Espiritualidade ecológica para a humanização da “casa comum" - Aproximações a partir do cap. VI da Laudato Si'
Ecological spirituality for the humanization of the “common house” - Approaches from chapter VI of Laudato Si'.
Elias Wolf
Docente no Programa de Pós Graduação em Teologia da PUCPR. Líder do Grupo de Pesquisa “Teologia, Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso”. Bolsista Produtividade CNPq. Contato: elias.wolff@pucpr.br.
Suzana Terezinha Matiello
Doutoranda na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Contato: susimatiello@gmail.com.
Resumo
A conjugação entre espiritualidade e ecologia é uma das principais exigências dos tempos hodiernos. Trata-se de uma questão de sobrevivência num momento histórico em que se vê a humanidade inteira mergulhada numa profunda crise antropológica, ambiental e sanitária que se agrava com a pandemia do novo coronavírus/COVID 19. Muito tem sido escrito sobre isso. O nosso objetivo neste estudo é mostrar como a espiritualidade é uma fundamental e imprescindível fonte e sustento de humanização que possibilita uma práxis ecológica consequente. Pelo método da análise qualitativa da bibliografia propícia ao tema, o artigo trata da espiritualidade enquanto escola do cuidado da “Casa Comum”; em segundo, aborda a espiritualidade ecológica a partir da categoria do amor, em sintonia com o capítulo sexto da encíclica Laudato Si; enfim relata testemunhos de uma mudança paradigmática e comprometida com uma ecologia integral. Conclui-se que a espiritualidade precisa ser cultivada na sua dimensão individual e comunitária para a humanização da “Casa Comum”.
Palavras chave: Espiritualidade; Ecologia; Educação; Casa Comum; Laudato Si'.
Abstract
The combination of spirituality and ecology is one of the main requirements of today’s times. It is a question of survival in a historic moment in which the whole of humanity is plunged into a deep anthropological, environmental and health crisis that is worsening with the pandemic of the new coronavirus / COVID 19. Much has been written about this. Our objective in this study is to show how spirituality is a fundamental and indispensable source and support of humanization that enables a consequent ecological praxis. By the method of qualitative analysis of the bibliography favorable to the theme, the article deals with spirituality as a school of care of the “Common House”; secondly, it adresses ecological spirituality based on the category of love, in line with the sixth chapter of the encyclical Laudato Si; finally it reports testimonies of a paradigmatic change and committed to an integral ecology. We conclude that spirituality needs to be cultivated in its individual and community dimension for the humanization of the “Common House”.
Keywords: Spirituality; Ecology; Education; Common house; Laudato Si'.
Introdução
A conjugação entre espiritualidade e ecologia é uma das maiores exigências atuais da humanidade em busca de sobrevivência. O ser humano é convidado a uma mudança de rota, saindo do comodismo e do consumo irresponsáveis, que a sociedade materialista impõe, para penetrar sempre mais na dinâmica de uma nova consciência cósmica, planetária, de uma fraternidade criatural entre tudo o que existe. Assim, como humanos, redescobrimos a nossa própria essência como bem evidencia Francisco na Encíclica Laudato Si´ (LS): “esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra” (LS, n. 2) e que entre os pobres mais abandonados e maltratados, encontra-se a nossa terra oprimida e devastada, que está “gemendo como que em dores de parto” (LS, n. 2). Mas é possível uma total reversão dos danos causados à natureza? Qual a relação entre espiritualidade e ecologia, no sentido de contribuir para uma maior integração do ser humano no cosmos e gerar saúde global? Como conjugar paz, espiritualidade e ecologia?
Refletir sobre isso faz-se ainda mais necessário no atual contexto de pandemia do novo coronavírus e da COVID 19. Desde o final do ano de 2019, o mundo vive numa situação pandêmica com muita aflição, medo e angústia. Emergem mais interrogações: como é possível que tal fato aconteça na era da tecnologia mais avançada? Qual a origem e qual a solução para essa pandemia? Como explicar que um minúsculo organismo, um vírus, tenha o potencial de paralisar as grandes potências econômicas, impor o isolamento social, propagar medo, doenças e mortes? Não há respostas convincentes. Mas a pandemia exige perceber que se impõe a urgência de uma reflexão planetária, de uma virada de paradigmas na promoção e defesa de toda a criação e um novo modo de o ser humano situar-se na “casa comum”. O posicionamento de estudiosos e organizações da sociedade civil, bem como do Papa Francisco, contribui para isso quando “conclama um despertar a todos os povos a respeito da importância do ambiente e da preocupação com os perigos provenientes das más condutas para todo o planeta” (PENNA; BASTIANETTO, 2016, p. 118).
Há cinco anos da publicação da Laudato Si´, muitas iniciativas são realizadas nessa direção, outras estão em andamento, como a significativa convocação do Papa Francisco para, em 2020-2021, realizar um encontro mundial que reflita sobre caminhos pedagógicos que reprogramem o processo educativo na perspectiva dessa encíclica. Urge um novo processo educativo, capaz de levar o ser humano a apreciação e valorização dos bens naturais e coletivos. Este artigo quer entrar nessa dinâmica, tendo como guia o VI capítulo da encíclica: educação e espiritualidade ecológicas.
Nessa direção, é importante destacar também a contribuição das relações ecumênicas e inter-religiosas como forças propulsoras de novas e duradouras mudanças no convívio entre os humanos e desses com toda a criação. Em nosso contexto majoritariamente cristão, particularmente as igrejas são chamadas a “assumirem compromissos comuns tanto na busca da transformação social, quanto na superação das divergências teológico-doutrinais entre elas existentes” (WOLFF, 2019-a, p. 262). E para isso muito importa afirmar a espiritualidade como uma fundamental e imprescindível fonte e sustento de humanização e de uma práxis ecológica consequente.
1 Religiões e espiritualidades como escolas do cuidado da “casa comum”
1.1 A Laudado Si´: atualidade e urgência da proposta ecológica
A Encíclica Laudato Si´ dá um impulso significativo para os esforços ecológicos em todo o mundo. Por isso essa encíclica é acolhida, estudada e observada em diversos ambientes, para além dos meios católicos (Cf. USANOS, 2019, p. 5-37). Os quatro princípios afirmados na Evangelii gaudium podem ser considerados também contemplados na Laudato Si´ como referenciais para compreender a realidade emergencial que vivemos no planeta terra, e acelerar a construção de uma agenda ecológica internacional: o tempo é superior ao espaço, a unidade prevalece sobre o conflito, a realidade é mais importante do que a ideia e o todo é superior à parte (EG, n. 222-237). Essas bases filosóficas atravessam toda a encíclica e demonstram a sua atualidade, num diálogo e numa sinergia entre os diversos saberes para a construção de novos paradigmas para a vida humana, bem como para favorecer uma interação positiva entre ciência e fé em nossos dias (Cf. BAVARESCO, 2016, p.35-38).
A proposta da LS é prática, como se verifica no seu método - ver, julgar e agir. Mais que apresentar teorias ecológicas, o Papa Francisco visa orientar comportamentos e atitudes na relação com a criação. Sob a angulação do “ver”, Francisco “observa a realidade ambiental e as raízes da crise ecológica escondidas sob os escombros do antropocentrismo moderno” (SOUZA, 2016, p.147); no “julgar”, ele “busca à luz da fé e das Escrituras Sagradas, uma reflexão que aborde a criação como um mistério a ser preservado na comunhão universal” (Ibidem); no “agir” o pontífice direciona para uma ecologia integral e indica roteiros de ações concretas construídas a partir dos diálogos políticos, da educação e das espiritualidades. Tudo leva a “celebrar”, na convivência fraterna das criaturas.
Esse método, explica Boff, tem a conveniência de “partir sempre de baixo, das realidades concretas, dos desafios reais, e não de doutrinas a partir das quais se fazem deduções, geralmente abstratas e pouco mordentes quando referidas aos temas suscitados” (BOFF, 2015). Desse modo, a LS é uma demonstração da importância do ver, julgar, agir para salvar o planeta Terra, em diálogo constante e renovado com as ciências e a sociedade civil à nível nacional e internacional. Isso é condição para podermos também celebrar a vida na/da Terra. Essa celebração está intrinsecamente vinculada à nossa conversão ecológica, para o que devem favorecer as diferentes tradições religiosas e espirituais. Pois o ato de celebrar não deriva tanto de “doutrinas, mas das mensagens e inspirações que os caminhos espirituais apresentam para uma adequada relação para com a criação, mais que para com a natureza’” (BOFF, 2015). E isso numa dinâmica de reciprocidade, solidariedade, fraternidade, desenvolvidas por uma pedagogia que mostre a capacidade do ser humano de encontrar soluções para as questões socioambientais atuais que afligem toda a humanidade, particularmente as pessoas mais pobres.
A proposta da Laudato Si´ se integra numa rede de esforços que visam o cuidado da casa comum, formando uma espécie de “tradição ecológica”. Essa “tradição” é formada por uma rica variedade de iniciativas e de atores, numa diversidade também de compreensão das questões ambientais, de objetivos e de métodos, mas que confluem para a defesa e promoção das diferentes formas de vida no planeta. Nisso há uma importante interação da ecologia com outras ciências e nessa perspectiva hoje fala-se de “ecologia profunda” segundo os estudos de Capra, “ecologia complexa” conforme Morin e “ecologia integral” na Encíclica do Papa Francisco. A perspectiva da “adjetivação” que ocorreu no campo da ecologia, não permite mais disjunção entre humanidade e natureza (modelo cartesiano de ciência), mas exige sinergia entre as duas realidades. Para isso, a Laudato Si´ propõe uma ecologia integral como “uma noção chave da argumentação do papa, fundamenta-se na complexidade da vida na Terra, com seus elementos objetivos e subjetivos” (MAÇANEIRO, 2016, p. 277). Explicitase, assim, a dimensão ecológica da economia, da política, do direito, da educação e da cultura na formação de uma nova ética mundial. Esse processo de compreensão, em andamento, da consciência da interconexão da humanidade e da sociedade com a natureza, indica a urgência de atitudes responsáveis, em comunicação e comunhão com outros saberes, com os credos e com pessoas de boa vontade (LS, n. 216). Os modelos de pensamento realmente influem nos comportamentos e, portanto, educar para a responsabilidade ambiental, para uma saúde total do planeta Terra, implica gerar novos paradigmas para a saúde global do ser humano.
1.2 Ecologia e espiritualidade
Destacamos o fato de que muitas das iniciativas e dos horizontes de compreensão do que é ecologia expressam uma importante dimensão espiritual. Stefano De Fiores, por exemplo, em A Nova Espiritualidade (1999), ao abordar as “transformações da visão da espiritualidade e os desafios para os cristãos do novo milênio”, destaca:
o cristão do futuro terá como característica o ecumenismo em relação aos fiéis de outras Igrejas e de outras religiões e a sensibilidade ecológica que respeita e valoriza os recursos e as belezas da criação. Ele estará, mais do que nunca, convicto de que somente sob esta condição a Terra virá a ser a casa habitável pelo homem, e a pacificação cósmica prometida em Isaías (11,6-9), será enfim, pelo menos em maior escala, uma realidade que cada um poderá verificar (DE FIORES, 1999, p. 13-14).
De Fiores espelha um processo em andamento, convicção de que somente na condição da escola do cuidado, a “Terra virá a ser a casa habitável pelo homem”. E isso implica numa postura espiritual e mística frente à criação. A espiritualidade/mística faz parte da “ecologia integral”, que considera todos os elementos que compõem a habitação do ser humano no mundo, numa harmoniosa relação com o universo e suas conexões ecossistêmicas. Apenas nesta dinâmica será possível elaborar uma nova ética que envolve relações cósmicas:
A ecologia moderna dispõe de novo argumento para elaborar a nova ética do cosmos. Já não se trata de sacralidade que nasce da impotência e pequenez do ser humano em face da grandiosidade física e ameaçadora da natureza, mas de seu caráter de festa, de celebração livre, gratuita. A técnica continua capaz de modificá-la. Não renuncia a tal potência. No entanto, aproxima-se dela como Moisés diante da sarça ardente: “Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa” (Cf. Ex 3,5). Assim, o homem moderno, calçado de tanta técnica, ao olhar para a nova sacralidade da natureza, despoja-se dele para tocar-lhe o solo sagrado (LIBANIO, 2015, p. 87).
Eis expressões fundamentais da vivência de uma espiritualidade ecológica: despojar-se para sentir-se parte da criação, contemplá-la gratuitamente, deixar- -se tocar por sua energia, irmanar-se fisicamente e espiritualmente. Tal postura sustenta uma ética da responsabilidade, do cuidado e da solidariedade para com a vida planetária.
No contexto do Sul global, isso implica também na recuperação das espiritualidades nativas, numa perspectiva decolonizadora. Esforços para isso há muitos lugares. Merece destaque as discussões sobre o Sínodo da Amazônia, enfatizando a riqueza das tradições de fé presentes nessa área geográfica (WOLFF, 2019-b). Com este Sínodo, a Igreja assume de forma convicta a ecoar o grito dos povos originários e habitantes da Amazônia, com posturas proféticas que fortalece a defesa da vida e da casa comum. O Sínodo foi uma espécie de vitrine a demonstrar que todos os povos possuem uma riqueza própria e a oferecem para a harmonia do planeta. A partir das raízes de cada tradição sociocultural e religiosa, todos somos convidados à mesa do diálogo, na partilha das dores, alegrias e esperanças. Mesmo sendo regional, esse Sínodo tem um “‘horizonte planetário’, pois a Amazônia, considerada pulmão do mundo, é importante para todo o planeta” (ALMEIDA; BRIGHENTI, 2019, p. 627).
Isso urge ainda mais no atual contexto de pandemia do novo coronavírus, quando as vulnerabilidades humanas e sociais se expressam com mais intensidade. E nessa situação a espiritualidade e a ética devem confluir para a responsabilidade comum pela vida, como único caminho para a superação da ameaça da COVID 19. A pandemia revela desequilíbrios na ordem biológica que são causados também pela ação humana. A forma como vivemos, explorando irresponsavelmente os recursos naturais, poluindo o ar, contaminando as fontes de água, destruindo os biomas, alterando os ecossistemas, etc., precisa ser repensada urgentemente. Ao revelar isso com maior intensidade, a pandemia da COVID 19 reforça o apelo da LS para a urgente “conversão ecológica”:
Se “os desertos exteriores se multiplicam no mundo, porque os desertos interiores se tornaram tão amplos”, a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Entretanto, temos de reconhecer também que alguns cristãos, até comprometidos e piedosos, com o pretexto do realismo pragmático, frequentemente se burlam das preocupações pelo meio ambiente. Outros são passivos, não se decidem a mudar seus hábitos e tornam-se incoerentes. Falta-lhes, pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa (LS, n. 217).
A crise humanitária provocada pela COVID 19 indica a fragilidade do sistema capitalista, a fragilidade do ser humano, os limites culturais e espirituais que temos. E aprofunda a necessidade de novas hermenêuticas da fé, sintonizadas com a ética e a justiça ambiental. Na relação entre o ser humano e a natureza não deve haver “nem submissão nem domínio, mas aliança” (LIBÂNIO, 2015, p. 89). O Papa Francisco propõe essa nova hermenêutica na doutrina cristã da criação. É uma hermenêutica ecumênica (SOUZA, 2016, p. 151), como vemos na sintonia com o teólogo protestante Jűrgen Moltmann ao repensar a doutrina cristã num sentido de favorecer atitudes de preservação e cuidado da natureza. Afinal, o Deus cristão é Criador de tudo o que existe, e “exige” que a criação inteira viva com a dignidade e a liberdade com que foram criadas, para atingirem a realização plena. Isso é salvação. As igrejas e os credos são chamados a cooperarem na realização desse desígnio divino.
1.3 As religiões ensinam
As religiões e as espiritualidades dos povos têm muito a contribuir para a afirmação do paradigma ecológico na reflexão e no comportamento global. Elas contribuem para o discernimento da realidade e apresentam caminhos para o diálogo e a cooperação tanto entre os povos quanto na relação com a natureza. Em seus mitos e ritos, desenvolvem a sensibilidade para a fraternidade criatural, favorecendo à escuta da natureza, do respiro dos seres, da consciência que temos em nosso ser e agir cotidiano, à saúde planetária. E isso implica em relações humanas e sociais responsáveis e cuidadoras da vida, relações que devem ser desenvolvidas no horizonte da gratuidade, da humildade e do serviço. Essa postura da fé implica num novo modo de fazer teologia em nosso tempo, assumindo compromissos ecológicos. Afirma Wolff (2019-c, p. 97): a ecologia “não é apenas um ‘paradigma’ da teologia, ela está incluída no próprio objeto da teologia. Trata-se de uma teologia engajada ecologicamente que ouve simultaneamente os gritos da terra”. Uma teoecologia para os tempos de hoje é o que nos possibilita real testemunho do evangelho da “vida em abundância” (Jo 10,10), afirmada pela doutrina social da igreja ao falar de justiça e paz entre povos, culturas e religiões. Wolff e Colet (2019, p. 196) verificam que na Encíclica Laudato Si, o Papa Francisco:
vincula estreitamente o diálogo inter-religioso com a Doutrina Social da Igreja, convocando todos os credos a uma corresponsabilidade por uma ‘ecologia integral’. Esses fatos fortalecem o caminhar das religiões na direção de uma ‘cultura da paz’, superando barreiras formadas pelos preconceitos, discriminações e violências com motivações religiosas.
Isso implica que é preciso fortalecer também o diálogo, a acolhida mútua e a cooperação entre as tradições religiosas e espirituais do nosso tempo. Não há nenhuma razão para a perpetuidade de discriminação e preconceitos históricos, fragilizando a contribuição dos credos na construção da fraternidade humana e criatural. É preciso reconhecer que cada expressão tem seu lugar no mundo e precisa contribuir com sua forma de ser para o bem comum. O budismo, por exemplo orienta para o aprofundamento da autoconsciência humana em sintonia com toda a natureza:
Assim como a brisa suave e as poucas flores dos galhos anunciam a chegada da primavera, a grama, as árvores, as montanhas, os rios e todas as outras coisas, começarão a palpitar com nova vida, quando um homem alcança a iluminação. Se a mente de um homem se torna pura, seu ambiente também se tornará puro .... Um palácio de ouro, mas manchado de sangue, não pode ser a morada de Buda, mas um casebre, em que o luar entra através das fendas do teto, pode ser transformado em palácio, onde Buda poderá morar, se o dono tiver uma mente pura (KYOKAI, 1978, p. 494 - 496).
Interessante o paralelismo entre a primavera que tudo renova na natureza e um ser humano que alcança a iluminação. Espera-se que cada ser humano alcance a consciência profunda de si, “iluminação” como habitante do planeta Terra. Na fé cristã, ao contemplar com profundidade a realidade das coisas e do próprio ser, mais profunda é a nossa consciência sobre Deus. Pois “O universo desenvolve-a se em Deus, que o preenche completamente. E, portanto, há um mistério a contemplar em uma folha, em uma vereda, no orvalho, no rosto do pobre” (LS, n. 233). O pontífice cita um pensamento de profunda beleza do mestre espiritual Ali al-Khawwas, o qual a partir de sua própria experiência “assinalava a necessidade de não separar demasiado as criaturas do mundo e a experiência de Deus na interioridade” (LS, n. 233):
Não é preciso criticar preconceituosamente aqueles que procuram o êxtase na música ou na poesia. Há um “segredo” sutil em cada um dos movimentos e dos sons deste mundo. Os iniciados chegam a captar o que diz o vento que sopra, as árvores que se curvam, a água que corre, as moscas que zunem, as portas que rangem, o canto dos pássaros, o dedilhar de cordas, o silvo da flauta, o suspiro dos enfermos, o gemido dos aflitos (VITRAY- MEYEROVICH. Apud LS n. 233, nota 159).
Aqui é possível constatar uma importante convergência entre Ali al Khawwas e o ensino de Francisco no que diz respeito à relação entre a humanidade e a natureza (LS, n. 209-215). E nesse sentido, a fé cristã e as diferentes tradições religiosas e espirituais são chamadas a se enriquecerem mutuamente no exercício da contemplação do mistério da criação. Esse enriquecimento mútuo as vincula em gestos concretos, éticos e políticos, para a promoção e defesa de todas as formas de vida que expressam presença e ação de Deus habitando, também ele, na casa comum.
1.4 Uma carta para refletir
Um exemplo do que concluímos acima é a carta que o cacique indígena Ts’ial-la-kum, de Seattle/EUA, enviou ao presidente norte-americano em 1854, e distribuída pelo Programa para o Meio Ambiente da ONU. A carta é, ao mesmo tempo, tanto uma contribuição para a educação ecológica, quando o testemunho de uma vivência mística/espiritual centrada no essencial. O cacique leva-nos a um reconhecimento e um mea culpa das ofensas que historicamente praticamos à Mãe Terra, e questiona sobre quais são hoje as atitudes necessárias para um novo modo de convivermos com o conjunto da criação, afirmando o paradigma ecológico.
É importante nos atermos a alguns elementos da carta, no intento de apreendermos a intensidade ética e a profundidade espiritual com que mostra a relação dos povos indígenas - e não só norte-americanos - com a natureza. Para isso, julgamos oportuno repetir alguns trechos:
Como se pode comprar ou vender o céu, o calor da Terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho. [...]. Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a Terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto [...]. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência (Ts’ial-la-kum). (Carta do Cacique de Seattle. Apud PESSINI, 2010, p. 158-161).
Palavras proféticas de alguém que vive em profunda e existencial conexão com a natureza, percebendo as consequências do mal uso da “casa comum”, e um convite para fortalecer a nossa responsabilidade em sua defesa. Ecoa ainda hoje essa voz profética indígena: “Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência”. Eco que deveria penetrar com mais agilidade na consciência da humanidade sobretudo neste momento em que todos lutamos para sobreviver na pandemia da COVID 19. E isso deve nos comprometer seriamente na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois “sabemos que as coisas podem mudar” (LS, n.13).
Essa mudança muito depende das opções de cada pessoa, mas não se resume numa questão individual. Ela é coletiva e exige um planejamento social com políticas públicas e uma legislação de pertinência ecológica, em todas as nações. Estas precisam entrar num acordo sobre os passos para o futuro da humanidade, numa nova visão do progresso e do desenvolvimento que considere “uma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente” (LS, n. 229), de modo a “assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias” (CARTA DA TERRA, 2000). Já existem países que adotam os “direitos da natureza” em sua Constituição, como o Equador que entende a natureza tanto no sentido de Gaya, quanto no sentido de Pachamama, “ideia invocada por vários povos indígenas para se referir ao local de onde se reproduz e se realiza a vida” (ALVES, 2015, p.1315). Todas as pessoas e todos os seres merecem ter seus direitos à vida garantidos, sem discriminação ou privilégios. Tal é a proposta da “ecologia integral” que nos mostra “até que ponto são inseparáveis a preocupação pela natureza, a justiça para com os pobres, o empenhamento na sociedade e a paz interior” (LS, n.10). Também na relação com a criação os humanos precisam estar cientes “que precisamos uns dos outros” (LS n. 229), que existem “ligações mútuas entre todos” (LS, n. 5) e em tudo. Essa dimensão relacional da vida faz parte do credo cristão e do querigma missionário, “que brota do mistério da Trindade (LS, n. 240)” (SUESS, 2019, p.18).
2 Ecologia como expressão do amor
Estudos sobre a teologia judaica da criação, teologia cristã da criação, ecologia integral da Laudato Si, entre outros, permitem perceber a relação amorosa com a natureza vivida por mestres da humanidade como Francisco de Assis, Hildegarda de Bingen, Pierre Teilhard de Chardin, e tantos/as outros/as, que orientam de forma ímpar a percepção da natureza/criação como “casa comum” (MAÇANEIRO, 2019). Esses homens e mulheres souberam viver em profunda comunhão com todo o cosmos, assumindo o cuidado e o serviço como a vocação primordial. É neste vínculo intrínseco da espiritualidade com a ecologia que nós humanos podemos resgatar e fortalecer a missão que nos foi confiada nesse mundo, como guardiões e amantes da terra (cf. Gn 2,15; LS, n.236), habitamos “numa casa comum que Deus nos confiou” (LS, n. 232). E o novo céu e a nova terra buscados “somente é possível quando o homem se torna administrador da criação e entende que isso é como um vestido sem costura que conecta Deus com o homem e com todas as criaturas” (ZAPATA; TRUJILLO, 2018, p. 103).
Trata-se, em última instância, de uma expressão de amor. Quem ama cuida. Ações ecológicas são expressões de um amor que se doa no zelo pela vida. São experiências espirituais intensas (LS, n. 232) uma vez que cada gesto de amor é expressão da presença e ação do Espírito de Deus. É no Amor que se sustentam as verdadeiras relações com Deus, com a humanidade, com a criação. O amor que nos torna conscientes da nossa própria origem, identidade e fim (Cf. BOFF, 2000, p. 168 - 170. Apud LIBÂNIO, 2015 p. 78). Na perspectiva cristã, esse amor é vivido num processo de conversão ao Deus que é amor (cf. 1 Jo 4,8). É um processo de altos e baixos, conforme conseguirmos responder às exigências de mudanças para mantermos a fidelidade no amor. Mudanças exigentes e que precisam ser constantes, cotidianas. A convivência amorosa exige que cada pessoa esteja atenta para “não perder a oportunidade de uma palavra gentil, de um sorriso, de qualquer pequeno gesto que semeie paz e amizade. Uma ecologia integral é feita também de simples gestos cotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo” (LS, n. 230).
O amor ecológico é algo concreto, não mero sentimentalismo ou teorização da relação com a natureza. Trata-se do amor que realmente transforma hábitos, mentalidades, estilos de vida (LS, n. 216-221) é efetiva conversão ecológica (LS, n.216-221). E se expressa em todas as ações que visam construir um mundo melhor (LS, n. 231), por um “amor civil e político” (LS, n. 228-232), capaz de assegurar a renovação de atitudes; na educação para a aliança entre a humanidade e o ambiente (LS, n.209 -215); na criação de situações de alegria e de paz (LS, n. 222-227); no reconhecimento da sacramentalidade e da gratuidade das coisas (LS, n.233-237)
Para o Papa Francisco, o amor é a raiz profunda e o fio condutor da virada ecológica. Diz o n. 231 da Laudato Si:
O amor à sociedade e o compromisso pelo bem comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre os indivíduos, mas também ‘as macrorrelações, como relacionamentos sociais, econômicos, políticos’. Por isso, a Igreja propôs ao mundo o ideal de uma ‘civilização do amor’. O amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico: ‘Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social – nos planos político, econômico, cultural – fazendo dele a norma constante e suprema do agir’. Neste contexto, juntamente com a importância dos pequenos gestos diários, o amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma cultura do cuidado que permeie toda a sociedade.
Em período de isolamento social no qual hoje vivemos por causa da pandemia do novo coronavírus/COVID 19, é fundamental fortalecer a criatividade do amor, expressando algum modo de presença na vida das pessoas que renova a esperança, a coragem, a fé. A privação dos contatos físicos com parentes e amigos não pode cancelar as expressões de afeto e de amor para com as pessoas. A quarentena imposta pela pandemia nos permite relações mais afetuosas também para com a natureza. No isolamento, podemos sentir melhor o ambiente onde estamos, e nos sentirmos estimulados pelo canto de um pássaro, o despertar da manhã ou o cair da tarde, a beleza das pequenas coisas:
No dia seguinte, fui acordado por um pássaro cantando no jardim. Nunca tinha ouvido um som tão maravilhoso antes. Meu quarto estava iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã. Sem pensar em nada, eu senti - soube - que existe muito mais coisas para vir à luz do que nós percebemos. Aquela luminosidade suave que atravessava as cortinas da janela do meu quarto era o próprio amor. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu percebi que nunca tinha reparado na beleza das pequenas coisas, no milagre da vida. Eu já tinha tudo o que necessitava. Eu sabia que algo profundamente significativo tinha acontecido, mas não entendia exatamente o que. Só compreendi anos mais tarde (TOLLE, 2010, p. 6-7).
O paradoxo é que no atual contexto pandêmico constatamos que muitos ecossistemas e biomas se refizeram significativamente com a diminuição da poluição, favorecidos pela redução significativa de veículos circulando nas cidades ou pela redução do trabalho nas fábricas. É um jogo de dor e de amor: com menos poluição, o ar conseguiu purificar-se em algumas regiões do globo.
Dessa forma, superamos o paradigma utilitarista e consumista pela atenção à estética do mundo, a sua beleza e ao amor gratuito às coisas. Assim vivemos a surpreendente experiência de uma comunhão na qual “espírito e matéria se interpenetram produzindo a instigante aventura da vida. ... Espírito e matéria são distintos sim, radicalmente diferentes, mas nunca separados e menos ainda contrapostos” (TAVARES, 2016, p. 76). Isso supõe uma relação de santidade, sacralidade, sacramentalidade. Pelo amor e somente nele, “a pessoa humana, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas” (LS, n. 240). Então, a vida é vivida como uma experiência sacramental de comunhão no amor.
3 Exemplos de mudanças de paradigmas
A encíclica Laudato Si´ evidencia a importância das inter-relações entre comunicação, educação e consumo, “na promoção de um novo cenário socioeconômico global, chamando ecologia integral” (JUNQUEIRA, 2018, p. 4). Dentro destas três dimensões - comunicação, educação e consumo - se procura a saúde global dos seres vivos e do cosmos. Nesse sentido se engloba também a espiritualidade, que pode ser considerada como um manto azul que abraça céu e terra.
No atual cenário mundial é urgente a adoção e consolidação coletiva de práticas sustentáveis na produção e no consumo do que é necessário para a condição humana. A semana dedicada ao aniversário de cinco anos da publicação da Laudato Si´ (16 a 20 de maio de 2020) foi uma significativa oportunidade para um processo de análise e de proposição de novas perspectivas acerca do caminho a percorrer na formação dessas práticas:
Todavia, para se resolver uma situação tão complexa como esta que enfrenta o mundo atual, não basta que cada um seja melhor. Os indivíduos isolados podem perder a capacidade e a liberdade de vencer a lógica da razão instrumental e acabam por sucumbir a um consumismo sem ética nem sentido social e ambiental. Aos problemas sociais responde-se, não com a mera soma de bens individuais, mas com redes comunitárias ... A conversão ecológica, que se requer para criar um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária (LS, n. 219).
É necessário investir em políticas educacionais de base voltadas na formação para o desenvolvimento da consciência e de práticas que possibilitem o desenvolvimento humano responsável, comprometido e protetor do meio ambiente (Cf. BEZZERRA; NETO; SOARES, 2016, p. 01-165). Muitas instituições de ensino adotaram esse compromisso em seus processos pedagógicos, fortalecendo a educação para a paz, a justiça, a distribuição equitativa dos recursos naturais, numa vida sustentável. São oportunidades que podem “criar um dinamismo de mudanças duradouras, é também uma conversão comunitária” (LS, n. 219). Coloca-se, assim, em prática a necessidade de “reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição de vida sustentável” (Carta da Terra, 2000, n.14d). Citamos alguns exemplos:
3.1 O dado da paz e o Dado da Terra
Neste sentido situa-se o Dado da Paz – Living Peace, inspirado nos elementos que Chiara Lubich apresenta para a “Arte de Amar”, divulgado também sob forma de um brinquedo - “Dado” - para a educação de crianças. Ao lançar o Dado da Paz, nas faces não se vê números, mas frases que ajudam a construir a paz. São elas:” Ser o primeiro a amar”, “Amar uns aos outros”, “Perdoar uns aos outros”, “Escutar o outro”, “Amar a todos”, “Amar o outro” (Cf. ARXER, 2017; BOI, 2017). O Dado da Paz mostra como pequenas ferramentas podem ser úteis em vários espaços, como as escolas e outros ambientes educacionais, para mudança de atitudes em todos os níveis, inclusive em relação à natureza. Uma escola de ensino fundamental em Ibiporã (PR), exemplifica a experiência nessa direção, como relata Maria de Fátima (2020, p. 16):
Como professora em um Colégio Estadual em Ibiporã (PR), apresentei a proposta do Dado da Paz aos alunos do Ensino Fundamental e jogávamos toda a semana. O Dado da Paz nos ajuda como instrumento lúdico a trabalhar conceitos de paz. Eu quis fazer uma experiência com meus alunos de utilizar o mesmo para trabalhar a educação ambiental. Um dia, trabalhando os conceitos de preservação ambiental, após a teoria em sala, levei os alunos a campo, e utilizamos o Dado da Paz in loccu em uma área de Mata Ciliar. Meu objetivo era que entendessem por meio deste, que é preciso amar todas as formas de vida, respeitar a natureza e os animais (Amar a todos). É preciso estar bem atento ao que a natureza pode nos dizer (Escutar), interessar-se em conhecer para preservar e recolher os lixos próximos ao riacho (Ser o primeiro a amar). Não poluir o ar provocando queimadas (Amar o outro) e assim por diante. Antes de entrar, dividimos o grupo de 30 alunos de 10 em 10, jogamos o Dado da paz e a frase que caísse era o que devia ser praticado na área preservada (Mata Ciliar), tanto em relação aos colegas como em relação a natureza. Ao sair foi feita uma roda, onde todos podiam contar como foi viver a frase do Dado da paz ali na Mata ciliar com seus colegas. Relato de alguns alunos: - Entendi muitas coisas, por exemplo, que para amar o outro devo preservar as florestas e não provocar queimadas para que os outros possam respirar o ar puro. - Para amar a todos inclusive os animais eu preciso diminuir meu consumo e contribuir para preservar seu habitat. - Consegui ouvir o vento, o barulho da água, e os passarinhos cantarem.
Outra técnica de conscientização ecológica é o Dado da Terra, uma ferramenta motivacional para viver os princípios básicos de um planeta mais saudável e mais sustentável. O seu objetivo é promover atitudes pessoais e comunitárias transformadoras em relação ao meio ambiente. O Dado da Terra contém as frases: “Estamos todos conectados”; “Descubra as belezas”; “Tudo é um presente”; “Sorria para o mundo”; “Tome só o que necessita”; “O tempo é agora”. Cada frase conta com uma explicação teórica e sugestões práticas. Por exemplo, para a frase “Tome só o que necessita”, explica-se o seguinte:
Como vamos viver de forma sustentável neste planeta? Usando apenas o necessário para viver em relação com todo o resto. Como uma árvore que necessita apenas da água e dos nutrientes necessários para crescer e dar frutos, nós também precisamos separar os nossos desejos de nossas necessidades. Vamos minimizar nossos impactos negativos maximizando nossos pensamentos positivos. Faça com que essas escolhas individuais se tornem inspiração para a mudança coletiva! (ECOONE - a).
O Dado da Terra se baseia no estilo de vida do Projeto EcoOne, que serve de inspiração para profissionais da área da educação que promovem a conversão ecológica como algo possível, necessária e urgente. É uma conversão que ensina a ser feliz e viver em paz com o mínimo necessário, não o máximo permitido (Cf. ZAMPIERI, 2016, p.21). E compromete-nos a fazermos o possível para “proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual”, como o meio ambiente (Carta da Terra n. 12b). Alegrar-se com a natureza que nos circunda, ouvir o seu ritmo que chama à uma vida mais sóbria e essencial, é fundamental para uma vida feliz e pacificada na convivência entre todos os seres. Trata-se de viver numa sobriedade libertadora (LS, n. 222) que promove a paz da pessoa consigo mesmo, com o meio ambiente, com a humanidade.
3.2 EcoOne
Como mencionamos acima a EcoOne, vale a pena que apresentemos aqui um pouco mais essa organização internacional ambiental e cultural, reconhecida como ONG parceira da UNESCO, com status consultivo. O seu objetivo é promover um espírito universal de fraternidade como um fator dinâmico na coesão social. Trata-se de uma rede informal de pessoas da academia, profissionais de diversas áreas, que se empenham em desenvolver nas ciências ambientais uma dimensão humanística, promovendo a salvaguarda da criação por encontros nacionais e internacionais que elaboram um pensamento ecológico fundamentado sobre quatro princípios: custódia, responsabilidade-consciência ambiental, novo relacionamento pessoa-natureza e sustentabilidade do desenvolvimento. Dentre as atividades da EcoOne no Brasil, destaca-se a comemoração feita, nos dias 16 a 24 de maio 2020, do aniversário de cinco anos da encíclica Laudato Si´. Tratouse da divulgação de frases da encíclica sobre o cuidado da casa comum, por diversas formas da mídia digital, e inclusive por folders encaminhados através do whastapp, visando fortalecer a recepção da encíclica e gerar comportamentos orientados pelo seu ensino. Outra significativa atividade da EcoOne é o meeting que está sendo preparado para realizar em Castel Gandolfo (Itália) nos dias 23 a 25 de outubro do presente ano, com o objetivo de aprofundar a reflexão sobre “Novos caminhos para a ecologia integral: cinco anos depois da Laudato Si´” (ECOONE - b, 2020). Esse encontro quer avaliar o impacto dessa encíclica no mundo atual, analisando as iniciativas tomadas para a vivência do seu precioso ensino sobre uma ecologia integral. É de se esperar que tal iniciativa de fato fortaleça a formação de atitudes pessoais e coletivas para respostas às urgências ambientais, em sintonia com o já propôs a Carta da Terra: “que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência diante da vida, por um compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, pela rápida luta pela justiça, pela paz e pela alegre celebração da vida” (Carta da Terra).
Esses exemplos, entre tantos outros possíveis, muito contribuem para a realização dos princípios e compromissos contidos na Carta da Terra, com destaque para:
promover uma cultura de tolerância, não violência e paz; assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajuda a proteção ambiental e a paz; reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte. (Carta da Terra, 16)
3.3 O Pacto Global por uma educação ecológica
A proposta do Pacto Global sobre educação, com o tema “Reconstruir o Pacto Educativo Global”, promovido pelo papa Francisco, inicialmente para maio de 2020, e agora, por causa da pandemia da COVID 19, adiado para os dias 11 a 18 de outubro do mesmo ano, propõe “reavivar o compromisso em prol e com as gerações jovens, renovando a paixão por uma educação mais aberta e inclusiva, capaz de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão” (PAPA FRANCISCO, 2019). O papa sente a necessidade de uma “aliança educativa”, fazendo do mundo uma “aldeia de educação” para o cuidado, o respeito, a paz, ajustiça, o diálogo e a cooperação entre povos, culturas e credos (cf. PAPA FRANCISCO, 2019). Essa proposta sustenta-se numa espiritualidade centrada na “mística do nós”. Na perspectiva cristã, tal “mística do nós” expressa a fé trinitária no Deus Uno e Trino, Deus comunhão, que salva a humanidade das tragédias promovidas pelo seu egoísmo. Mas Ele quer contar com a cooperação humana. Por isso, urge a formação de atitudes que sensibilizem o ser humano para as fragilidades pessoais e ambientais. Uma cultura e uma espiritualidade ecológica, desenvolvidas na perspectiva do “Pacto Global” despertam o ser humano para a beleza e a bondade de Deus na criação, como que sendo a sua própria assinatura no criado, e forma para relações de amor, gratuidade e serviço. Para isso urge uma a educação para a construção de sociedades sustentáveis, uma educação que seja ética, crítica da sociedade de consumo e transformadora (MOURA MACHADO; AGOSTINI, 2019, p. 50-61).
Nesse processo, é de fundamental importância o repensar teológico nas tradições religiosas. Suas instituições e seus centros de formação precisam promover novas hermenêuticas da fé, no sentido de promoverem caminhos de mudanças no comportamento religioso e social em direção a uma ecologia integral. A teologia precisa analisar com profundidade como nos relacionamos com a natureza do ponto de vista ético, econômico, científico, social, religioso, etc. Urge um repensar da fé que seja “ético e libertador”, em sintonia com a Laudato Si´ (BOFARULL, 2016). Nesse repensar da fé, em estreita conexão com a vida socioambiental, deve-se priorizar a formação para o uso responsável dos recursos naturais. Vemos que particular atenção precisa ser dada à água. Num tempo em que milhares de pessoas não têm acesso à água potável, entre outros recursos naturais que deveriam ser distribuídos gratuitamente, bem assinala o Coordenador da Rede Ecumênica da Água (Conselho Mundial de Igrejas) Dinesh Suna: urge “que os membros das comunidades religiosas e da sociedade civil entendam as implicações sociais, teológicas e espirituais da água” (SUNA. Apud Wolff, 2019- c, p. 8), e, ao mesmo tempo, “se comprometam na afirmação da Água como Dom de Deus, Direito humano e Bem público” (Ibidem). Tal recomendação pode ser ampliada para a criação como um todo.
Conclusão
A Encíclica Laudato Si´, em sintonia com a Carta da Terra, sustenta os passos na direção da formação de uma nova consciência ambiental, impulsionando atitudes responsáveis para o cuidado e a promoção da vida no/do planeta. Esse processo educativo ecológico tem vínculos intrínsecos com as tradições religiosas e espirituais dos povos, como um constante apelo para uma conversão radical em vista de uma regeneração da saúde global da terra (Cf. PESSINI, 2010. p 152). Nesse intento, categorias como proximidade, relação e convivência formam um trinômio que dá sabor à redescoberta do amor como fio condutor para mudanças de atitudes, entre os humanos e desse com a natureza, numa compreensão ampla e profunda da sua finalidade, sua bondade e sua estética. Nessa direção se constrói uma comunhão entre os saberes, numa interação harmoniosa entre a linguagem da mente, do coração e das mãos:
Ou seja, é necessário aprender a pensar bem, a sentir bem e a trabalhar bem. Isto é importante - as três linguagens - porque nós herdamos do Iluminismo esta ideia - não sadia - que a educação é encher a cabeça de conceitos. E quanto mais souberes, melhor serás. Não. A educação deve concernir a cabeça, o coração e as mãos. Educar para pensar bem, não só aprender conceitos, mas pensar bem; educar para sentir bem; educar para agir bem. De modo que estas três linguagens estejam interligadas: que tu penses aquilo que sentes e fazes, que tu sintas aquilo que pensas e fazes, que tu faças o que sentes e pensas, em unidade. Isto é educar (PAPA FRANCISCO, 2018).
Nessa direção é que se desenvolve uma espiritualidade ecológica. Educação e espiritualidade ecológicas sustentam a comunhão/fraternidade criatural. É um modo de crer e de compreender a própria crença no aprofundamento da relação com as criaturas num horizonte sacramental, pelo que expressam algo do Criador. Essa compreensão requer um discernimento teológico situado na realidade onde estamos. O modo como nos situamos na realidade influencia, e não raro determina, o modo como a compreendemos. Então entendemos que o “conhecimento teológico tem algo que expressa a relação entre Deus e o ser humano: conhecer é comungar afetivamente. A compreensão teológica requer proximidade, relação, convivência” (WOLFF, 2019-d, p. 1564). Toda pessoa crente exerce alguma função de teóloga/teólogo, não como um cientista que analisa um objeto como algo que lhe é distante, mas experimentado e compreendido na interioridade da própria fé. Tal é a aproximação espiritual e mística da criação. Essa aproximação precisa ser cultivada, individual e comunitariamente, como fonte de criatividade na defesa da vida em todas as suas expressões, vinculando culturas, etnias, credos, política, economia, etc. e meio ambiente. E nessa dinâmica, inseridos/ as no grande santuário da criação, nós humanos temos possibilidades de gerar processos e atitudes que melhor respondam ao grito dos pobres e ao grito da Terra, no Kronos e no Kairós de uma espiritualidade que humaniza e santifica a casa comum.
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