty, para verificar até que ponto a "metafísica empírica" de Dewey, tão combatida por Rorty, pode ser alterada para se tornar consistente com o projeto rortyano do neopragmatismo. Finalmente, Caroline Elisa Murr investiga até que ponto poderíamos considerar as ideias filosóficas de Erwin Schrödingüer como pragmatistas, a partir da rejeição do autor dos dualismos, como sujeito/objeto e teorias/fatos, presentes principalmente nos últimos textos de Erwin Schrödinger.

A estratégia anticeticista de argumentação de Donald Davidson e sua relação como o pragmatismo é analisada por Ricardo Navia Antelo. A partir da reconstrução da argumentação de Davidson, Antelo avança algumas teses que demonstram a aproximação entre Davidson e o pragmatismo de um modo claro e preciso.

Carolina Leister e J. R. N. Chiappin dão sequência aos seus estudos sobre as teorias da racionalidade, decisão firma e organização de H. A. Simon, reconstruindo o trabalho do autor relativo à racionalidade das decisões adaptativas. Tais teorias estão presentes em economia, particularmente sobre a decisão dos consumidores, e comportam várias linhas de pesquisa. No presente artigo, os autores defendem a tese de que Simon visa auferir maior conteúdo empírico à racionalidade, reinterpretando-a como limitada e adaptativa, sem, contudo, abrir mão da racionalidade como ideia reguladora em sua abordagem.

Com estudos tão diversos quanto profundos sobre o pragmatismo e outras correntes da filosofia, esperamos que o leitor encontre aqui ideias que possam alimentar suas próprias reflexões e abrir novas perspectivas ainda não exploradas.

Josué Cândido da Silva
Universidade Estadual de Santa Cruz/ UESC - Brasil