Quando um déficit ou doença orgânica bate à porta do imaginário parental - Os efeitos na constituição subjetiva da criança

Resumo

Este estudo propõe uma discussão a respeito das incidências de encefalopatias e outras patologias orgânicas sobre a constituição do sujeito falante, com base nos efeitos desses quadros nas funções materna e paterna, vistas como suportes fundamentais para a estruturação do infans no campo da linguagem. Para sustentar esta discussão, são relatados três casos clínicos de crianças que apresentavam alguma afecção orgânica e que chegaram à clínica da DERDIC/PUC-SP por apresentarem impasses em sua constituição como falantes. Tais problemas foram interrogados para saber até que ponto decorriam apenas dos impedimentos orgânicos ou se também representavam um sintoma psíquico, sinal de algum entrave na constituição subjetiva, especificamente, impasses do lado das funções materna e paterna, detalhadas neste artigo a partir da psicanálise orientada pelo ensino de Lacan. Nos casos clínicos apresentados, a escuta psicanalítica permitiu ler diferenças e nuanças entre eles. O impacto da perda auditiva e encefalopatias das crianças sobre as funções sustentadas pelos pais ocorreu de modos distintos nestes casos. As funções materna e paterna sustentadas pelos pais sofreram os efeitos de lesões imaginárias e simbólicas provocadas pelo impacto do diagnóstico da doença. Os pais, tomados pelo corpo e suas deficiências, hesitaram em supor um sujeito nas crianças, situando-as no limbo entre o ser vivo e o sujeito.