COGNITIO-ESTUDOS, V.8, N.1, janeiro-junho, 2011

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EDITORIAL

Os temas tratados nesta edição da COGNITIO-ESTUDOS - que envolvem os conceitos de consciência, subjetividade, objetividade, verdade, racionalidade, liberdade, fé e ciência - dizem respeito a questões que estão nas bases do conhecimento humano e dos nossos modos de conhecer. Deparamo-nos com a complexidade desses conceitos percorrendo os meandros das reflexões dos autores que participam desta edição da revista, ao mesmo tempo em que nos tornamos mais conscientes da importância da discussão filosófica que os constrói.

A noção de subjetividade como consciência é tratada por Néder Rocha Abdo, no texto "O conceito de consciência em Sartre: a transcendência do cogito". Nesse artigo o autor refere-se ao texto "Transcendência do Ego", de Sartre, como fundamental para estudos posteriores do filósofo, dos quais teria derivado a sua ontologia fenomenológica e a sua metodologia dialética. Após destacar e analisar no texto as idéias de Ego, cogito, consciência e transcendentalidade, o autor propõe "um diálogo com Peirce, relacionado ao fundamento do conceito de consciência que supostamente já seria genético na sua Faneroscopia".

Luiz Carlos Mariano da Rosa trabalha sobre as bases do nosso pensamento racionalista, calcado no empirismo, na verificabilidade, na dedutibilidade e na verdade, para propor, no texto "Popper e a objetividade do conhecimento científico: a ciência provisória e a verdade temporária", uma leitura acerca das ideias de Popper sobre as fronteiras entre ciência e não ciência, na busca de uma resposta para a questão do "critério capaz de estabelecer o estatuto científico de um universo teórico ou de um enunciado".

O problema da verdade continua a ser desenvolvido no artigo "A transformação semiótica da lógica transcendental segundo Karl-Otto Apel", de Antonio Wardison C. Silva, que se propõe a identificar e explicitar "os elementos fundamentais que constituem, para o filosofo alemão Karl-Otto Apel, a transformação semiótica transcendental da verdade". O texto passa por aspectos da filosofia transcendental-pragmática proposta por Apel e pela consideração do papel da linguagem relativamente aos nossos modos de pensar e agir na busca pelo conhecimento.

"A noção de liberdade no pensamento de John Dewey" é o título do artigo de Rodrigo Augusto de Souza, que trata do conceito de liberdade em Dewey considerando suas conexões com elementos da pedagogia, da moral e da política no pensamento desse filósofo norte-americano, cujas contribuições nessas áreas têm sido amplamente estudadas. O autor faz sua analise apreciando algumas das obras do filósofo.

Lucas Ribeiro Vollet examina aspectos da obra de Kant no texto "A faculdade do juízo na crítica da razão pura: discussões sobre o primado da razão prática sobre a teórica", que "explora as dimensões da noção de juízo na Crítica da Razão Pura, primeiro o comparando com o conceito de proposição e em seguida avaliando a sua conexão com o conceito de ideal da razão pura". Entre outras conclusões, o autor visualiza na primeira "Crítica" de Kant, na noção de juízo, "a origem de uma discussão a respeito das conseqüências do procedimento experimental para a validade da ciência, antecipando um leque de interpretações filosóficas sobre o alcance e as limitações da ciência".

No texto "A tênue linha de Haught entre a fé cristã e a ciência", André Geraldo Berezuk apresenta a obra "Cristianismo e ciência", de J. F. Haught (2009), que polemiza sobre o afastamento das ideias do cristianismo, e também da metafísica, de um lado, em relação às da ciência, de outro. Segundo o autor da resenha, Haught propõe "que as relações entre o discurso teológico e o metafísico e destes com a ciência" sejam realçados e valorizados, com o devido respeito aos princípios epistemológicos de cada lado. Essas idéias resultam na proposição de um método de análise denominado "explicação escalonada", que admite diversos níveis de explicação para a maioria das coisas em nossa experiência.

Em certo sentido, os temas deste último texto e dos artigos supracitados estão alinhavados por um fio delicado, mas, persistente, por meio do qual vemos que as ideias filosóficas não cedem comodamente a nenhuma verdade de uma natureza ou de outra, mas buscam constantemente caminhos por meio dos quais podemos manter os nossos conceitos e as nossas mentes sempre vivos. Está feito, com esta breve apresentação, o convite da COGNITO-ESTUDOS para que o leitor participe do diálogo estabelecido entre esses autores e as suas referências e, também, daquele que se dá entre os autores uns com os outros, ambos oportunizados por essa edição da revista.

Desejamos a todos que tenham uma boa leitura!

Eluiza Bortolotto ghizzi (UFMS)
Comissão Editorial da Cognitio-Estudos