Ivanaldo Santos de Oliveira Filho
Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2002), Doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2005), Pós-doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade de São Paulo (2011), Pósdoutorado em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2016) e Pósdoutorado em Filosofia do Direito pelo UNIVEM (2019). Professor adjunto IV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Contato: ivanaldosantos@yahoo.com.br
Simone Cabral Marinho dos Santos
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Docente do Departamento de Educação e dos Programas de Pós-Graduação em Ensino (PPGE) e Planejamento e Dinâmicas Territoriais no Semiárido (PLANDITES), do Campus Avançado Profª. Maria Elisa de Albuquerque Maia (CAMEAM), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Contato: simone.cms@hotmail.com; simonecabral@uern.br
Maria José de Araújo
Mestre em Ensino, pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGE), pela UERN, Campus Pau dos Ferros. Contato: mjcaico@yahoo.com.br
Resumo:
A interdisciplinaridade envolve uma prática pedagógica interativa entre diferentes disciplinas, inclusive a de Ensino Religioso. Este estudo, de caráter teórico, tem por objetivo analisar as bases epistemológicas da interdisciplinaridade no Ensino Religioso no contexto escolar. A metodologia empregada se baseou no estudo bibliográfico de autores como Charlot, Fazenda, Japiassu, Morin, Santos e Viesser, além da legislação pertinente, como a Lei de Diretrizes e Base na Educação Nacional 9.394/96, para conduzir à discussão a respeito do papel do Ensino Religioso na formação cidadã e na promoção de valores e princípios éticos que, por razões diversas, então sendo esquecidos na sociedade. Com isso, esperamos contribuir com a perspectiva de um Ensino Religioso, sob o viés da interdisciplinaridade, pautado no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, humana e igualitária.
Palavras-chave: Ensino Religioso. Formação cidadã. Escola
Abstract:
Interdisciplinarity involves an interactive pedagogical practice between different disciplines, including that of Religious Education. This theoretical study aims to analyze the epistemological bases of interdisciplinarity in Religious Education in the school context. The methodology used was based on a bibliographic study including authors such as Charlot, Fazenda, Japiassu, Morin, Santos and Viesser, in addition to the relevant legislation, such as LDB 9394 / 96, to guide the discussion about the role of Religious Education in the formation of citizens and in the promotion of values and ethical principles that, for different reasons, are often forgotten in society. Thus, we hope to contribute with the perspective of Religious Education, in the bias of interdisciplinarity, based on the development of a more just, humane and egalitarian society.
Keywords: Religious education. Citizen formation. School
Entende-se, em linhas gerais, pelo termo Interdisciplinaridade a ligação entre diferentes saberes. Alguns autores fazem, em seus estudos, outras definições do termo, mas todas elas levam a um mesmo objetivo, que é o combate à fragmentação desses saberes. Desse modo, a Interdisciplinaridade propõe um diálogo entre as várias áreas do conhecimento, sem deixar de lado as especificidades de cada uma delas. Nessa perspectiva, podemos perceber que em algumas propostas pedagógicas, os conteúdos das disciplinas eram ministrados de forma isolada, sem ligação com outras áreas do ensino, notando-se uma lacuna entre o que era aprendido na escola e a realidade exterior vivenciada pelo educando.
A Interdisciplinaridade faz uma crítica à fragmentação do saber que ainda acontece na escola. Pensar na perspectiva interdisciplinar é assumir uma postura de diálogo entre os campos do saber, posicionar-se diante de alguns desafios impostos e ter humildade, sabendo que somos seres em constante construção do conhecimento.
Por meio da interdisciplinaridade podem-se envolver as disciplinas, inclusive a de Ensino Religioso, em uma prática interativa. Ao pensar nas aulas de Ensino Religioso de forma interdisciplinar, percebe-se que esta disciplina possui características em comum com as demais áreas do saber, de modo que os seus conteúdos podem dialogar com os conteúdos de outras disciplinas, como também podem dialogar com as temáticas mais discutidas na sociedade em que os alunos estão inseridos.
Ressalta-se ainda a importância das bases epistemológicas da interdisciplinaridade no Ensino Religioso. A epistemologia é a reflexão dos conceitos que constroem o saber. Sabe-se que para se ter sucesso numa aula interdisciplinar, o professor deve planejar atividades em conjunto com os colegas que ministram outras disciplinas e a metodologia que vai ser utilizada na sala de aula, sendo fundamental, também, ter uma atitude de respeito diante dos conhecimentos prévios dos alunos.
O presente estudo tem por objetivo analisar as bases epistemológicas da interdisciplinaridade no Ensino Religioso, discutindo a questão do Ensino Religioso como disciplina no contexto escolar, tendo em vista suas contribuições para a formação integral dos alunos e a questão da interdisciplinaridade como forma de integrar os saberes. Ao mesmo tempo, objetiva-se contribuir para a formação crítica dos alunos, fazendo com que os mesmos possam contextualizar os saberes adquiridos em sala com a realidade sociocultural local. Por fim, afirma- -se que o Ensino Religioso possui conteúdos que conduzem o aluno a refletir sobre seu papel enquanto cidadão do mundo e sobre valores éticos que, por razões diversas, então sendo esquecidos na sociedade. Com isso, o Ensino Religioso pode contribuir para a defesa da dignidade da pessoa humana, promovendo uma sociedade mais justa, humana e igualitária para todos.
A Epistemologia é o estudo sobre o conhecimento, investigando de que forma podemos alcançá-lo, de que maneira podemos defendê-lo e explicá-lo, uma vez adquirido, e que implicações o conhecimento tem para nossa vida em sociedade.
Nesse sentido, alguns estudiosos trazem diferentes abordagens acerca da epistemologia, buscando, assim, as bases que fundamentam o conhecimento científico. É possível definir Epistemologia como o “estudo metódico e reflexivo do saber, e sua organização, de sua formação, de seu aproveitamento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais” (JAPIASSU, 1977, p. 16). Para esse autor, epistemologia, disciplina surgida a partir do século XIX no vocabulário filosófico, seria o discurso (logos) sobre a ciência (episteme). Em síntese, existem três tipos de epistemologia:
Epistemologia global (geral), quando se trata do saber globalmente considerado, com a virtualidade e os problemas do conjunto de sua organização, quer sejam “especulativos”, quer “científicos”. Epistemologia particular, quando se trata de levar em consideração um campo particular do saber, quer seja “especulativo”, quer “científico”. Epistemologia específica, quando se trata de levar em conta uma disciplina intelectualmente constituída em unidade bem definida do saber, e de estudá-la de modo próximo, detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu funcionamento e as possíveis relações que ela mantém com as demais disciplinas (JAPIASSU, 1977, p. 16)
Desse modo, a primeira definição de epistemologia está voltada para todos os saberes; a segunda se detém em apenas um saber, seja ele especulativo ou não; o terceiro diz respeito ao estudo de uma disciplina em todos os seus aspectos, de forma detalhada, mostrando-a em sua totalidade e estabelecendo uma relação de interdisciplinaridade com as demais. O autor ainda faz uma abordagem acerca do surgimento da epistemologia, sendo a mesma recente, enfatizando que o seu campo de pesquisa é imenso e supondo grande intimidade com outras ciências. Para isso, ressalta o significado do termo epistemologia em linhas gerais: “um discurso sobre as ciências”, reafirmando, assim, que a mesma tem “um caráter interdisciplinar” (JAPIASSU, 1977, p. 39).
Dentro desse contexto, “pode-se entender, portanto, por epistemologia, a ciência da ciência e a ciência de um determinado método” (PASSOS, 2011, p. 108). Desse modo, o primeiro entendimento de epistemologia está ligado à questão das hipóteses e das trajetórias que uma ciência percorre para explicar seus regulamentos particulares, bem como os seus regulamentos comuns às outras ciências. O segundo entendimento diz respeito à teoria do método, quando esta aporta em determinadas condutas.
A epistemologia do Ensino Religioso se baseia em duas vertentes, uma da área do conhecimento e outra da área pedagógica, sendo a religião o objeto do conhecimento. Sabemos que a religião acompanha o homem desde os tempos mais primitivos, mas sua estabilidade sempre foi oscilante ao longo dos anos, tendo em vista questões sociais, educacionais e políticas com que a mesma convivia na sociedade.
Dentro desse contexto, destaca-se que a epistemologia do Ensino Religioso abarca três fundamentações:
1ª Uma fundamentação antropológica: a religião como dimensão do ser humano. 2ª uma fundamentação epistemológica: a religião como objeto de estudo e como área de conhecimento e a 3ª uma fundamentação pedagógica: o estudo da religião como necessário à educação do cidadão (PASSOS, 2011, p. 114).
Desse modo, das três fundamentações, a pedagógica requer uma atenção especial, tendo em vista que é voltada para a área educacional, ou seja, é aquela que está presente nas escolas e que, por vezes, não abarca na íntegra as esferas dos valores, da ética, da política e das diversidades religiosas, tão essenciais para a vida do ser humano.
Nessa perspectiva, o professor deve levar em consideração na disciplina de Ensino Religioso os assuntos que dizem respeito à disciplina e aos diversos contextos nos quais o aluno está inserido. Dentro desse cenário, o professor deve estar atento às mudanças educacionais que acontecem na área educacional, como, por exemplo, novas condições curriculares. Sobre essa questão, ressalta-se:
Por outro lado, há novas condições que exigem ser consideradas na construção de novas propostas educacionais. Estas condições estão relacionadas ao desenvolvimento das novas propostas na educação religiosa. Nesse campo, cabem aqui as proféticas palavras de Dom Helder Câmara: ‘O verdadeiro cristianismo rejeita a noção de que algumas pessoas nascem pobres e outras nascem ricas e os pobres têm o dever de aceitar a pobreza como a vontade de Deus; pelo contrário, a verdade é que as injustiças humanas são nosso problema, que deve ser resolvido pelos homens, sabendo que, como deseja Cristo, entre os cristãos não deve haver oprimidos e opressores, nem pessoas desumanizadas pela riqueza, mas apenas seres humanos (CAMARGO, SERRANO, 2012, p. 201) (Tradução nossa).
Neste caso, enfatiza-se a questão de o Ensino Religioso acompanhar as mudanças que acontecem no cenário educacional, sem esquecer a dignidade da pessoa humana, que deve ser respeitada em sua totalidade.
Dentro da perspectiva do respeito à dignidade do outro, é necessário levar em conta novas possibilidades de ensinar e de aprender. Sobre essa questão, afirma-se:
Devemos ensinar aos alunos as habilidades necessárias para a interpretação e oferecer momentos de reflexividade, levando- -os a considerar o impacto da nova aprendizagem sobre suas próprias crenças e valores e aplicar julgamentos críticos de uma forma construtiva, racional e informada [...]. As religiões devem ser apresentadas não como sistemas de crença homogênea, mas em termos de relação entre indivíduos, grupos e os contextos das grandes tradições em que eles crescem. (JAKSON, 2005, p. 75) (Tradução nossa).
Por meio do Ensino Religioso, o educando tem a possibilidade de construir conhecimentos voltados para o fenômeno religioso e para as diversas crenças e religiões presentes no mundo, assim como desenvolver uma visão crítica diante daquilo que lhe é passado. Desse modo, à medida que vai descobrindo sobre os diferentes tipos de crenças, o educando vai interagindo e refletindo sobre o mundo, sobre suas atitudes e os valores presentes em sua vivência escolar, familiar e em outros contextos que frequenta.
Trabalhar com a Interdisciplinaridade não é uma tarefa fácil, tendo em vista que vários fatores são necessários para que essa prática em sala de aula tenha sucesso, tanto para o docente quanto para o discente. Nessa perspectiva, partimos de algumas definições sobre a temática em discussão para podermos compreender sua importância no contexto educacional.
A definição de Interdisciplinaridade foi realizada por diversos estudiosos, sendo que, para alguns, a Interdisciplinaridade é uma relação de trocas entre as ciências; outros defendem que é a junção entre as disciplinas. Nota-se um foco em comum: a aprendizagem do aluno deve ser significativa, possibilitando a este contextualizar os novos saberes com o ambiente em que está inserido.
Sobre essa problemática, destaca-se:
A verdade é que não há nenhuma estabilidade relativamente a este conceito. Num trabalho exaustivo de pesquisa sobre a literatura existente, inclusivamente dos especialistas de interdisciplinaridade - que também já os há - encontram-se as mais díspares definições (POMBO, 2008, p. 10).
Apesar de não ter um conceito estável, a interdisciplinaridade está presente diariamente no campo educacional e em outros contextos, ainda que sua presença não seja percebida:
Verificamos que a interdisciplinaridade é um conceito que invocamos sempre que nos confrontamos com os limites do nosso território de conhecimento, sempre que topamos com uma nova disciplina cujo lugar não está ainda traçado no grande mapa dos saberes, sempre que nos defrontamos com um daqueles problemas imensos cujo princípio de solução sabemos exigir o concurso de múltiplas e diferentes perspectivas (POMO 2008, p. 15).
O principal confronto a ser enfrentado no contexto das práticas de interdisciplinaridade diz respeito às barreiras presentes no interior das disciplinas, tendo- -se em vista que cada uma delas tem suas peculiaridades que devem ser levadas em consideração, pois observam-se limites para cada área do Saber. De acordo com Pombo (2008), a ciência é resultado de “[...] um conjunto de instituições cindidas, fragmentadas, absolutamente enclausuradas cada qual na sua especialidade” (POMBO, 2008, p. 17). Por isso, a interdisciplinaridade surge para se opor à visão fragmentada da ciência e das práticas do processo educativo.
Outros pesquisadores que contribuíram para a discussão acerca da interdisciplinaridade enfatizam:
A interdisciplinaridade é movimento a ser praticado também como atitude de espírito. Atitude esta, elaborada na curiosidade, na abertura, no senso de aventura da descoberta, exercendo um movimento de conhecimento com aptidão de construir relações (JAPIASSU, 1977, p. 82).
Ao se estabelecer uma atitude de abertura entre as diversas áreas do conhecimento, será possível reconhecer seus limites e também a necessidade de transcender suas fronteiras, ao mesmo tempo resguardando suas particularidades dentro da prática interdisciplinar.
Nessa perspectiva, ressalta-se:
A interdisciplinaridade pode significar, pura e simplesmente, que diferentes disciplinas são colocadas em volta de uma mesa, como diferentes nações se posicionam na ONU, sem fazerem nada além de afirmar, cada qual, seus próprios direitos nacionais e suas próprias soberanias em relação às invasões do vizinho. Mas a interdisciplinaridade pode significar também troca e cooperação, o que faz com que a interdisciplinaridade possa vir a ser alguma coisa orgânica (MORIN, 2001, p. 115).
Nesse sentido, no processo interdisciplinar, as disciplinas partilham e trocam saberes sem anular as suas particularidades de conteúdos. Nessa dinâmica, todos são convidados a se envolverem, como alunos e docentes das diversas áreas do conhecimento. Esse envolvimento deve ter abertura e diálogo para o outro e as contribuições que ele pode oferecer, propiciando compreender caminhos até então desconhecidos e que podem ser de suma importância para o complemento dos saberes de um sujeito.
Sobre a abertura aos saberes do outro, destaca-se
Interdisciplinaridade é uma nova abertura diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. Exige, portanto, na prática uma profunda imersão no trabalho cotidiano (FAZENDA, 2011, p. 10).
Desse modo, vemos esse processo como ato de cooperação e de parceria entre os saberes, tendo em vista que ninguém detém a totalidade do conhecimento. Somos seres inacabados, em constante processo de crescimento e aprendizagem. Sempre vai haver algo a ser acrescentado em nossa vivência diária. O outro sempre será necessário para ajudar o homem no caminho da vida.
Portanto, o trabalho com interdisciplinaridade no âmbito educacional deve levar em consideração os currículos dos docentes, que são diferenciados uns dos outros. Ao pensarem numa prática interdisciplinar no contexto escolar, os docentes devem procurar oferecer aos educandos uma aprendizagem que integre os saberes, não somente os das disciplinas envolvidas como também aqueles que os alunos já trazem consigo.
No contexto escolar, as disciplinas são frequentemente expostas de forma isolada, sem conexão e interação entre os conteúdos. Esse Saber fragmentado faz com que o aluno não compreenda de forma significativa os conteúdos e, como consequência disso, não consiga relacioná-los com o contexto social em que vive. É como se a escola fosse outro mundo, bem distante de sua realidade.
Diante disso, alguns documentos destacam a importância de se ter um trabalho interdisciplinar na escola. Um desses documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), os quais destacam:
[...] organização curricular enseja a interdisciplinaridade, evitando-se a segmentação, uma vez que o indivíduo atua integradamente no desempenho profissional. Assim, somente se justifica o desenvolvimento de um dado conteúdo quando este contribui diretamente para o desenvolvimento de uma competência profissional. Os conhecimentos não são mais apresentados como simples unidades isoladas de saberes, uma vez que estes se inter-relacionam, contrastam, complementam, ampliam e influem uns nos outros. Disciplinas são meros recortes do conhecimento, organizados de forma didática e que apresentam aspectos comuns em termos de bases científicas, tecnológicas e instrumentais (BRASIL, 2002, p. 30).
Desse modo, os PCN questionam a fragmentação dos saberes e ressaltam a importância das relações de interação entre os diversos campos do saber. Essas interações se constroem ao longo do processo, mas para que isso aconteça é necessário que os docentes tenham uma atitude de desconstruir seus próprios saberes para poderem estar abertos a esse processo e, assim, promover a integração e a conexão dos conhecimentos.
Diante de uma atitude interdisciplinar, o docente precisa assumir algumas características para que sua prática tenha êxito no contexto escolar. Sobre essa questão, afirma-se:
Entendemos por atitude interdisciplinar, uma atitude diante das alternativas para conhecer mais e melhor; atitude de espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo mesmo- atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio – desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – desafio – atitude de envolvimento e comprometimento com os projetos e com as pessoas neles envolvidas, atitudes, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro, de vida (FAZENDA, 1994, p. 82).
Como seres humanos, devemos estar abertos às necessidades dos outros, a nos fazer presentes em atitudes que promovam o diálogo, a interação e a construção dos saberes. Os professores devem ter algo muito importante dentro si, ou seja, a motivação para fazer o outro aprender. Não um aprender de qualquer forma, mas o aprender para a vida, um aprender que supere todas as expectativas do ato de ensinar.
Portanto, ao se fazer um trabalho interdisciplinar no contexto da sala de aula, o aluno começa a relacionar os conhecimentos adquiridos com sua realidade, passa a ter uma visão mais consciente do seu contexto social e se expressa de forma mais interativa e participativa na sua vida em sociedade. Nesse sentido, o aluno vai transformando a si próprio e a realidade em que está inserido, sendo protagonista da sua própria aprendizagem, que, agora, é carregada de inúmeros significados para sua vida.
As discussões acerca do Ensino Religioso na escola estiveram sempre presentes no debate sobre currículo na educação brasileira. Estudiosos e documentos oficiais enfatizam a importância dessa disciplina dentro do contexto escolar, tendo em vista seus conteúdos relevantes para a formação integral dos discentes.
No entanto, há, percebe-se, uma certa limitação dos conteúdos dessa disciplina no contexto escolar, quando se refere à diversidade religiosa. Ainda se observa certo preconceito contra falar de algumas culturas religiosas em sala de aula, perdendo-se de vista, como consequência disso, o caráter de formação ampla do Ensino Religioso, que muitas vezes se limita a um conjunto de conteúdos de caráter confessional. Na contramão dessa perspectiva limitada do ensino religioso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, no artigo 33, destaca:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso (BRASIL, 1996).
Desse modo, ao trabalhar com os conteúdos de Ensino Religioso, o professor deve estar aberto às necessidades, anseios e crenças dos seus alunos, bem com a suas particularidades individuais. Essa perspectiva é reforçada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso (PCNER) (2008, p.7), que afirmam a importância de que o professor
Tenha sensibilidade à pluralidade, consciência da complexidade sociocultural da questão religiosa presente no ambiente escolar e garanta a liberdade dos educandos sem qualquer forma de proselitismo; esteja disponível para o diálogo e seja capaz de articulá-lo a partir de questões suscitadas no processo de aprendizagem dos educandos. Cabe a esse educador escutar, facilitar o diálogo, ser o interlocutor entre escola e comunidade e mediar possíveis conflitos (BRASIL, 2008, p. 7).
As aulas de Ensino Religioso devem buscar o respeito em relação às crenças dos alunos, sendo que o professor deve ter atitude de abertura e diálogo perante as particularidades de cada indivíduo envolvido no processo.
Atualmente, recebe destaque o mais novo documento do Ministério da Educação (MEC), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que vem reafirmar o que os documentos anteriores ressaltam sobre a importância do Ensino Religioso no contexto escolar. Na sua redação, a BNCC enfatiza o quanto a disciplina de Ensino Religioso é de suma importância para a formação do aluno:
O Ensino Religioso busca construir, por meio do estudo dos conhecimentos religiosos e das filosofias de vida, atitudes de reconhecimento e respeito às alteridades. Trata-se de um espaço de aprendizagens, experiências pedagógicas, intercâmbios e diálogos permanentes, que visam o acolhimento das identidades culturais, religiosas ou não, na perspectiva da interculturalidade, direitos humanos e cultura da paz. Tais finalidades se articulam aos elementos da formação integral dos estudantes, na medida em que fomentam a aprendizagem da convivência democrática e cidadã, princípio básico à vida em sociedade (BRASIL, 2017, p. 435).
Nessa perspectiva, o Ensino Religioso também é um componente curricular importante para a formação dos alunos, abordando conteúdos pertinentes à formação do educando na sociedade.
O documento ainda ressalta a importância dessa disciplina para o Ensino Fundamental, destacando que:
No Ensino Fundamental, o Ensino Religioso adota a pesquisa e o diálogo como princípios mediadores e articuladores dos processos de observação, identificação, análise, apropriação e ressignificação de saberes, visando o desenvolvimento de competências específicas. Dessa maneira, busca problematizar representações sociais preconceituosas sobre o outro, com o intuito de combater a intolerância, a discriminação e a exclusão (BRASIL, 2017, p. 434).
Dentro desse contexto, é importante que, ao trabalhar com os conteúdos de Ensino Religioso, o professor tenha atitudes de pesquisa, buscando em outros saberes mais embasamento para sua prática pedagógica. Nessa busca de novos saberes, o educador deve levar em consideração também os saberes que os alunos trazem consigo acerca do transcendente e de outros temas. Sobre essa questão, afirma-se:
A educação religiosa é destinada a alimentar essa busca, impregnando-a de sentido, permitindo a ultrapassagem do imanente ao transcendente em toda e qualquer ação educativa, utilizando-se de todos os conteúdos advindos das necessidades e interesses dos educandos e educandas; e dos interesses também da sociedade onde irão atuar como cidadãos e cidadãs, comprometidos com os novos tempos, em que a paz torna-se uma urgência (FIGUEREDO, 2008, p. 45).
Desse modo, ao se pensar e partir de uma prática que envolva os interesses dos alunos, a aprendizagem se torna mais prazerosa e o aluno consegue com mais facilidade compreender a importância da disciplina de Ensino Religioso para sua vida, não somente no âmbito escolar, como também, para sua vivência enquanto pessoa humana inserida na sociedade e agente da sua própria aprendizagem.
Outro fator importante em relação aos conhecimentos dessa disciplina no contexto escolar é que os mesmos levam os alunos a terem um olhar crítico perante a realidade que os envolve. Esse olhar depende da postura do professor diante das diferenças em sala de aula. Sobre esse tópico, destaca-se:
O objetivo da educação é a formação da pessoa como cidadã. Essa educação necessita ser pertinente para a inserção na sociedade que está por vir. O elemento que tem estado presente desde o início da história do país, e do qual se vem tomando maior consciência, é a pluralidade cultural. A disciplina do Ensino Religioso está orientada nessa direção. Para tanto, ela busca ir além da constatação da existência dos outros diferentes. Ela busca abrir caminhos de encontro e de diálogo que contribuam para garantir as múltiplas formas de expressar a pluralidade da vida (REYES, 2008, p. 88).
O Ensino Religioso é fundamental para o contexto educacional devido possuir conteúdos que ajudam os alunos a terem respeito diante da pluralidade existente no contexto social em que estão inseridos e a se posicionarem de forma ética perante os desafios da sociedade. Nesse sentido, o aluno e o professor devem perceber que vivem numa sociedade composta de grande variedade cultural e diversidade religiosa, sendo que cada setor tem suas próprias particularidades, vivências e práticas.
No contexto do respeito às diferentes crenças, o papel da escola se faz importante e necessário:
A escola, através do Ensino Religioso, deve mostrar a infinitude da pluralidade religiosa e a riqueza de saberes míticos e sagrados a serem conhecidos e estudados. Com essa prática pedagógica, expõe-se que nenhuma religião é mais importante, nem mais verdadeira que outra, mas que, em todas, é preciso buscar a fonte de criação da vida (Oliveira e Souza, 2008, p. 118).
As crenças religiosas buscam o mesmo ponto comum, a fonte da criação, ou seja, um Ser Superior. Por isso, dentro do contexto da sala de aula, deve ser estabelecida a valorização de todas as crenças em suas peculiaridades e, ao mesmo tempo, a relação das mesmas entre si, possibilitando perceber os pontos que se aproximam e os que se distanciam, buscando-se sempre o diálogo entre as diferenças.
A partir dessas discussões, vemos que o Ensino Religioso propõe um novo pensar diante da realidade que o ser humano vivencia, assim como uma reflexão a partir das nossas práticas cotidianas.
Faz-se necessário continuar buscando novos jeitos de ser, novos conhecimentos. Ensejamos contribuir, articulando novos saberes, novos espaços, novas “danças” para a efetivação de políticas educacionais favoráveis ao desenvolvimento humano e planetário (ALMEIDA, 2008, p. 135).
Desse modo, percebe-se que não se trata somente de trabalhar os conteúdos em sala de aula, mas também de fazer uma ponte entre esses conteúdos e a realidade em que os alunos vivem, possibilitando, assim, uma aprendizagem abrangente, fazendo com que os alunos se tornem sujeitos críticos dentro da sociedade e possam, a partir dessa criticidade, modificar o meio em que estão inseridos.
Pensar num ensino interdisciplinar é saber que nesse tipo de processo o professor deve estar atento às necessidades dos alunos e, ao mesmo tempo, saber dialogar com os colegas. Dentro desse contexto, o professor perceberá “[...] como o sujeito apreende o mundo e, com isso, como se constrói e transforma a si próprio” (CHARLOT, 2000, p. 41). No ensino interdisciplinar, o aluno, na medida em que participa do processo, vai construindo seus próprios saberes e, assim, se tornando sujeito ativo de sua aprendizagem.
Dentro da concepção de sujeito ativo está a questão da aprendizagem e do aprender, que se torna algo essencial na construção do sujeito, pois é através do aprender que esse sujeito consegue se relacionar consigo mesmo, com a pessoa do outro e com a sociedade na qual está inserido. Sobre essa questão, enfatiza-se:
Aprender para viver com os outros homens com quem o mundo é compartilhado. Aprender para apropriar-se do mundo, de uma parte desse mundo, e para participar da construção de um mundo pré-existente. Aprender em uma história que é, ao mesmo tempo, profundamente minha, no que tem de única, mas que me escapa por toda a parte. Nascer, aprender, é entrar em um conjunto de relações e processos que constituem um sistema de sentido, onde se diz quem eu sou, quem é o mundo, quem são os outros (CHARLOT, 2000, p. 53).
Nesse sentido, cada aluno aprende de forma diferente. Por meio de uma atitude interdisciplinar, o educando terá a possibilidade de compreender melhor os conteúdos, pois conviverá com os saberes de forma conjunta, contextualizando- -os com realidades diversas.
Quando se pensa no aprender, na interdisciplinaridade e nas conexões dos conteúdos trabalhados em conjunto, devemos levar em consideração as questões epistemológicas e, de maneira especial, as que se referem ao Ensino Religioso.
Assim como as outras áreas do conhecimento, o Ensino Religioso possui suas bases epistemológicas voltadas para o ensino. Nessa perspectiva, salienta-se:
Por epistemologia do Ensino Religioso entendemos a sua base teórica e metodológica, enquanto área do conhecimento específica que assume a religião como objeto de estudo, produzindo sobre este resulta dos compreensivos que normalmente são credenciados como ciência (PASSOS, 2007, p. 28).
Como a meta do Ensino Religioso é a reflexão em torno das religiões e do fenômeno religioso, é importante que, entre os assuntos abordados nas aulas dessa disciplina, as religiões sejam colocadas em discussão, como forma de dialogar com as crenças que os alunos já trazem consigo.
Em relação à questão do senso comum, destaca-se:
O senso comum faz coincidir causa e intenção; subjaz-lhe uma visão de mundo assente na ação e no princípio da criatividade e da responsabilidade individuais. O senso comum é prático e pragmático; reproduz-se colado às trajetórias e as experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma de confiança e dá segurança. O senso comum é transparente e evidente; desconfia da opacidade dos objetivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística. O senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência, mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes entre pessoas e entre pessoas e coisas [...] (SANTOS, 2008, p. 56).
Existe uma relação entre o senso comum e a questão do conhecimento aplicado à vida. Percebe-se que as crenças que os alunos trazem consigo estão relacionadas ao contexto em que eles estão inseridos, trazendo-lhes sentido para suas vidas. Por isso, o professor precisa estar atento à realidade em que os alunos vivem, pois o comportamento destes e sua posição em sala de aula diante das discussões podem revelar sua maneira de estar no mundo.
Outro fator importante é saber dialogar com o senso comum e com o conhecimento científico em sala de aula, contextualizando assim as discussões em relação às crenças que os alunos trazem do seu ambiente e às religiões discutidas na sala de aula. Dentro dessa perspectiva, o aluno vai amadurecendo o seu conhecimento acerca do transcendente presente nas religiões e, ao mesmo tempo, vai construindo sua própria identidade religiosa e o seu pensar e fazer crítico.
Dentro da epistemologia do Ensino Religioso, temos uma pluralidade de saberes, considerando-se o estudo do fenômeno religioso com suas diversas manifestações. Desse modo, o aluno, nas aulas dessa disciplina, terá a oportunidade de ver um leque de religiões, como forma de aprimorar e aprofundar o seu conhecimento histórico, social e cultural acerca da diversidade religiosa existente no nosso país e no mundo, tendo em vista que o entorno em que se vive é multicultural, isto é, formado por várias culturas religiosas que ao longo dos anos formaram a identidade religiosa dos seus povos.
Sobre a questão epistemológica do Ensino Religioso, ressalta-se:
A questão do epistemológico no Ensino Religioso, portanto, passa não apenas pelo suporte científico na evidência de Ensino, como pela forma de sua operacionalização. Nela prepondera aquisição de conhecimentos via intelecto, racional, e não via imaginário onde o numinoso (termo assumido por Jung para designar o religioso como segurança para pessoa) se desenvolve. Assim, urge a didática no e do Ensino Religioso suprir a carência epistemológica desse ensino via imaginário, para que sua prática não se esvazie em “pedagogias” que buscam explicitar a construção lógica do conhecimento, a ampliação do universo, a busca na pesquisa etc, todas voltadas mais para o desenvolvimento do intelecto, do racional dos educandos (VISSER, 1994, p. 28).
Assim, a didática do Ensino Religioso está ligada às relações sociais, históricas e culturais presentes no contexto educacional, como também na realidade em que o aluno vive, promovendo, assim, um desenvolvimento da aprendizagem. Ao lidar com o aspecto da didática no Ensino Religioso, percebe-se que essa disciplina tem suas particularidades, possui uma identidade própria, ainda que, como se sabe, seja necessário dialogar com outras áreas do conhecimento.
Sobre a questão dialógica que envolve o Ensino Religioso, destaca-se:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso afirmam que a missão do ensino religioso está inserida na própria missão histórica e fundamental da escola, ou seja, a transmissão do conhecimento e a promoção do diálogo ético e civilizacional entre os indivíduos e as culturas (SANTOS, 2017, p. 41).
Ainda sobre o tema da questão dialógica no Ensino Religioso, ao comentar as Diretrizes Curriculares da Educação Básica e, de maneira especial, as que dizem respeito ao Ensino Religioso, afirma-se:
Já as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Ensino Religioso orientam que a escola deve proporcionar ao educando um conhecimento ético e equilibrado da religião. Neste contexto, a escola deve apresentá-lo as diversas manifestações do sagrado, com o intuito de interpretar e analisar as suas múltiplas formas e significados (SANTOS, 2017, p. 41).
Desse modo, ao se pensar nos conteúdos de Ensino Religioso para se trabalhar no contexto da sala de aula, o professor deve estar aberto ao diálogo, criando possibilidades de abertura para o outro e para a transcendência, discutindo de forma geral a complexidade das religiões e das crenças dos sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Ressalta-se:
No que se refere ao Ensino Religioso na Escola, sua importância é indiscutível; no entanto, é quando ser ministrado, em sua prática cotidiana, que os desafios são apresentados. É na interação com outras áreas do conhecimento, buscando despertar o sentido da vida e do transcendente, que o Ensino Religioso vai se solidificando e se diferenciando da catequese, que é específica da comunidade de fé (FERREIRA, 2001, p. 50).
Observa-se um ponto primordial que é a interação do Ensino Religioso com outras áreas do conhecimento. Essa interação se faz por meio de práticas interdisciplinares, promovendo, assim, diálogo entre as disciplinas e, ao mesmo tempo, descobrindo eixos comuns e preservando as particularidades existentes em cada uma delas.
Outro fator importante na prática interdisciplinar é o professor ter um comportamento ético diante do outro, ou seja, ter o respeito diante do que é diferente:
A ética da alteridade revela no rosto do outro o seu infinito. Essa ética quebra os paradigmas tradicionais estabelecidos por outras éticas. O que identifica o outro é o seu rosto, e é muitas vezes no rosto do outro que eu encontro a minha própria identificação. Cada rosto é diferente, mas me dá o sentido do respeito, face a face, olho a olho (alteridade), eu me vejo no outro, pois há uma interpelação quando estamos diante do rosto do outro (LEVINAS, 2005, p. 15).
A ética da alteridade implica atitude de responsabilidade, humildade e respeito pelo que é diferente. Nessa perspectiva, o agir ético na escola acolhe novas práticas de ensino, levando o professor a refletir sempre sobre a relação de sua disciplina com outras áreas do saber e, acima de tudo, fazendo e refazendo os currículos, numa busca de melhorar a prática em sala de aula a fim de promover aprendizagem significativa entre os educandos.
Ao refletir sobre o currículo do Ensino Religioso, percebe-se que se podem aproveitar as situações do cotidiano para refletir em sala de aula. Deve-se pensar a pessoa humana como um todo, ou seja, corpo, alma, espírito, razão, emoção e outros aspectos. É necessário dialogar sempre, levando em consideração a diversidade, isto é, as diferenças que existem entre os seres humanos. Por último, o Ensino Religioso visto no contexto da diversidade e da interdisciplinaridade preserva a memória, fazendo com que haja uma reflexão sobre a vida, isto é, verifica-se que cada pessoa tem vínculos com outros que passaram por ela e, de certo modo, deixaram marcas e aprendizagens que hoje a influenciam em sua maneira de pensar e agir na sociedade.
Por isso, salienta-se a importância da disciplina de Ensino Religioso no currículo escolar, pois a mesma possui eixos que se relacionam com outros saberes, fazendo com que os alunos tenham uma concepção do conhecimento de forma integral e global, de forma que podem, assim, se tornar sujeitos críticos e ativos em sua própria aprendizagem.
Diante das discussões acerca da interdisciplinaridade no contexto da disciplina de Ensino Religioso, percebemos que as práticas interdisciplinares constituem fator importante para o educador em seu fazer docente, como também para o aluno, tendo em vista que possibilitam a troca de saberes entre as disciplinas.
Outro fator importante nessas discussões é a epistemologia, que exerce influência na prática da interdisciplinaridade no contexto do Ensino Religioso, pois os conhecimentos dessa área do saber científico darão ao professor um suporte ao seu trabalho, fazendo com que este busque outros métodos que o auxiliem em sua prática em sala de aula.
Sabemos que os métodos educacionais tradicionais tendem a levar à fragmentação do saber e que também não valorizam os conhecimentos que os alunos trazem consigo para o contexto escolar. Nesse sentido, a interdisciplinaridade vem fazer uma forte crítica a esse tipo de método e convidar os agentes no processo de ensino e aprendizagem a buscarem novas maneiras de ensinar e de aprender no contexto escolar.
No Ensino Religioso, a interdisciplinaridade se torna algo essencial, tendo em vista que essa disciplina frequentemente não é valorizada pelos alunos. Então, ao voltar-se para as práticas interdisciplinares, o professor estará valorizando o Ensino Religioso, fazendo com que os alunos tenham prazer em participar das aulas e compreendam que os conteúdos que são ministrados são tão importantes quanto aqueles das outras disciplinas. As práticas interdisciplinares no Ensino Religioso levam o aluno a se descobrir como sujeito crítico na sociedade em que vive, como também a se valorizar como pessoa humana na realidade em que atua.
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