Análise exegética de Hebreus 6:4-6

Exegetical analysis of Hebrews 6:4-6

Tiago Dias de Souza
Doutor em Teologia em Bíblia pela Faculdades EST. Contato: pr.tiagodias@hotmail.com

Genilton Andrade Pontes
Bacharel em Teologia pela Faculdade Adventista da Amazônia (FAAMA). Contato: genilton.andrade@faama.edu

Resumo: Diante das incertezas sobre a autoria da Carta aos Hebreus, torna-se crucial analisar sua mensagem, independentemente de sua autoria controversa. A investigação dos termos gregos em Hebreus 6:4-6 e suas correspondentes palavras hebraicas revela um destaque no termo “ἀδύνατον” (adýnaton) que significa “impossível”, enfatizando a impossibilidade de reconduzir à transformação interior aqueles que caíram. Isso reflete a gravidade da apostasia mencionada, evidenciando que a queda espiritual é uma ameaça contínua na fé, por representar não apenas um erro, mas também uma traição ativa a Cristo e Sua obra. A análise aprofundada desses termos, auxiliada por recursos linguísticos e teológicos, enriquece a compreensão do trecho e destaca a seriedade da apostasia. A apostasia vai além de um mero erro, representando uma ruptura profunda com a fé em Cristo e com a verdade divina. Aqueles que se afastam de Cristo, após receber Sua graça, estão simbolicamente crucificando de novo o Filho de Deus, expondo-o à ignomínia. Isso reforça a ideia de que a apostasia é uma traição ativa e maliciosa, conforme ressoam as palavras de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. Em resumo, a análise dos termos teológicos e linguísticos em Hebreus 6:4-6 oferece uma base sólida para uma compreensão mais completa da natureza da apostasia e suas implicações na fé e prática cristãs. 

Palavras-chave: Pecado; Queda; Rebeldi; Arrependiment; Perdão

Abstract: Given the uncertainty about the authorship of the Letter to the Hebrews, it is crucial to analyze its message, regardless of its controversial authorship. The investigation of the Greek terms in Hebrews 6:4-6 and their corresponding Hebrew words reveals an emphasis on the term “ἀδύνατον” (adýnaton) which means “impossible”, emphasizing the impossibility of bringing those who have fallen back to inner transformation. This reflects the seriousness of the aforementioned apostasy, showing that spiritual fall is a continuous threat to faith, as it represents not only an error, but also an active betrayal of Christ and His work. The in-depth analysis of these terms, aided by linguistic and theological resources, enriches the understanding of the passage and highlights the seriousness of the apostasy. Apostasy goes beyond a mere error, representing a profound rupture with faith in Christ and divine truth. Those who turn away from Christ, after receiving His grace, are symbolically crucifying the Son of God again, exposing him to ignominy. This reinforces the idea that apostasy is an active and malicious betrayal, as Jesus' words about blasphemy against the Holy Spirit resonate. In summary, the analysis of theological and linguistic terms in Hebrews 6:4-6 provides a solid basis for a more complete understanding of the nature of apostasy and its implications for Christian faith and practice.

Keywords: Sin; Fall; Rebellion; Repentance; Forgiveness

Introdução

A Carta aos Hebreus foi motivo de muita discussão ao longo dos anos quanto à sua autoria, sendo esta, questionada por muitos estudiosos. Seu título foi usado como 'Aos Hebreus' por Panteno, Clemente de Alexandria e Tertuliano. Uma porção da carta teve sua aparição em um dos manuscritos mais antigos, o P. 46. A princípio, foi escrita para cristãos judeus e, de acordo com a tradição antiga de Alexandria, a carta seria de autoria de Paulo. No entanto, no Ocidente, a epístola não foi considerada como sendo de autoria paulina até o século IV. Irineu e Hipólito, conhecedores das epístolas e especialmente de Hebreus, não acreditavam que este apóstolo fosse o autor. Eles alegavam que, possivelmente, era de autoria de Barnabé ou de Lucas como tradutor, argumentando que a teologia em Hebreus não é de Paulo (JOHANNES, 2021, p. 528).

Quanto ao estilo da escrita “Aos Hebreus”, com características mais sofisticadas do grego, sugere que a carta tenha como autor uma pessoa com formação e boas habilidades literárias, comparadas aos outros escritos referentes aos Evangelhos. Sendo escrita por volta do ano 68 d.C., a forma mais estilística da carta leva a crer que Paulo seja o autor, quando comparado a outros autores. Entretanto, também existe semelhança com os escritos de Lucas, embora não seja o estilo típico lucano. Outros autores possíveis, sugeridos, seriam Barnabé, Priscila ou até mesmo Apolo. Existem várias sugestões quanto ao público ao qual a epístola estava direcionada, por exemplo: Corinto, Éfeso e outros, mais característicos do currículo de Paulo, que incluiriam Tessalônica, Filipos e Macedônia (KEENER, 2017, p. 756).

O tema em questão é a epístola aos Hebreus, considerada por muitos como tendo autoria desconhecida, como já descrito acima. Todavia, com base no período do texto mais antigo de Hebreus, do início do século III, essa epístola é atribuída a Paulo, de acordo com a visão da igreja oriental, e com o apoio de Eusébio, Clemente de Alexandria e Orígenes. Clemente acreditava que Paulo havia escrito aos Hebreus em hebraico, e a tradução para o grego foi realizada por Lucas. Ele argumenta que Paulo não se identificou como autor, devido ao preconceito que os hebreus tinham em relação a ele. Não obstante, essas são apenas especulações e possibilidades; na verdade, não temos certeza sobre a autoria da epístola observada (CARSON, 1997, p. 443).

A carta aos Hebreus apresenta a seguinte estrutura: o primeiro capítulo enfoca a missão do cristianismo; o segundo capítulo aborda o Evangelho e a Lei; o terceiro capítulo fala sobre a soberania de Jesus em contraste com Moisés; o quarto capítulo apresenta o sumo sacerdote; o quinto e sexto capítulos tratam dos perigos da imaturidade espiritual; e o livro segue com temas relacionados à ordem de Melquisedeque, aliança, santuário e sacrifício (FILHO, 2014, p. 94).

Em se tratando do objeto de estudo desta pesquisa, é muito comum que, em várias igrejas de diferentes estados do Brasil, sempre surgiram pessoas com dúvidas sobre o verdadeiro significado da “queda irreparável” presente no texto supracitado de Hebreus. Diante disso, surge a questão (problemática desta pesquisa): que tipo de queda impossibilita o ser humano de se arrepender de acordo com o Hebreus 6:4-6?

Visando responder à problemática levantada, faz-se necessário identificar quais parâmetros a Bíblia apresenta para evidenciar e definir quando o ser humano cai e fica impossibilitado de arrepender-se, conforme está descrito no texto de Hebreus 6:4-6.  

Perante o exposto, após as devidas considerações, visando alcançar os objetivos propostos por esta pesquisa, faz-se necessário analisar e identificar, tanto teológica quanto gramaticalmente, Hebreus 6:4-6, com o objetivo de compreender a natureza da queda à qual o autor de Hebreus se refere ao mencionar “aqueles que caíram.” Ele afirma que é “impossível renová-los novamente para o arrependimento.

1. Tipo de “queda” que impossibilita o arrependimento do ser humano dentro do contexto de Hebreus 6:4-6

Conforme Pfandl (2015, p. 125) o livro de Hebreus apresenta preocupações com a vida espiritual do povo da época, transmitindo mensagens com o objetivo de incentivá-los a fortalecer sua comunhão. Por esse motivo, a epístola traz o exemplo de um povo que teve a oportunidade de permanecer fiel, mas, lamentavelmente, escolheu desviar-se, enfrentando consequências trágicas. 

O objetivo das advertências, segundo o autor, seria incentivar o público ao autoexame e passar por um reavivamento espiritual, a fim de evitar repetir as mesmas experiências negativas vividas pelos hebreus e outros personagens bíblicos. Essa abordagem era utilizada para mantê-los firmes nos princípios da Palavra de Deus. Pois, aqueles que desistem sempre têm um testemunho negativo em sua jornada cristã, e o princípio da apostasia está relacionado ao afastamento dos princípios da Palavra de Deus (PFANDL, 2015, p. 133). 

Segundo Simon Kistemaker (2013, p. 221) no decorrer dos capítulos 3 e 4, o autor de Hebreus abordou a questão da incredulidade como precursor da apostasia. Agora, em uma construção complexa (6.4–6), ele aprofunda esse conceito com maior detalhe. A principal ênfase na frase está na possibilidade de restauração ao arrependimento (v. 6), destacada pela negação da frase é uma tarefa inatingível.

Limitar a interpretação da passagem que menciona aqueles que “provaram o dom celestial” como uma abordagem restrita seria inadequado, uma vez que o próprio Novo Testamento oferece uma explicação mais ampla para esse conceito. Por exemplo, Jesus se identifica como o “dom de Deus” em seu diálogo com a mulher samaritana (João 4.10), e Pedro, nos Atos dos Apóstolos, refere-se ao Espírito Santo como o dom de Deus (Atos 2.38; 8.20; 10.45; 11.17). Além disso, nas epístolas de Paulo, encontramos referências ao “dom da graça” e ao “dom da justiça”, associados a Jesus Cristo (Romanos 5.15, 17; 2 Coríntios 9.15; Efésios 3.7; 4.7). A expressão “que se tornaram participantes do Espírito Santo” está intimamente ligada ao contexto anterior e sugere uma conexão entre a imposição de mãos mencionada em Hebreus 6.2 e a ideia de se tornar um participante do Espírito Santo. Esse entendimento ganha ainda mais relevância quando consideramos que o dom celestial pode ser compreendido como o próprio Espírito Santo. Desse modo, o participar do Espírito Santo implica comunhão com outros crentes, e o Espírito de Deus se manifesta por meio de diversos dons espirituais concedidos aos membros da igreja (1 Coríntios 12.7–11) (KISTEMAKER, 2013, p.221). 

De acordo com Pfandl, (2015, p. 135) é impossível para aqueles que decidem apostatar, depois de terem sido favorecidos pelo conhecimento da boa e agradável Palavra de Deus, erguerem-se, pois estão crucificando novamente Jesus. Contudo, o autor afirma que aqueles que ainda ouvem a voz do Espírito Santo têm a oportunidade de se arrepender, uma vez que seus corações não estão endurecidos em relação a essa voz que os incomoda.

Em paralelo ao texto de Hebreus 6:4-6, o autor apresenta o texto de Mateus 12:31-32, que menciona o pecado contra o Espírito Santo, indicando que esse tipo de pecado é imperdoável, visto que a pessoa deixa de considerar o papel do Espírito Santo em sua vida. No entanto, o autor afirma que Jesus pode perdoar todos os pecados, desde que sejam confessados. Portanto, o indivíduo não pode ser perdoado se não der ouvidos ao agente divino, que é o único capaz de convencê-lo do seu erro (PFANDL, 2015, p. 144).

De acordo com o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012, p. 856), a situação dos que se apartam da presença de Deus deve ser avaliada até que ponto podem retornar ou não o relacionamento com Deus. Pois, a princípio, os que desagregam da fé estão condenados. A obra apresenta dois pontos, sendo o primeiro um abandono como consequência a inexistência de arrependimento. E o segundo é que o indivíduo não está perdido de forma definitiva e, sim, condicionalmente. Os comentaristas, em sua maioria, sugerem que a primeira alternativa é a mais confiável segundo a teologia bíblica, mesmo que a última também seja defendida segundo o texto grego usado por vários escritores.

Já em relação a queda, o autor diz que é considerada uma apostasia de grande proporção, tendo em vista que o indivíduo que passa por tal experiência tenha provado de várias oportunidades e poderia levar qualquer pessoa a ter certeza de tal fé, de acordo com a experiência vivida no cristianismo (NICHOL, 2012, p. 857).

O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (2012, p. 861) diz que, no caso da impossibilidade de renovação para o arrependimento, não se aplica às pessoas que sentem em seu coração o desejo de retornar para os caminhos do Senhor, e, sim, para aqueles que não sentem nenhuma vontade de estar próximo de Deus. Logo, os que têm o desejo de retornar para a situação anterior à queda podem ser perdoados, pois o Espírito Santo ainda atua nele.

De acordo com Dederen (2011, p. 422), há várias classificações para o termo “pecado”. No Antigo Testamento, existem quatro classificações e tipos, enquanto no Novo Testamento, há seis tipos diferentes. Cada um deles tem seu próprio significado e é aplicada a situações bastante distintas. Nessa perspectiva, a que mais se aproxima da queda que impossibilita o ser humano de se arrepender é o termo hebraico "Pesha", que significa rebeldia, ou oposição à vontade de Deus. Porém, ao observar a ocorrência desse termo na Bíblia, percebe-se que o personagem, ainda assim, é perdoado, uma vez que o termo hebraico não implica necessariamente na condenação do indivíduo.

A obra apresenta o pecado como uma ofensa direta a Deus, por ser algo que afeta a soberania de Deus, pois representa uma oposição à Sua autoridade e é uma atitude voluntária do sujeito. Além disso, demonstra que a pessoa não está mais sendo influenciada pelo bem, permitindo-se ser levada pela maldade. Dessarte, o Criador permite que Suas criaturas façam uso do livre arbítrio da forma que desejarem, porém, apresenta as consequências no caso de rebeldia (DEDEREN, 2011, p. 562).

Quando o pecado teve origem no planeta Terra e afetou os seres humanos, estes tinham o poder de resistir a tal tentação, e impedir que o mal se enraizasse na terra e em seus corações. Alguns até pensavam que Deus era o originador das tentações, desejando testar Suas criaturas, mas, na verdade, Deus não tenta ninguém. Cada pessoa é levada a realizar aquilo que a mais atrai; se o seu desejo é por algo que não é lícito, então deve lutar para não ceder a essa tentação, destaca Dederen (2011, p. 565).

De acordo com Dederen (2011, p. 569), toda queda do ser humano é ocasionada por um conflito chamado de "Grande Conflito", uma situação em que as inclinações carnais desejam algo que é oferecido pelo inimigo de Deus. Não obstante, cada ser humano deve manter-se firme para resistir às tentações e não cair, tornando-se impossível o arrependimento. Por conseguinte, a obra também apresenta o meio pelo qual o ser humano pode se revestir para vencer as armadilhas do inimigo e triunfar nessa batalha do "Grande Conflito", e a fórmula é permanecer ligado ao Senhor. Por meio de um relacionamento com as Escrituras Sagradas, o homem pode se manter irrepreensível diante de tantas tentações, vencer os desejos da carne e resistir ao inimigo que deseja derrubar cada filho de Deus.

Em Hebreus 6:6, encontramos uma referência àqueles que, em um determinado momento, faziam parte da comunidade cristã e participavam de seus cultos. Apesar disso, por várias razões, abandonaram sua fé e, agora, se alinham com aqueles que oprimem os cristãos. A pergunta que surge é: se também estamos sujeitos a essa possibilidade de abandonar nossa fé e virar as costas para Cristo, como podemos evitar essa tragédia em comunidades de fé? O autor de Hebreus, após muitos alertas, fecha sua mensagem com uma nota encorajadora. Ele reconhece que é relativamente fácil manter um fervor e dedicação ao serviço do reino quando somos novos convertidos e estamos cheios de paixão pela transformação de vida. No entanto, com o tempo, essa paixão tende a diminuir, e as adversidades e desafios podem nos desanimar. O livro de Hebreus, portanto, lembra aos leitores sobre a justiça de Deus e os exorta a perseverar nas boas obras que já realizaram (Hebreus 6:10–11). Dessa forma, eles não desanimarão, nem retrocederão, mas avançarão até alcançar o descanso prometido (Hebreus 6:12) (EWELL, 2022, p.1610).

No contexto do estudo de Hebreus, Phillips (2018, p. 188) destaca o sério cenário daqueles que, embora possam ter tido alguma experiência pessoal com o cristianismo, acabam se afastando de Cristo. Eles são comparados àqueles que crucificam novamente o Filho de Deus, sugerindo que já não estão verdadeiramente ligados a Ele. A apostasia é apresentada como uma situação irreversível, onde a rejeição de Cristo é equiparada àqueles que O crucificaram inicialmente. Entretanto, o autor também destaca a importância de continuar a compartilhar o evangelho, apesar das dificuldades, uma vez que a capacidade de discernir quem pertence genuinamente a Cristo se revela ao longo do tempo através dos frutos de suas vidas.

A diferença crucial entre aqueles que retornam à fé e aqueles que permanecem na apostasia é enfatizada com a traição de Pedro e a rejeição decisiva de Judas sendo citadas como exemplos marcantes. A analogia da terra que produz frutos ou espinhos é usada para ilustrar que, embora todos possam receber a mensagem, é o fruto da vida que revela a verdadeira conexão com Cristo. A ênfase está na importância de produzir "bons frutos" como evidência de uma fé genuína e na necessidade de continuar compartilhando o evangelho, apesar das dificuldades, já que somente o tempo revelará quem realmente pertence a Cristo (PHILLIPS, 2018, p. 189).

Segundo Osborne (2022, p. 256), neste texto, observamos uma progressiva série de atitudes de desrespeito e rejeição em relação a Deus e à fé cristã. Inicialmente, os rebeldes demonstram desprezo pelo Filho de Deus, questionando sua divindade e expondo-o publicamente à desonra. Em seguida, profanam o sangue da aliança que simboliza o sacrifício de Jesus, tratando-o de forma banal. Por fim, insultam o Espírito da graça, que é o Espírito Santo, resultando em uma apostasia séria que pode atrair a ira divina. Essa progressão destaca a crescente rejeição, indo da indiferença à hostilidade e culminando no insulto à divindade e à fé cristã.

De acordo com Colijn (2018, p. 68) A compreensão da igreja primitiva sobre a salvação final estava estreitamente associada à fidelidade do crente, o que tornava o assunto do pecado após o batismo uma questão sensível e intricada. A convicção de que o batismo desempenhava um papel crucial na remissão dos pecados, juntamente com a visão de que o batismo era um evento singular, gerava inquietação quanto à redenção daqueles que pecassem após essa cerimônia. Alguns líderes eclesiásticos, com base na interpretação de Hebreus 6:4-8, que equiparava a iluminação ao batismo, concluíram que tais indivíduos não poderiam atingir a salvação, levando a um adiamento frequente do batismo, muitas vezes até a proximidade da morte. Finalmente, a igreja adotou uma abordagem mais tolerante, implementando o processo penitencial para a restauração daqueles que haviam caído em pecado, oferecendo uma solução para o intrincado dilema da salvação e do pecado após o batismo. 

Após a exploração dos conceitos teológicos relacionados ao arrependimento e tipos de quedas, é essencial aprofundar nosso entendimento dos termos em grego que contribuem para o significado da palavra no seu contexto original. A análise dos termos em grego, assim como suas correspondentes hebraicas, permite uma abordagem mais completa e esclarecedora, levando em consideração o contexto e as ocorrências em que esses termos são utilizados nas Escrituras. A investigação desses termos por meio de recursos como gramática, léxico e outras ferramentas de pesquisa se torna fundamental para uma interpretação mais precisa e, consequentemente, para a aplicação efetiva da palavra, quando transliterada para o português.

2. Compreensão dos termos “Ἀδύνατον” (adýnaton) e “παραπεσόντασ” (parapesontas) presente em hebreus 6.4-6 

2.1 Análise do termo grego “Ἀδύνατον” (adýnaton)

De acordo com Simon (2013, p. 229) a palavra “Impossível” é um termo singular e neutro, presente em quatro passagens do livro de Hebreus (6.4, 18; 10.4; 11.6). É colocado em destaque, recebendo grande ênfase, e ocupa a posição inicial em uma extensa sentença. É importante notar que a distância entre "impossível" (ἀδύνατον) e seu complemento “serem renovados” (ἀνακαινίζειν) em 6.6 é marcante por estar bem longe de seu complemento. 

A palavra “impossível” presente do texto de Hebreus está em paralelo ao termo “renovar” (ἀνακαινίζειν) que é empregado no tempo presente, enfatizando a progressão da ideia do verbo. Introduzido pelo adjetivo “impossível” (6.4), ele denota a impossibilidade de restaurar o pecador que tenha caído. Além disso, o verbo é identificado na literatura cristã antiga em associação com regeneração e batismo. Por outro lado, o particípio ativo “re-crucificando” (ἀνασταυροῦντας) e os seguintes mantêm-se no tempo presente, refletindo o motivo subjacente à impossibilidade do arrependimento. A presença do prefixo “re-“em ἀνά sugere “novamente” (KISTEMAKER, 2013, p. 233). 

De acordo com a análise exegética teológica apresentada, em paralelo aos termos em destaque, é notório que a ênfase está ligada às experiências espirituais como filhos de Deus, delineadas de maneira concisa pelo apóstolo, e intimamente ligada à solenidade da advertência apostólica. Esta advertência destaca a impossibilidade de promover a renovação interior daqueles que, apesar de sua profunda experiência divina, tenham eventualmente apostatado. Isso é simbolicamente comparado a crucificar novamente o Filho de Deus e submetê-Lo à ignomínia. A passagem sublinha enfaticamente que o perigo da apostasia é uma preocupação constante para os crentes, sendo interpretada não como um mero pecado corriqueiro, mas como uma completa ruptura com a fé em Cristo e a renúncia à verdade divina vivenciada. É ressaltado que aqueles que tenham rompido irremediavelmente sua relação com Cristo não possuem a capacidade de retornar. Ecoando, dessa forma, as palavras de Jesus em Marcos 3:29: “Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre” (FRITZ, 2000, p. 95).

Portanto, ao analisar a aparição do termo em comparação com outras ocorrências, segundo o contexto em que o termo aparece, em contraste e harmonia com outros autores, é possível perceber a gravidade da culpa dos apóstatas. Isso fica evidente nas palavras que indicam que, de maneira simbólica, eles estão submetendo novamente o Filho de Deus à ignomínia, demonstrando um deliberado e malicioso desprezo por Cristo, ao invés de uma mera desconsideração indiferente, como observado por William (2011, p. 840). Essa descrição destaca uma traição concreta, a formação de uma aliança hostil contra Ele e a zombaria de Sua pessoa e obra. 

2.2 Análise do termo grego “παραπίπτω” (parapiptō)

Conforme Brannan (2020, p. 89) o verbo grego “παραπίπτω” (parapiptō) possui traduções variáveis, como “cair” ou “apostatar”, dependendo do contexto. No equivalente hebraico, são encontradas diferentes palavras, como "מעל” (ma'al) duas vezes, “אשׁם” (asham) uma vez, 'מַ֫עַל"1' (ma'al) uma vez e 'נפל' (naphal) uma vez. Esse verbo é notadamente utilizado em contextos que denotam a perda de uma condição ou a queda de um estado específico, frequentemente relacionado a sair de uma área. É relevante observar que ele também pode ser interpretado como tornar-se, em contraste com cair. Um exemplo notável de seu uso é encontrado em Hebreus 6:6, onde é mencionado 'καὶ “παραπεσόντας”, traduzido como “e aqueles que apostataram”. 

De acordo com Deppe (2011, p. 322) no contexto de Hebreus 6:6, onde se lê “καὶ” “παραπεσόντας” (kai parapesontas), o particípio “παραπεσόντας” é empregado como um particípio adverbial ou circunstancial, subordinado ao verbo controlador para fornecer informações adicionais sobre as circunstâncias da ação descrita no texto, descrevendo a condição daqueles que caíram ou apostataram. Portanto, o entendimento das categorias gramaticais, como os particípios adverbiais, desempenha um papel fundamental na análise exegética do texto bíblico, permitindo uma compreensão mais precisa das circunstâncias e do significado das palavras e frases utilizadas no texto grego. Esse conhecimento gramatical é particularmente crucial ao estudar passagens bíblicas como Hebreus 6:6, onde o contexto gramatical e semântico é essencial para uma interpretação precisa.

A expressão grega “παραπεσόντας” é encontrada de forma singular no Novo Testamento e equivale ao verbo “ἀποστῆναι” em Hebreus 3.12. Ao passo que “παραδειγματίζοντας” é uma palavra composta que pode ser interpretada tanto de maneira positiva, ao apresentar como exemplo, quanto com um viés negativo, implicando em submeter à exposição pública. Ambas essas expressões são pouco usuais nas Escrituras do Novo Testamento, sendo encontradas apenas uma vez, com exceção de uma variação textual em Mateus 1.19 (KISTEMAKER, 2013, p.225).

No contexto das Escrituras, a palavra grega “παραπεσόντας,” transliterada como “parapesontas,” desempenha um papel significativo. Em Hebreus 6:6, essa palavra é empregada para denotar a ideia de “caíram”. No entanto, a exploração das Escrituras revela que “παραπεσόντας” é uma palavra que transcende seu uso em Hebreus 6:6. Ela é encontrada em cinco passagens no livro de Ezequiel (14:13, 15:8, 18:24, 20:27, 22:4), todas relacionadas a casos de transgressão. Uma ocorrência adicional é registrada no livro de Ester (6:10), onde a palavra está associada à ideia de omissão. Ao examinarmos essas diversas referências, podemos adquirir conhecimentos valiosos sobre os significados e contextos em que “παραπεσόντας” é empregada nas Escrituras, enriquecendo nossa compreensão das mensagens transmitidas através dessa palavra ao longo da Bíblia (BRANNAN, 2020, p. 101). 

Do ponto de vista calvinista, a Bíblia afirma que a salvação é destinada aos pecadores. Por essa razão, é evidente que aqueles que caem em pecado, após terem sido iluminados, se permanecerem nesse estado, ficarão sem perdão, pois cometeram um pecado específico. Não se trata de um pecado diário que nos impede de sermos perdoados, mas, sim, de algo muito mais grave, que resulta na impossibilidade do perdão divino (BEZERRIL, 2012, p. 2). 

Os calvinistas acreditam que o sacrifício de Jesus Cristo é suficiente para perdoar todos os pecados. Portanto, não pode haver um pecado diário que nos impeça de nos arrependermos, uma vez que, na ocasião da volta de Cristo, todos serão glorificados e receberão um corpo revestido de incorruptibilidade. É evidente que os hebreus daquela época possuíam as mesmas características dos homens de hoje, cometendo os mesmos erros e caindo nos mesmos tipos de pecados. Ainda assim, a obra expiatória de Cristo pode redimi-los de qualquer pecado (BEZERRIL, 2012, p. 5). 

A Bíblia diz que todos pecaram (Romanos 5:12), e afirma que por meio de um só homem todos se tornaram pecadores (Romanos 5:18). Por esse motivo, considera-se que nem mesmo as crianças ficam isentas dessa sentença. Todos necessitam dos méritos de Cristo imputados ao indivíduo, para que haja graça da parte de Deus. O pecado é um ato de transgressão, rebelião e iniquidade, que causa separação entre a criatura e seu Criador. Permanecer separado de Deus é como tentar viver sem tomar água ou respirar. Rebelar-se contra Deus é um ato de auto aniquilação, mas pela graça de Cristo recebemos misericórdia e somos perdoados por nossas más ações. Persistir no pecado e negar a influência do Espírito Santo pode ter consequências graves. A violação da lei é uma escolha drástica, pois a lei nos mantém em ordem e seguros diante de nossas más escolhas (MARIANO, 2016, p.468). 

Merril Tenney (2008, p.356) diz que o maior perigo da queda descrita em Hebreus 6:4-6 está relacionado à imaturidade e à rejeição, embora seja um assunto amplamente discutido no meio teológico. O indivíduo recebe muitas advertências antes de chegar a uma queda irreparável. Primeiramente, ele recusa a fé, deixando de obedecer aos princípios que antes o guiavam. Isso o conduz a uma rebelião direta contra Deus, abandonando voluntariamente a verdade e tornando-se inimigo do Senhor. Portanto, é evidente que a pessoa está declinando conscientemente de sua fé. Os seres humanos têm a oportunidade, por meio de Jesus, de compreender o que é certo e errado, pois o sangue de Jesus fala poderosamente. O autor afirma que aqueles que se recusam a ouvir a voz de advertência estão caminhando em direção a uma desaprovação irrevogável. 

As advertências presentes no texto têm o propósito de levar o leitor a se arrepender de seus erros, que podem conduzi-lo a uma queda irreparável. Do capítulo 4 de Hebreus ao capítulo 13, são encontrados inúmeros estímulos para que o ser humano possa crescer espiritualmente e reconheça a necessidade de se reconciliar com Deus (TENNEY, 2008, p. 362). 

De acordo com Tenney (2008, p.382):

A lista abaixo mostrará como essas exortações se encontram distribuídas no livro. 

1. Temamos... 4:1

2. Procuremos, pois, entrar naquele repouso 4:11

3. Retenhamos firmemente a nossa confissão 4:14

4. Cheguemos, pois, . . .ao trono da graça 4:16

5. Prossigamos até a perfeição 6:1

6. Cheguemo-nos 10:22

7. Retenhamos firmes a confissão da nossa

esperança 10:23

8. Consideremo-nos uns aos outros 10:24

9. Deixemos todo o embaraço 12:1

10. Corramos com paciência a carreira 12:1

11. Retenhamos a graça 12:28

12. Saiamos, pois, a Ele 13:13

13. Ofereçamos sempre. . . sacrifício de louvor 13:15

Segundo Hendriksen, citado por Kistemaker (1984, p. 168) o leitor deve estar atento às advertências fornecidas pela Palavra de Deus, que produz fé e fortalece o indivíduo, a fim de evitar cair na descrença, o que resulta em juízo perpétuo. Um exemplo disso são os hebreus que, durante sua jornada no deserto, testemunharam várias evidências dos feitos de Deus, mas não as reconheceram, tornando-se incrédulos e sofrendo as consequências fatais dessa atitude. O texto se refere a um público específico: aqueles que foram participantes de cada ação proveniente de Deus. 

Muitos autores, desde o 2º século até os dias atuais, têm teorias que relacionam o público mencionado em Hebreus 6:4-6 com aqueles que passaram pelo batismo. Essa teoria está ligada à ocorrência da expressão "uma vez", e os teólogos afirmam que se refere a um único batismo. Isso se deve ao fato de que essas pessoas, ao serem batizadas, foram suficientemente iluminadas para não se desviarem da verdade que aceitaram, vivendo uma nova vida. A expressão "novamente" está relacionada ao contexto de que essas pessoas já haviam sido informadas e eram conscientes das consequências caso desistissem do conhecimento adquirido. O autor usa como exemplo alguém que se envolveu ativamente nas atividades da igreja, realizando várias tarefas e tendo conhecimento de todos os princípios de acordo com a palavra de Deus, mesmo assim decide viver de outra forma, indo contra todos os princípios anteriores. São pessoas que experimentaram a graça de Deus e renunciaram a todos os benefícios proporcionados pelos méritos de Jesus (KISTEMAKER, 1984, p. 173). 

O autor descreve na obra que as pessoas que caem, e são consideradas impossíveis de se renovarem através do arrependimento, são aquelas que foram alcançadas pelo Espírito Santo. O texto se refere ao dom celestial e, por essa razão, ele considera que é um pecado contra o Espírito Santo. Cada vez que o indivíduo se alimenta das Escrituras Sagradas, está experimentando o dom celestial (HENDRIKSEN apud KISTEMAKER, 1984, p. 184). 

De acordo com o autor, o texto de Hebreus 6:4-6 refere-se àqueles que caíram, ao povo que estava no Egito e participou de todo o ritual de consagração de seus filhos e da marcação de suas casas com sangue antes de saírem para o deserto. Essas pessoas presenciaram o milagre da abertura do mar, que parecia impossível de ser atravessado, mas de forma miraculosa, pelo poder divino, o mar se abriu e eles passaram. Experimentaram o calor de uma coluna de fogo e o frescor de uma nuvem que os protegia do calor intenso do deserto durante a noite. No entanto, mesmo diante de todas essas maravilhas, atribuíram todos esses feitos aos deuses do Egito e rejeitaram viver em conformidade com Deus. Mesmo depois de receberem os mandamentos, recusaram-se a seguir o caminho de Deus (HENDRIKSEN; KISTEMAKER, 1984, p. 185).

Conclusão

Após a análise dos conceitos teológicos relativos ao arrependimento e aos diferentes tipos de apostasia, de acordo com os debates dos estudiosos, constata-se que é uma tarefa árdua para aqueles que se afastam, após terem desfrutado do conhecimento da Palavra de Deus, retornarem a fé anterior, pois estão, de fato, crucificando novamente Jesus. O termo "παραπίπτω" (parapiptō) denota rebeldia e apostasia. Entretanto, na discussão dos estudiosos, é possível afirmar que aqueles que ainda respondem ao chamado do Espírito Santo têm a oportunidade de se arrepender, uma vez que seus corações não se encontram endurecidos diante da voz que os “incomoda”. A Bíblia nos apresenta exemplos de vários indivíduos que caíram, revelando-se rebeldes em relação a Deus e contrários à Sua vontade. No entanto, o termo utilizado em Hebreus para descrever essa queda está associado a uma recusa em ouvir e se arrepender.

Portanto, a queda mencionada em Hebreus 6:6 reflete uma rebelião total, quando o ser humano não mais responde à voz do Espírito Santo, que é o único agente capaz de conduzi-lo ao arrependimento. Ao analisarmos os termos em questão, particularmente "παραπίπτω" (parapiptō) traduzido como "queda," compreendemos que, à luz das ocorrências e contextos em que este termo é empregado, cujas conotações incluem rebeldia, apostasia, omissão, queda e recusa, literalmente se torna uma situação impossível de ser revertida. Nesse sentido, os estudiosos mencionados sustentam que se trata de uma apostasia irreversível.

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