A Insurreição Silenciada:
gênero, campo e poder nos livros didáticos de matemática
DOI:
https://doi.org/10.23925/1983-3156.2025v27i5p233-255Palavras-chave:
Currículo, Análise do discurso, Gênero, Educação do Campo, Livros didáticosResumo
Este artigo tem como objetivo analisar os discursos sobre gênero nas representações do “campo” em 11 coleções de livros didáticos de matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental, aprovadas no Plano Nacional do Livro e Material Didático (PNLD) de 2020. Questiona-se como esses artefatos curriculares constroem discursivamente as relações de gênero no contexto rural. Adotando a Análise do Discurso foucaultiana e aportes dos Estudos Curriculares como referencial teórico-metodológico, realizou-se uma análise documental das regularidades enunciativas presentes nos livros didáticos de matemática. Os resultados permitiram construir o enunciado “Quem pode habitar o campo: do homem produtor à insurreição feminina”, evidenciando a massiva predominância de figuras masculinas em papéis produtivos e um sistemático apagamento ou representação estereotipada da mulher. Conclui-se que os livros didáticos de matemática analisados funcionam como tecnologias de gênero, reforçando assimetrias e silenciando a participação feminina na vida rural, com implicações para a produção de subjetividades. O currículo de matemática, quando articulado a uma lógica neoliberal e urbana, reforça desigualdades de gênero e exclui formas alternativas de existência camponesa. A presença da mulher, quando permitida, ainda é funcional e não subversiva. Portanto, é urgente que se questionem essas representações e que se produzam materiais didáticos que reconheçam a pluralidade dos sujeitos do campo.
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