Estamos há oito anos do início de pontificado do Papa Francisco, o cardeal Jorge Mario Bergoglio. Desde o dia 13 de março de 2013, a Igreja Católica iniciou um período de renovação eclesial que subsiste até hoje, tanto em seu aspecto de organização interna, como também no modo de enfrentar o complexo diálogo com o mundo contemporâneo, incidindo numa revisão de linguagem com a realidade. A presente edição da Revista de Cultura Teológica, pertencente ao Programa de Estudos PósGraduados em Teologia da PUC-SP, assume essa tarefa de explicitar academicamente algumas dessas iniciativas do processo de renovação eclesial mediante valiosos artigos deste número.
Muitos artigos, estudos e até obras já têm tratado sobre o perfil do papa escolhido “do fim do mundo” para o centro da Igreja, em Roma. A mídia e toda a difusão de notícias sempre se sentem motivadas a captar cada detalhe dos gestos, palavras e atitudes deste Papa que “foge” do modelo convencional de um Pontífice Romano. Seu modo próprio de tratar diretamente as pessoas exprime que a alguma mudança, desde 2013, conduziria a Igreja em seu processo de se comunicar e atualizar a mensagem do Evangelho.
De março de 2013 para cá, o “fenômeno” Papa Francisco é escutado por muitos. De dentro e de fora da Igreja é admirado por muitos, mas também criticado e incompreendido por não poucos. Das “sacristias”, Francisco convoca todos a uma “Igreja em saída”. A cúria romana, com suas “proféticas” mensagens natalinas, convoca a uma contínua conversão, apontando inclusive doenças espirituais. Este gesto se repetiu frequentemente, logo no início, mediante as missas e homilias simples e profundas na casa Santa Marta todas as manhãs. Após ter criado um grupo de cardeais para assessorá-lo mais de perto, o “G8”, Francisco de modo sinodal começou uma série de discussões sobre os problemas internos da Igreja, que vai desde a reforma da cúria até os casos de pedofilia e uma necessária proximidade com as pessoas.
Do ponto de vista histórico e teológico, a renovação eclesial foi um imperativo evangélico que se impôs em todas as épocas em que a Igreja se viu abalada em seus fundamentos e na sua missão. O desejo de renovação ou reforma remonta a tempos alvissareiros em que referências novas impõem-se de modo forte para que a linguagem da fé e sua expressão sejam mais acessíveis às pessoas.
Este novo número da Revista de Cultura Teológica quis dedicar-se ao tema do “Papa Francisco e a renovação eclesial”. Com uma série de artigos próprios de um dossiê com este tema e com alguns artigos livres, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na esteira dos gestos, atitudes e ideias de Francisco, pretende refletir sobre algumas questões que explicitam esse caminho renovador. Deseja-se, deste modo, explicitar o fato de que com o atual pontífice um processo de renovação atinge a toda a Igreja.
No geral, os artigos, escritos em língua portuguesa e italiana, se articulam em torno de alguns temas que são centrais no atual pontificado de Francisco, tais como: as reformas nos apelos da nova evangelização; uma reforma do papado à luz da história e alguns apelos; o discurso de Francisco à Academia Afonsiana pelos seus 70 anos de fundação; aproximações com o tema da ecologia (a terra é irmã, mãe e casa); a sinodalidade como caminho de renovação eclesial; a contribuição do ecumenismo a uma Igreja em “saída”; linhas-força da espiritualidade do Papa Francisco; a mulher e os ministérios na Igreja à luz de Francisco; o tema da “transformação missionária”; o da tecnologia na visão de Francisco; entre outros; esses artigos se colocam como centrais no dossiê. Outros, também apresentam sua relação com esse processo renovador na medida em que indicam uma revisão de rota na busca por explicitar elementos da fé.
Autor |
Título do artigo |
Elias Wolff |
A renovação da “Igreja em saída” e suas contribuições para o ecumenismo |
Lúcia Pedrosa-Pádua |
Linhas-força da espiritualidade do Papa Francisco: uma reforma a partir de dentro da Igreja |
Massimo Faggiolli |
Sinodalità come rinnovamento ecclesiale in Papa Francesco |
Solange Novaes |
Na Ecclesia Semper Reformanda a Terra é Irmã, Mãe e Casa |
Ney de Souza; Tiago Cosmo da Silva |
Por uma reforma do papado: história, apelos e caminhos à luz do pontificado do Papa Francisco |
Celia Maria Ribeiro |
Papa Francisco e o projeto da “transformação missionária da Igreja” |
Clélia Peretti; Ivoneide Queiroz |
Mulher e Ministérios na Igreja Católica à luz do pensamento do Papa Francisco |
André Luiz Boccato de Almeida |
Papa Francisco e o Específico da Teologia Moral. Análise do Discurso à Academia Afonsiana pelos seus 70 anos de fundação |
Rogério Gomes |
A tecnologia: criatividade e poder. Uma reflexão ético-social à luz da Laudato Si’ |
Klaus da Silva Raupp; Luiz Carlos Susin |
A Economia segundo Francisco. Aspectos principais do pensamento econômico no atual pontificado a partir da mensagem do Papa aos participantes do evento “The Economy of Francesco”. |
Rita de Cassia M. Alvares |
Implicações e desdobramentos de uma análise |
Clélia Peretti; Ellton Luis Sbardella |
Família, fé e cultura: análise bíblica e contribuições de René Girard |
José Luis Manrique Yañes; Marcial Maçaneiro |
Fruição estética do Mistério: encontro entre Música e Teologia |
Danilo Dourado Guerra; Emivaldo Silva Nogueira |
Onésimo: Alteridade e Comunidade – Uma análise a partir da filosofia do reco- nhecimento de Martin Buber |
Josiney Alves de Souza |
Matemática e evolução: a lei do mais forte |
José Aguiar Nobre; Gilberto Dias Nunes |
XAVIER, Donizete. Teologia Fundamental. Coleção Iniciação à Teologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021. (Resenha) |
Na condição de organizador deste Dossiê, que contou com o auxílio valioso dos membros do Grupo de Pesquisa PHAES (Pessoa Humana Antropologia Ética e Sexualidade), manifesto meus agradecimentos a todos que contribuíram com a redação desses artigos e aos que colaboraram para a revisão, pareceres e avaliações dos mesmos. Que os gestos, ideias e atitudes do Papa Francisco nos encorajem a uma reflexão teológica que acolha os desafios atuais com discernimento, prudência e inteligência ativa.
André Luiz Boccato de Almeida
PUC-SP