Caros leitores, temos a alegria de apresentar este novo número da nossa Revista de Cultura Teológica, cujo enfoque é refletir uma profunda comunhão com o magistério do Papa Francisco, conforme delineado na Constituição Apostólica Veritatis Gaudium. Diante dos inúmeros desafios contemporâneos, Francisco nos convida a desenvolver “a experiência libertadora e responsável de viver como Igreja a ‘mística de viver juntos’, que se torna fermento daquela fraternidade universal, ‘que sabe ver a grandeza sagrada do próximo’” (Veritatis Gaudium, Art. 4b). Esta convocação para uma convivência fraterna vai além da mera cooperação: ela exige uma verdadeira integração entre os saberes.
Em outras palavras, é um convite a uma prática acadêmica e pastoral que promova a interação profunda entre os diversos níveis do saber humano: teológico, filosófico, social e científico (Veritatis Gaudium, Art. 2). A proposta de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade não é apenas uma metodologia, mas uma forma de vivência comunitária, onde o diálogo entre os saberes reflete a diversidade e a unidade do corpo eclesial.
Esse espírito interdisciplinar não se limita à convivência entre disciplinas dentro do contexto religioso, mas se estende ao diálogo com estudiosos de todas as áreas do conhecimento, sejam crentes ou não. Tal atitude, conforme expressa o Papa Francisco, deve ser uma prática natural de toda pesquisa teológica, sempre mantendo “o cuidado de cultivar os contatos com os estudiosos de outros ramos do saber” (Veritatis Gaudium, Art. 4b). Dessa maneira, a teologia se abre ao mundo, promovendo um enriquecimento mútuo e tornando-se uma força ativa na construção de um conhecimento que sirva ao bem comum e à dignidade humana.
É nesse espírito que estamos em plena comunhão com a proposta de vivência de uma genuína interdisciplinaridade e transdisciplinaridade presente em Veritatis Gaudium, especialmente no parágrafo 4c, que trata da criação de redes (VG, 4d). Esta edição traz, como parte do dossiê, textos profundos e belíssimos advindos do primeiro congresso da Rede Brasil-Ricoeur, celebrado na Unicamp, em 2023. Nesta publicação, estabelecemos uma relação profunda entre a constituição apostólica do Papa Francisco sobre as universidades e faculdades eclesiásticas e o pensamento do filósofo francês Paul Ricoeur. Essa conexão pode ser percebida através de uma série de pontos-chave evidenciados na filosofia hermenêutica, bem como na narrativa, favorecendo modos de compreender e integrar múltiplas áreas do saber.
Nesse sentido, destacamos alguns pontos de interlocução entre Veritatis Gaudium e Paul Ricoeur:
a) Interpretação e Diálogo Entre Saberes. A Veritatis Gaudium enfatiza a importância de um diálogo aberto entre disciplinas para enfrentar os desafios contemporâneos, especialmente no contexto de uma universidade voltada para a formação integral da pessoa humana. A constituição aponta que as disciplinas não devem ser isoladas, mas, sim, promover um intercâmbio entre elas, criando um espaço onde saberes teológicos, filosóficos e científicos possam colaborar mutuamente. Em Paul Ricoeur, a abordagem hermenêutica sempre defendeu a ideia de que a interpretação do mundo e do ser humano depende de uma leitura plural e dialogal. Para Ricoeur, a verdade emerge no “conflito das interpretações”, ou seja, na interação entre diferentes perspectivas e saberes. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade propostas na Veritatis Gaudium podem ser vistas como práticas hermenêuticas que abrem caminho para uma compreensão mais profunda do mundo e da realidade. Ricoeur entende que os discursos da filosofia, teologia, ciências humanas e sociais se enriquecem mutuamente, cada um oferecendo uma narrativa que contribui para um todo maior.
b) Narrativa e Identidade: a criação de um “nós” plural. O pedido de interdisciplinaridade na Veritatis Gaudium está enraizado no diálogo sem reservas e em uma “cultura do encontro”, onde a identidade cristã e o saber teológico são compreendidos e aprofundados por meio do diálogo com outros campos do conhecimento. Paul Ricoeur, em obras como Tempo e Narrativa e O Simesmo como Outro, sugere que a identidade individual e coletiva é moldada pelas histórias que contamos e escutamos. A narrativa é o meio pelo qual criamos sentido para nossas vidas e para a realidade ao nosso redor, integrando múltiplos pontos de vista. Da mesma forma, o chamado da Veritatis Gaudium para a transdisciplinaridade pode ser entendido como um convite a criar uma narrativa comum que une diferentes campos do saber, tecendo uma trama em que a teologia, a filosofia e as ciências se encontram para dar um testemunho mais abrangente e autêntico da verdade.
c) Crítica Ideológica e Justiça: confronto com a realidade. Outro aspecto central em Veritatis Gaudium é o foco na justiça social e no enfrentamento das realidades contemporâneas, como a crise ambiental, as desigualdades globais e as migrações. O Papa Francisco pede uma educação que seja capaz de responder a esses desafios a partir de uma perspectiva transdisciplinar. Paul Ricoeur, em seus trabalhos sobre ideologia e utopia, e sobre a justiça em O Justo, desenvolve uma crítica das estruturas ideológicas que moldam a sociedade, ao mesmo tempo em que propõe uma utopia orientada pela justiça e pela reconciliação. Sua hermenêutica crítica oferece ferramentas para analisar as narrativas sociais e políticas que perpetuam a injustiça, promovendo, ao mesmo tempo, uma narrativa que visa a transformação. Nesse sentido, a transdisciplinaridade não é apenas uma prática intelectual, mas um compromisso ético para transformar o mundo, algo que ressoa profundamente com o espírito de Veritatis Gaudium.
d) Tríplice Mímesis e o Percurso Transdisciplinar. Um ponto de conexão filosófica mais específico é a teoria da tríplice mímesis de Ricoeur, desenvolvida em Tempo e Narrativa, onde ele sugere três momentos do ato narrativo: pré-figuração (as condições prévias do mundo e da experiência), configuração (o ato de narrar que organiza os eventos em uma trama) e refiguração (a interpretação pelo leitor, que transforma a narrativa em nova compreensão). Essa teoria pode ser aplicada à ideia de interdisciplinaridade como um processo contínuo de reinterpretação e integração:
Pré-figuração: cada disciplina traz suas pressuposições e métodos. Configuração: o diálogo entre disciplinas organiza essas diferentes formas de conhecimento em uma nova narrativa. Refiguração: a transdisciplinaridade permite que essa nova narrativa seja reapropriada pelas comunidades de fé e pela sociedade como um todo, transformando práticas, pensamentos e ações.
e) A Ética do Diálogo: a intersecção entre fé e razão. A ética hermenêutica de Ricoeur também oferece uma base sólida para a transdisciplinaridade. Ele acreditava que a interpretação sempre envolvia uma atitude de abertura ao outro, reconhecendo a alteridade no diálogo. Esse conceito pode ser aplicado ao apelo de Papa Francisco por uma “cultura do encontro” acadêmica, onde as diversas disciplinas não competem, mas se complementam e enriquecem mutuamente. Assim, tanto a fé quanto a razão, no espírito da Veritatis Gaudium, são integradas em um diálogo produtivo e transformador.
É com esse espírito que publicamos esta edição, buscando possibilitar uma fecunda relação entre os desafios lançados pelo documento pontifício e o pensamento de Paul Ricoeur. Compreendemos que a centralidade do diálogo, da narrativa e da interpretação está no coração dessa interlocução. Ricoeur nos ensina que a verdade se constrói por meio da interação e do intercâmbio de diferentes perspectivas, algo que ressoa diretamente com o convite do Papa Francisco — ele próprio um leitor de Ricoeur — para uma educação teológica aberta ao mundo contemporâneo e aos outros saberes. Assim, a transdisciplinaridade torna-se não apenas um método de estudo, mas um ato ético e hermenêutico voltado para a transformação da sociedade e da compreensão da verdade.
A obra de Paul Ricoeur, marcada por uma profunda intersecção entre a filosofia, a hermenêutica e a teologia, continua a oferecer um rico campo de investigação, como demonstram os artigos destacados neste dossiê. As abordagens, embora diversas, convergem para uma reflexão central: o papel da narrativa na construção da subjetividade, da compreensão do mal, e das implicações éticas e pedagógicas que emergem desse pensamento. O professor José Vanderlei Carneiro, ao se debruçar sobre o tema da Teologia Narrativa em Paul Ricoeur, mostra a relevância da hermenêutica bíblica no desenvolvimento de uma teologia narrativa. Ao abordar a experiência da leitura e escuta da Palavra de Deus, o texto destaca a centralidade da narrativa na compreensão da fé e da comunidade cristã. Esse trabalho, baseado em Tempo e Narrativa e outros escritos de Ricoeur, oferece uma visão metodológica clara sobre como a narrativa bíblica não só revela eventos históricos, mas também constrói um sentido teológico que dialoga com o presente. O artigo de Marta Nunes da Costa e Rafael Zanata Albetini, ao abordar O problema da Identidade pessoal em Paul Ricoeur e a proposta da identidade narrativa, explora o conceito de identidade narrativa, central no pensamento ricoeuriano. A proposta aqui desenvolvida evidencia que a subjetividade humana é construída através de histórias que contamos sobre nós mesmos, e de que essas narrativas possuem uma dimensão ética e histórica, amplia os horizontes da ontologia e da filosofia moral. O texto faz uma síntese importante das principais obras de Ricoeur, oferecendo uma análise densa sobre os limites e as possibilidades desse conceito na compreensão da identidade humana. Já o texto de José Sérgio Fonseca de Carvalho e Denizart Busto de Fazio, intitulado A educação como palavra narrativa, lança um olhar sobre o papel da narrativa na prática docente. Ao interpretar o ofício do professor como um ato narrativo que conecta o passado cultural com o presente dos novos habitantes do mundo, os autores dialogam com a tríplice mimese de Ricoeur para enfatizar a importância da palavra na educação. Esse texto se contrapõe a visões utilitaristas da pedagogia, argumentando que o ensino é muito mais do que transmitir conhecimento técnico; é, essencialmente, um ato hermenêutico de interpretação e recontagem do mundo. No texto de René Dentz, com o título O sujeito diante da liberdade e do mal, temos um estudo profundo sobre a Filosofia da Vontade e o Mal, teorizados na obra La Symbolique du mal. Aqui, o foco está nas formas simbólicas do mal e sua relação com a liberdade humana. Ricoeur explora a culpabilidade e a necessidade de reconciliação com o passado, relacionando o mal à narrativa da Criação, Queda e Redenção. O autor oferece uma reflexão densa sobre como os símbolos do mal “dão a pensar”, abrindo novas perspectivas para a filosofia moral e a hermenêutica do mal. A pesquisa do professor doutor Roberto Roque Lauxem aborda a questão do julgamento em Ricoeur. A partir do título do seu texto O problema de uma teoria geral do julgamento em Paul Ricoeur, o pesquisador traz à tona a importância do juízo estético e político na obra do filósofo francês. Ao contrapor Ricoeur com Kant e Arendt, o autor explora a especificidade de uma teoria do julgamento que ultrapassa o campo do estético e do político, alcançando uma dimensão epistemológica mais ampla. Vale ressaltar que este trabalho constitui uma contribuição importantíssima para os estudos de filosofia prática e ética na contemporaneidade. Em seu ensaio Hermenêutica das concepções de ideologia no discurso clínico gestáltico, a pesquisadora Adelma Pimentel explora as funções da ideologia dentro do contexto terapêutico, com base na Gestalt-terapia. A pesquisa dialoga com o conceito de ideologia em Ricoeur, revelando como as práticas clínicas podem superar as funções tradicionais da ideologia de justificação e dissimulação. O artigo traz uma perspectiva nova sobre a psicoterapia gestáltica e seu potencial ético. Para a conclusão deste dossiê, apresentamos o artigo de Alexandra Dias Ferraz Tedesco e Vitor Hugo dos Reis Costa. Intitulado A força silenciosa do enredo e a força ruidosa dos constrangimentos, os autores propõem uma reflexão sobre a influência de Pierre Bourdieu na hermenêutica de Ricoeur. Embora a relação entre os dois pensadores não seja diretamente evidente, os autores rastreiam conceitos bourdieusianos que podem ser identificados nas obras de Ricoeur, sugerindo uma fecunda aproximação entre suas teorias. Vale dizer que este texto abre novas possibilidades de diálogo interdisciplinar, especialmente entre sociologia e filosofia. Em suma, recordamos que, sem pretenderem encerrar as discussões, esses estudos demonstram a atualidade e a profundidade do pensamento de Paul Ricoeur, cuja obra continua a fornecer ferramentas valiosas para a compreensão da subjetividade, da ética, da narrativa e da hermenêutica, influenciando campos tão diversos quanto a teologia, a educação e a filosofia política. A diversidade dos temas abordados evidencia a força de seu legado intelectual e a fecundidade de suas ideias para as mais variadas disciplinas. Conhecendo o modo como o Papa Francisco desencadeia processos e abre possibilidades para a vivência de uma Igreja em Saída, indubitavelmente ele ficará contente em perceber uma iniciativa tão fecunda como esta, mediante a qual, colocamos, de maneira tão grandiosa e rica, o pensamento ricoeuriano em diálogo e no encontro com a teologia.
Nesta sessão, apresentamos uma série de artigos que exploram temáticas teológicas contemporâneas, focando nas contribuições de grandes pensadores cristãos, como José Comblin, e nos desafios atuais da Igreja e da sociedade. Os artigos revelam a riqueza e a profundidade das reflexões sobre a verdade, o humanismo, a ecologia, a renovação eclesial, a amizade social e a paz, contribuindo para o diálogo interdisciplinar e pastoral.
Com o artigo intitulado Os novos meios de evangelização e a consideração da verdade à luz do Pensamento de José Comblin, a professora Alzirinha Rocha de Souza investiga a tensão entre a verdade cristológica e as representações religiosas veiculadas pelas mídias digitais no contexto da evangelização. Com base no pensamento de José Comblin, o autor problematiza como o discurso religioso nas plataformas digitais pode distorcer o sentido profundo da fé cristã, oferecendo uma reflexão crítica sobre a autenticidade da mensagem cristã em tempos de subjetivação e superficialidade midiática. No texto seguinte, com o título: A prática teológica humanizadora realizada pelo Padre José Comblin, a professora Andreia Serrato reflete sobre a prática teológica de José Comblin e Simone Weil, destacando a importância de uma teologia comprometida com a justiça social e a ecologia. Analisando também a encíclica Laudato Si do Papa Francisco, o artigo propõe uma reflexão sobre a necessidade de uma renovação humanizadora da Igreja, que responda ao clamor dos pobres e da terra, como defendido por Comblin em sua atuação pastoral no meio rural. No texto Por um novo jeito de ser Igreja: José Comblin e a Teologia da Revolução, o pesquisador Adauto Guedes Neto investiga a perspectiva teológica revolucionária de José Comblin, particularmente sua visão sobre a relação entre revolução e violência. Segundo ele, Comblin propõe uma ruptura com a tradição que associa revolução à violência, argumentando que a verdadeira transformação social se dá por meio da práxis pacífica, voltada para a justiça. O autor revisita as obras de Comblin para destacar a relevância de seu pensamento na busca por uma nova identidade eclesial e social. No texto Eclesiologia(s) do Vaticano II, os pesquisadores Tiago de Fraga Gomes, Luciano Marques de Jesus e Leonardo Agostini revisitam o Concílio Vaticano II, que é um marco na renovação eclesiológica, destacando os documentos Lumen Gentium e Gaudium et Spes. O artigo analisa o impacto do Concílio na vida contemporânea da Igreja e como suas eclesiologias continuam a moldar a identidade católica. A pesquisa destaca a importância do aggiornamento proposto por João XXIII, que incentivou a Igreja a se engajar de maneira mais aberta e dinâmica com o mundo moderno. A partir do texto Amazônia: Do discurso tecnocrático da hipermodernidade ao apelo do Papa Francisco, os pesquisadores Ney de Souza e Emerson de Almeida Amaral propõem um diálogo entre a crítica de Gilles Lipovetsky sobre a hipermodernidade e o apelo ecológico do Papa Francisco no Sínodo da Amazônia. A reflexão explora a indiferença da sociedade global diante da destruição da Amazônia, defendendo uma ética sobre o cuidado da Casa Comum. Se trata de uma reflexão refinada argumentando sobre a necessidade de um novo jeito de estamos no mundo, de modo que atenda ao apelo do Papa Francisco por cuidado com a criação, especialmente no contexto das populações amazônicas. Mediante o texto A amizade social no livro de Rute, os pesquisadores Boris Nef Ulloa e Magno de Carvalho Xavier nos oferecem uma leitura do livro de Rute à luz do tema da amizade social, refletindo sobre o papel dessa narrativa bíblica no contexto da xenofobia e das migrações contemporâneas. O artigo argumenta que a história de Rute, uma moabita, e sua relação com sua parenta judaita oferece uma visão universalista e inclusiva da identidade judaica, promovendo valores de abertura e diálogo que podem inspirar a prática cristã atual. Esta sessão livre é concluída com o texto A paz como harmonia profunda com Deus: Uma leitura comparativa de Lc 2,8-20 e Lc 24,36-49, escrito pelos autores Nelson Maria Brechó, Vamberto Marinho de Arruda Junior e Benedito Antônio Bueno de Almeida. Neste artigo, os autores exploram a paz no Evangelho de Lucas, destacando as similaridades entre o anúncio do nascimento de Jesus e a aparição do Cristo ressuscitado. A partir de uma leitura comparativa dos textos, os autores discutem o conceito de paz como uma profunda harmonia com Deus, que envolve temor, espanto e alegria. A reflexão sugere que essa paz deve ser aplicada no contexto comunitário e serve como um chamado à ação cristã diante de crises contemporâneas, como pandemias e polarizações políticas.
Em suma, vale dizer que a riqueza dos artigos oferece uma contribuição valiosa para o diálogo teológico e pastoral, refletindo sobre a Igreja, a justiça social, a verdade e a responsabilidade cristã no mundo contemporâneo. Esses textos nos desafiam a repensar nossas práticas de evangelização, nossa relação com a ecologia e a forma como podemos construir uma Igreja mais inclusiva e comprometida com a paz e a justiça social. Pois afinal de contas, somos desafiados a uma genuína mística da convivência fraterna e universal com todos os seres da criação. Vale recordar que a criação, o Planeta Terra, conhecido de Casa Comum, é como uma “república” na qual todos habitamos. Independente de credo e ou situações quaisquer, evidentemente teremos que dar a nossa contribuição coletiva para que possamos conviver harmoniosamente, em detrimento de uma lógica da exploração irresponsável e predatória, como se encontra o mundo hodierno.
Como podemos ver, nesta edição, teremos ainda:
1. Teomística: por uma espiritualidade da vida. A obra Teomística: por uma espiritualidade da vida, de André Anéas, publicada em 2024 pela Editora Recriar, é resenhada por Petterson Brey, que explora sua relevância teológica. A resenha aborda aspectos centrais do autor e da obra, oferecendo uma análise crítica sobre a proposta de Anéas, que defende uma espiritualidade profundamente enraizada na vida cotidiana. A abordagem “teomística” sugere uma nova visão para a teologia espiritual, conectando-a diretamente com as questões existenciais e sociais contemporâneas, tornando esta obra particularmente relevante para o campo da reflexão teológica.
2. Glossário de Direito Canônico Comparado: os ordenamentos jurídicos do Brasil e da Igreja em paralelo. Edson Luiz Sampel apresenta uma obra inédita que compara institutos do Direito Canônico e do Direito Estatal brasileiro. O livro contém 50 institutos jurídicos extraídos do Código de Direito Canônico, traçando paralelos com o Direito Estatal, demonstrando a profunda conexão histórica entre ambos. Desde a origem do processo escrito até a figura do advogado, a obra expõe como muitos dos conceitos do Direito Estatal atual têm raízes no Direito Canônico. Com contribuições de juristas renomados, como Ives Gandra da Silva Martins, o livro oferece uma reflexão essencial sobre a coexistência e influência mútua entre os sistemas jurídicos da Igreja e do Estado.
Por ocasião dos 75 anos da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP, o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, compartilhou uma série de discursos profundos e inspiradores. Destacamos três momentos importantes:
1. Homilia na Catedral de São Paulo: O Cardeal faz um chamado à renovação espiritual da Igreja, enfatizando a necessidade de colocar a fé em diálogo com os desafios contemporâneos.
2. Que teologia para o nosso tempo? Neste discurso, o Cardeal reflete sobre o papel da teologia no mundo atual e como ela pode oferecer respostas às crises sociais e espirituais que surgem em nosso contexto globalizado.
3. Que recursos espirituais para enfrentar o futuro? Trata-se de uma meditação sobre os recursos espirituais necessários para lidar com as incertezas do futuro, destacando a importância de uma teologia que abrace a esperança e a transformação.
Encerramos este editorial reforçando a importância de uma teologia atenta aos sinais dos tempos, capaz de iluminar as questões mais urgentes do presente, fundamentada em uma mística de convivência entre os saberes, como condição essencial para promover a fraternidade universal em um mundo plural.
Desejamos a todos uma leitura enriquecedora e convidamos a refletir sobre os temas abordados nesta edição, que foram cuidadosamente selecionados para contribuir com o debate acadêmico e espiritual de nosso tempo.
Esta edição da Revista de Cultura Teológica contou com o apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por meio do Programa de Apoio à Publicação Científica. A equipe editorial agradece à CAPES pelo incentivo à pesquisa e à divulgação do conhecimento teológico, que contribui para o desenvolvimento acadêmico e cultural no Brasil.
Prof. Dr. José Aguiar Nobre
Equipe Editorial
FRANCISCO, Papa. Constituição Apostólica Veritatis Gaudium: sobre as universidades e as faculdades eclesiásticas. Brasília: Edições CNBB, 2018.