Conversão pastoral para uma transformação missionária ad gentes nos documentos de Santo Domingo, Aparecida e Evangelii Gaudium     
Pastoral conversion to a missionary transformation ad gentes in the documentos of Santo Domingo, Aparecida and Evangelii Gaudium      

Nadi Maria de Almeida*
*Doutora em teologia como foco em Missão, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR. Contato: nadinadimaria@gmail.com 
 

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Resumo 

Este artigo traz uma análise e reflexões sobre conversão pastoral para uma transformação missionária na Igreja, no sentido ad intra e ad extra, a partir dos documentos de Santo Domingo, de Aparecida e da Evangelii Gaudium. Considera a partir dos três documentos o paradigma da conversão pastoral como conversão missionária da Igreja para maior relevância e credibilidade de sua atuação no mundo contemporâneo. Busca definir o conceito e aponta a conversão como transformação missionária da Igreja segundo a Evangelii Gaudium, e fundamenta a conversão pastoral na missão ad gentes. Salienta a necessidade e urgência da metanoia pastoral e missionária da Igreja, em nível estrutural, da mentalidade e das atitudes. 

Palavras-chave: Conversão Pastoral; Documentos da Igreja; Missão Ad Gentes 

Abstract 

This article brings an analysis and some reflections on pastoral conversion for a missionary transformation in the Church in the ad intra and ad extra sense, from documents: Santo Domingo and Aparecida as well as from the Evangelii Gaudium. It considers from these three documents, the paradigm of pastoral conversion as missionary conversion of the Church to its greater relevance and credibility of its action in the contemporary world. Search defines the concept and points out conversion as a missionary transformation of the Church according to Evangelii Gaudium, and treats pastoral conversion in mission ad gentes. Emphasizes the necessity and urgency of the Church’s pastoral and missionary metanoia, at the structural level, of the mentality and attitudes.  

Keyword: Pastoral Conversion; Church’s documents; Ad Gentes Mission 

Introdução 

A pós o Concílio Vaticano II várias conferências e discussões foram realizadas e documentos redigidos a respeito da ação missionária da Igreja. Notou-se que ainda permanecem estruturas colonialistas que precisam ser convertidas e decolonizadas. Por um lado, percebe-se que não há possibilidade de viver sem estruturas e, por outro, sente-se que além de criar obstáculos para um bom andamento da evangelização, elas dificultam o que chamamos a conversão pastoral. Entendemos a pastoral como o cuidado que a Igreja tem para com a realidade que clama. A conversão remete aos dois âmbitos: no pessoal, as mudanças de atitudes e no social, aproximação das realidades a partir da compaixão. Este artigo analisa os caminhos para a missão a partir de uma renovação missionária que parte de uma profunda conversão pastoral. Apresenta algumas reflexões para atividade missionária da Igreja no mundo atual a partir do convite à conversão apresentada nos documentos das Conferências Episcopais de Santo Domingos (SD, 1992) e Aparecida (DAp, 2007), da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (EG, 2013) e de diversos autores que tratam do assunto. 

O objetivo deste trabalho é abordar os caminhos para a missão a partir da renovação missionária e da profunda conversão pastoral proposta pelas duas Conferências Episcopais Latino-americanas: a de Santo Domingo e de Aparecida, e ainda, do convite à conversão pastoral como conversão missionária da Igreja, sugerida na exortação apostólica Evangelii Gaudium. Tais objetivos são colocados numa tentativa de clarear conceitos e apontar um direcionamento ao caminho que devemos trilhar para uma transformação interior e exterior da Igreja atuante no mundo contemporâneo. 

Para alcançar os objetivos propostos o trabalho primeiro esclarece o que se entende por conversão pastoral nos documentos de Santo Domingo e de Aparecida. A seguir analisa a conversão pastoral como transformação missionária da Igreja a partir da Evangelii Gaudium. E por último desdobra a ponderação e reflexão missionária sobre a conversão pastoral na missão ad gentes, que segundo Brighenti (2013, p. 99) é “a tomada de consciência” da ação do Espírito no mundo, ou seja, fora da comunidade Cristã, onde também germinam frutos do Reino de Deus. 

1. Conversão pastoral nos documentos do Magistério Latino-Americano

Diante da realidade e do contexto atual de pós-modernidade, a Igreja depara com dificuldade de caminhar e responder a todos os desafios que esta sociedade apresenta. Segundo Conrado (2011, p. 83), a Igreja se encontra com dificuldade de motivar as pessoas, de formá-las, “para o processo de evangelização, de adequar sua atuação às culturas, estruturas próprias do novo tempo”. Mesmo que desde o Vaticano II a Igreja vem se renovando e levando avante sua missão é preciso ser mais ousados e abrangentes. O mesmo autor afirma que “é preciso novas estruturas, diferentes estratégias”, e em especial uma transformação de si própria. Ou seja, é preciso uma profunda e sincera conversão. 

Conversão1 significa uma transformação interior e exterior ou uma modificação que acontece na vida que muda totalmente de caminho, de direção e de sentido. É quando acontece a mudança radical de um caminho torto para um caminho correto, de uma direção extraviada e sem rumo, para uma direção certa que tem sentido e ponto certo de chegada.2 Os documentos do Magistério da Igreja Latino-Americana conceituam conversão como um discernimento dos caminhos tomados para uma mudança radical, uma conversão que leva a tomar novos caminhos, nova direção diante do clamor do povo por justiça e vida digna. Amplia a dimensão do conceito adicionando a necessidade de uma conversão pastoral. 

Os Documentos de Santo Domingo e de Aparecida oferecem novos caminhos por meio da “conversão pastoral que leva a promover a comunhão, a participação, o diálogo, a corresponsabilidade, e a buscar meios e instrumentos marcados pelo encontro com Cristo” (CONRADO, 2011, p. 84). 

A Igreja Latina Americana e Caribenha com a Conferência Episcopal de Santo Domingo (1992), falou da exigência de uma renovação eclesial que precisa de uma metanoia pastoral. Uma conversão que abarca e transforma todas as dimensões da vida, pessoal e comunitária para uma relação de paridade. Abrange mudança de pensamentos, atitudes, ações, e das estruturas, para que a presença da Igreja seja relevante, visível e concreta, sinal e instrumento de amor e salvação universal (cf. SD, 1992, n. 5). Isto exige uma profunda conversão (cf. Mc 1,15; Mt 4,17), uma ruptura com toda forma de egoísmo num mundo marcado pelo pecado (cf. Mt 7,21; Jo 14,15), ou seja, uma adesão ao anúncio das bem- -aventuranças (Mt 5,1-10) (SD, 1992, n. 5). 

Assim sendo, demanda uma conversão da mentalidade e do coração para uma renovada evangelização. Santo Domingo fala de uma conversão coerente com os apelos do Concílio Vaticano II que é um chamado que inclui: consciência, práxis pessoal e comunitária, as relações, autoridades, estruturas, e dinamismo a fim de tornar a presença da Igreja cada vez mais clara “enquanto sinal eficaz, sacramento de salvação universal” (SD, 1992, n. 9; 30). 

A Conferência de Santo Domingo lembra que a Igreja carrega e tem o dever de oferecer a mensagem de libertação fecunda, que recria, desenvolve e leva a transformação da mente e do coração, a fim de reconhecer a essência e “dignidade de que cada pessoa predispõe” ao serviço de amor aos outros (cf. SD, 1992, n. 158). 

Descobrir nos rostos sofredores dos pobres o rosto do Senhor (Mt 25,31-46) é algo que desafia todos os cristãos a uma profunda conversão pessoal e eclesial. [...]. Os rostos humilhados por causa de sua própria cultura, que não é respeitada, quando não desprezada; os rostos angustiados dos menores abandonados que caminham por nossas ruas e dormem sob nossas pontes; os rostos sofridos das mulheres humilhadas e desprezadas; os rostos cansados dos migrantes que não encontram digna acolhida; os rostos envelhecidos pelo tempo e pelo trabalho dos que não têm o mínimo para sobreviver dignamente (cf. CECAM, DT 163). O amor misericordioso é também voltar- -se para os que se encontram em carência espiritual, moral, social e cultura (SD, 1992, n. 178). 

Em 2007 a Conferência Episcopal de Aparecida retomou o tema da conversão pastoral para uma Igreja “em estado permanente de missão”. 

O Documento de Aparecida (DAp, 2007), no número 370, aponta para uma conversão abrangente, que pula fronteiras e vai muito além dos trabalhos tradicionais e conservadores da paróquia; sai e vai além dos limites e cercas do “mundinho” da comunidade local. Seria passar de uma pastoral apegada e centrada aos sacramentos, um modelo conservador, fixado em apenas aumentar os membros na Igreja, para uma pastoral missionária, isto é, aberta, inclusiva e pluralista. Uma pastoral de saída do egoísmo, das estruturas clericalistas, fechadas nos escritórios e altares, para a rua, rumo ao povo especialmente aos excluídos e descartados pela sociedade. Significa arregaçar as mangas para pôr a mão na massa; tirar as sandálias, para pisar com profundo respeito em solo do “outro”; despir dos medos e inseguranças, dos preconceitos que cercam os pobres; para olhá-los com a ternura e a misericórdia de Deus.3  

Conrado (2011, p. 83) afirma que na conferência de Aparecida se insistiu no caráter missionário da Igreja que deve atingir todas as suas instâncias, para que haja uma transformação geral; interiormente, baseada no encontro com Cristo e que transpareça exteriormente em ações concretas para transformação do mundo. 

No Documento de Aparecida (2007) encontramos que na América Latina a “opção preferencial pelos pobres” (n. 396), determina uma Igreja que seja a “casa dos pobres” (n. 524), samaritana (n. 27), com estruturas abertas para acolher a todos e para sair ao encontro dos pobres e excluídos da sociedade (n. 412). Todas e todos são convidados a comprometer-se para uma atitude de conversão pastoral, que demanda escuta atenta ao Espírito a fim de discernir o que Ele está falando às Igrejas (Ap 2,29) por meio dos sinais dos tempos em que Deus se manifesta (n. 366). 

A conversão pastoral é uma requisição indispensável para que a Igreja e seus agentes movam-se para além da pastoral conservadora, para uma pastoral totalmente missionária. Para isso, é preciso ter coragem de fazer uma séria revisão, humildemente pedir perdão, mudar de vida, de mentalidade e ações (DAp, 2007, n. 365) e tomar corajosamente novos rumos, novas atitudes com novas atividades totalmente missionárias 

Segundo Brighenti (2008b, p. 97), é preciso mais ardor e comprometimento missionário e novas metodologias e procedimentos para assistir às pessoas. “Muitos católicos vivem e morrem sem a assistência da Igreja”. Faltam agentes de pastorais bem formados, por carência de uma adequada e consistente estrutura que os forme. Falta abertura, delicadeza e amor para com o próximo, falta sensibilidade, ternura e misericórdia. A proposta de um estado permanente de missão nos leva a pular todos os tipos de fronteiras existenciais. Esta atitude traz transformação, para ambas as partes, porque a conversão pastoral se dará em contato com a realidade junto e entre os marginalizados, abandonados e excluídos, é no contato com eles que a Igreja e seus discípulos se transformam.4 

A conversão pastoral no documento de Aparecida traz indicações bem concretas que se fossem corajosamente assumidas pela Igreja, esta demonstraria mais coerência com a renovação do Concílio Vaticano II que não ignorou, mas se engajou em diálogo com os desafios da contemporaneidade. Que viu a necessidade de desinstalar-se para tornar-se uma Igreja totalmente missionária. Uma decisão evangelizadora que promove a vida e a cultura.5 Além disso, Aparecida acolhe e expande a proposta do Vaticano II que explicita a distinção entre Igreja e Reino de Deus deixando claro que a presença e ação do Espírito, não estão presas ao cercado da Igreja. Com isso, supera a centralidade da Igreja, colocando-a em seu devido lugar, ou seja, a serviço do Reino de Deus. Por conseguinte, nos ajuda a tornar-nos companheiros de caminho e de trabalho a favor da humanidade, sem distinção de credo, pertença religiosa, ou dos não religiosos professantes de um “humanismo aberto ao absoluto”. Essa tomada de consciência, Brighenti (2008a, p. 86) chama, de “conversão pastoral”. 

O Documento de Aparecida, no número 213, adverte para necessidade de uma conversão mental e das estruturas de toda Igreja, sobretudo da hierarquia. Destaca a necessidade da participação comunitária nos processos “do discernimento, da tomada de decisão, do planejamento”, visando desmantelar o estilo piramidal que sempre atrapalha e vai contra os princípios do Evangelho. Jesus sendo Senhor e Rei se fez servo (cf. Fl 2,6-8) da comunidade e em meio à sociedade. Não acomodou-se em um trono, saiu em meio do povo nas “periferias” em meio aos sofredores. 

A missão hoje precisa ser renovada com a exigência da conversão pastoral. Necessita coragem para e voltar às fontes da Missio Dei, fonte da missão libertadora e transformadora de vida. O Evangelho provoca transformação e desafia a deixar o conservadorismo do estilo de pastoral do passado e abrir-se ao novo, para responder às necessidades do presente. Isso significa coragem e força para fazer a passagem da “pastoral de conservação” para uma “pastoral evangelizadora”, de estilo circular e não piramidal (BRIGHENTI, 2013, p. 94). 

A conclusão é que ainda temos um longo caminho de transformação e purificação, o qual é um processo lento, com idas e vindas, que estamos vendo desenrolar desde a corajosa abertura proposta pelo Vaticano II. Assim como, a esperança e utopias para futuros melhores, com o contínuo convite à “conversão pastoral como conversão missionária” do Papa Francisco na Evangelii Gaudium (EG). 

2. A conversão pastoral como transformação missionária da igreja segundo a Evangelii Gaudium 

A exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013) traz as características e o significado da identidade da Igreja “em saída”, por natureza missionária, com a esperança de que toda Igreja se dedique por operar as medidas mandatórias que facilitem o progresso na via de uma conversão pastoral missionária. A Igreja não pode se acomodar ou ignorar as coisas como estão, por isso, convoca toda a Igreja a entrar num “estado permanente de missão” (DAp, 2007, n. 551; EG, 2013, n. 25). 

A missão nasce e se realiza em encontros. A alegria do encontro com Cristo transforma e move a ir ao encontro de outros. 

Se não estivermos convencidos disto, olhemos para os primeiros discípulos, que logo depois de terem conhecido o olhar de Jesus, saíram proclamando cheios de alegria: ‘Encontramos o Messias’ (Jo 1,41). A Samaritana, logo que terminou o seu diálogo com Jesus, tornou-se missionária, e muitos samaritanos acreditaram em Jesus ‘devido às palavras da mulher’ (Jo 4,39). Também São Paulo, depois do seu encontro com Jesus Cristo, ‘começou imediatamente a proclamar […] que Jesus era o Filho de Deus’ (At 9,20; cf. EG, 2013, n. 120). 

A Evangelii Gaudium (2013, n. 28) “propõe uma revisão da situação atual das paróquias”, que com suas diversas realidades e forças solicitam a amabilidade e a capacidade criadora e missionária do ministro e da comunidade de fé. Por isso, o apelo à conversão e transformação deve acontecer a partir das estruturas da Igreja com ordem de abrir suas portas não só aos centros, mas em especial as saídas devem ser em direção às periferias (n. 30). Apela ainda para “ser fermento de Deus no meio da humanidade” com mensagens de vida e esperança que reanime e potencialize as forças para a caminhada. Ser um ambiente onde se encontra acolhida, ternura, compaixão, gratuidade e amor incondicional onde os “pequenos” do Reino se sintam bem vindos, “amados, perdoados e reanimados com a força do Evangelho” (EG, 2013, n. 114). 

Papa Francisco também pede uma Igreja samaritana e “pobre como os pobres” (EG, 2013, n. 198) uma Igreja que esteja presente onde a vida estiver mais ameaçada e marginalizada. Uma Igreja que não pare e nem se cale diante da necessidade do outro, mas que esteja em estado permanente de missão. 

O Decreto Ad Gentes (AG), do Vaticano II (1965), sobre a atividade missionária da Igreja, no número 2, afirma que “a Igreja é por sua natureza missionária”. Ela nasce da missão e não é a missão que precede dela. Destarte, ao ser enviada a Igreja cumpre sua razão de ser e existir no mundo. 

Em Pentecostes, a comunidade estava reunida, e pelo Espírito recobra sua força e coragem para sair e proclamar a Boa Notícia. Aconteceu a abertura missionária à Luz do Espírito que impulsionou os discípulos a ir além das fronteiras do judaísmo, a todos os povos e nações (cf. At 8,17; 9,42; 10,45; 11,21). 

Segundo Boff (2017), o Cardeal Bergolio escolheu o nome Francisco porque percebeu “que a Igreja está em ruínas pela desmoralização dos vários escândalos que atingiram o que ela tinha de mais precioso: a moralidade e a credibilidade” da Igreja primitiva. Segundo o autor, o Papa Francisco (como São Francisco de Assis) é chamado a restaurar a Igreja.6 É o plano e a concepção da Igreja livre de poder e do eclesiocentrismo, mas iluminada e impulsionada pelo Espírito de Cristo, que ama e vai aos mais necessitados. Igreja pobre, fora dos palácios, longe dos galanteios, com a “centralidade ao Povo de Deus” onde todos são incluídos, amados e cuidados, como membros de uma mesma família. Igreja sinal de libertação, que está para servir e não ser servida. O Papa Francisco pede que façamos juntos esse caminho de restauração e reconstrução (BOFF, 2017, p. 1). 

Na tarefa de repensar as estruturas, estilos e métodos de evangelização a Evangelii Gaudium, no número 33, dá uma pista: sermos criativos e ousados; vencer a repetições e falta de criatividade, abandonando o comodismo pastoral, sair, ser generosos e corajosos, caminhar em comunidade e estar conscientes dos irmãos e irmãs, que caminham ao nosso lado ou que estão às margens e nas “fronteiras existenciais”. 

A repetição (mesmice) não condiz com a realidade sociocultural e religiosa das pessoas desta geração. Destarte, não podemos perder tempo nem desperdiçar energias e forças em manter estruturas e modelos pastorais que não respondam às inquietações atuais. 

As pessoas olham para a religião procurando testemunho e compromisso concreto de uma fé que seja visível e concretizada nas atitudes e ações dos agentes e da instituição. No Pacto das Catacumbas, os bispos assumiram um estilo de vida, um modelo que cabe mudar toda estrutura eclesial, episcopal, paroquial e pessoal, sendo que há uma conexão íntima da mensagem com o mensageiro e seu modo de ser e de viver. Deste modo, é preciso uma revisão para uma conversão constante da Igreja, de suas estruturas, pensamentos, atitudes e práxis missionária (EG, 2013, n. 27; BRIGHENTI, 2016). 

É preciso também usar uma linguagem e ter um comportamento acessível, contextualizado e atualizado para comunicar a mensagem do Reino de Deus e, ao mesmo tempo, para descobri-lo presente em meio aos povos, contextos e culturas (EG, 2013, n. 41). Exige atenção ao exprimir a Verdade do Evangelho, para que esta seja sempre uma novidade que atrai sem regras e burocracias estruturais. Mas com atitude acolhedora, aberta e simples, por que o aspecto administrativo e burocrático não pode abafar a pastoral e a evangelização (EG, 2013, n. 63). Nem sempre os muitos trabalhos e o ativismo são o problema. O que realmente atrapalha é a falta de motivações e espiritualidade que fundamentem e direcionem as atividades e que deem sentido a uma vida de doação e a torne desejável (EG, 2013, n. 83). 

É em meio ao povo que a transformação interior, pastoral, estrutural, missionária acontece. É o povo que nos molda, nos evangeliza, nos capacita para tornarmos criativos, simples, humildes e ativos. Em campo de missão, em meio ao povo a atenção volta-se totalmente para o outro e se dá a conversão. Entende-se que o Papa Francisco está ciente que a transformação, a conversão pastoral e missionária se tornam realidades somente se sairmos e nos inserirmos na caminhada junto com o povo das “periferias existências”. A missão se realiza plenamente entre as pessoas, onde há uma reciprocidade, uma partilha, onde as duas partes se transformam. Transformação, no sentido de conversão, de enriquecimento e crescimento evangélico, fazendo juntos a experiência de viver em uma “nova terra”, de paz, amor, harmonia, justiça e dignidade, que é a experiência do Reino de Deus. 

Para isso, precisamos superar o medo das mudanças, da postura defensiva diante da insegurança e sentimento de impotência por causa dos enormes desafios que a sociedade e o campo de missão apresentam (EG, 2013, n. 49). O medo paralisa e o Papa Francisco nos encoraja afirmando que a atividade missionária determina e clama por uma pastoral ativa, engajada, criativa, que saia da mesmice e seja audaciosa, avançando sempre mais para frente. Isso exige um “repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades” (EG, 2013, n. 33). A missão ad gentes é um convite para se lançar em águas profundas, transforma e sensibiliza para ver e experienciar a criatividade da ação do Espírito no mundo. Nesse processo de abertura surgem novos métodos de ação que transformam o modelo antigo de missão ad agentes. O que veremos na próxima seção. 

3. Missão Ad Gentes e conversão pastoral 

Com o Vaticano II tivemos a superação da Igreja como centro, colocando-a em seu lugar, a serviço do Reino de Deus, pois, ela é a responsável de portar a mensagem do Reino a todo o mundo e não a si mesma. Por ad gentes entende-se exatamente isso, uma missão que alcance a todos os povos, culturas e lugares. 

O Espírito sopra onde quer, inspirou os padres do Concílio Vaticano II para tomada de consciência de que o Espírito não é propriedade privada da Igreja. Ele age no mundo em todos os povos culturas e credos. Brighenti (2013, p. 99), afirma que o Espírito atua em todas as pessoas que praticam e desejam o bem, mesmo que sejam elas pertencentes a outras religiões não cristãs ou naqueles que simplesmente professam um “humanismo aberto ao Absoluto”. Para esse nível de abertura é preciso realmente “decolonizar nossas mentes” e decolonizar as estruturas duras da instituição da Igreja, para cessar, definitivamente a lógica colonialista, que precisa ser arrancada pela raiz, para abrir espaço para germinar os frutos do Reino de Deus. Para que isso aconteça precisamos unir forças na luta pela promoção e libertação de todos. Essa colaboração será mais eficaz, se somarmos com pessoas de boa vontade, que agem movidas pelo Espírito, mesmo não pertencendo a nenhuma denominação religiosa (BRIGHENTl, 2013, p. 100). 

No contexto atual onde o mundo virou uma “aldeia global”7 as pessoas de diferentes culturas, religiões e raças se relacionam e coexistem, ou apenas se veem, o tempo todo. Logo, vivemos em um contexto multicultural no trabalho, nos shoppings, nas escolas; um mundo “sem fronteiras” continentais. O fato é que se encurtam as distâncias, os contatos com as pessoas, produtos, línguas diferentes, porém os relacionamentos de compreensão, de partilha, de amizade sincera desinteressada, de aceitação do diferente ainda continuam um desafio.8 

Sabemos que esse relacionamento é desafiador com pessoas com o mesmo referencial família, cultura, religião, porém torna-se ainda mais difícil entre pessoas de diferentes culturas. Bevans e Schroeder (2016, p. 117) destacam que este “cruzamento de culturas”, “implica um movimento mútuo e multidirecional entre culturas, a ‘intercultura’”. Implica ainda, gratuidade, interesse e consciência da realidade de que somos seres humanos, irmãos e irmãs, criaturas finitas. 

Segundo Bevans e Schroeder (2016, p. 120), ao querer ingressar em outras culturas o mais importante e a primeira situação a analisar são as motivações, o “por quê”, para não cair em um “imperialismo cultural e no etnocentrismo”. Esses autores propõem uma análise de revisão da consciência, para varrer tudo o que é velho e ultrapassado dos modelos velhos de fazer missão. Através desse processo de revisão de como fazer missão ad gentes hoje deve acontecer uma transformação, ou seja, a “conversão pastoral”. Neste mesmo sentido Raschietti (2017, p. 2) aponta que 

as estruturas, muitas vezes, prendem o Evangelho. As amarras institucionais não soltam a missão nem os missionários pelo mundo afora: há sempre uma ‘necessidade’ que prende a missão ‘aqui’, interrompendo o fluir da Graça da alegria do Evangelho. 

A exigência para missão ad gentes é de se libertar do modelo antigo e se abrir ao novo paradigma da missão inter-gentes, tendo como modelo central a missão do Deus Trino. Com a transformação para uma consciência missionária que nos levará a uma nova atitude e ações essencialmente missionárias no meio do povo. 

Dessa forma, alguém se aproxima do ‘outro’ com uma atitude inicial de discernimento e respeito de como Deus já está presente (diálogo) e então eventualmente, junto com o povo, após ter desenvolvido um relacionamento respeitoso mútuo, confronta as ‘ervas daninhas’ com a ‘boa-nova’ (profecia) (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 121). 

Para Bevans e Schroeder (2016, p. 122), a “própria fé cristã e a experiência pessoal da ‘boa nova’ são a primeira motivação. São a fonte da qual emana o comprometimento para a missão”. No sentido decolonizado, provocado pela conversão. Assim sendo, a fé e a “boa nova” são compartilhadas em palavras e ações de forma dialógica. Segundo os mesmos autores, é “muito importante estar o mais consciente possível da motivação de alguém, suas atitudes e fundamentos teológicos desde o início”. O que vai fazer? Para quê? Por quê? O que levar? Vais “com o seu copo completamente cheio ou com um copo cheio até a metade e capaz de receber algo das pessoas locais?” (BEVANS E SCHROEDER, 2016, p. 122). 

A conversão pastoral é um processo que começa antes, continua acontecendo no processo de caminhada junto com as pessoas. Aos poucos vai transformando, modelando, fazendo crescer e enriquecendo o agente e os interlocutores da missão. No entanto, se as motivações não demonstrarem antes uma atitude de conversão e adesão ao “novo”9 modelo de missão, é muito difícil que isso aconteça no campo de missão. 

Devemos estar atentos, porque em nossas mentes e atitudes tem sempre algo embutido que precisa decolonizar. Esse processo de conversão missionária e decolonização das mentes e atitudes acontecem geralmente dentro da missão junto com o povo à medida que o agente se insere e se abre à nova realidade. Há um crescimento e uma transformação ao ver, ouvir, tocar o Cristo naqueles que mais precisam. O contato com povo, o pobre e sofredor, nos transforma, evangeliza. Os empobrecidos, injustiçados e explorados são os melhores professores em uma nova cultura, em terra de missão ad gentes. 

Para isso, Bevans e Schroeder (2016, p. 123) aconselham entrar em terreno de missão ad gentes descalços, o “missionário inicia seu contato com uma postura de respeito pela presença de Deus nas pessoas e em sua história, cultura e religião”. Como uma “pessoa de fora”, com uma atitude de abertura disposto para “aprender do povo a ser missionário”. Vai aprendendo sobre a cultura e vai entrando nela, desempenhando um relacionamento de confiança e respeito. Mesmo como “especialista” em sua própria cultura e religião, será sempre uma criança a aprender tudo do zero em uma nova cultura. Transforma-se em um eterno, bom e humilde estudante que depende do povo (os melhores mestres) para lhe ensinar sobre a nova cultura (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 123). 

Em missão ad gentes a conversão pastoral significa esvaziar-se de si mesmo, de atitudes de superioridade, que levam a aproximar-se do outro como se este fosse uma tabula rasa. Portanto, terra de missão ad gentes é lugar de continuo aprendizado e purificação, é necessário estarmos abertos e dispostos a aprender. Se a nossa posição for de fechamento e de “mestres” que já sabe tudo, não aprenderemos nada, mas apenas tiraremos conclusões baseadas na nossa própria cultura. 

Bevans e Schroeder apresentam a terra de missão como um jardim, que não se chega para pisotear e estragar as plantas, achando que tudo é erva daninha que deve ser arrancada. Apresentando-se como sendo o único possuidor de sementes boas e apenas de sementes boas, desvalorizando tudo que é do outro. Nem mesmo migrar para uma 

posição que é totalmente o extremo oposto, uma visão utópica e ultra romantizada da cultura. Uma posição teológica se situa entre os dois extremos e reconhece a presença de ambos os elementos, das boas sementes e das ervas daninhas em cada cultura. (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 126). 

Isso implica ao missionário um cuidado de trocar as lentes dos óculos, pois “temos tendência de perceber, entender, e julgar” o outro e sua cultura “a partir de nossas próprias lentes. O missionário é desafiado a entender o mundo do ‘outro’ a partir da perspectiva do ‘outro’” (BEVANS; SCHROEDER, 2016, p. 127). Assim sendo, o caminho para missão ad gentes hoje passa pelo processo da conversão pastoral, que deve também incluir o processo de decolonização, a fim de poder dar passos significativos e valiosos para a credibilidade da ação missionária da Igreja. 

Brighenti (2017, p. 22) citando o Documento da Conferência de Aparecida (2007) apresenta um desafio a toda Igreja Latino-Americana e Caribenha, a olhar para fora de suas fronteiras, a se comprometer mais intensamente com a atividade da Igreja universal. Lembra que recebemos muito da graça do Evangelho, o qual deve queimar como brasa acesa de ardor e entusiasmo missionário para partilhar a alegria do Evangelho. Ele destaca que devemos lembrar e ficarmos atentos de que os interlocutores da ação missionária aos povos, diz respeito também a aqueles “presentes nos campos socioculturais de sua própria casa” (BRIGHENTI, 2017, p. 22, cf. DAp, 2007, n. 375), não somente aos de longe, e aos não cristãos. No entanto “o mundo espera da nossa Igreja Latino-Americana um compromisso mais significativo com a missão universal em todos os continentes”. Todos podem compartilhar do nosso entusiasmo, alegria e fé, e não esperar que somente alguns na comunidade tenham esse chamado específico. Pois pelo batismo todos somos missionários/as. Assim sendo, a atividade missionária é um compromisso que envolve a todos da comunidade cristã (cf. BRIGHENTI, 2017, p. 22). 

Nesse sentido, podemos perceber também que a Igreja do Brasil por meio das Conferências Nacionais dos Bispos (CNBB) levou a sério a questão da “conversão pastoral para missão” quando ressalvam no documento número 100 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB, 2014) todo o primeiro capítulo, aos “Sinais dos tempos e conversão pastoral”. Chamam atenção para uma “revisão de estruturas obsoletas” onde se desperdiçam muitas energias para manter estruturas e regras arcaicas, “que não respondem mais às inquietações atuais” e nem “comunicam a experiência de fé” (n. 45). Para promover a paróquia missionária, é necessário “fomentar a mística do discípulo missionário”. (n. 49). Observa a “urgência da conversão pastoral” como um “processo de transformação permanente e integral”, pessoal e comunitário que demanda coragem de abandonar o estilo de pastoral fechada, eclesiocêntrica e conservadora (n. 51), e ser comunidades onde se vive a fraternidade e o bem e de onde emana e transborda o amor misericordioso de Deus (n. 54). Fala da “conversão para missão” que significa “passar de uma pastoral ocupada apenas com as atividades internas da Igreja, a uma pastoral que dialogue com o mundo” focando nos valores do Evangelho (n. 58). Porque 

enquanto a paróquia for autorreferencial, ocupando-se apenas de suas questões internas, tende a atrair cada vez menos pessoas, pois o discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros (CNBB, 2014, n. 60). 

Portanto, os dons que recebemos são para ser compartilhados, para isso, precisamos de abertura ao amor que transborda para o outro. É o amor que nos impulsiona a sair e ir ao encontro do outro para compartilhar da graça e dos dons recebidos. Por conseguinte, é por meio do testemunho de amor ao próximo que outros poderão ser tocados e atraídos para fazer o mesmo, ou seja, sair de si para compartir caridade e amor (Lc 10, 25-37). 

Por conseguinte, as paróquias e comunidades devem ser o lugar de amor, ajuda e partilha, onde motiva a animação missionária por meio das partilhas de experiências vividas e compartilhadas. Além disso, o amor e a alegria crescem à medida que é compartilhado com outros.10 Destarte, a conversão pessoal desperta e provoca a habilidade de entrega incondicional ao serviço da instalação do Reino de Deus no mundo. A conversão pastoral desinstala, tira do comodismo e nos coloca em estado permanente de missão, para irradiar vida e amor ao mundo. 

Pois como afirma Brighenti (2007, p. 25), especialmente para nós, latinos-americanos, “de nada serve ficar nos gloriando de sermos o continente mais católico do mundo” se não abraçarmos o compromisso da missão ad gentes. Precisamos ser mais audaciosos, perseverantes e dóceis para dar continuidade “à renovação iniciada pelo Vaticano II e impulsionada pelas demais conferências” e por tantos outros documentos da Igreja, alguns mencionados neste trabalho. 

A Igreja nasceu da missão da Trindade e vive para anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Sua vida e vocação no mundo se concretizam no campo da missão, testemunhando, provocando transformação, denunciando as injustiças e opressão, conduzindo as pessoas à libertação, é o que se lê no número 15 da Evangelii Nuntiandi (EN), promulgada pelo Papa Paulo VI. Destarte, uma Igreja que está em estado permanente de missio ad gentes, necessita estar em estado permanente de renovação, ou seja, de conversão pastoral. 

Em um mundo em contínua mudança e cheio de ofertas exige-se da Igreja um testemunho profético com a presença dos valores do Reino para todos os povos. Assim, poderá realizar sua missão universal no mundo como real e visível sacramento de Salvação. 

Enfim a conversão pastoral chama a fazer um giro de 180 graus, para deixar o velho e tradicional modelo de missio ad gentes, para acolher o novo paradigma da missio inter-gentes, intercultural. 

É importante não esquecer que em meio a tantos modos de fazer missão entre os povos não se deve focalizar apenas nas realidades missionárias paroquiais, diocesanas, nacionais ou continentais. A missão ad gentes (às nações) iluminada do novo paradigma da missão inter-gentes (entre pessoas e povos) é abrangente, significa ser inter paroquial, interdiocesano, internacional, intercontinental. É um olhar para o mundo onde quer que vivam os povos, criação divina, povo de Deus que peregrina neste mundo rumo ao Reino definitivo. Neste sentido, só teremos habilidade de olhar e abraçar a missão como um todo11 com uma verdadeira e sincera conversão pastoral que nos faz abertos ao mundo. 

Considerações finais

A questão da conversão pastoral como conversão missionária da Igreja, apresentada pelas conferências Gerais do continente Latino-americano e caribenho de Santo Domingo e de Aparecida e pela Exortação Apostólica Evangelii Gaudium refletem com ardor renovado o espírito do Concílio Vaticano II. É reafirmada a necessidade de uma profunda conversão de toda Igreja, das suas estruturas e consciência e de todos seus membros, para poder, assim, colocar-se em estado permanente de missão. 

A Exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG, 2013) reforça o convite para prosseguir no caminho da conversão pastoral e missionária. Um convite e um alerta para não cair no comodismo, ignorando ou deixando as coisas como estão. Portanto, uma convocação na ordem imperativa para Igreja ser ousada na questão que diz respeito à missão. Um apelo a entrar num “estado permanente de missão” (EG, 2013, n. 25) e sem esquecer a dimensão além de suas fronteiras. 

Para tanto, Paulo VI no Decreto Ad Gentes (AG) (1965) números 1 e 2 convida a uma profunda “conversão pastoral”, à transformação da mentalidade e das estruturas excludentes que obstaculizam a abertura da Igreja, que é por sua “natureza missionária”, nasceu da missão e existe para missão. Nessa perspectiva Suess (2016) admite que não é fácil estar prisioneiro de uma instituição que pregando os valores do Reino ainda tem normas excludentes. Ele diz que, “às vezes, o Papa Francisco parece ser prisioneiro da própria instituição que representa” (SUESS, 2016, p. 668). Visto que a sua proposta de Igreja na Evangelii Gaudium é um convite à renovação total da Igreja. Para que esta esteja realmente em estado permanente de missão ela precisa de conversão. Assim, convida a decolonizar as mentes, as estruturas e tomar uma atitude humilde e corajosa em direção às periferias existenciais, aos que mais precisam (EG, 2013, n. 25; DAp, 2007, n. 201). 

Assim sendo, a conversão pastoral é a chave para uma maior abertura e superação do medo das mudanças, para ousar e se lançar à missão ad gentes. Para isso, é preciso trocar as lentes dos óculos para ver o outro a partir da perspectiva do outro, como afirmam Bevans e Schroeder (2016, p. 127), para ver o mundo como Deus o vê, ou seja, contemplar toda a criação e ver que tudo é muito bom (Gen 1,31). Enfim a conversão pastoral e missionária nos faz sair do comodismo e abrir-se ao outro e ao mundo, coloca a Igreja em estado permanente de missão. 

Entretanto, ainda se faz necessário avançar nestas práticas e nas reflexões sobre elas, para que se concretize a conversão pastoral e se ampliem as tomadas de decisões coerentes, corajosas e proféticas para que a Igreja seja transformada e esteja verdadeiramente em estado permanente de missão. Um aspecto que se mostra cada vez mais imprescindível para que ocorra a verdadeira conversão pastoral e missionária da Igreja ao Evangelho de Jesus, e, portanto, a uma compreensão profundamente libertadora da missão ad gentes, é a crítica decolonial à história da Igreja e à história da missão realizada pela Igreja ao longo da história. 

Referências

BEVANS, Steven B.; SCHROEDER, Robert P. Diálogo profético: reflexão sobre a missão cristã hoje. Tradução de Joachim Andrade. São Paulo: Paulinas, 2016. 

BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulinas, 1989. 

BOFF, Leonard. O Papa Francisco chamado a restaurar a igreja. Belo Horizonte: Centro Loyola, 2017. 

BRIGHENTI, Agenor. A desafiante proposta de Aparecida. São Paulo: Paulinas, 2007. 

BRIGHENTI, Agenor. Aparecida em resumo: o documento oficial com referência às mudanças efetuadas no documento original. São Paulo: Paulinas, 2008a. 

BRIGHENTI, Agenor. Em que o Vaticano II mudou a Igreja. São Paulo: Paulinas, 2016. 

BRIGHENTI, Agenor. O desafio da interculturalidade na pastoral e na teologia. In: PALAZZI, Luís Aranguren Gonzalo-Felix (org.). Desafíos de una teología Ibero-americana en tiempos de globalización, interculturalidad y exclusión social. Boston: Convivium Press Boston College, 2017. p. 444-463. 

BRIGHENTI, Agenor. Para compreender o documento de Aparecida: o pré- -texto, o con-texto e o texto. São Paulo: Paulus, 2008b. 

BRIGHENTI, Agenor. Por uma evangelização realmente nova. Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 45, n. 125, p. 83-106, jan./abr. 2013.

CONCÍLIO DO VATICANO II. Compêndio do vaticano II: constituições, decretos e declarações. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. 

CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Comunidade de comunidades: uma nova paróquia a conversão pastoral paroquial: 52ª Assembleia Geral, nº 100. Aparecida, SP: CNBB, 2014. 

CONRADO, Sérgio. Conversão pastoral: imperativo ou modismo. Revista de Cultura Teológica, São Paulo, v. 19, n. 76, p. 83-97, out./dez. 2011. 

CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANA. Documentos do CELAM: conclusões das Conferências do Rio de Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo. São Paulo: Paulus, 2005. 

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PRADO, José Luiz Gonzaga do. Paróquia, rede de comunidades – a conversão pastoral. Vida Pastoral, São Paulo, jan./fev. 2014. Disponível em: http:// www.vida pastoral.com.br/artigos/eclesiologia/paroquia-rede-de-comunidades-a-conversao-pastoral/. Acesso em: 15 set. 2018. 

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SOARES, Matias. A conversão pastoral e a reforma eclesial. Pontifícias Obras Missionárias, Brasília, DF, mar. 2017. Disponível em http://www.pom. org.br/a-conversao-pastoral-e-a-reforma-eclesial/. Acesso em: 11 ago. 2018. 

SUESS, Paulo. Igreja em saída: compromissos e contradições na proposta missionária do Papa Francisco. Pistis & Praxis - Teologia e Pastoral, Curitiba, v. 8, n. 3, p. 659-671, set./dez. 2016. 

V CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO-AMERICANA. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino- -Americano e Caribe, 2007. 5. ed. São Paulo: Paulus, 2008.   

Notas

[1]  “Conversão traduz a palavra grega metanoia. Metá de metamorfose, mudança de forma, e noia de paranoia. Conversão é mudança de cabeça, portanto. É mudança de mentalidade, de conceitos, de sonhos, de objetivos de vida [...]. Mudar o objetivo pessoal de domínio, de senhorio, de ser servido, pelo objetivo coletivo de realizar o projeto de Deus, de construir a Igreja de Jesus Cristo, de servir o povo de Deus para que ele seja sujeito, e não objeto a ser manipulado”. Conversão, mudança completa de rumos na vida para ser verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, contribuindo “para formar uma Igreja que seja verdadeiro sacramento de salvação para a humanidade.” (PRADO, 2014, p. 1). 

[2] O que fez o Concílio Vaticano II, uma reviravolta, tomou uma nova direção, para isso exige coragem e convicção.   

[3] É um convite a ver o outro, observar as diferenças, com as lentes de Deus. Por exemplo, convida a deixar de ver o pobre, o negro, o mendigo como pessoas perigosas e malfeitoras, para ver neles a imagem e semelhança de Deus.    

[4] A evangelização, a conversão e a transformação começam com a instituição Igreja, com suas estruturas e seus agentes, pois só assim poderá passar uma mensagem credível, ser sinal do Reino no mundo e seus agentes verdadeiras testemunhas do Evangelho, ou seja, verdadeiramente discípulos missionários de Cristo. 

[5] A vida e a cultura são dons de Deus, promovê-las é um dever da Igreja. A conversão pastoral convida para abrir-se a todos e a todas as realidades dos povos da terra. Esta abertura traz mudança de vida e transformação da mentalidade e das atitudes.   

[6] SOARES, (2017) afirma que Papa Francisco está trazendo reviravoltas na Igreja e para ela. Que a conversão não é só do papado, mas eclesial, é permanente que envolve a todos. Lembra que a Igreja por estar no tempo e no espaço, precisa estar sempre se reformando, adaptando-se às novidades e redescobertas da cultura e do desenvolvimento.     

[7] “Aldeia global é um termo criado pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan. Ele tinha o objetivo de indicar que as novas tecnologias eletrônicas tendem a encurtar distâncias e o progresso tecnológico tende a reduzir todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia: um mundo em que todos estariam, de certa forma, interligados” (Cf. ALDEIA GLOBAL. Disponível em: ).    

[8] Isso porque as pessoas muitas vezes se aproximam de outras por interesses, por isso que há discriminação e exclusão do pobre que não tem nada material a retribuir. 

[9] Esse “novo modelo” é “antigo”, pois é um voltar às raízes da missão da Igreja primitiva, e ao modelo da Missão da Santíssima Trindade.    

[10] Em toda paróquia precisaria haver formação pastoral missionária ad intra e ad extra (ad gentes), aproveitando melhor as revistas e jornais missionários e materiais que trazem reflexões e testemunhos concretos de missionários além-fronteiras. Manter contato e dar suporte aos missionários, ouvir a partilha dos que voltam da missão. Incentivar e oferecer oportunidades para as pessoas fazerem experiências missionárias, de curta ou longa duração; perto ou longe, dentro do país ou além-fronteiras. Essas e outras atividades são elementos importantes e relevantes para despertar ardor missionário na comunidade. E que essas experiências não sejam apenas uma vez por ano; ao contrário, numa Igreja em estado permanente de missão, significa que, a ação missionária, será sempre seu conteúdo cotidiano e sua atividade prioritária.    

[11] Mesmo que agir localmente e pensar, rezar e contribuir globalmente com nossos irmãos e irmãs nas periferias existências espalhadas pelo mundo todo.