Beatriz GIL; Solange ARANHA
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Para aplicar esta análise aqui, foi escolhido o recorte do que o autor denomina hedges e
boosters. Ambos são considerados recursos interacionais, mais especificamente Stance, ou seja,
os esforços do escritor em dosar sua personalidade no texto e construir uma relação apropriada
com seus dados, argumentos e público. Eles trazem a voz autoral no texto, a forma pela qual o
autor se mostra, como apresenta suas opiniões, julgamentos e comprometimentos.
Dessa forma, os hedges são elementos linguísticos que permitem a modalização do
discurso, a apresentação de uma informação como uma leitura possível (poderia, talvez,
possivelmente). Em contrapartida, os boosters usados para exprimir certeza sobre alguma
proposição ou opinião (deve, com certeza, sem dúvidas).
Hyland (2005, 2011) observa que há grandes diferenças entre as disciplinas humanas e
sociais de as exatas e biológicas, e que essas diferenças refletem a forma como cada uma concebe
pesquisa e discurso acadêmico. Nas Engenharias e Ciências Exatas, existe a crença da objetividade
linguística, como consequência os autores privilegiam uma linguagem mais impessoal e direta,
desconsiderando posicionamentos mais interpretativos, assim o texto e os fatos “falam por si só”.
Hyland (2011) também aponta que, nessa área, os pesquisadores estão mais familiarizados com
pesquisas e textos anteriores, além de dividirem um conhecimento partilhado maior e se calcarem
nos mesmos métodos, não sendo necessário, portanto, um forte elemento interpessoal,
permitindo uma visão mais impessoal e indutiva da ciência, uma visão que mostra o cientista
“descobrindo” a verdade e não a construindo. Apesar de haver o uso de hedges e boosters, eles
estão presentes em menor quantidade do que nas Ciências Humanas e Sociais, como uma forma
de diminuir o papel do escritor e garantir uma escrita mais impessoal.
Já as Ciências Humanas e Sociais possuem a necessidade de um diálogo maior, uma vez
que há diversos pontos de vista sobre um mesmo objeto. Além disso, são de natureza mais
interpretativa e contextualmente influenciadas. Isso se confirma pela maior presença de hedges e
boosters do que nas disciplinas exatas, por exemplo. Os hedges permitem que o autor seja mais
cauteloso, sem impor somente uma explicação para determinado fato, enquanto os boosters
ajudam a estabelecer o significado da pesquisa.
Hyland (2011, p. 196) argumenta que a academia não produz apenas textos que
representam plausivelmente uma realidade externa, e sim usam a linguagem para reconhecer,
construir e negociar as relações sociais. As diferentes formas no uso dessa linguagem nos
mostram como os escritores veem seus leitores e as disciplinas das quais fazem parte. Por meios
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São Paulo (SP), v. 44 n.1, jan./jul. 2023
ISSN 2318-7115