Júlio Cezar Adam
Doutorado em Teologia pela Universidade de Hamburgo, Alemanha. Coordena o Programa de Pós-Graduação das Faculdades EST. Contato: julio3@est.edu.br
Dionata Rodrigues de Oliveira
Mestrado acadêmico pela Faculdade EST. Contato: dionataoliveira@yahoo.com.br
Resumo: Este artigo apresenta uma abordagem sobre o desenvolvimento da Teologia Prática no contexto do Brasil e da América Latina. Há consciência da dificuldade de construir tal relato pela amplitude e complexidade dessa realidade e a própria imprecisão do entendimento da área, inclusive o conceitual. Reconhece-se, porém, a necessidade da reflexão e do debate sobre esta importante área da Teologia para o contexto em questão. O artigo é composto por quatro partes: Primeiramente, apresenta-se elementos contextuais relevantes para a Teologia Prática no contexto latino-americano. No segundo ponto, discorre-se sobre o permanente desafio de conceituar a Teologia Prática como disciplina teológica. No terceiro ponto, apresenta-se alguns dos desenvolvimentos relevantes da disciplina para, finalmente, no quarto ponto, apontar desafios atuais e futuros para a Teologia Prática nessa realidade.
Palavras-chave: Teologia Prática; América-Latina; Teologia da Libertação; Grupo de Santiago; Faculdades EST
Abstract: This article presents an approach to the development of Practical Theology in the context of Brazil and Latin America. There is awareness of the difficulty of constructing such an account due to the breadth and complexity of this reality and the very imprecision of the understanding of the area, including the conceptual one. It is recognized, however, the need for reflection and debate on this important area of the Theology for the context in question. The article is composed by four parts: First, contextual elements relevant to Practical Theology in the Latin American context are presented. In the second point, the permanent challenge of conceptualizing Practical Theology as a theological discipline is discussed. In the third point, some of the relevant developments of the discipline are presented, and finally, in the fourth point, to point out current and future challenges for Practical Theology in this reality.
Keywords: Practical Theology; Latin America; Liberation Theology; Santiago Group; Faculdades EST
Escrever sobre Teologia Prática no contexto brasileiro e latino-americano na atualidade é algo complexo por, no mínimo, dois motivos. Primeiro, pela abrangência do que entendemos por Brasil e América Latina e, segundo, pela dificuldade de conceituar Teologia Prática nesse contexto. Seria, sem dúvida, mais assertivo relatar sobre o desenvolvimento da Teologia Prática a partir de um foco mais preciso, a partir apenas do contexto brasileiro, por exemplo, o que ainda seria complexo e abrangente ou, então, desde uma determinada denominação e centro de formação. Esta última possibilidade, isto é, o desenvolvimento da Teologia Prática desde um centro de formação, em grande medida, foi feito no relato sobre o desenvolvimento da Teologia Prática no âmbito da Faculdades EST, vinculada, confessionalmente à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB (STRECK; ADAM; HERBES, 2016).
Restringir apenas ao âmbito brasileiro, por sua vez, seria algo limitador, uma vez que a reflexão sobre a área tem se desenvolvido em diálogo com o contexto latino-americano. Por isso, arrisca-se aqui uma abordagem mais abrangente, levando em conta deliberadamente aspectos e tendências da Teologia Prática nesse contexto, com toda limitação que isso significa.
O artigo é composto por quatro partes. Primeiramente, apresenta-se referências importantes sobre os contextos brasileiro e latino-americano, como o legado da Teologia da Libertação, ou seja, considerar o lugar e o contexto a partir do qual falamos. No segundo ponto, reflete-se sobre o desafio de conceituar a Teologia Prática como disciplina teológica no contexto confessional diverso da América Latina. No terceiro ponto, apresenta-se dois desenvolvimentos relevantes da disciplina no contexto. Trata-se do chamado Grupo de Santiago, que envolve pelo menos a Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUCC), a Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE, Brasil), a Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA) e a Pontifícia Universidade Javeriana (Colômbia). Com acentuada predominância católica, refletindo sobre o Concílio Vaticano II e as Conferências do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), o grupo constituiu-se em 2012, em Santiago do Chile, como seminário internacional permanente de pesquisa em Teologia das Práticas Pastorais. O segundo movimento se dá em torno da Faculdades EST, ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana na Brasil, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. De forma mais sistemática, desenvolverá a Teologia Prática de forma mais acadêmica, ecumênica e comprometida com o contexto sociopolítico brasileiro e latino-americano, a partir da década de 90 do século XX. Importante salientar que estes dois movimentos não são os únicos, mas tomados aqui como exemplos para a compreensão mais sistematizada da disciplina neste contexto. Com base nestes três pontos, finalmente, no último ponto, aponta-se desafios atuais e futuros para a Teologia Prática nessa realidade.
Antes de pensarmos a Teologia Prática, em si, propõem-se aqui algumas reflexões sobre o contexto no qual a Teologia Prática se desenvolve. O contexto latino-americano é profundamente religioso, principalmente marcado pelo catolicismo, tanto na versão romanizada quanto na popular (STEIL, 1996). O desenvolvimento da igreja faz parte do programa da conquista ibérica do século XVI, algo que irá marcar profundamente o contexto, tornando a religião parte da vida, do corpo e da sexualidade, do cotidiano, da política, da economia, da arte e da cultura, de forma marcante, exuberante e, em certos casos, até excessivo (MONTES, 2012). Essa exuberância e fluidez religiosa pode ser percebida de muitas formas. Podemos dizer que estamos em um contexto que vive ao mesmo tempo, não só no campo religioso, mas também social e político, aspectos modernos, pré-modernos e pós-modernos da religião. Isso é perceptível tanto no âmbito das igrejas e suas práticas ministeriais, quanto na própria reflexão teológica. Ao mesmo tempo, que se desenvolve uma teologia pastoral crítica, como a Teologia da Libertação, convive-se com práticas religiosas mágicas e milagrosas, quase medievais ou com o fundamentalismo cristão (MONTES, 2012, p. 16ss.).
Além disso, o contexto latino-americano é marcadamente plural e multirreligioso. Mesmo no período quando prevalecia a presença única da Igreja Católica, a religiosidade africana, trazida juntamente com o tráfico de escravos, e a religiosidade indígena autóctone impregnaram a maneira de se experimentar e viver religião nesse contexto. O hibridismo e sincretismo religioso, nas suas mais diversas combinações, fará parte de todo o campo religioso nesse contexto. Adilson Schultz sugere refletir sobre a estrutura teológica brasileira a partir do imaginário religioso, definindo-a como uma nebulosa. Segundo Schultz, o termo “nebulosa” se deve ao fato de não haver uma base única sobre a qual se constroem as religiões ou as matrizes religiosas brasileiras, mas sim, um conjunto de significações que transitam entre as religiões e suas respectivas matrizes. O mundo invisível e sobrenatural ou o divino está imbricado no mundo visível, no cotidiano da vida. O diabólico e o mal, da mesma forma, compõem este cenário. Deus e o Diabo e suas presenças em meio à vida cotidiana e outras forças e entidades irão compor a nebulosa, como a prática de sacrifícios, a crença em espíritos, a comunicação com o mundo do além, êxtase nos cultos e as formas louvor, as incorporações, bem como a formulação de expectativas pela vida eterna, sucesso e prosperidade (SCHULTZ, 2008, p. 27-60).
A presença protestante, apesar de breves incursões ao longo do período colonial, terá sua marca mais visível, principalmente, a partir do século XIX, com as missões evangélicas vindas do Norte, Europa e Estados Unidos, e as igrejas do chamado protestantismo de imigração, de forma especial, os evangélicos luteranos e reformados vindos com a imigração alemã. As igrejas protestantes se desenvolvem no contexto de forma avessa ao intenso sincretismo religioso e, inclusive, em oposição ao catolicismo. Mesmo assim, o sincretismo e o hibridismo farão parte de seus ritos, compreensões e práticas religiosas, mesmo que mantidos no subterrâneo da vida exposta (BOBSIN, 2016, p. 376-393). Como continuidade dessa presença, na virada do século XIX para o século XX, surge o pentecostalismo, como movimento cristão que irá ultrapassar não só estatisticamente, mas também enquanto presença cultural, religiosa e social, o protestantismo histórico e, em alguns estados e países, o próprio catolicismo (ADAM, 2018, p. 207-218).
Outra marca importante para refletirmos sobre Teologia Prática nesse contexto é a questão social (MATTEI, 2017). Estamos em um contexto profundamente marcado pela desigualdade social, a exploração humana e dos recursos naturais. A partir de meados do século XX, vários países seriam abalados por ditaduras, em sua maioria ditaduras militares, como mecanismo de inibição de transformações sociais com vista à superação das desigualdades. Infelizmente, setores das diferentes igrejas foram, desde a conquista, instrumentalizadas como parte dos sistemas repressivos e de dominação. Por outro lado, outros setores das mesmas igrejas, também desde muito cedo, posicionaram-se contra o domínio e a opressão dos grupos vulneráveis, como negros e indígenas e, mais tarde, pequenos agricultores, operários, mulheres, entre tantos outros grupos. Igrejas e teologias se articulam com um claro espaço de resistência, o que terá sua forma mais visível na Teologia da Libertação latino-americana (BOFF, 2017).
A Teologia da Libertação nasce na década de 60 do século XX como resposta prática nesse contexto marcado pela desigualdade social e a vulnerabilidade humana. Essa teologia contextual é resultado da efervescência das pastorais católicas e das conferências episcopais latino-americanas (CELAM) e do próprio Concílio Vaticano II (ALBUQUERQUE, 2019, p. 94ss). A Teologia da Libertação será de fundamental importância para a reflexão sobre a Teologia Prática no contexto latino-americano por ser uma teologia iminentemente prática, tomando a realidade concreta como ação primeira da teologia. A Teologia da Libertação irá, ao mesmo tempo, reforçar a prática e dar-lhe fundamentação teórica por um lado e, por outro, dificultará a compreensão do papel da Teologia Prática, na medida em que retira aquilo que era próprio da Teologia Prática, a reflexão crítica a partir e sobre a prática, como será abordado mais adiante (HOCH, 1998, p. 30.).
A Teologia da Libertação irá influenciar, assim, não só a reflexão em torno à Teologia Prática no contexto latino-americano, mas também no âmbito maior da reflexão em torno à disciplina, como aponta Nancy J. Ramsay (RAMSAY, 2015, p. 183-192), também no que se refere aos novos enfoques e desdobramentos da Teologia da Libertação no passado e no presente, como a Teologia Negra, Teologia Feminista e Mulherista, Teologia Queer e Inter-religiosa (ADAM; STRECK, 2021).
Na América Latina, vivemos hoje o que se pode chamar de uma fase pós-Teologia da Libertação. Não que a Teologia da Libertação tenha desaparecido, como muitos apregoam. O fenômeno pentecostal e, especialmente, o fenômeno neopentecostal, com suas teologias individualistas, emocionais, moralistas e de prosperidade econômica individual, ocupam não só a reflexão teológica e eclesiológica, mas, também, o cenário cotidiano, midiático e político. A Teologia da Libertação proclamava o Reino de Deus e o que veio, pode-se dizer, foi o pentecostalismo. O pentecostalismo é o movimento religioso que, estatisticamente, mais cresce no Brasil e na América Latina, tornando-se um fenômeno religioso, social, cultural e político. É um movimento amplo, complexo e diverso, de forma que deveríamos falar de “pentecostalismos”. Cabe à Teologia Prática refletir sobre este fenômeno, que influencia direta e indiretamente igrejas históricas, a sociedade e a própria Teologia. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2016)
A proposta de transformação social a partir das bases, propostas pelas esquerdas políticas e movimentos sociais, incluindo a Teologia da Libertação, entre outros segmentos, como a educação libertadora, de Paulo Freire e, inclusive, a projeção de partidos políticos, como o Partido dos Trabalhadores (PT), tem perdido espaço no cenário público e midiático brasileiro, não só por problemas administrativos e escândalos políticos, mas, em grande medida, pela crise de identidade dos movimentos críticos, por um lado, e por resistência de setores conservadores da social, moral, político e econômico, de outro. Nessa brecha, gerada pela perda de espaço e protagonismo, os pentecostalismos, principalmente as versões mais fundamentalistas e moralistas, têm crescido e se alçado a postos de relevância política. (DIP, 2018)
Depois deste diálogo sobre a Teologia da Libertação e seus respectivos contextos, cabe-nos re-contextualizá-la. Então nos perguntamos, será que a Teologia da Libertação perdeu sua força? Como resgatar uma teoria e uma prática latino-americana que contribuiu significativamente para a teologia no mundo inteiro? Para colaborar com esta reflexão, encontramos em Jon Sobrino uma importante reflexão sobre a Teologia da Libertação.
Assim começou a chamada Teologia da Libertação, que pretendia que os pobres tivessem vida, justiça e dignidade. Para as Igrejas cristãs, essa era a vontade central de Deus. E, nesse sentido, Deus também “explodiu”. E, em seguida, houve duas reações. Uma, fora das Igrejas. O vice-presidente dos EUA, [Nelson] Rockefeller, estava viajando pela América Latina nos anos 1970 e disse, entre outras coisas: “Se aquilo que os bispos estão dizendo em Medellín [na Conferência Episcopal de 1968, onde a Teologia da Libertação ganhou corpo eclesial] se tornar realidade, nossos interesses correm perigo”. Dentro da Igreja institucional também houve uma reação contrária por parte de alguns bispos e cardeais. (SOBRINO, 2012, n.p.)
Desta forma, o autor atesta que a própria Teologia da Libertação nasce sob influências utópicas e antagônicas da própria Igreja, sendo assim, necessário, já ali, uma força motriz que a impulsionaria a repensar seus rumos e metodologias.
Ou seja, a Teologia da Libertação nasceu, e, em seguida, chegaram os enfrentamentos. Tudo isso levou a algo único na história da América Latina. Quiseram freá-la de diversas formas. Uma foi matar. Assassinaram dezenas de sacerdotes, religiosos e religiosas, e quatro bispos. Outros dois se salvaram por erro. E o que é menos conhecido: milhares de leigos, a maioria pobres. A Teologia da Libertação desencadeou um modo de viver baseado na compaixão, concretizado depois em formas de justiça, baseada no amor aos mais pobres. Isso hoje desceu ao nível eclesial e de bispos que defendem essa linha. (SOBRINO, 2012, n.p.)
Talvez aí se encontre a resposta ao que queremos entender. A teologia, na década de 90, é posta em novos caminhos e a luta em favor de pessoas oprimidas, aparentemente, perdeu sua força, porém acaba ganhando novos rumos. Sabe-se, então, que o conceito de pobre é ressignificado.
Nós teólogos da Libertação, em quarenta anos de reflexão, temos tentado explorar as dimensões econômicas, sociais, antropológicas e espirituais da Libertação como resposta às opressões específicas. No contexto da crise ecológica generalizada, estamos tentando incorporar esta visão cosmológica. Esta nos obrigou a quebrar o paradigma convencional com o qual organizávamos nossas reflexões, ligadas ainda à cosmologia mecanicista e estática. A nova cosmologia vê diferentemente o universo, como um processo incomensurável de evolução/expansão/criação, envolvendo tudo o que se passa em seu interior, também a consciência e sociedade. (BOCK, 2002, p. 43)
Uma vez que os paradigmas convencionais foram quebrados, também a figura do pobre foi ressignificada. Antes ela parecia ter um destinatário único para a Teologia da Libertação, muito a partir do ponto de vista capitalista, a pessoa pobre sem capital para sobreviver no sistema. A partir daí, e engendrada em novas teologias dissidentes da latino-americana ou reforçadas por ela, também o próprio conceito de Libertação é revisado. Sendo a figura da pessoa pobre os distintos rostos em sofrimento (mulheres, indígenas, LGBTQIA+, etc.), também a libertação precisaria levar em consideração outras ferramentas e metodologias necessárias para a libertação dessas opressões.
Em termos do princípio cosmológico, Libertação pessoal significa: libertar-se de amarras para sentir-se em comunhão com todos os seres e com o universo, fenômeno que os budistas chamam de "iluminação” (satori), uma experiência de não-dualidade e que São Francisco viveu no sentido de uma irmandade aberta com todos os seres. Em termos sociais, a Libertação, à luz do princípio cosmogênico é: a criação de uma sociedade sem opressões onde as diversidades são valorizadas e expandidas (de gênero, de culturas e caminhos espirituais). Isso implica deixar para trás a monocultura do pensamento único na política, na economia e na teologia oficial. Este é o principal fator de opressão e de homogeneização. (BOCK, 2002, p. 43)
Concluindo, a Teologia da Libertação não perdeu sua força, senão ganhou mais força quando abriu espaço a novas vozes que passaram a lutar por seus direitos, reforçando lutas que já existiam e promovendo diálogos sobre outras pautas necessárias para a Igreja e a Sociedade.
Temos, então, como fruto dos deslocamentos epistemológicos da Teologia da Libertação, a tendência da visibilização das teologias, as quais recebem os nomes de feminista, teologia queer, teologia negra, etc. Assim sendo, percebemos que a Libertação sonhada em décadas idas deixou suas influências que começam a concretizar-se na década de 90. Conforme Rudolf von Sinner,
No entanto, não é possível parar nesta periodização no início da década de 90 com a necessidade de revisão da Teologia da Libertação, diante do contexto sócio-político-econômico-eclesial de então. Até porque a década de 90 representou um período de abertura da Teologia da Libertação para temática novas, que já vinham sendo ensaiadas em períodos anteriores, mas que agora tomam fôlego e se configuram como parte essencial da Teologia da Libertação através de “teologias emergentes”. (SINNER, 2009, n.p.)
A teologia da Libertação ganhou nova roupagem depois que o conceito de pobre ganhou ressignificação, considerando as pessoas exploradas/marginalizadas em diversas áreas, sejam elas mulheres, negros, indígenas, LGBTQ+. Além disso, à luz ou em reação às Teologias da Libertação, reflete-se hoje no contexto latino-americano sobre a Teologia Pós-Colonial ou Decolonial (BAPTISTA, 2016). Por isso, afirma-se que o método da Teologia da Libertação é, acima de tudo, atual e ainda dá impulsos significativos para a Teologia Prática no Contexto da América Latina e fora dele.
Este contexto descrito de forma telegráfica acima irá impactar profundamente a Teologia e a Teologia Prática feita nessa realidade. Uma das primeiras constatações que se pode fazer é que pensar a Teologia Prática no contexto brasileiro e latino-americano nos confronta com uma realidade profundamente pragmática. Teologia Prática tende a ser mais algo que se faz do que algo que se reflete. Pensar a Teologia Prática como reflexão crítica da prática da fé e da religião é uma compreensão bastante recente (HOCH, 1998, p. 20). No senso comum como também na mentalidade de muitos ministros religiosos e, inclusive, no pensamento que circula nos seminários e centros de formação, Teologia Prática é, na maioria das vezes, algo tão somente prático e técnico, quase desconectado das outras áreas teológicas.
Essa realidade se explica, em grande medida pelo próprio desenvolvimento da Teologia. O desenvolvimento de teologias relacionadas à prática foi, por séculos, se pensamos no ministério católico, e por décadas, se consideramos o trabalho das igrejas protestantes, algo tão somente prático e técnico. As igrejas que aqui chegaram e se organizaram como parte de programas de colonização do continente, estavam ocupadas em desenvolver o ministério pastoral junto às pessoas e como parte da organização e expansão missionária das igrejas. Isso gerou uma diversidade de práticas pastorais dinâmicas, críticas e criativas, intensificadas na metade do século XX (HOCH, 1998, p. 21). A demanda missionária, a pastoral e a social eram tão urgentes, que aquilo a que poderíamos chamar de uma teologia prática, inclusive nos seminários, restringia-se muito mais a técnicas pastorais. Também nos seminários e faculdades de Teologia, a tendência era focar mais na prática ministerial e eclesiástica e não tanto na formação e na reflexão acadêmica. Algo importante de ter em mente é que, por séculos, a Teologia, como área do conhecimento, não era reconhecida com pelos Estados e leis de educação, algo que persiste ainda hoje na maioria dos países latino-americanos: Teologia é algo tão somente voltado para a prática ministerial e eclesial. Por outro lado, considerando que a própria reflexão sobre área de Teologia Prática como disciplina é algo do século XIX, não seria de surpreender que tal reflexão estivesse ausente nesse contexto. Miller-McLemore corrobora isso, mostrando que esse mal-entendido predomina no âmbito internacional, apesar de décadas de reflexão (MILLER-McLEMORE, 2016, p. 35-67).
Outra constatação que marca a reflexão sobre a Teologia Prática nessa realidade é o desafio conceitual. A diversidade de práticas, e também a diversidade denominacional e religiosa, gerou um ambiente conceitualmente confuso, um verdadeiro labirinto em termos de definição (STRECK, 2015, p. 525; HOCH, 1998, p. 20s.). Até hoje não há um consenso a respeito. A tendência mais geral é que as igrejas protestantes, incluindo as igrejas pentecostais, adotem o termo Teologia Prática e a Igreja Católica utilize o termo Teologia Pastoral. Na Universidade Javeriana da Colômbia, em sua Faculdade de Teologia, adotou-se a nomenclatura Teología de la Acción Humana, como forma não só de superar o impasse entre as terminologias prática, aplicada e pastoral, mas como forma também de superar a fragmentação entre as áreas teológicas.
Se trata de la teología de la acción y no de la teología práctica o aplicada, porque estas últimas son, por denominación, instrumentales, para reducir a la práctica las teorizaciones bíblicas y sistemáticas, o para aplicar a la vida y a sus circunstancias la teoría previa que se elaboró por fuera de ellas, o la difusión comunicativa de determinadas doctrinas teológicas, con lo que se muestra que la teoría propia y la metódica específica de las teologías prácticas y aplicadas es ninguna, y entonces ninguna su entidad disciplinar. [...] Se trata de la teología de la acción humana y no de una teología pastoral a secas, no porque ésta no se incluya de cuerpo entero como provincia de la teología de la acción, sino porque la teologización de la acción es más vasta, abarcante y urgente en razón del valor y del sentido plenarios de la actividad humana en el diseño de la revelación y de la salvación (PARRA MORA, 2013, v. 63, p. 157s.).
Um último desafio na reflexão da Teologia Prática como disciplina teológica tem a ver com o próprio desenvolvimento das Teologias da Libertação. Ao mesmo tempo em que esta valorizou a prática como algo fundamental para toda a Teologia, dificultou à Teologia Prática seu espaço próprio, como bem aponta Hoch.
[...] ao estender para toda a teologia aquele papel que antes estava reservado, pelo menos prioritariamente, à Teologia Prática, a Teologia da Libertação (TdL) deixou esta última sem uma função específica no concerto das disciplinas teológicas. Para a TdL toda teologia é aquilo que a Teologia Prática sempre tentou ser: teologia para e a partir da prática (HOCH, 1998, p. 30).
Cassiano Florístan reforçará a sobreposição da Teologia da Libertação em detrimento da Teologia Prática. Sob sua autoria está um manual de Teologia Prática (FLORISTÁN, 2002), analisando o contexto das comunidades de base latino-americanas, vinculando a prática da comunidade com a prática do que deveria ser. Com base na teologia política europeia e na teologia da libertação latino-americana (Gustavo Gutiérrez, João Batista Libânio, Leonardo Boff, Hugo Assmann), Floristan pensa profundamente a práxis como uma responsabilidade, como um dever, criativo, espontâneo, deliberado, libertador e radical.
Apesar da marca pragmática da Teologia e de sua abrangência e imprecisão conceitual entre prática e pastoral, sua necessidade de definir seu espaço e seu papel, muitas vezes, inclusive sendo sobreposta pela Teologia da Libertação, desde metade do século XX, espaços e grupos, principalmente ligados a instituições de formação teológica, têm pensado e assegurado a Teologia Prática como disciplina teológica no contexto latino-americano.
A investigação concreta e existente permite apontar para pelo menos dois claros espaços onde a Teologia Prática tem sido deliberadamente refletida como disciplina e, consequentemente, aportando importantes impulsos para a Teologia no contexto latino-americano: O Grupo de Santiago e a Faculdades EST. Certamente existem outros desenvolvimentos de igual forma relevantes para a área. Neste artigo, porém, apresenta-se estes dois exemplos, como uma forma de aproximar-se dos desdobramentos dessa disciplina.
O Grupo de Santiago se origina em torno a Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUCC), a Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE, Brasil), a Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA) e a Pontifícia Universidade Javeriana (Colômbia). Este espaço de reflexão e pesquisa se constituiu em 2012, em Santiago do Chile, como seminário internacional permanente de pesquisa em teologia das práticas pastorais, abrangendo 14 universidades de 11 países das Américas, Europa e Ásia. O texto fundador do Grupo de Santiago dirá que “[...] la teología constituye no solamente una inteligencia de las afirmaciones de la fe, sino más ampliamente una inteligencia del conjunto de sus ‘mediaciones objetivas’ [...] em cuanto ellas constituyen la evidencia de la fe em sujetos creyentes.” (DE MORI; MOOG, 2019, p. 18)
Com clara predominância católica, a reflexão aqui se dá considerando as deliberações do Concílio Vaticano II e as Conferências do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), por um lado, e a partir da percepção em torno da crise das teologias voltadas para práticas de libertação e da insuficiência das teologias práticas e pastorais na Igreja atual, por outro lado. O objetivo da reflexão é, portanto, redefinir as tarefas e os estatutos da teologia prática/pastoral (DE MORI; MOOG, 2019, p. 15ss.). O Grupo de Santiago busca entender a Teologia Prática em sua relação com a teologia fundamental e dogmática e a atuação da Igreja e seus signos de salvação na história, por um lado, e, por outro lado, os representantes da América Latina asseguram nessa reflexão a marca latino-americana de uma Teologia preocupada em transformar a realidade de pobreza e injustiça de seu povo (DE MORI; MOOG, 2019, p. 19s.).
Três princípios fundamentais regem o funcionamento do Grupo de Santiago: 1) Pensar a Teologia Prática enfrentando as práticas de teólogos no que se refere à rigidez epistemológica e metodológica, abrindo-se para considerar a diversidade das culturas e das práticas; 2) Dar-se conta de como se faz e se pensa Teologia Prática nos cursos, currículos, pedagogias e acompanhamento a estudantes, em especial na pós-graduação; 3) O intercâmbio fraterno no grupo como um lugar de verificação das propostas teológicas planejadas, ou seja, fazer Teologia Prática em conjunto (DE MORI; MOOG, 2019, p. 20s.).
Para o Grupo de Santiago, as grandes mudanças contemporâneas impactam profundamente a Teologia e a vida da Igreja, de forma que se faz urgente novas formas de atuação e, consequentemente, novas teologias.
El desarollo de la modernidade, y la secularización que lo acompanha, requieren de la teología un nuevo compromisso que la capacite para acompanhar las nuevas formas de ser Iglesia en nuestras culturas y en nuestras sociedades. En este sentido, la teología práctica debe ser pensada como una reflexión fundamental sobre las práticas pastorales: una teología fundamental de las práticas eclesiales (DE MORI; MOOG, 2019, p. 22).
Outro importante espaço de reflexão sobre a Teologia Prática como disciplina está no âmbito protestante histórico, mais especificamente na Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, Brasil. A denominada à época de Escola Superior de Teologia, EST, está diretamente relacionada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e teve sua Escola de Teologia fundada em 1946, contando com a contribuição de pastores vindos da Alemanha. O contexto alemão, portanto, irá influenciar significativamente a Teologia Prática que ali irá se desenvolver. Deve-se considerar, também, que o nascimento da igreja em terras brasileiras levará em consideração princípios da Reforma Protestante, segundo os quais a educação e a formação em geral e a teológica. Em um primeiro momento, o desenvolvimento da Teologia Prática será mais pragmático e sem uma reflexão mais acurada sobre os princípios da Teologia Prática como disciplina teológica. O objetivo principal era fornecer aos seus estudantes aporte pastoral para a prática comunitária. Mais tarde, porém, a disciplina irá ganhar mais e mais autonomia.
Durante os anos de de 50 e 60 do século XX, a nascente igreja irá reconhecer-se como uma igreja menos alemã e mais brasileira. O vínculo simbiótico, ideológico e teológico, com a igreja alemã terá que ser rompido, principalmente por conta da Segunda Guerra Mundial e as limitações impostas ao intercâmbido de formação. Outra mudança importante está relacionado ao processo de urbanização no Brasil, além de transformações no sistema sociopolítico daquela período. Estas mudanças irão demandar alterações na prática teológica não mais apenas baseada no paradigma europeu, mas, principalmente, nos novos paradigmas latino-americanos, influenciados pela Teologia da Libertação (STRECK; ADAM; HERBES, 2016).
Já mais tarde, na década de 90, o então Departamento de Teologia Prática da EST avança na reflexão, organizando o livro Teologia Prática no Contexto da América Latina. Este livro será o primeiro livro exclusivamente de Teologia Prática produzido neste meio e indica como a reflexão da área ganha destaque na formação teológica, assim como na pesquisa, também em nível de pós-graduação (SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998). O livro foi organizado em dois blocos, sendo que no primeiro aborda-se aspectos fundamentais e epistemológicos e, no segundo, traz uma reflexão condensada de cada uma das disciplinas específicas da Teologia Prática. Em 2005, lançou-se a segunda edição mantendo exatemante o mesmo conteúdo do livro (SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005). Alguma mudança no conteúdo ocorrerá na terceira e última edição da obra, em 2011. Esta edição teve o então professor Roberto Zwetsch como co-organizador (SCHNEIDER-HARPPRECHT; ZWETSCH, 2011). Além de ter chegado a três edições, cabe ainda destacar que o livro foi traduzido para o alemão (SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2003) e, pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), para o espanhol (SCHNEIDER-HARPPRECHT; ZWETSCH, 2011). Todo este movimento em torno à obra indica que houve uma boa recepção do material em seminários, faculdades teológicas e programas de pós-gradução na áreas e por diferentes denominações.
Um marco importante nesse espaço será a organização da Conferencia da Academia Internacional de Teologia Prática (IAPT), em abril de 2019, na Faculdades EST. Sob o tema Descolonialidade e práticas religiosas: libertando a esperança, a reflexão sobre a Teologia Prática ganha novo impulso. O tema da conferência reconhece claramente o papel e o impacto da Teologia da Libertação durante décadas e, ao mesmo tempo, chama para si o espaço próprio da Teologia Prática, amplificando a discussão para além das teologias contextuais através do chamado à reflexão a partir dos estudos decoloniais e pós-coloniais (STRECK, ADAM, CARVALHAES, 2021). A conferência mobilizou professores e pesquisadores da área, principalmente professores da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e da Pontifícia Universidade Catolólica do Paraná (PUC-PR), através de seminários, simpósios, publicação de artigos, movimento este que continua animando a reflexão e o trabalho conjunto. Infelizmente a construção de uma ponte com o Grupo de Santiado não se constituiu nesse momento.
Dentro desse espectro, assim como o desenvolvimento do Grupo de Santiago, percebe-se que a Teologia Prática desenvolvida reafirma seu compromisso com a realidade latino-americana. Para ambos os desenvolvimentos, refletir sobre Teologia Prática neste contexto é perceber que o cenário latino-americano persiste marcado por desigualdades sociais e econômicas, pela violência e corrupção, além da efervescência e da diversidade cultural e religiosa que perpassam todos os níveis sociais. Além disso, a convivialidade, hospitalidade, esperança, sensualidade e alegria é parte intrínseca da cultura. Esses contrastes surpreendem e causam espanto devido à intensa contradição. Esta realidade paradoxal ou de contraste se evidencia nas diferentes formas como as teologias e instituições religiosas articulam suas reflexões e propostas práticas, seja através de teologias tradicionais, contextuais, teologia pentecostal, teologia da prosperidade e neopentecostal.
Apesar de haver pouco ou nenhum intercâmbio entre os dois desenvolvimentos, ambos entendem que cabe à Teologia Prática refletir criticamente sobre os diferentes espaços e expressões religiosas e teologias. Faz-se necessário falar da opressão epistemológica e metodológicas, p. ex. os estudos decoloniais e pós-coloniais abrem esta possibilidade de descortinar os mecanismos econômicos, políticos, culturais, teológicos e religiosos aos quais estamos atrelados e que subjugam o conhecimento e o cotidiano dos que estão em situação de vulnerabilidade (dos povos indígenas, dos negros, das mulheres, dos grupos LGBT+, das crianças, das juventudes, da natureza, etc).
O contexto latino-americano é um contexto que demanda muito da Teologia e da Igreja, tanto em termos de práticas quanto de reflexão. Os desafios de fazer Teologia Prática nesse contexto são imensos e intensos, exatamente pelos pontos arrolados nesse breve relato. Como vimos, persistem a permanente reflexão sobre a identidade, o espaço e o papel da Teologia Prática como disciplina teológica. Ao mesmo tempo, essa reflexão é feita considerando a realidade de injustiça social e violência que marca a vida diária nesse contexto. Além disso, a América Latina encara também mudanças do século XXI, como o enfraquecimento das concepções de ser humano, de Deus e de mundo, o moralismo e o fundamentalismo religioso, a redução e relativização de direitos humanos, a coisificação e capitalização das pessoas e da natureza, a tecnociência e, não por último, a crise ambiental (DE MORI, 2018, p. 17ss.).
Considera-se de fundamental importância para a Teologia Prática na América Latina não perder de vista toda a complexidade do nosso tempo e a pessoa humana em seu contexto marcado por desigualdade e injustiça. Faz-se necessário observar as mudanças ocorridas em torno à Teologia da Libertação, sua fragmentação e diversificação, sua crise de relevância e de identidade em um contexto em que há mais relevância do pentecostalismo (OLIVEIRA, 2016, v. 56, p. 264-275) e, mais recentemente, os novos movimentos neopentecostais, as igrejas midiáticas e a teologia da prosperidade e os fundamentalismos. Nesse sentido, torna-se importante o diálogo, quando possível, mas também a resistência à intolerância e à injustiça. A interceção com os estudos decoloniais e pós-colonias, as teologias de gênero, a articulação da Teologia com outros saberes, outras crenças, religiões e espiritualidades parece ser fundamental (ADAM; STRECK; STRECK, 2018, v. 58, p. 262-277).
No caso brasileiro, em especial, houve um reforço no intelectualismo e na academização da Teologia, principalmente no que tange ao que se faz na pós-graduação, conduzindo a um distanciamento da prática ministerial da igreja. A tendência ao pragmatismo ministerial e eclesiástico exacerbado destacado nesse artigo, dá lugar a uma certa academização da Teologia, o que não é adequado para a Teologia Prática. Esta academização pode ter a ver também com o reconhecimento da Teologia com área de conhecimento pelo Estado, desde 1999.
Relacionado a este fato, encontra-se também a ampliação no Brasil de programas de pós-graduação em Ciências da Religião, excedendo em número os programas de teologia, o que levanta suspeitas por um interesse maior por temas de maior amplitude sobre a religião. Ou seja, parece que o foco da pesquisa da Teologia abriu espaços para a produção de pesquisas mais genéricas e mais relacionadas a outras áreas do conhecimento e à sociedade e seus multiplos contextos. Se a Teologia Prática feita anteriormente estava demasiadamente concentrado na prática da Igreja, o que ocorreu após foi justamente o oposto: um certo desinteresse pela Igreja e um interesse maior pela religião, sociedade e cultura, e diferentes assuntos da Teologia Pública, por exemplo. Esse parece ser um desafio para a Teologia Prática, reposicionar-se frente a essa nova tendência.
Continua, portanto, sendo um desafio, resgatar a Teologia Prática como componente curricular fundamental da Teologia e focar em seu protagonismo e transversalidade fundamental para os centros de formação, nos níveis de graduação e de pós-graduação, na pesquisa, nas igrejas, no ministério, na cultura e sociedade. Teologia Prática latino-americana, se consideramos o Grupo de Santiago e a presença mais próxima da IAPT, além das pesquisas em nível de pós-gradução, parece ter avançado mais na sua internacionalização. Falta, talvez, fortalecer os vínculos e sintonias intracontextual, entre os contextos latino-americanos, de forma mais propositiva.
Concluindo, entendemos que a Teologia Prática encontra um desafio ao ocupar-se com três grandes propostas de ação e reflexão: 1) Teologia Prática deve preocupar-se com temas relacionados à Igreja e seus ministérios, sobrepujando o academicismo e a dissolução temática e acadêmica; 2) recuperar o diálogo e proximidade com as teologias contextuais, como as teologias da libertação, a teologias pós- e decoloniais, fortalecendo, assim, o compromisso social e político, e desenvolver e refletir sobre uma teologia prática pentecostal; 3) redescobrir sua atribuição como interlocutora com a práxis da religião, cultura, sociedade e outras áreas do saber, nos estudos a partir da religião vivida, da cultura pop, e da religiosidade popular (ADAM, 2017, p. 111-132).
Mais do que nunca, faz-se necessário prosseguir com a Teologia Prática contextual brasileira e latino-americana, e refletir, projetando a Teologia Prática com identidade de América Latina, mensurar sobre nossas práticas religiosas e teológicas; a diversidade humana e cultural e o pluralismo; recobrar nossos jeitos de viver a religião e a fé, redescobrir o pensamento de fronteira, os saberes localizados, como o buen vivir, por exemplo, os saberes oprimidos, emancipar-se das teologias coloniais, resdescobrir espaços e transformar vidas a partir do Evangelho.
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