A palavra de consolo e de fé: algumas contribuições de Ambrósio de Milão para a homilética exequial
The word of consolation and faith: some contributions of Ambrose of Milan to exequial homiletics

André Luiz Benedito
Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Contato: katolous@yahoo.com.br

José Aguiar Nobre
Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Docente na Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (PUC-SP). Contato: nobre.jose@gmail.com


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Resumo: O presente artigo aborda algumas contribuições do discurso fúnebre de Ambrósio de Milão para a homilia na celebração das exéquias. Valendo-se de uma pesquisa bibliográfica, iniciaremos o estudo abordando o Ritual das Exéquias, primeiramente, salientando o resgate da sua índole pascal para, em seguida, realçar os critérios de escolha dos textos bíblicos utilizados e as características da homilia. No segundo momento, após fazer um breve panorama da temática consolatória pagã e cristã, veremos os discursos fúnebres de Ambrósio, que não apenas se valiam do ato de confortar, mas também eram impregnados da doutrina cristã acerca da ressurreição. A partir desses dados, indagamos: qual a contribuição da pregação ambrosiana na preparação da homilia a ser proferida nas exéquias? Os resultados esperados demonstram que os discursos do bispo de Milão podem incrementar a pregação litúrgica na missão de proporcionar aos enlutados o consolo e a instrução da fé cristã na ressurreição.

Palavras-chave: Ambrósio de Milão; Homilia; Exéquias; Consolo; Fé

Abstract: The present article discusses some contributions of the funeral discourse of Ambrose of Milan for the homily at the celebration of the exequies. Using a bibliographical research, we will begin the study by discussing the funeral rite, first, emphasizing the rescue of his paschal character, and then, the criteria for choosing the biblical texts used and the characteristics of the homily. In the second moment, after making a brief overview of the pagan and christian consolatory theme, we will see the funeral discourses of Ambrose, which not only made use of the act of comforting, but were also impregnated with the christian doctrine about the resurrection. Based on these data, we ask: what is the contribution of Ambrosian preaching in the preparation of the homily to be delivered at the funeral ceremonies? The expected results show that the speeches of the bishop of Milan can increase the liturgical preaching in the mission of providing the bereaved with consolation and instruction on the christian faith in the resurrection.

Keywords: Ambrose of Milan; Homily; Exequies; Consolation; Faith

Introdução

Dentre os enigmas da condição humana, um que ocupa grande espaço na reflexão, sem dúvida, é o da morte. Ainda que o tema seja marginalizado como um tabu, não há como escapar do impacto que ele produz. Além disso, não importa a condição social e nem a adesão ou não a uma crença religiosa: cedo ou tarde todos terão de enfrentar o momento da finitude da existência. 

Por sua vez, a comunidade cristã, tendo como ponto de partida a realidade do Cristo morto e ressuscitado, procurou elaborar ritos que não só confortassem os fiéis enlutados, mas, sobretudo, que os lembrassem de que a morte não é o fim. O mistério da morte passa, então, a ser vislumbrado sob a ótica da grandeza do mistério pascal de Cristo. Agora, ao lado das palavras de consolo, há também a mensagem da fé na ressurreição. Tais elementos formam a base da pregação homilética na celebração das exéquias.

Sendo assim, a homilia proferida no contexto exequial será o eixo do presente estudo. Este se iniciará com uma abordagem do Ritual das Exéquias reformulado pelo Concílio Vaticano II, sobretudo, focalizando dois princípios: o resgate da dimensão pascal e os critérios de seleção dos textos bíblicos. A seguir, passaremos ao tema da homilia, em que serão elencadas as orientações e delimitações da pregação litúrgica, tão importante em um momento decisivo para aqueles que vivem a experiência do luto.

Se a reforma dos ritos recebeu forte inspiração da tradição dos Padres da Igreja, com o rito das exéquias não foi diferente, sobretudo no tocante à retomada de sua índole pascal. Por isso, na segunda parte deste estudo, beberemos das fontes da Patrística, mais especificamente, em Ambrósio, bispo de Milão (340-397). Após um breve percurso acerca da temática consolatória pagã e cristã, vamos abordar os seus discursos fúnebres, nos quais o renomado pastor milanês não somente traz aos ouvintes a palavra da consolação, mas também a fé da Igreja na ressurreição.

Depois de apresentarmos Ambrósio, surge a pergunta: suas palavras ditas no final do século IV podem trazer alguma contribuição para a homilética exequial à luz do ritual hoje em vigor? É o que buscaremos responder na terceira parte. Com efeito, vamos encontrar algumas ressonâncias entre os textos do ritual, de um lado, e os discursos consolatórios ambrosianos, de outro. Dessa forma, veremos que o bispo de Milão pode trazer algumas pistas para ajudar os que presidem a celebração das exéquias a pregarem não só a palavra de conforto, mas também a restaurar nos enlutados a fé no Cristo que vence a morte.

1. O Ritual das Exéquias reformado pelo Concílio Vaticano II

1.1 O resgate da perspectiva do mistério pascal e a seleção dos textos bíblicos

Nos primeiros séculos do cristianismo, as exéquias apresentavam uma forte dimensão pascal, de forma que “a certeza da salvação operada por Cristo e a fé na ressurreição alimentavam expressões mais de esperança e de fraternidade do que de dor sombria e de desespero” (BROVELLI, 1992, p. 428). Ao longo do tempo, porém, os cristãos se permitiram influenciar por outras ideias e sentimentos, de modo que se sentissem acabrunhados por certo pessimismo diante da certeza da salvação e, consequentemente, passassem a enxergar a morte como um acontecimento trágico e amedrontador. Tal era a situação até meados do século XX (NOSSA PÁSCOA[1], 2008, p. 11).

O Concílio Vaticano II, mediante a Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium, apresenta como eixo da reformulação do Ritual das Exéquias a reafirmação da “índole pascal da morte cristã” (n. 81), assim recuperando a perspectiva da era patrística. De fato, o evento da morte e ressurreição de Cristo constitui um referencial para iluminar a compreensão da morte do ser humano, cuja experiência é um morrer “em Cristo” para ressuscitar com Ele. É, ainda, um morrer que faz o cristão se abrir a um futuro de comunhão definitiva com Deus e de encontro com os que Nele vivem (BROVELLI, 1992, p. 427).

A retomada da dimensão pascal em um momento tão decisivo da vida humana permite que se realize a “evangelização da morte” mediante a celebração das exéquias cristãs. A reforma do ritual proporcionou uma recentralização cristológico-pascal para libertar a morte de seu processo mistificatório e consolatório, a fim de que esta grande experiência de finitude humana seja uma “celebração do mistério pascal de Cristo” (OE, n. 1). Celebrada em Cristo, a morte se torna um dom, um ganho (Fl 1,21), transformando as sombras da noite em um raiar de um novo dia, um verdadeiro dies natalis (MOLFETTA, 2010, p. 600).

Sob a ótica do mistério pascal, a morte não é a aniquilação total do ser humano, mas o momento de aperfeiçoamento e síntese de toda sua trajetória existencial, cujo sentido se encontra na própria experiência de finitude realizada por Cristo. O novo Ritual das Exéquias assume a perspectiva da experiência de Jesus, tornando-a o paradigma da morte do cristão. A esperança cristã, então, é fortalecida pelo amor de Deus pelo homem e do homem por Deus, de modo que a grandeza do amor divino sinaliza que o destino final do homem não é a morte, mas a vida (ibidem, p. 600).

Para a reforma do rito das exéquias, foi tirado do tesouro da tradição eucológica textos que melhor expressassem o mistério pascal, eliminando aqueles que caracterizavam uma espiritualidade negativa, que insistiam em elementos como o juízo, o temor e o desespero, para dar preferência àqueles que convidavam à esperança cristã e exprimiam de modo mais eficaz a fé na ressurreição (BUGNINI, 2018, p. 632). A maioria das orações do novo ritual apresenta Cristo como vencedor da morte e causa da nossa ressurreição e associa a morte do cristão ao mistério pascal do Senhor (NP, 2008, p. 11).

Outro importante ganho foi a dimensão comunitária da celebração das exéquias: não apenas os familiares e os amigos do defunto, mas toda a comunidade participa da sorte dos irmãos, bem como dá testemunho de sua fé na ressurreição (BUGNINI, 2018, p. 633). Com efeito, não se reza apenas pelo defunto, mas também pelos vivos que experimentam a dor. Até mesmo na hora da morte, a identidade cristã também se faz sentir no aspecto comunitário (NP, 2008, p. 16).

Mais do que qualquer rito ou oração, encontra-se a Palavra de Deus que, mais do que qualquer outro elemento, confere às exéquias o seu caráter pascal (ibidem, p. 18). Embora nem sempre seja possível incluir a missa na celebração das exéquias, a Liturgia da Palavra é rigorosamente prescrita (OE, n. 6), uma vez que a proclamação dos textos bíblicos, as orações e os cânticos da liturgia exequial alimentam e expressam a fé da Igreja (DIRETÓRIO HOMILÉTICO, 2015, n. 156). O novo ritual reconhece a importância da escuta das Escrituras, pois “as leituras proclamam o mistério pascal, avivam a esperança do novo encontro no reino de Deus, estimulam a piedade para com os defuntos e exortam ao testemunho de uma vida verdadeiramente cristã” (OE, n. 11). 

Os textos do Antigo Testamento, com efeito, levam o cristão a perceber a própria existência à luz do projeto de Deus, ao mesmo tempo que permite vislumbrar os temas do anúncio especificamente cristão sobre a morte e o além. As epístolas paulinas e joaninas constituem uma meditação profunda do mistério da luz, da vida, da esperança e da redenção, que está presente no coração daquele que professa que “Jesus Cristo é o Senhor” (Fl 2,11). As perícopes evangélicas, enfim, anunciam aquele que se autoproclama a “ressurreição e a vida”, promete as alegrias do Reino para os que seguem a lógica das bem-aventuranças e convida todos a participarem do banquete preparado pelo Pai (BROVELLI, 1992, p. 431-432). 

Os princípios gerais do Ritual das Exéquias evidenciam a importância dos salmos, que não só expressam a dor, mas também são eficazes para animar a esperança (OE, n. 12). Os salmos, com efeito, ressaltam o anseio por Deus existente no coração do homem e celebram a certeza de que a salvação provém exclusivamente Dele. A seleção desses textos para a liturgia fúnebre apresenta os seguintes critérios: há aqueles impregnados de conteúdo pascal; os que incrementam a oração de esperança, de expectativa e de busca; há também os salmos que dão espaço ao pedido do perdão divino e, enfim, os que comentam a bondade de uma vida íntegra, julgada grande aos olhos de Deus (BROVELLI, 1992, p. 432). O Saltério, então, constitui um lugar privilegiado para a manifestação das emoções humanas, desde a propiciação (Sl 50; 122; 129) ao exultante brado que anuncia a vitória pascal (Sl 113; 117) para, enfim, transformar a experiência da morte em um pôr-se a caminho para a casa do Senhor (Sl 120; 121) (MOLFETTA, 2010, p. 602). Da proclamação dos textos bíblicos, desembocamos agora na temática da homilia.

1.2 Sentido e delimitações da homilia exequial

De acordo com o Diretório Homilético, o Ritual das Exéquias explica de modo bem resumido o sentido e o valor da pregação litúrgica nos funerais (2015, n. 155). A homilia na celebração das exéquias é um dos momentos mais delicados do encargo pastoral (PEIXOTO, 2014, p. 123). Embora a realidade do mistério da morte pareça manifestar a inutilidade e o vazio das palavras, o evento pascal de Cristo motiva a Igreja a saudar e a acompanhar os filhos que repousaram no Senhor com as palavras da fé, sobretudo com a Palavra que dá a vida. Ao lado do coração que chora, existe sempre o olhar da fé que se dispõe à escuta de uma consolação que somente provém do Cristo, a ressurreição e a vida. Ademais, a excelência da Palavra de Deus, como portadora do anúncio pascal e incrementadora da fé, da esperança, da oração e do conforto, revela a obrigatoriedade da homilia ser realizada a partir do texto sagrado (MOLFETTA, 2010, p. 599-601).

O ritual prescreve que aqueles que exercem o ministério da pregação nas exéquias “têm o dever de reanimar nos presentes a esperança e reavivar a fé no mistério pascal e na ressurreição dos mortos” (OE, n. 17). Com efeito, a homilia nas exéquias tem por meta colocar o fiel defunto e a dor dos que ficam sob o mistério cruz de Cristo como sinal da vitória sobre a morte. Em sua acolhida, o homileta ajuda os fiéis após o falecimento a interpretar novamente a própria vida e a ordená-la de novo (CALVO GUINDA, 2003, p. 204).

O mesmo ritual lembra também que, ao exercer o ministério da pregação em momento tão sensível na vida de uma comunidade, seus agentes “façam-no com delicadeza e com tato, de modo que, ao exprimir o amor materno da Igreja e a consolação da fé, as suas palavras animem os crentes, mas não ofendam os tristes” (OE, n. 17). Com efeito, porque celebram o mistério pascal de Cristo, as exéquias levam em conta seja o aspecto da dor, seja o da esperança. Tais elementos devem ser objeto de atenção da parte dos que presidem a liturgia das exéquias, pois eles não são apenas educadores da fé, mas também “ministros da consolação” (OE, n. 16; VIDA, 2016, p. 78).

Os princípios gerais do Ritual das Exéquias recordam que, ao celebrá-las, os ministros não levem em conta apenas a pessoa do fiel defunto e as circunstâncias de sua morte, mas também a dor de seus familiares, sem deixar de confortá-los com solícita caridade em suas necessidades da vida cristã (OE, n. 18). Com efeito, o amor de Deus revelado no mistério pascal de Cristo reativa a fé, a esperança e a caridade e aqueles que choram são confortados pela certeza da vida eterna e da comunhão dos santos (DIRETÓRIO HOMILÉTICO, 2015, n. 155). A atualização da Palavra na existência dos que vivem o luto é uma experiência que parte do evento do mistério da morte e ressurreição de Cristo anunciado nas Escrituras, passando pela misteriosa comunhão dos vivos e dos mortos (DURAND, 2001, p. 140). A circunstância do funeral, então, oferece ao homileta a oportunidade de levar em consideração o mistério da vida e da morte, o sentido da caminhada terrena, o misericordioso juízo de Deus e a vida que não tem fim (DIRETÓRIO HOMILÉTICO, 2015, n. 155).

O ritual também recomenda que na homilia se evite toda a forma e o estilo de um elogio fúnebre (OE, n. 41). Esta exclusão não significa que o homiliasta simplesmente ignore o defunto, as circunstâncias de sua morte ou, se for o caso, desconsidere uma eventual interpelação que essa pessoa e seu acontecimento representam para aqueles que estão reunidos no funeral. A homilia, com efeito, faz o vaivém entre a Palavra e a vida das pessoas, cujas referências precisam ser feitas com discrição e sobriedade. A orientação do ritual mostra, ainda, que a pregação nas exéquias não deve ser uma apresentação biográfica e nem mesmo uma exibição das virtudes e benfeitorias do falecido (PEIXOTO, 2014, p. 123). Os sóbrios acenos à vida do defunto, ao menos, deveriam transparecer o perfume da acolhida misericordiosa do Pai, quando algum de seus filhos enfrenta a experiência da morte e pede acolhida na casa paterna (BISCONTIN, 2015, p. 304).

Dentre os que ouvem a proclamação do Evangelho na celebração das exéquias, há também o cuidado em relação aos acatólicos, ou os católicos que quase nunca participam da Eucaristia, ou, ainda, os católicos que parecem ter perdido a fé. O ritual lembra que, independente dessas circunstâncias, os que presidem os ritos funerários são ministros de Cristo para todos (OE, n. 18). De fato, é nessas circunstâncias que esses afastados poucas vezes têm contato com a liturgia da Igreja. A devida preparação homilética pode fazer com que tais pessoas revivam a experiência do filho pródigo que retorna à casa paterna. Para isso, o ministro pode sintonizar-se com a dor dos familiares e amigos do defunto, ao mesmo tempo que anuncia o mistério pascal de Cristo, levando-os a reviver a fé na ressurreição (NP, 2008, p. 8). Também é importante recordar que os afastados respeitam e valorizam a palavra da Igreja, sobretudo nesses momentos em que ninguém tem mais nada a dizer (CALVO GUINDA, 2003, p. 209).

Os gestos e as palavras do rito das exéquias, mais do que simplesmente homenagear os defuntos, interpretam e traduzem a atitude do homem em face da morte. A celebração desperta no fiel a consciência de que, em Cristo morto e ressuscitado, ele foi destinado a uma vida sem fim e que ele é uma pessoa importante para Deus, que o criou à sua imagem e semelhança e que o põe novamente de pé. O ritual apresenta Jesus Cristo como vencedor da morte e Senhor da vida, que responde às expectativas mais profundas do ser humano. Ele, nossa Páscoa e esperança certa, torna o evento da morte um acontecimento de salvação e uma experiência mistagógica. Dessa forma, Cristo é exegeta e mistagogo do evento último da existência humana (MOLFETTA, 2010, p. 600).

Tendo apresentado um breve panorama de alguns elementos do ritual das exéquias, abordaremos, em seguida, um grande mistagogo do século IV: Ambrósio de Milão. Veremos como seus discursos fúnebres procuraram trazer aos seus contemporâneos uma mensagem de conforto sem deixar de lado a perspectiva da fé na ressurreição.

2. Os discursos fúnebres de Ambrósio de Milão

2.1 Visão geral da literatura consolatória pagã e cristã

De acordo com Pseudo-Dionísio de Halicarnasso, um orador jamais deve ignorar o discurso fúnebre, pois, cedo ou tarde, deverá utilizá-lo: todos morrem! (DUVAL, 1977, p. 236). Muito praticado na Antiguidade, o gênero literário da “consolatio” surgiu com o objetivo de aliviar a dor de uma pessoa sofredora. Os vários formatos desse estilo – discursos, epístolas, tratados filosóficos – se ocupavam em consolar um amigo, um familiar ou qualquer pessoa em situação de sofrimento, na maior parte das vezes, devido ao luto ou a uma prolongada ausência ocasionada pela distância do ente querido. A consolatio era desenvolvida com base em uma técnica retórica bem articulada e bem estruturada, assim alcançando o coração do destinatário, com demonstrações de fraternidade, atitude filantrópica e apoio recíproco (BORSATO, 2017, p. 8).

Os argumentos do gênero consolatório pagão que se encontram tanto na literatura grega como na latina apresentam muitas semelhanças entre si. Os pontos mais comuns são: o destino governa tudo e é necessário estar sempre pronto para enfrentar seus golpes; todos os homens são mortais; mesmo não ter vivido muito, o que importa é o falecido ter sido virtuoso; o tempo cura todos os males; a morte liberta da doença, dos problemas da velhice e de todos os outros infortúnios; o bom exemplo de quem parte dá conforto e coragem; os mortos não sofrem mais tristeza ou dor; há os que pensam que existe felicidade no pós-vida; a razão deve atenuar a dor; demonstrações de emoção não são masculinas. Todos esses argumentos impessoais e de frieza filosófica tornaram-se estereotipados ao longo dos séculos. Embora ineficazes em muitos de seus aspectos, tais princípios continuaram a ser transmitidos nas escolas de retórica sem grandes mudanças essenciais, até que o cristianismo deu um novo alento a essa forma de discurso, através de meios de consolação incomparavelmente superiores aos trazidos pelo paganismo (McGUIRE, 1968, p. xii-xiii).

A literatura consolatória cristã experimenta um grande florescimento na segunda metade do século IV. Em relação à tradição pagã, os autores cristãos redimensionaram a verbum consolationis à luz da fé em Cristo e dos textos bíblicos (CHIECCHI, 2005, p. 3). O recurso à Sagrada Escritura no gênero consolatório também mostra a diferença no uso das fontes entre os pagãos e os cristãos. Enquanto os primeiros largamente reinterpretavam as fontes doutrinárias – muitas vezes deturpando-as – para atingir seu objetivo, os segundos, cientes da procedência divina das Escrituras, usavam os textos à letra para confirmar ainda mais o seu discurso (BORSATO, 2017, p. 47).

O gênero consolatório é ressignificado no âmbito do cristianismo a partir dos seguintes argumentos: a crença em um Deus pessoal, Criador do mundo e do homem, todo-poderoso, justo e misericordioso; a Trindade; a Encarnação do Verbo; a morte de Cristo para nossa redenção; o Ressuscitado como Salvador da humanidade e vencedor do pecado e da morte; a celebração da Eucaristia e o conforto espiritual que dela deriva; a Igreja como instituição divina; a vida futura como a vida verdadeira; a comunhão dos santos; a ressurreição da carne; o juízo final; vida eterna e felicidade no céu; o castigo no inferno. Ademais, nos Salmos e nos Profetas do Antigo Testamento, bem como nos textos do Novo, os autores cristãos hauriam uma literatura consolatória de beleza e poder únicos, que desfrutava de uma singular autoridade como a Palavra do próprio Deus (McGUIRE, 1968, p. xiii-xiv). 

Assim, em face de um problema tão concreto e essencial como o da morte, de um modo mais ou menos novo, os cristãos buscaram – recorrendo ou não a alguns elementos da consolatio clássica – expressar sua forma de consolo e sua esperança (DUVAL, 1977, p. 236). Vejamos, então, como se dá essa configuração nos textos de Ambrósio de Milão.

2.2 A arte consolatória ambrosiana: a palavra de conforto e a fé na ressurreição

Ambrósio introduziu o discurso fúnebre adaptado da consolatio pagã na literatura cristã latina, muito provavelmente a partir da leitura de seus contemporâneos no Oriente: Gregório de Nissa e Gregório de Nazianzo. Ao reelaborarem a consolatio clássica, ambos acrescentaram o caráter incomparavelmente superior da consolação da fé cristã, dando relevo à perspectiva da ressurreição. Por sua vez, as consolationes ambrosianas transparecem um profundo conhecimento dos mestres gregos da retórica, bem como a influência da laudatio funebris[2] e da consolatio latinas. Porém, o bispo de Milão não se sentia tão ligado aos seus modelos pagãos como os referidos Padres, pois, em seus discursos, era grande a presença dos princípios da fé cristã, de citações e de imagens bíblicas, além de serem marcados por um tom mais pessoal e afetuoso (SATTERLEE, 2002, p. 96-97).

É importante ressaltar que Ambrósio não escreveu nenhum tratado específico sobre a ressurreição por um motivo bem simples: no século IV, não havia discussões acaloradas sobre o tema como ocorreu nos séculos II e III, que resultou em grandes obras de Tertuliano e de Orígenes. Na era ambrosiana – ao menos no Ocidente –, o argumento da ressurreição já se encontrava em um período de estabilidade e de assimilação, de forma que a preocupação essencial fosse com a acolhida e a vivência da fé transmitida, sem buscar ideias sutis e originais. Para Ambrósio, basicamente vai lhe interessar o aspecto prático da fé, ou seja, como a fé na ressurreição transforma a atitude do homem diante da morte (TOAN, 1988, p. 132).

De Ambrósio, chegaram até nós três discursos consolatórios. O primeiro corresponde ao tratado “Sobre a morte de seu irmão Sátiro” (De excessu fratris sui Satyri), cujo fato ocorreu por volta de 378, ainda nos primeiros anos de seu episcopado, iniciado em 374. Com esta obra, o bispo de Milão foi o primeiro autor cristão latino a restabelecer uma conexão com os escritos filosóficos sobre a morte, cujos expoentes no mundo latino eram Cícero e Sêneca (LABRIQUE, 1991, p. 409).

O texto do De excessu fratris é dividido em duas partes. O Livro I compreende o discurso realizado no próprio dia da morte de Sátiro. Em geral, ele aborda a vida do falecido e profere sucessivos lamentos diante da solidão causada pelo desaparecimento de um grande companheiro. Por sua vez, no Livro II, que abrange o discurso pronunciado sete dias depois à beira do túmulo de Sátiro, Ambrósio deixa o tom pessoal em segundo plano para dar lugar a uma abordagem mais articulada acerca da verdade da ressurreição. Com efeito, em alguns manuscritos, a segunda parte é intitulada “Sobre a ressurreição dos mortos”[3] (“De resurrectione mortuorum”) (MORESCHINI; NORELLI, 2005, p. 440-441; LÓPEZ KINDLER, 2011, p. 14-16).

No livro I do De excessu fratris, Ambrósio manifesta sua dor e pesar pela morte do irmão, como se fosse uma confissão em voz alta do vínculo fraterno que os unia e das virtudes extraordinárias de prudência, religiosidade, fortaleza e caridade do falecido. A palavra é o meio que o bispo de Milão usa para se tornar próximo dele, cujo afeto mútuo se torna agora uma memória (BORSATO, 2017, p. 54). Embora seja comum no âmbito pagão o teor patético da consolatio, Ambrósio o eleva a um novo patamar, pois seus afetos estão imbuídos de um profundo sentido cristão, que se manifesta em como o orador aceita a vontade de Deus, exalta a conduta de vida do defunto e busca consolo, não na filosofia pagã, mas nos exemplos e na verdade das Escrituras, que lhe forneciam argumentos convincentes acerca da imortalidade da pessoa que se foi (LÓPEZ KINDLER, 2011, p. 17).

O Livro II retoma alguns argumentos da literatura consolatória pagã, porém, se distinguindo por duas novidades. Em primeiro lugar, a afirmação da incorruptibilidade prometida ao corpo. O segundo ponto refere-se à inviabilidade de uma eventual condição imortal do homem, uma vez que essa imortalidade, sem a graça divina, seria apenas um fardo. A segunda parte do De excessu fratris, no fundo, é um tratado teológico sobre a ressurreição precedido longamente por uma consolatio pagã convencional. Mas Ambrósio se preocupa mais em expor o que fundamenta sua fé e sua esperança do que propriamente determinar em que consiste a ressurreição (TOAN, 1988, p. 133).

Em suma, os dois livros que compõe o De excessu fratris podem ser vistos como um tratado consolatório, que cede grande espaço a uma parte doutrinal. Em sua abordagem, Ambrósio aponta para a complementaridade entre o sentimento pessoal e a vontade de ensinar, pois ele pronuncia uma consolatio com a perspectiva da resurrectio (BORSATO, 2017, p. 56-57). O liber consolationis pode conviver com o liber resurrectionis, pois não há um esvaziamento da angústia do luto no transcendente, bem como não há uma exagerada ênfase na dor da perda. Ambos os livros sabem estabelecer a conjugação entre o afeto e a perspectiva da fé cristã (CHIECCHI, 2005, p. 15-16).

Os outros dois discursos fúnebres ambrosianos foram realizados por ocasião da morte dos imperadores Valentiniano II (De obitu Valentiniani), em 392, e Teodósio (De obitu Theodosii), em 395. Ambos os textos seguem as regras clássicas do gênero consolatório, mas seu conteúdo é rigorosamente cristão. No caso de Valentiniano, o espetáculo da vitória e do império, algo tão presente nos panegíricos pagãos, está quase totalmente ausente. Por sua vez, a consolatio de Teodósio coloca seu governo no contexto da realeza do Antigo Testamento e dos imperadores cristãos do século IV, além de Ambrósio atribuir ao falecido as virtudes da fé, da misericórdia, da humildade e do amor a Deus (CORMACK, 1976, p. 66).

Em ambos os discursos, Ambrósio visa consolar não só a assembleia como também a si mesmo e, assim, aborda o luto e o choro que o cercava. No De obitu Valentiniani, o consolo é expresso em termos bíblicos com base nos três primeiros capítulos do Livro das Lamentações. Para Ambrósio, a morte já não é o fim e pode ser o início de uma vida melhor e, por isso, não deve ser apenas suportada, nem mesmo temida, pois ela é também o fim do pecado. Além disso, o bispo de Milão informa a toda assembleia a igualdade de todos diante de Deus e da morte, incluindo o imperador. Ao mesmo tempo, ele dá esperança aos presentes, ao reforçar a promessa de uma imortalidade universalmente disponível. Essa perspectiva está em nítido contraste com o paraíso exclusivamente imperial desfrutado por Constantino, segundo Eusébio de Cesaréia (LUNN-ROCKLIFFE, 2008, p. 193-195).

Em De obitu Valentiniani, Ambrósio recorre a temas como o arrependimento, as perguntas retóricas, bem como ao fato de ele ter sido arrebatado tão cedo do mundo dos vivos. Há, ainda, momentos em que o bispo exalta as virtudes de Valentiniano, dando aos que sobreviveram a certeza de que ele está no paraíso. Além disso, Ambrósio ressalta o desejo de conversão do imperador, que esperava receber o batismo de suas próprias mãos. No discurso, também aparece o reencontro de Valentiniano com seu irmão Graciano, morto quase dez anos antes, em que o orador imagina ambos desfrutando da felicidade eterna (BORSATO, 2017, p. 57-58).

Um ponto a destacar é o momento em que Ambrósio se dirige às irmãs de Valentiniano, Justa e Grata. Com afeto paternal, ele lhes mostra que a verdadeira consolação é o elogio pronunciado sobre o falecido e o que importa é elas guardarem a memória do carinho e da delicadeza que Valentiniano lhes dispensava enquanto vivo. Ambrósio convida-as a imitar a firmeza de Maria, que estava aos pés da cruz, enquanto o próprio bispo se compara a São João, o que lhe permite definir seu papel de consolador (DUVAL, 1977, p. 269-270).

O discurso De obitu Theodosii basicamente manifesta a preocupação de Ambrósio com a sucessão ao trono, sob um pano de fundo claramente panegírico (LÓPEZ KINDLER, 2011, p. 14). Imbuído de conotações políticas, Ambrósio ressalta como o Império Romano se estabelece sobre uma base cristã, desde que Constantino legou a seus sucessores a herança da fé. Daí o pedido de Ambrósio aos soldados que, como outrora prestaram lealdade a Teodósio, assim também o façam para com seus filhos, Honório e Arcádio, ambos agora no centro das atenções e expectativas do povo. O clima já não é tanto de luto, pois tudo parece bem mais formal, transparecendo no discurso um esquema mais político do que propriamente consolatório. O cerne da fala ambrosiana está na pessoa de Teodósio, apresentado como paradigma comportamental aos seus filhos por seu zelo, clemência, benevolência e obediência a Deus (BORSATO, 2017, p. 58).

O catálogo das virtudes era um lugar-comum nos panegíricos pagãos, mas Ambrósio não faz uso servil desse esquema. Ainda que elenque as virtudes, ele apresenta o paradoxo da realeza que se humilha – o que lembra o episódio de Teodósio fazendo penitência por ter ordenado um massacre em Tessalônica. O contraste entre humildade e poder tem como fundamento o próprio Cristo que aceitou a cruz como obediência a Deus. A articulação entre ambos os elementos justifica as razões do amor do bispo de Milão por Teodósio: “Amei o homem misericordioso, humilde no poder” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 321-323). Também é uma clara lição à assembleia: se até o imperador consegue viver a humildade, quanto mais um cristão comum deve buscá-la (LUNN-ROCKLIFFE, 2008, p. 204-205).

Algo até então inédito na literatura profana – onde as citações poéticas servem como ornamento ou autoridade – é o fato de Ambrósio colocar na boca de Teodósio as palavras de Davi, no caso, o Sl 114[4], que revela os segredos de sua vida com Deus. O imperador é um novo Davi tanto pelas suas faltas como pela sua humildade. O poema de Davi – um rei segundo o coração de Deus –, sendo pronunciado por Teodósio, torna-se a essência do discurso fúnebre ambrosiano (DUVAL, 1977, p. 283.286).

Ao longo de sua vida, Ambrósio acompanhou a trajetória de Valentiniano e de Teodósio, lembrando-lhes que eram apenas homens mortais e, em ambos os funerais, reforça esse fato. Os dois imperadores, virtuosos em vida, agora desfrutam do prêmio eterno, mas o bispo não se esquece de que a recompensa eterna é oferecida a todos. Para Ambrósio, no fundo, os membros da realeza são cristãos como qualquer um. Diferente dos antigos panegíricos, tanto o De obitu Valentiniani como o De obitu Theodosii atestam outra importante novidade: cada pessoa é avaliada por seus próprios méritos e a ancestralidade não é mais a garantia da salvação. Além disso, nem mesmo um bom pai é padrão absoluto de virtude ou tão perfeito como o próprio Cristo, e Deus, não mais o imperador, é agora a nova figura paterna universal (LUNN-ROCKLIFFE, 2008, p. 207.200).

Nos três discursos ambrosianos, mostra-se uma evolução dos temas, da estrutura e do gênero consolatório, sobretudo a partir do Livro II do De excessu fratris. Tal processo abre uma distância em relação ao estilo da consolatio pagã. Na perspectiva cristã, a palavra de conforto se abre a mais destinatários e tende a ser uma forma de ensino doutrinal (BORSATO, 2017, p. 59.77). Mas um ponto importante a considerar é que a tríade consolatória de Ambrósio se origina em um contexto litúrgico, demonstrado pela presença de leituras bíblicas e de salmos, citados ao longo dos discursos (DUVAL, 1977, p. 292). Desse modo, vejamos como os textos ambrosianos podem oferecer alguma inspiração no tocante à homilia a ser pronunciada na celebração litúrgica das exéquias. 

3. Pistas para a homilética exequial à luz dos discursos consolatórios de Ambrósio

Quando lançamos um olhar tanto para lecionário e a eucologia do Ritual das Exéquias como para os textos ambrosianos, é possível vislumbrar entre eles algumas ressonâncias que são iluminadoras para os que desempenham o importante ministério homilético em um contexto tão delicado na vida de uma família ou até mesmo de uma comunidade.

Um texto bíblico presente no Ritual das Exéquias é o relato de Jo 11,17-27 que narra o diálogo entre Jesus e Marta, situado no contexto mais amplo do episódio da ressurreição de Lázaro. Nos discursos consolatórios de Ambrósio, encontramos referências ao texto completo de Jo 11,1-45, permitindo um enriquecimento para a reflexão do homiliasta. O primeiro ponto é a atitude de Jesus que chora a morte de Lázaro (Jo 11,35). Em De excessu fratris I, Ambrósio recorda esse episódio legitimando a experiência da dor em face da perda de um ente querido. Segundo o bispo de Milão, “as lágrimas são um indício de afeto, não estímulo para a dor. Confesso, pois, que eu também chorei, porém, também o Senhor chorou” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 53-57). A expressão da dor é justa, pois “nem todo pranto é sinal de infidelidade ou de fraqueza. [...] E tem uma grande importância sentir falta do que se teve e chorar o que se perdeu” (ibidem, p. 53). 

Vale ressaltar que, ao longo do seu ministério, Jesus nunca esteve indiferente perante a realidade da morte alheia: ora demonstra seu senhorio e poder – como no episódio da filha de Jairo (Mc 5,35-43), do filho da viúva de Naim (Lc 7,14) e do próprio Lázaro –, ora manifesta seu pesar – como em relação ao irmão de Marta e de Maria. O bispo de Milão, inclusive, entende Lázaro como uma personalidade representativa: “Ele chorou por todos, representados em um só” (ibidem, p. 55).

De acordo com Ambrósio no tratado De excessu fratris II, o episódio de Jo 11 é também o momento do renascimento da fé: “Ele não ressuscitou apenas a Lázaro, senão a fé de todos, e se tu o crês quando o lês, também tua alma, que estava morta, ressuscita naquele Lázaro” (ibidem, p. 175). O texto joanino proclamado alcança importante atualidade para os presentes no funeral, uma vez que a homilia exequial tem o objetivo de “reanimar nos presentes a esperança e reavivar a fé no mistério pascal e na ressurreição dos mortos” (OE, n. 17). Em um momento tão decisivo, a perícope torna-se um excelente ponto de partida para ajudar os fiéis a “ressuscitarem” a própria fé e a se “porem a caminho” em sua jornada no seguimento de Cristo. Segundo Ambrósio, de fato, “Jesus Cristo é a força de Deus, o caminho, a luz, a ressurreição dos mortos. A força levantou ao que jazia, a via fez que se pusesse a caminho, a luz pôs em fuga as trevas e restituiu a visão, e a ressurreição fez recuperar a energia vital” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 177).

No tratado De obitu Valentiniani, em um determinado momento, Ambrósio se dirige especificamente às irmãs do imperador falecido, o que nos remete ao texto de Jo 11 que narra o encontro entre Jesus e as irmãs de Betânia naquele contexto de dor. Às irmãs do imperador, Ambrósio pede-lhes que guardem na memória os gestos de carinho e de bondade e que a lembrança do afeto supere a desventura da morte (ibidem, p. 261-263). O homiliasta, de uma forma ou outra, se encontra na posição de Jesus, enquanto Marta e Maria representam os familiares e amigos do falecido a serem consolados. Da mesma forma como Ambrósio, o homiliasta pode apelar para a lembrança das coisas boas realizadas com aquele que partiu. As experiências positivas servem de consolo para que o falecido continue vivo no pensamento e no coração dos presentes. 

Ao exercer o munus consolandi, com efeito, o homiliasta se coloca na posição do Senhor como consolador e reanimador da fé. Diante de uma situação de perda, às vezes ouvimos alguém dizer: “Perdi o chão!” Poderíamos também afirmar: “Perdeu o solo”, isto é, ficou “de-solado”. Por sua vez, o pregador é alguém que “dá o solo”, ou seja, oferece o “con-solo”. Ao dar a firmeza do chão da fé cristã aos que pranteiam a morte, o ministro da celebração das exéquias também se torna o instrumento do Espírito Santo, o grande “Con-solador”, para, mediante a homilia, animar os presentes a perseverarem na vida em Cristo e alimentar neles o anseio pelo “abraço do Pai misericordioso que nos espera na glória” (FRANCISCO, 2013, n. 144).

No Ritual das Exéquias também consta a perícope de Mt 25,31-46 que aborda o juízo final. A caridade fraterna é o critério para a seleção dos escolhidos do Reino. Em De excessu fratris I, os pobres são mencionados pela primeira vez em um discurso consolatório (BORSATO, 2017, p. 55). Dentre as várias categorias de pessoas que lamentam a perda de Sátiro – ricos, anciãos e jovens –, Ambrósio cita os pobres, ressaltando a virtude da caridade de seu irmão: “Também choraram os pobres e com suas lágrimas – isto é um fruto muito mais valioso e abundante – lavaram seus pecados” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 49). Além disso, em uma das opções de oração de despedida, a comunidade agradece “pelos dons que lhe concedestes em sua vida terrestre e pelo bem que ele(a) fez a serviço do vosso Reino” (NP, 2008, p. 79). O amor ao próximo e as demais contribuições pela causa do Reino que foram realizados pelo falecido constituem um ótimo argumento para o homiliasta consolar os presentes com a esperança da vida eterna e o perdão de suas faltas, uma vez que “a caridade cobre uma multidão de pecados” (Pr 10,12), além de saber que ele foi chamado a “participar da alegria do Senhor” (Mt 25,21) por colocar seus talentos a serviço.

A perícope de Jo 14,1-6, que se refere a um dos diálogos entre Jesus e seus discípulos em sua despedida, apresenta um tema importante: a fé. “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (Jo 14,1). No momento da morte, sobressai a disparidade entre os que têm ou não a fé. Em De excessu fratris I, Ambrósio apresenta esse diferencial entre os que não creem e os que creem em Cristo diante de um momento tão decisivo na existência humana: para os que não creem, os entes queridos morrem para sempre, não há paz para os defuntos; para os que creem, a morte não é o final, pois reviveremos para uma vida melhor (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 103). O homiliasta pode então destacar a importância de se manter a fé nesta experiência de limite, pois a morte não é o fim de tudo, pois quem tem a última palavra é o Deus da vida. Apesar da certeza da morte, segundo Ambrósio, devemos estar mais animados pelo prêmio que nos aguarda, enquanto vamos nos consolando uns aos outros (ibidem, p. 103).

O bispo de Milão prossegue: “É evidente que não os perdemos, senão que enviamos adiante aqueles que a morte não aniquila, senão que recebe a eternidade” (ibidem, p. 103). O “envio” daquele que nos precede remete àquela súplica que entoamos na despedida: “Santos de Deus, vinde em seu auxílio etc.” (NP, 2008, p. 79). Em uma abordagem mistagógica, o homiliasta pode lembrar a assembleia de que naquele momento, a Igreja peregrina confia às mãos da Igreja triunfante o irmão falecido, na esperança de que ele seja acolhido no paraíso.

A oração de despedida menciona o “consolo uns aos outros na fé que brota do Evangelho” (ibidem, p. 79). Com efeito, na celebração das exéquias, a assembleia é convidada a “ouvir a consolação da esperança na Liturgia da Palavra” (OE, n. 3). Em De excessu fratris I, Ambrósio recorre à autoridade das Escrituras para nelas buscar o conforto em um momento tão difícil: “Assim, Santa Escritura, busco teu consolo, pois me alivia deter-me em teus preceitos, em tuas sentenças” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 101). Ao preparar sua homilia e transmiti-la aos fiéis, o ministro das exéquias encontra apoio na força da Palavra de Deus que consola e dá esperança. Assim, aqueles que se despedem de seu ente querido podem encontrar nas Escrituras a presença do próprio Cristo que é a ressurreição e a vida. Reforçando a potência da Palavra divina, Ambrósio afirma em De excessu fratris II: “[Deus] disse e fez. Se com uma palavra surge o conjunto dos elementos, por que os mortos não podem ressuscitar com uma palavra?” (ibidem, p. 181).

A eucologia da celebração das exéquias também recorda a esperança de que todos um dia vamos nos encontrar (NP, 2008, p. 78). Em De excessu fratris I, Ambrósio diz a Sátiro, que o precede na morte, para ser o anfitrião no lugar do repouso e, assim como ambos tiveram tudo em comum enquanto viviam neste mundo, deseja que na morada definitiva também desconheçam a separação (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 111). Ambrósio retoma a mesma a ideia do reencontro em De obitu Valentiniani (ibidem, p. 283), quando menciona o reencontro entre o imperador e seu irmão Graciano, e em De obitu Theodosii (ibidem, p. 329), quando o soberano falecido reencontra seus parentes. A perspectiva do reencontro é, então, um argumento importante a ser utilizado pelo homiliasta, animado pela esperança dada pelo próprio Cristo ao afirmar que “na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14,2).

A realidade da morte também provoca em nós uma reflexão sobre a vida. Para aqueles que ainda ficam, é necessário pedir “a graça de viver no seguimento de Cristo” (NP, 2008, p. 43). A certeza da morte, aliada à incerteza da hora de sua chegada, reforça a necessidade de levar a sério a vida cristã. Em De excessu fratris II, o bispo de Milão alerta que “logo nos separamos de nosso corpo; contudo, nem sigamos suas apetências nem abandonemos a lei natural, senão coloquemos diante de nós os dons da graça” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 143). O homiliasta pode provocar uma reflexão: o que fiz da minha vida até agora? Ela tem valido a pena? É o momento, então, que a assembleia é convidada a fazer um balanço da sua existência, a fim de, à luz da mensagem da esperança na ressurreição, reordenar suas prioridades e buscar colocar a pessoa de Cristo no centro da própria vida.

O que fazer para valer a pena ter vivido? Pelo tratado De obitu Theodosii, Ambrósio responderia com uma palavra: amar. De fato, ele imagina Teodósio a caminho do céu sendo interrogado pelos anjos e arcanjos: “Que fizeste na terra?” Ao que ele responde: “Amei”. Para Ambrósio, “nada mais sublime, nada mais expressivo. [...] Amei. O qual equivale a dizer: observei a lei, não descuidei do Evangelho” (ibidem, p. 311). A certeza de ter amado ao longo da vida é um tema a ser ressaltado pelo homiliasta àqueles que ainda possuem uma trajetória a percorrer nesse mundo para, assim, fazê-la realmente valer a pena aos olhos de Deus.

Dentre os vários contextos particulares numa celebração das exéquias, há no ritual uma referência à morte de um jovem (NP, 2008, p. 71-72). Ambrósio também sentiu profundamente o término precoce da vida de Valentiniano, mas o que realmente importa é a grandeza de suas virtudes: “Admitamos que se deva lamentar que tenha morrido em idade juvenil; não obstante devemos alegrar-nos que tenha falecido como um veterano na prática das virtudes” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 265). Os perigos da corrupção da juventude no mundo de hoje não eram tão diferentes nos tempos de Ambrósio: “Pois foi tão grande a integridade de sua vida, no tempo para todos perigoso da adolescência, tanto o louvor por seus costumes, que fica encoberto qualquer vestígio de dor. Pois que tenha morrido é consequência da fragilidade humana; o ter sido assim tão grande, motivo de admiração” (ibidem, p. 265). Se uma existência curta provoca demasiada consternação, que os fiéis sejam consolados pela grandeza de uma vida aos olhos de Deus. Esses são alguns pontos que o homiliasta pode levar em consideração nesse contexto específico.

No ritual, encontramos uma perícope do livro das Lamentações (3,21-26)[5] que afirma: “o Senhor é minha herança” (v. 24). Ao se referir aos filhos de Teodósio, Ambrósio recorda o tema da herança espiritual em De obitu Theodosii: “[...] não foram despojados aqueles a quem deixou herdeiros de sua piedade; não foram despojados aqueles para quem adquiriu a graça de Cristo” (ibidem, p. 295). O bispo de Milão, com efeito, procurou engajar Honório e Arcádio no caminho da fé, mostrando que ele foi seguido não apenas por seu pai, mas – com exceção de Juliano, o Apóstata – por todos os imperadores desde Constantino (FAVEZ, 1932, p. 426).

Sendo assim, o tema da herança da fé é de grande pertinência para o homiliasta, sobretudo em uma sociedade tão materialista como a nossa. Se a morte é o término da vida de alguém, ela pode, ao mesmo tempo, se tornar o início de outro problema: a disputa em torno da posse dos bens do falecido. Muitas famílias se desentenderam e até se destruíram por questões de herança. Mais do que deixar “bens”, é significativo que os parentes que ficam também se preocupem em, quando chegar a hora, legar o grande “bem”, que é justamente a “herança da fé”. O testemunho de uma vida cristã é um grande tesouro que permanece na memória e também um elemento inspirador para as gerações seguintes. A herança espiritual, com efeito, é um bem que não se perde tão facilmente como os recursos materiais.

Os tratados ambrosianos, enfim, constituem um importante instrumento para ajudar o homiliasta a aprofundar a reflexão sobre a consolação e a fé cristã em um momento tão delicado da vida dos fiéis. No fundo, tanto para Ambrósio como para nós, importa a qualidade das relações que mantemos com Deus na vida presente. De fato, os demais elementos – imortalidade, felicidade eterna e as amizades reencontradas – são consequências das relações de amor estabelecidas entre nós e o Deus eterno (TOAN, 1988, p. 150).

Considerações finais

O resgate da dimensão pascal das exéquias cristãs foi uma importante contribuição da reforma litúrgica, proporcionando aos fiéis superarem a visão pessimista da morte para assimilá-la à luz da perspectiva do Cristo morto e ressuscitado. Ao longo da existência, o fiel é chamado a configurar-se ao Senhor procurando seguir o novo mandamento do amor. No momento último e decisivo da existência, não poderia ser diferente: entregando-se nas mãos de Deus, cuja última palavra é a da vida, o cristão morre em Cristo para ressuscitar Nele. De fato, a páscoa pessoal de cada batizado se insere no grande mistério da Páscoa do Senhor.

Os textos bíblicos e eucológicos, sem desconsiderar a dor dos enlutados, são imbuídos da fé e da esperança pascais em uma vida que supera a morte. Inevitavelmente, essas premissas se refletem no tema da pregação litúrgica. Nesse sentido, a homilia nos funerais permite transparecer o duplo papel do presidente da celebração das exéquias como “educador da fé e ministro da consolação” (OE, n. 16). 

A prática homilética de Ambrósio, como vimos, também reforça a importância de estabelecer um equilíbrio entre o respeito ao pranto e o ensino da fé no contexto do luto. Em sua pregação, nota-se que não há uma minimização da dor, de um lado, e nem um desleixo com relação à instrução da fé, de outro. Desse modo, fica claro que tanto um como outro podem caminhar lado a lado em um momento tão sensível da vida humana, uma vez que os afetos podem muito bem ser impregnados do espírito cristão.

À luz dos discursos consolatórios ambrosianos, os textos bíblicos e eucológicos propostos pelo ritual recebem uma nova abordagem e um novo olhar em vista de inspirar o homiliasta a se solidarizar com aqueles que vivem o luto e ajudá-los a fazer uma experiência do mistério pascal de Cristo, que vence a morte e renova a fé e a esperança. Enfim, os que presidem as celebrações das exéquias tenham o mesmo otimismo de Ambrósio acerca da fé na ressurreição, conforme ele diz em De excessu fratris II: “É um prazer acreditar nisto, deleita esperá-lo; certamente, é um castigo não tê-lo acreditado; tê-lo esperado, uma graça” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 223).

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Notas

[1] Os textos eucológicos e demais informações do Ritual das Exéquias serão paginados de acordo com o subsídio “Nossa Páscoa”, cuja sigla, doravante, será “NP”. Entretanto, como os princípios gerais do ritual – denominados “Praenotanda – não constam no referido material, os mesmos serão indicados com base na sua versão latina pela sigla “OE” (= “Ordo Exsequiarum”).

[2] A laudatio funebris era o discurso pronunciado sobre o cadáver de um nobre ou de um imperador, ressaltando as virtudes do personagem em questão. Este gênero de fala possuía uma clara conotação política, uma vez que era realizado por um parente ou sucessor do falecido (LUNN-ROCKLIFFE, 2008, p. 193).

[3] No tratado In Psalmum I Enarratio 51, Ambrósio se refere aos Livros I e II do De excessu fratris respectivamente como “os livros da consolação e da ressurreição” (AMBRÓSIO DE MILÃO, 1882, coluna 949).

[4] A primeira palavra do salmo – “Dilexi”, isto é, “Amei” – é retomada inúmeras vezes no discurso, tanto a partir dos lábios de Teodósio como do próprio Ambrósio (AMBRÓSIO DE MILÃO, 2011, p. 309-313.321-325).

[5] No subsídio “Nossa Páscoa”, a perícope encontra-se apenas no rito das exéquias de crianças. Porém, nada impede que ela seja usada em outras circunstâncias, de acordo com OE, n. 87. De qualquer forma, mesmo que não haja a proclamação do referido texto bíblico, o próprio exemplo de vida cristã do falecido já pode ser o ponto de partida para a abordagem do tema da herança espiritual.