O pluralismo religioso e as religiões em movimento
Religious pluralism and moving religions

Suzana Ramos Coutinho
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Wagner Lopes Sanches
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


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O pluralismo tem o efeito de relativizar as cosmovisões, trazendo à mente o fato de que o mundo pode ser compreendido de maneiras diferentes. (BERGER, 2017, p. 68).

Resumo

O deslocamento de uma situação de hegemonias religiosas para uma situação de pluralismo religioso alterou profundamente as religiões e as suas relações com as pessoas, com as outras religiões e com a sociedade. Dois aspectos desse deslocamento foram a relativização das concepções religiosas e a possibilidade de as pessoas circularem livremente entre as religiões. Ao mesmo tempo em que as religiões são relativizadas – no amplo processo de relativização de crenças e valores – as pessoas afirmam o direito de se movimentar livremente entre as religiões. Esse processo, bastante complexo, trouxe mudanças significativas na forma de se viver a religião. O pressuposto subjacente a este texto é de que a relativização das religiões e a movimentação das pessoas entre as mesmas é um fenômeno que, em certo sentido, pode ser compreendido de forma análoga aos fluxos migratórios.

Este artigo quer problematizar esse processo a partir de três conceitos utilizados hoje nos estudos sobre migração: fronteira, identidade religiosa e errância. O pressuposto utilizado é de que alguns conceitos oriundos dos estudos sobre migração podem contribuir para a análise do pluralismo religioso. Num primeiro momento, o artigo examina os contextos dos três conceitos; num segundo momento a aplicação desses conceitos à realidade do pluralismo religioso e, num terceiro momento, aponta três eixos importantes para o estudo do pluralismo atual.

Palavras-chave: pluralismo religioso, fronteiras religiosas, identidade religiosa e errância religiosa.

Abstract

The shift from a religious hegemony context to a religious pluralism context profoundly changed religions and their relationships with people, other religions, and society in general. Two aspects of this shift were the relativization of religious conceptions and the possibility for people to move freely among religions. At the same time that religions are relativized - in the broad process of relativizing beliefs and values - people affirm the right to move freely between religions. This rather complex process has brought about significant changes in the way religion is experienced. The underlying assumption of this article is that the relativization of religions and the movement of people between them is a phenomenon that, in a sense, can be understood analogously to migratory flows.

This article aims to problematize this process using three concepts in migration studies: frontier, religious identity and wandering. The assumption is that some concepts from migration studies may contribute to the analysis of religious pluralism. At first, the article examines the contexts of the three concepts; in a second moment the application of these concepts to the reality of religious pluralism and, in a third moment, points out three important axes for the study of the actual pluralism.

Keywords religious pluralism, religious borders, religious identity and religious wandering.

Introdução

O deslocamento promovido pela modernidade de uma situação de hegemonias religiosas para uma situação de pluralismo religioso alterou profundamente as religiões e as suas relações com as pessoas, com as outras religiões e com a sociedade. 

Dois aspectos desse deslocamento foram a relativização das concepções religiosas e a possibilidade de as pessoas circularem livremente entre as religiões. Ao mesmo tempo em que as religiões são relativizadas – no amplo processo de relativização de crenças e valores – as pessoas afirmam o direito de se movimentar livremente entre as religiões. Esse processo, bastante complexo, trouxe mudanças significativas na forma de se viver a religião.

Este artigo quer problematizar esse processo a partir de três conceitos utilizados hoje nos estudos sobre migração: fronteira, identidade religiosa e errância. O pressuposto subjacente a este texto é de que a relativização das religiões e a movimentação das pessoas entre as mesmas é um fenômeno que, em certo sentido, pode ser compreendido de forma análoga aos fluxos migratórios.

O artigo está organizado em três momentos. Num primeiro momento são apresentados os conceitos de fronteira, identidade e errância. No segundo momento, procura-se mostrar como esses conceitos podem ser utilizados para estudar o pluralismo religioso nos dias de hoje. Finalmente, no terceiro item, são examinados três eixos do pluralismo religioso na sociedade.

1. Os conceitos

Entendemos que o tema do pluralismo religioso, com suas várias facetas, nas sociedades modernas altera significativamente as configurações religiosas. Três conceitos oriundos dos estudos migratórios são muito úteis para examinar o fenômeno do pluralismo religioso: fronteira, identidade religiosa e errância.

1.1 Fronteiras

Alguns autores que fazem uma leitura pró-globalização insistem que a dinâmica do processo de globalização atual alterou profundamente a ideia de fronteira justamente por que, segundo eles, estaria ocorrendo uma diluição das barreiras alfandegárias e, portanto, das próprias fronteiras. Por outro lado, os estudos sobre os fluxos migratórios atuais têm mostrado que o tema das fronteiras é extremamente atual. Os/as migrantes, ao saírem de seus países em busca de melhores condições de vida, encontram nos países que deveriam acolhê-los resistências de diversas ordens. E, nesse caso, muitos estudos têm mostrado que o tema das fronteiras se torna crucial para entender esses processos de idas e vindas, de avanços e recuos, de afirmação e de negação de identidades.

Na antropologia, um dos autores que tem se debruçado sobre a “antropologia das fronteiras” é Michel Agier.[1] O conceito de fronteira que ele utiliza nos interessa bastante para a discussão que queremos fazer entre pluralismo religioso e fronteiras religiosas. Pretendemos fazer uma recepção crítica e criativa desse conceito procurando mostrar a sua relevância para a compreensão do fenômeno do pluralismo religioso.

O conceito de fronteira, segundo o autor, está fundado nos “fundamentos sociais e não naturais” e, portanto, tem a ver com o modo da pessoa inserir-se no mundo, inclusive nas suas relações com as outras pessoas, e não com o caráter geográfico das fronteiras. Desta forma, quando falamos em fronteiras geográficas, que são frequentemente fonte de conflitos entre grupos e povos, estamos escamoteando interesses que tem muito mais a ver com fronteiras e limites socioculturais colocados para defender grupos e seus lugares sociais no mundo. Por outro lado, Agier observa que se nota, hoje, o que ele chama de elogio/defesa das fronteiras o que frequentemente leva a atitudes de intolerância que exigem a criação de muros para impedir a circulação livre de pessoas. 

Uma antropologia[2] das fronteiras tem que revelar “a existência de uma violência física e simbólica” (AGIER, 2015, p. 40) no movimento de criação de muros nas fronteiras geográficas. A reivindicação de implantação de muros nas fronteiras para impedir a passagem de migrantes, sob o discurso de que eles ameaçam a segurança e o emprego nos países procurados pelas pessoas em movimento, é na verdade uma violência contra o direito fundamental a uma existência digna. Esse aspecto – o da violência – com frequência é escamoteado por aqueles que defendem intransigentemente a necessidade de construir muros nas fronteiras para impedir a entrada de migrantes.[3]

Agier fala num “rito da fronteira” que expressa a vida social num determinado meio ambiente e estabelece a distinção entre o mundo natural e o mundo social que é construído (cf. AGIER, 2015, p. 42). 

A fronteira tem, portanto, a função de delimitar o espaço onde o grupo existe, mas também tem a função de definir as relações com outros grupos. Por conseguinte, a fronteira tem um valor positivo pois serve para o grupo reconhecer-se num certo ambiente e reconhecer-se diante dos outros. A fronteira tem um caráter identitário que é necessário para a sua afirmação. Por isso, toda fronteira tem uma dimensão espacial e outra relacional que envolve questões referentes à identidade dos grupos sociais.

No entanto, justamente por causa de seu aspecto identitário, a fronteira pode traduzir-se num fechamento que tanto pode levar a posturas xenofóbicas como a uma guetização de grupos e povos. Assim, hoje a fronteira tornou-se um problema e um desafio para quem quer liberdade de ir e vir, para quem defende a eliminação de barreiras inclusive sociais. 

Pensar a fronteira como instrumento de promoção de identidades abertas e dinâmicas questiona práticas de xenofobia muito comuns no mundo de hoje. Assim, para Agier o conceito de fronteira está intrinsecamente vinculado ao conceito de identidade. É no âmbito das definições e redefinições de identidade que se torna importante a ideia de fronteira. Nos tempos atuais a discussão sobre o significado e os limites das fronteiras é importante para possibilitar um repensar dessa realidade tão presente na vida humana nos seus vários aspectos sobretudo naquele que mais nos interessa que é o das fronteiras religiosas.

2.2 Identidade

É importante ressaltar que a constituição de identidades diferenciadas em contextos migratórios e as especificidades culturais acarretam problemas políticos e culturais e apontam para o confronto entre concepções plurais e homogêneas de sociedade: 

Há, de fato, uma dimensão cultural (que pode ou não ser expressa na forma de etnicidade) que põe em evidência a importância das políticas de identidade e os interesses nacionalistas mesmo diante do impacto da globalização econômica (SANTOS, PETRUS e LOUREIRO, 2014, p. 11). 

As migrações internacionais produzem minorias – um termo que desde a sua formação nas ciências sociais indicou a dimensão política decorrente do reconhecimento de grupos diferenciados dentro do estado-nação. Assim, “desde o início dos grandes movimentos migratórios no século XIX, a imigração está associada a conflitos de diversas naturezas e, aos poucos, deixou de ser tratada exclusivamente como um problema de inserção social ou de assimilação” (p. 10). As questões e problemas sociais decorrentes do estabelecimento do imigrante em outro país suscitam conflitos no tocante à ideia de nacionalidade; e acabam por revelar, deste modo, novos desdobramentos em diferentes espaços – como a arena política, religiosa etc. Ao objetivar a integração em uma outra sociedade, a construção de diferenças culturais (etnicidade) e as formas de pertencimento coletivo, corre-se o risco de produzir conflitos, antagonismos, xenofobia e desigualdades sociais. 

É relevante neste contexto não apenas traçar um panorama sobre o conceito de identidade,[4] mas mensurar os limites e possibilidades do uso desses conceitos nos estudos sobre migração e, paralelamente, no âmbito das religiões. 

A partir da década de 60, do século XX, surgem diversos estudos que discutem as interações entre os atores sociais e as construções resultantes destas interações. Desta nova perspectiva, o debate atual diz respeito às múltiplas identidades: simbólicas, profissionais, étnicas, sociais, etc. Do mesmo modo, a multiplicidade de conceitos revela a complexidade desses fenômenos e torna evidente a ênfase de cada autor nos aspectos associados à elaboração dos limites simbólicos determinantes do pertencimento comum. Alguns autores enfatizam o papel da etnicidade nas estratégias de mobilização política de grupos sociais (cf. GLAZER & MOYHIHAN, 1975); outros, entendem a etnicidade como algo instrumental (cf. COHEN, 1978), e outros ainda (cf. ARONSON, 1976) a consideram um tipo particular de ideologia. Por outro lado, há autores - como Okamura, 1981- que procuram mostrar que em sociedades plurais a identidade étnica varia seletivamente, dependendo da situação social em que os indivíduos se encontrem. É na obra editada por Kahn (1983) que encontraremos a expressão “identidades múltiplas”, usada pelos autores para mostrar que os diferentes componentes da identidade étnica se alteram no tempo histórico e nas mudanças de situação social. Indivíduos têm mais de uma identidade, exercem mais de um papel social e interagem em diversos universos sociais.   

Ao tratar da multiplicidade identitária, é necessário considerar o aspecto da religiosidade. É inviável discutir a temática da migração sem que seja levado em consideração o aspecto religioso destes imigrantes. Ao escutar histórias de fé destas pessoas recém-chegadas, é possível perceber a experiência de fé indissociada das suas vidas cotidianas. A religião não pode ser entendida neste contexto meramente como um aspecto (entre outros) na vida do imigrante; a fé do imigrante afeta a sua interação cotidiana com não-imigrantes, forma o futuro destes imigrantes no contexto social de destino e influencia a sociedade para além da sua própria presença em um determinado contexto social. Em outras palavras, “para entender os imigrantes, é preciso entender a sua fé. Mais, para entender mudanças sociais em sociedades compostas por imigrantes, não se pode desconsiderar a religião destes imigrantes (CONNOR 2014, p 5). 

3.3 Errância

Um outro aspecto tratado por Agier, quando examina a temática da fronteira, está relacionado à movimentação das pessoas que se deslocam pelos espaços e procuram ultrapassar aos limites fronteiriços e em seus movimentos demoram para se fixar num determinado lugar. Esse aspecto é o da errância. O errante é definido por Agier como “homem-fronteira”[5] (2015, p. 116), ou seja, pessoas que vivem na fronteira em busca de um território para se fixar; ela está em movimento constante pelos territórios em busca de condições estáveis de sobrevivência. O errante é aquele que tem consciência das razões que o levaram a sair do seu lugar de origem, mas que não sabe exatamente para onde ir e onde vai encontrar vida boa para viver. 

Para Agier, o errante é uma figura

bastante próxima do vendedor ambulante e do nômade, é um estrangeiro que não abandona jamais a “liberdade de ir e vir”. Chegado hoje, ele poderá partir amanhã, mesmo se não o faz. Ele é, sobretudo, sem domicílio fixo, eventual e temporariamente ‘sem teto’, bem mais do que “sem documento” – o que ele também é mas isso tem relativamente menor importância do que sua mobilidade, a descoberta pessoal de um estado de ‘clandestinidade’ sendo aleatória e quase secundária (2015, p. 119). 

O errante, em suas idas e vindas, avanços e retrocessos, vive em busca de melhores condições objetivas para viver. Embora ele não tenha um destino geográfico previamente determinado, ele tem consciência de onde quer chegar: a um lugar que lhe dê segurança e condições de vida minimamente humanas. O seu estado de clandestinidade aumenta a condição de insegurança em que vive e acaba reforçando a sua errância. Desta forma, além do aspecto político-jurídico da clandestinidade, a pessoa migrante é obrigada a enfrentar impactos existenciais que afetam o seu modo de ser.

A relação dessas pessoas com as fronteiras dos diversos países é uma relação instável, de indefinição e de resistência constante na afirmação de sua dignidade, de seus valores e de seus costumes. A errância, essa dinâmica inconstante, imprime ao migrante uma condição de insegurança em que ele se vê no dilema de afirmar a sua identidade e, ao mesmo tempo, de assumir temporariamente elementos impostos pela nova sociedade para poder sobreviver.

Embora a condição de errância seja uma aventura (AGIER, 2015, p. 118), ela é também caracterizada como uma situação de insegurança, de indefinição; andando pelos territórios ou parado na fronteira, o migrante tem uma existência de errância.

2. Fronteira, identidade e errância religiosas no contexto de pluralismo religioso

O pressuposto assumido neste texto é de que em sociedades caracterizadas pelo pluralismo religioso a reflexão sobre as fronteiras entre as religiões e, consequentemente sobre identidade religiosa e errância religiosa, traz uma contribuição importante para pensar as relações entre essas últimas.  Desta forma, queremos mostrar como eles são importantes para pensar o fenômeno do pluralismo religioso e as relações entre as religiões nos dias atuais.

A realidade social do pluralismo religioso e as relações entre as religiões no mundo atual apresentam especificidades que só podem ser compreendidas quando olhadas a partir dos sujeitos religiosos – novos e antigos, com suas identidades religiosas próprias – que transitam nas fronteiras das religiões como errantes em busca de repostas para suas expectativas espirituais ou materiais.

As diversas religiões, em seu processo de construção e de concretização histórica, criam elementos que contribuem para delimitar o seu discurso, seu espaço de atuação e as suas relações com outras religiões. Esses limites são colocados pelas religiões para garantir a sua identidade diante de outras religiões e para fornecer aos seus adeptos um conjunto de aspectos que os distinguem das demais pessoas. Esses limites são as fronteiras construídas pelas religiões para fornecer às pessoas uma dinâmica de inclusão, no caso dos adeptos, e de exclusão, no caso das pessoas que estão fora da religião. Desta forma, as fronteiras religiosas incluem-excluem num processo dialético de aproximação-separação que envolve os diversos aspectos do universo religioso.

Como no caso das migrações, as fronteiras religiosas fazem parte do complexo processo de definição de identidade como uma história de deslocamentos, de mobilidades constantes (cf. AGIER, 2015, p. 69). Mesmo no caso de sociedades onde existem hegemonias religiosas, as fronteiras religiosas têm o papel de afirmar/reafirmar identidades e de permitir ou limitar a movimentação das pessoas no interior das estruturas religiosas existentes. Agier nos chama a atenção para o fato de que “nenhum humano jamais foi ‘autoctoniano’ e todas as fronteiras foram sempre instáveis” (2015, p. 70). 

Por isso, também é possível afirmar sobre as religiões em sociedades plurais: nenhuma religião mantém de forma absoluta sua identidade originária e as fronteiras que elas estabelecem, apesar dos discursos das lideranças religiosas que muitas vezes podem apontar em outra direção, são instáveis e, em certo sentido, movediças. Essa ideia diz respeito à dimensão destacada neste texto e que tem a ver com as estratégias de sobrevivências tanto do ponto de vista político como do ponto de vista das reivindicações. Assim, no âmbito das religiões a noção de identidade religiosa não pode ser esquecida pois ela traz no seu bojo tanto os interesses dos sujeitos como também uma dinâmica de “negociação” para circular no campo religioso.

As fronteiras religiosas existem muito mais como sinais presentes nos discursos religiosos e muito menos como delimitações claras e objetivas presentes nas realidades concretas das religiões. O binômio sagrado-profano presente em muitas religiões é um desses sinais. E a própria forma como esse binômio é entendido pelas religiões ao longo do tempo, revela que as fronteiras religiosas podem mudar de lugar e podem ser reelaboradas. 

Se algumas religiões fazem questão de insistir na necessidade de garantir e respeitar as fronteiras religiosas – de modo geral, as igrejas cristãs se enquadram nesse grupo – as fronteiras estabelecidas por essas religiões, utilizando-se inclusive do discurso religião verdadeira/religião falsa, nem sempre impactam os seus membros como algo rígido. Outras religiões veem a questão das suas fronteiras de forma mais flexível por que o seu receituário religioso se faz incluindo, com ou sem restrições, elementos religiosos os mais diversos. Neste segundo caso, um exemplo, na realidade brasileira, é a umbanda que no seu nascedouro incorpora elementos de diversas origens religiosas. A rigor nenhuma religião está isenta desse processo de sincretização. Nesse sentido, o sincretismo é um recurso de muitas religiões para relativizar suas fronteiras e também um recurso dos próprios sujeitos para atenuar as exigências estabelecidas pelas religiões.

As fronteiras religiosas são constituídas pelos espaços religiosos, pelas crenças religiosas, pelos rituais, pelas regras de conduta e pelas concepções religiosas a respeito das outras religiões e das pessoas pertencentes a essas religiões. Por isso, as fronteiras religiosas são fenômenos complexos que envolvem uma luta constante para definir as identidades religiosas. Tendo como horizonte a questão das migrações, Agier afirma que “a história das identidades, a da humanidade inteira, é uma sucessão de migrações, de acasos e de acomodações” (2015, p. 70).  O mesmo vale para o fenômeno religioso: as identidades religiosas, que definem as fronteiras, são também uma sucessão de movimentos, de acasos e de acomodações. Assim, não há identidade religiosa estanque como se fosse uma realidade a-histórica; toda identidade religiosa é dinâmica, movediça, repleta de porosidades, de afirmações e negações, de convergências e contradições. Toda identidade religiosa é, em outras palavras, resultado de um processo de sincretização que flexibiliza as fronteiras. 

Da mesma forma como as diversas interações sociais provocam identidades múltiplas, podemos afirmar que as diversas interações que as pessoas estabelecem no âmbito das religiões e em suas fronteiras as levam a construir identidades religiosas múltiplas decorrentes dos diferentes tipos de vínculos religiosas que constroem. 

As fronteiras religiosas podem se traduzir, muitas vezes, em verdadeiros muros que alimentam a mentalidade de gueto nos membros de uma religião. Mas também podem expressar possibilidades de composição, de acomodação e de aproximação entre universos religiosos originalmente diferentes. Frequentemente as fronteiras religiosas são transgredidas tanto pelos próprios membros das religiões como também pelas pessoas que se movimentam entre as religiões.

É importante, ressaltar, no entanto que a rigidez ou a flexibilidade das fronteiras religiosas vai depender da forma como a) uma determinada religião articula os diversos elementos presentes em seu universo, b) de sua capacidade de dialogar com as expectativas das pessoas numa determinada sociedade, c) de sua auto compreensão e d) da compreensão que tem das outras religiões. As fronteiras religiosas, portanto, assim como as fronteiras socioculturais, são inconstantes e sempre estão sendo refeitas e por isso permitem as trocas entre os diferentes universos religiosos.  

As identidades religiosas, como as identidades étnicas, são múltiplas, maleáveis, adaptáveis. Fenômenos como as múltiplas filiações religiosas podem ser explicadas por uma identidade religiosa que se faz plural. Para os novos sujeitos, uma identidade religiosa única é pouco. Ele reivindica o direito de assumir diferentes expressões religiosas de acordo com as suas exigências existenciais. Essa nova identidade múltipla é uma identidade errante que está em constante busca daquilo que realiza o sujeito do ponto de vista religioso.

Carlos Rodrigues Brandão, num texto de 1993, indicava alguns “caminhos de opção e vivência” no universo religioso disponíveis para as pessoas que não querem viver “uma única religião de um mesmo modo tradicional toda a vida”.[6] 

Essas diferentes possibilidades, que se abrem para as pessoas que buscam no universo religioso responder às suas inquietações e desejos, têm como contrapartida a complexidade do campo religioso com suas dinâmicas específicas num mundo em que as hegemônicas religiosas não mais se sustentam. 

Essas possibilidades revelam não só a insatisfação de muitas pessoas com o modelo tradicional de uma única religião, mas também uma reivindicação: elas exigem o direito de escolher não só entre as diversas religiões existentes, mas também de organizar, ao seu modo, outros arranjos religiosos. Subjacente a algumas das possibilidades apontadas por Brandão está a figura do errante religioso. O errante religioso não é só aquele que não tem destino, mas que também não precisa de destino. Ele vive muito bem movimentando-se entre os diversos universos e espaços religiosos. O seu estilo de busca religiosa é, justamente, de estar constantemente em movimento. À semelhança do migrante, o errante religioso vive a sua trajetória como uma aventura.

Percorrendo esses “caminhos de opção e vivência”, podemos encontrar, a grosso modo no campo religioso atual dois grandes grupos de pessoas: um grupo que se identifica e se satisfaz, mesmo que não integralmente, com o receituário proposto por uma religião e que apresenta sua identidade religiosa vinculada a essa religião e, um outro grupo, itinerante que se movimenta entre os universos religiosos em busca de “água para matar a sede” como o personagem Riobaldo Tatarana, de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Esse segundo grupo pode ser denominado de errante religioso.

O errante religioso não tem a percepção de que as fronteiras estabelecidas pelas religiões são obstáculos à sua movimentação. Para ele, as fronteiras religiosas são limites que podem se transpostos facilmente na realização do seu desejo de “beber daquela água”. 

O errante religioso não aceita – pelo menos implicitamente – o controle do grupo religioso ou instituição religiosa sobre a sua vida. Ele quer liberdade de movimento para construir a sua trajetória religiosa. Essa liberdade se vê desafiada por dois movimentos: o apego às concepções religiosas tradicionais e novas, que tem no fundamentalismo uma de suas expressões, e a relativização das concepções religiosas. A sua trajetória religiosa se faz em meio à tensão provocada entre essas duas visões, como bem demonstrou Amaral (2001, p. 152).

A trajetória religiosa errante insere-se dentro de um contexto maior de a) relativização de valores e de religiões, b) onde outras pessoas também estão na mesma condição de errância e, mais do que isso, c) onde muitas religiões também se colocam nessa condição procurando responder às expectativas pessoais.

As trajetórias percorridas pelo errante religioso têm um subtexto: a relativização[7] das diversas concepções religiosas e, portanto, das fronteiras entre as religiões. Essa relativização faz parte de um contexto sócio religioso onde valores, modos de ver e de viver são colocados em dúvida. Basicamente, a dúvida “coloca em xeque” aquelas concepções religiosas consideradas como únicas e verdadeiras e estabelece um ambiente onde as diversas concepções religiosas entram numa condição de relativização. Com razão, Peter Berger  e Zijderveld afirmam que “a relativização é o processo no qual o status absoluto de alguma coisa é enfraquecido ou, em caso extremo, destruído” (2012, p. 22). 

Assim, o errante religioso tem trajetórias plurais num contexto de acelerada pluralização das concepções religiosas e religiões. E nessas trajetórias vão excluindo aqueles valores e elementos religiosos que não interessam, assimilando aqueles valores e elementos religiosos que interessam, e que passam a orientar as suas escolhas religiosas.

Por isso, o errante religioso é antes de tudo alguém que afirma a sua liberdade de escolha e que se sente em condições de definir ou construir o seu perfil religioso independente daquele estabelecido pelas religiões. 

3. Alguns eixos do pluralismo religioso atual

Nas sociedades marcadas pelo pluralismo religioso, a construção de fronteiras religiosas é um processo complexo que se dá no amplo contexto das relações existentes no campo religioso. O fato de as pessoas adeptas de religiões poderem se relacionar com outras pessoas religiosas e com pessoas com visões não religiosas de mundo coloca desafios tanto para as práticas religiosas como também para a existência das religiões. 

O pluralismo religioso inaugura uma nova posição frente às posições tradicionais do exclusivismo e do Inclusivismo. Na posição exclusivista, uma religião afirma a sua condição de única religião verdadeira e não faz concessões ao processo de relativização. Na posição inclusivista uma determinada religião faz um movimento de abertura às demais religiões sem abandonar a defesa de sua tradição (cf. BERGER e ZIJDERVELD, 2012, pp. 35-36). A existência do pluralismo religioso coloca as religiões em um novo cenário caracterizado pela diversidade religiosa. A existência de diversas religiões no espaço público e a possibilidade das pessoas poderem praticar a religião com liberdade muda o campo religioso.

O pluralismo religioso coloca desafios importantes para as religiões inclusive no que diz respeito às suas fronteiras e às relações com as demais religiões. As religiões, como construções sociais, têm as suas fronteiras estabelecidas por uma série de elementos definidos – vistos no item anterior – não só pela sua dinâmica interna, mas também pelas relações no interior do campo religioso. Acontece que no contexto do pluralismo as fronteiras religiosas passam a ter um significado diferente justamente por que as religiões são submetidas a um processo de relativização como todas as demais visões de mundo.

No mundo moderno a tendência à relativização de visões de mundo e à afirmação do sujeito como definidor dos parâmetros que definem as suas escolhas, leva à diminuição de consensos. Berger chama a atenção para o lugar da tradição nesse contexto: 

quando a autoridade externa (i.é, socialmente disponível) da tradição declina, os indivíduos são forçados a se tornar mais reflexivos, a questionar-se sobre aquilo que realmente sabem e aquilo que apenas imaginavam saber ao tempo em que a tradição ainda era forte” (BERGER, 2017, p. 50). 

Assim, os sujeitos preferem definir suas vivências religiosas pelas suas escolhas ao invés de seguir as religiões tradicionais. 

Examinamos a seguir alguns eixos do pluralismo religioso a partir dos três conceitos utilizados neste texto. Esses eixos do pluralismo religioso são: o sujeito, a tradição e as novas configurações religiosas.

O sujeito

A mudança de prioridade de religiões tradicionais para religiões novas mostra que o sujeito religioso se sobrepõe à instituição no que diz respeito à definição dos novos formatos religiosos. Em outras palavras, no contexto em que a migração religiosa se dá pelas escolhas do sujeito. Esse dado é importante para compreendermos como as fronteiras religiosas passam a ser compreendidas. 

Os movimentos realizados entre as fronteiras religiosas e entre as religiões passam a ter foco nos sujeitos e não nas religiões. Benedetti aponta para essas características em um texto publicado em 2006: Religião: trânsito ou indiferenciação? A partir de diversos depoimentos colhidos na cidade Campinas ele observa que a migração religiosa nos dias atuais, se caracteriza por uma indiferenciação das religiões, tem suas causas numa “subjetividade nova” (2006, p. 133). 

A identidade religiosa, nessa nova situação em que a ênfase está no sujeito, é múltipla. A noção de “identidade múltipla” (1983), que se altera de acordo com o tempo e o contexto social, nos ajuda a compreender a identidade religiosa nova em que o sujeito é fundamental para a sua definição. Movimentando-se entre as diversas religiões, o sujeito pode construir sua identidade que por si só é uma identidade fronteiriça: uma identidade que vai incorporando os diversos elementos encontrados nas diversas religiões.

As movimentações do sujeito entre as fronteiras religiosas respondem às necessidades que ele tem de construir a sua identidade religiosa sem depender de uma autoridade externa. Assim, a errância religiosa não apenas é uma questão circunstancial, mas uma opção diante de tradições religiosas estabelecidas, de novas religiões e de novas visões de mundo.

A tradição

Em contextos de pluralismo religioso, a tradição, obviamente, não deixa de existir, mas agora ela é objeto de relativização e de ressignificação tendo em conta os interesses e as expectativas do sujeito. Por isso, o sujeito pode circular entre as religiões sem observar com rigidez as fronteiras religiosas e vendo as tradições como elementos que podem muito bem se articular com o novo.

Se nas religiões tradicionais as fronteiras estão muito bem delimitadas e muitas vezes são refratárias às outras religiões, nas religiões novas as fronteiras são movediças e intercambiáveis. 

Recorremos aqui a três possibilidades apontadas por Berger para examinar os novos cenários religiosos e o lugar da tradição nos mesmos: possibilidade dedutiva, possibilidade redutiva e possibilidade indutiva.  No primeiro caso, há uma reafirmação da tradição com a defesa intransigente daqueles elementos considerados fundamentais e que não podem ser abondados; no segundo caso, acontece uma modernização da tradição com a tentativa de se adaptar sem abandonar, contudo, aquilo que se considera inegociável; no terceiro caso, há uma transição da tradição à experiência, valorizando a experiência humana e procurando encontrar nela os elementos que permitem reler a tradição (cf. BERGER, 2017, pp. 82-87). Essas três possibilidades nos ajudam a entender os dilemas que religiões tradicionais tem diante das mudanças na sociedade em geral e no campo religioso em particular.

Em cada uma dessas possibilidades, a questão das fronteiras religiosas será considerada de forma diferente. A decisão por resistir às mudanças, adaptar-se ou considerar a experiência religiosa das pessoas como relevantes para reler a tradição, vai afetar a maneira como as religiões tradicionais e como seus membros lidam com sua fronteira. 

Nas religiões caracterizadas pela tradição, espera-se do sujeito religioso que se enquadre dentro do referencial religioso apresentado pela religião. No entanto, dependendo do caminho escolhido pela religião para reagir às mudanças em curso na sociedade e no campo religioso e dependendo de como o sujeito se posicione diante desse referencial, a identidade religiosa do sujeito também será afetada.

No âmbito das religiões onde a tradição tem grande importante, a errância religiosa não é uma possibilidade. Não se admite que a pessoa possa viver uma religião na dinâmica da errância. A auto compreensão dessas religiões é de que uma religião é suficiente para responder às demandas religiosas das pessoas. Num campo religioso plural, as possibilidades religiosas aumentam e os sujeitos religiosos tem diante de si um leque muito grande de alternativas religiosas.           

As novas configurações religiosas

O pluralismo religioso estimula a existência de novas configurações religiosas. Um exemplo desse fato na sociedade brasileira é o grande número de igrejas evangélicas que surgem a cada dia. E esse movimento se dá tanto por movimentos internos ao campo religioso dessas igrejas – interesses religiosos muito específicos, conflitos de lideranças e divergências doutrinais – mas também em virtude de movimentos que se dão na própria sociedade e que repercutem no interior do campo religioso.

No que diz respeito às fronteiras religiosas, no caso das novas expressões religiosas podemos encontrar uma relação ambígua: ao mesmo tempo que existem afirmando as suas fronteiras, elas relativizam as fronteiras das outras religiões para poderem conquistar novos adeptos. Ocorre nesses casos um movimento de afirmação e de negação das fronteiras religiosas em busca de novos fiéis.

Nessas situações, a identidade religiosa também viverá uma ambiguidade. Se no contexto mais amplo do campo religioso a identidade religiosa é múltipla, as novas configurações serão influenciadas por uma dinâmica em que o sujeito religioso é maleável.  O fato de ter uma identidade religiosa múltipla se dá justamente por que no novo contexto religioso pluralista essa identidade tem que ser maleável. 

No entanto, é preciso deixar claro que nesse contexto de identidades maleáveis a relativização de posições religiosas não está livre de absolutismos, de intransigências: “a relativização resultada em uma dialética pela qual pode, em determinadas circunstâncias, transformar-se rapidamente em uma nova forma de absolutismo” (BERGER e ZIJDERVELD, 2012, 40). Embora o processo de relativização leve ao desenvolvimento de novas configurações religiosas, ele não impede o surgimento de configurações religiosas com um receituário religioso que defende posições fundamentalistas. Desta forma, em meio a identidades múltiplas, maleáveis, surgem identidades que defendem posições intransigentes que criticam a relativização.

O surgimento de novas configurações religiosas é um caminho muito favorável para o que denominamos de errância religiosa. A relativização das posições religiosas afeta o modo como as pessoas veem as religiões e os praticantes das mesmas. Em meio a tantas configurações religiosas, o novo sujeito religioso sente-se mais à vontade para migrar entre as religiões tornando as fronteiras um fator menos limitante para a circulação entre as religiões.

Considerações finais     

Muitos pesquisadores se debruçam hoje sobre fenômenos religiosos tais como o sincretismo, o trânsito religioso e a múltipla filiação religiosa. Esses fenômenos são demonstração de que mudanças estão acontecendo no campo religioso. Por traz desses fenômenos há um processo de mudança cultural profundo que afeta toda a sociedade. 

O cenário de relativização de crenças e valores está levando as religiões a diferentes reações diante dessas mudanças. Aqui há um gradiente de possibilidades desde uma posição de afirmação intransigente da tradição até uma tentativa de diálogo e de adaptação às mudanças em curso.

Os conceitos utilizados neste texto – fronteira, identidade e errância – são originários dos estudos sobre migração. Considerando que no âmbito do campo religioso também podemos detectar uma movimentação das pessoas entre as diversas religiões, entendemos que esses conceitos podem contribuir para a compreensão das diferentes dinâmicas religiosas atuais.

O pluralismo religioso, como desdobramento dessa relativização, deve ser entendido como uma visão de mundo onde as religiões também são relativizadas. Se o pluralismo religioso não elimina concepções intransigentes por parte das religiões, ele traz, de fato, a percepção de que as religiões não estão sozinhas num mundo religioso plural e em mudança constante.

Este texto mostrou que os conceitos de fronteiras, a identidade e a errância religiosas são pertinentes para examinar a complexidade do pluralismo religioso. No entanto, estudos empíricos são necessários para demonstrar a abrangência da aplicação desses conceitos.

Referências

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Notas

[1] Esse é o subtítulo de uma das obras desse autor onde ele aprofunda a noção de fronteira: Migrações, descentramento e cosmopolitismo. Uma antropologia das fronteiras. Faremos referência a essa obra diversas vezes neste texto.

[2] Itálico do próprio Agier.

[3] Exemplo muito conhecido nos dias atuais e que tem tido muito destaque na imprensa mundial é o do presidente norte-americano Donald Trump que adotou essa “bandeira” em sua campanha eleitoral e tem feito esforços no sentido de construir um muro na fronteira do México com os Estados Unidos.

[4] Extensivamente trabalhado por SANTOS, 2010, SEYFERTH, 2005, entre outros.

[5] Agier utiliza essa expressão no plural, “homens-fronteira”.

[6] As possibilidades apontadas por Brandão são as seguintes: a) “convertem-se de uma religião a outra, tendo uma religião de origem e outra de opção”; b) “deixam-se estar sempre, ou por um longo tempo de suas vidas, em uma espécie de ‘busca religiosa’”; c) “possuem e afirmam uma “religião professada”, mas reservam-se o direito de acatar outras ou momentos de outras religiões”; d)”criam sistemas próprios de adesão à fé à crença religiosa, mesclando por sua conta elementos de várias religiões”; e) “preferem crer no valor e no sentido da religião em si e de modo geral, abstendo-se de acreditar e aderir a uma religião, e aderindo mais a uma espiritualidade do que a uma religião”; f) “aderem a uma visão científica da vida e do mundo, ou a uma ideologia entre muitas” (1993, pp. 82-83). 

[7] Seguimos aqui a definição que Berger dá a essa palavra: “a relativização é o processo no qual o status absoluto de alguma coisa é enfraquecido ou, em caso extremo, destruído. Apesar de a evidência dos nossos sentidos vir acompanhada de uma pretensão de absolutez que é muito difícil de ser relativizada, existe um mundo inteiro de definições de realidade que não se baseiam em um senso imediato de confirmação – o mundo das crenças e dos valores” (BERGER e ZIJDERVELD, 2012, p. 24).