A Revista de Cultura Teológica (RCT), do Programa de Pós-Graduação em Teologia, da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/ SP – chega ao nº 100, mostrando o alto nível interdisciplinar de nossa Universidade, como se espera do ensino superior hoje, ao estabelecer um dossiê temático que envolve a interface entre o pensamento filosófico de Xavier Zubiri (1898-1983) e a Teologia. Este autor basco apresenta uma plataforma filosófica apoiada radicalmente na realidade compreendida como o primeiro e o último parâmetro de todas as coisas. Xavier Zubiri faz uma crítica a toda a filosofia anterior, desde os gregos até os dias de hoje, porque a história da Filosofia não soube compreender a fundo a questão da realidade e seu dinamismo próprio. Por isso mesmo foi separando “sentir” e “inteligir” como duas faculdades diferentes e até opostas. E justamente a Teologia do 3º milênio precisa de uma plataforma filosófica atual e consistente que ajude a discernir a questão decorrente da compreensão limitada da realidade e de seu dinamismo próprio. A realidade e seu dinamismo constituem o coração da filosofia zubiriana.
Então não podemos senão nos congratular com a RCT, que abre este espaço precioso para que nosso Grupo de apresentar um pouco do pensamento de Zubiri e sua dimensão teológica.
O primeiro artigo vai ao coração do tema, com o título O DAR DE SI EM XAVIER ZUBIRI E SUA DIMENSAO TEOLÓGIA já nos posiciona no cerne da questão. O artigo estuda o que é dar de si em Zubir, com uma pesquisa inédita, apoiada tecnologicamente pela base de dados do corpus zubiriano, que a Fundação Zubiri, de Madri, possibilita com maestria. E com o esforço da episteme do Grupo de Pesquisa Teologia Litúrgica, da PUC de São Paulo, hoje totalmente dedicado à pesquisa Liturgia e Inteligência Senciente, mostra a incidência teológica do dar de si.
O segundo artigo com o tema SENTIR E INTELIGIR NA CONSTRUÇÃO DE UM CAMINHO MÍSTICO: UM DIÁLOGO ENTRE ZUBIRI E ANSELM GRŪN avança na perspectiva de interação entre Zubiri e Mística, ao fazer interface com o monge alemão que já produziu mais de trezentos livros focando o tema da espiritualidade com um viés profundamente humano e divino.
O terceiro artigo, com o título A PUBLICIDADE DA VERDADE ENQUANTO ATO POLÍTICO ZUBIRIANO: A INSTITUIÇÃO ESCOLAR COMO EXEMPLO representa um esforço bem-sucedido para superar a crítica de que Zubiri não se envolveu com a política, o que não é verdade. Antes de tudo é preciso saber o que é política. A Filosofia de Zubiri é um ato de devoção à verdade, e a verdade é a política mais contundente que devemos buscar. E um exemplo é a instituição escolar, livre de qualquer opção partidária e unicamente devotada à verdade acima de tudo. Por aí caminhou o fazer Filosofia com F maiúscula de Zubiri.
O quarto artigo LA VERDAD COMO PROCESO HISTORICO: UN CURSO SOBRE HEGEL aborda a dimensão histórica da verdade e todo o esforço de Hegel para mostrar isso. Zubiri, como é seu estilo não desfazer, mas superar positivamente, mostra que somente do ponto de vista da verdade como realidade se pode chegar a esse intento.
O quinto artigo O “CONFLITO” DA METAFÍSICA DA REALDADE DE XAVIER ZUBIRI – ¬(RE) ABRINDO O HORIZONTE INTRAMUNDANO mostra o desafio de uma metafísica que nunca sai da realidade, mas mergulha cada vez profundamente na realidade.
Prof. Dr. Valeriano dos Santos Costa