COGNITIO-ESTUDOS

Revista Eletrônica de Filosofia
Philosophy Eletronic Journal
ISSN 1809-8428

São Paulo: Centro de Estudos de Pragmatismo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Disponível em <http://revistas.pucsp.br/index.php/cognitio>

Vol. 17, nº. 1, janeiro-junho, 2020

DOI: 10.23925/1809-8428.2020v17i1pAI

EDITORIAL

Prezado leitor,

Apresentamos a primeira edição de 2020 da COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia, publicação semestral do Centro de Estudos de Pragmatismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.

Na continuidade de sua tarefa, de dispor ao público-leitor profundas e significativas reflexões filosóficas, a COGNITIO-ESTUDOS traz abordagens sobre a hermenêutica, o pragmatismo, a epistemologia, a lógica, a linguagem, a estética e a ontologia.

José Wilson R. Brito discute a contribuição da filosofia hermenêutica de Gadamer, em um viés político, de caráter democrático. Indaga que esta perspectiva dispõe de uma alternativa de solidariedade compartilhada nas sociedades contemporâneas. Assim, o artigo busca mostrar que a filosofia da práxis gadameriana é portadora de elementos que movem as pessoas à ação solidária enquanto pertencentes a comunidades políticas.

Em outra perspectiva, Caio César Cabral busca refletir sobre a teoria de John Dewey acerca da emergência da mente. Em sua investigação, toma como base a obra Experiência e Natureza (1925), de Dewey. O artigo discute sobre o ser vivo organizado e sua "atividade psicofísica", a linguagem e a emergência da mente e o papel da comunicação na formação dos hábitos e a designação "corpo-mente". O autor tenta mostrar que a mente para Dewey, considerada como conjunto de significações e ideias, tem seu surgimento condicionado pelas atividades orgânicas e psicofísicas.

Já Felipe Carvalho Novaes se propõe a discutir algumas perspectivas não dualistas sobre mente e corpo, que poderão vislumbrar em alternativa ao paradigma computacional, que parece romper com o aspecto ontológico do dualismo cartesiano. Para tanto, indaga sobre o representacionismo como dualismo revisitado, alguns antídotos para os resquícios de dualismo, o engajamento material como a convergência dos antídotos, a escrita como uma nova forma de pensar, a consciência como produto da cultura material e a cognição e materialidade na evolução humana.

Com base nos Prolegômenos à lógica pura de E. Husserl, Ícaro Machado analisa a relação entre os níveis da lógica doutrinária. Tenta clarificar as interações entre as concepções de Lógica enquanto disciplina, em Husserl. O autor explora essa questão ao concentrar a análise nos três estratos de ciência, na lógica normativa e lógica tecnológica, na lógica pura e na interação entre as teses de lógica como científicas por excelência. O autor declara que a presente pesquisa contribui na perspectiva de compreensão de um fluxo hierárquico entre as doutrinas, que emana da lógica pura até chegar, via lógica normativa, à lógica tecnológica. Nessa esteira, Frank Thomas Sautter se propõe ao profundo exercício de analisar a obra de John Neville Keynes - Studies and Exercises in Formal Logic, em que ele desenvolve uma modificação dos Diagramas de Euler, dando-lhes uma interpretação informacional. Sublinha Sautter que o autor, porém, propôs tal desenvolvimento apenas para proposições categóricas isoladas. O artigo intenta completar a lacuna deixada por Keynes.


Por sua vez, Edna Magalhães do Nascimento busca compreender a perspectiva de Rorty acerca de uma filosofia sem fundamentos. Cumpre essa tentativa ao discutir sobre o modelo antirrepresentacionista de Rorty, rumo à superação da epistemologia, em particular, a tentativa de Rorty em repensar, no sentido de uma reforma ou uma reconstrução, a filosofia.

A partir da obra Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, Alessandra Scherma Schurig procura expor uma noção de contingência. Na destacada obra, o autor intentou demonstrar a não fixidez das identidades, o fluir temporal e a instabilidade da significação. O artigo, nessa perspectiva, reflete sobre o tempo e a contingência, a noção de tempo fixo e imutável, o estado de contingência na pós-modernidade e a tese sobre o self relacional.

Em um outro horizonte filosófico, Jorge Francisco da Silva e Karl Heinz Efken enfrentam uma apurada discussão sobre a estética da razão em James, particularmente sobre o conceito de embodiment. O ensaio tentará certificar-se de que James reuniu o que Descartes separou (mente e corpo), o que o levou a desenvolver seu conceito de embodiment. O texto, então, intenta investigar o papel do corpo na percepção, sensação e conceptualização dos processos de significação do pensamento e da linguagem. Em um campo aproximado, de certa forma, Ana Claudia de Oliveira se propõe a analisar a competência estésica da qual o sujeito dispõe, permitindo-lhe a experiência de sentir o outro, que pode ser outra pessoa, ambiente, objetos, a partir das suas propriedades significantes, apreendidas pelas ordens sensoriais.

Luís Henrique N. Gonçalves propõe um debate entre diferentes áreas e perspectivas científicas acerca da dimensão ontológica presente no conceito de "mente estendida". Ao tratar o lugar do homem no mundo da mente estendida, aborda a questão epistemológica da dimensão ontológica, a dimensão subjetiva da realidade - a mente estendida do ser social e a dimensão sócio-histórica das ciências cognitivas e a emancipação humana. Nesse horizonte, o artigo intenta refletir sobre a dimensão ontológica em diversas construções teóricas e, com isso, suas implicações sociais e históricas à luz da atual revolução tecnológica.

Esta edição ainda oferece duas traduções, de acentuadas importâncias para a literatura filosófica, a saber: A verdade e probabilidade, de Frank Plumpton Ramsey, traduzido por Marcos Antonio Alves e Pedro Bravo de Souza; e Nota sobre Berkeley como precursor de March, de Karl R. Popper, traduzido por Caique Marra de Melo.

Esperamos que esta edição suscite profundas reflexões filosóficas, como também provoque novas questões para o universo da filosofia, certo que o pensar filosófico, independentemente do seu problema e período histórico, continua vibrante e aberto sempre a novas perspectivas.

Boa leitura,

Antonio Wardison C. Silva
Editor Assistente / COGNITIO-ESTUDOS: Revista Eletrônica de Filosofia
Centro de Estudos de Pragmatismo, PUC-SP, Brasil