Adriana Carvalho MIZUKAMI; Ana Cláudia Balieiro LODI
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criança ouve das pessoas ao seu redor. Outro pressuposto por ele defendido é a existência,
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também inata, de uma Gramática Universal (GU), sistema de regras que, quando ativado, pode
gerar um conjunto infinito de frases: “Este sistema de regras é um componente do cérebro/mente
antecedente à aquisição de um idioma específico. É aceitável supor que esse sistema constitui o
estado inicial da capacidade da linguagem, considerado um subsistema do cérebro/mente”
(CHOMSKY, 1986, p. 562).
É, portanto, por meio das interações da criança com o ambiente linguístico, que as regras
específicas da língua enunciada são retiradas para a constituição de sua fala na língua em questão.
Além disso, segundo Moraes (1996), Chomsky infere que todos os indivíduos possuem "um
conhecimento intuitivo de seu idioma [...] um indivíduo que conhece a língua possui um sistema
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de competência pragmática que permite que ele saiba como usá-la" (MORAES, 1996, p.80).
Nesse contexto, o autor discute a incoerência de se pensar que uma língua (nativa ou
estrangeira) pode ser aprendida, pois, para ele, "uma língua cresce na mente/cérebro"5
(CHOMSKY, 1986, p.563). Para esse processo, o falante lança mão de "um conjunto de
minigramáticas para diferentes domínios lexicais, levando a diferentes representações [em sua]
mente"6 (GARCIA; WEI, 2014, p.12). O bilinguismo, nessa perspectiva, é intitulado universal e
compreendido como a representação dessas minigramáticas na mente do falante.
Distanciando-se da compreensão das línguas como “sistemas linguísticos e semióticos
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autônomos e fechados" (GARCIA; WEI, 2014, p. 42), como preconizam as teorias estruturalista e
gerativista, outras perspectivas teóricas concebem a língua/linguagem em sua relação intrínseca
com o humano, com aquele que a enuncia. Para esses teóricos, o bilinguismo constitui-se em uma
prática de linguagem que atravessa a história, um resultado dos processos de invasões,
colonizações, escravizações e comércio, que determinaram o convívio das populações com
diferentes línguas e, consequentemente, culturas (STORTO, 2015). Esse mesmo processo fora
evidenciado por Bakhtin (2014), ao analisar a realidade de sua época:
O camponês analfabeto, nos confins do mundo (...) vivia no meio de vários sistemas
linguísticos: ele rezava a Deus em uma língua (o eslavo eclesiástico), cantava suas canções
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O termo gramática aqui é "usado de forma dupla: é o sistema de regras possuído pelo falante e, ao mesmo tempo,
é o artefato que o linguista constrói para caracterizar esse sistema" (ORLANDI, 2009, p.39).
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No original: an intuitive knowledge of their language. [...] an individual who knows language has a system of
pragmatic competence that allows this individual to know how to use language (MORAES, 1996, p.80).
5
No original: a language grows in the mind/brain (CHOMSKY, 1986, p. 563).
No original: a set of mini-grammars for different lexical domains, leading to different representations in [his] mind
6
(
GARCIA; WEI, 2014, p. 12).
No original: autonomous and closed linguistic and semiotic systems (GARCIA; WEI, 2014, p. 42).
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São Paulo (SP), v. 44 n.1, jan./jul. 2023 ISSN 2318-7115