ARTIGO  
Análise do Dicionário da Língua de Sinais do Brasil:  
a Libras em suas mãos  
Analysis of Dicionário da Língua de Sinais do Brasil: a Libras em suas  
Mãos  
FLUXO DA SUBMISSÃO  
Universidade de Brasília, Brasília (FUP-UnB), DF, Brasil.  
Submissão do trabalho: 28/11/2022  
Aprovação do trabalho: 06/03/2023  
Publicação do trabalho: 07/04/2023  
Resumo  
Este artigo apresenta a análise do Dicionário da Língua de Sinais do  
Brasil: a Libras em suas mãos de Capovilla et al. (2019). Trata-se do  
dicionário de Libras mais relevante e difundido no país, sendo a versão  
mais recente dos dicionários produzidos pela equipe de Capovilla. Este  
estudo faz parte da pesquisa de doutoramento em Letras da  
Universidade Federal do Rio Grande Sul. O objetivo deste trabalho é  
fazer uma análise do dicionário nos seus componentes constitutivos, a  
fim de identificar os caminhos e desafios para a redação do dicionário  
de nossa pesquisa. Como metodologia, aplicamos nesse estudo os  
princípios de estruturação canônica para dicionários semasiológicos  
(
macro, microestrutura e Front Matter) a partir de Borba e Bugueño-  
Miranda (2012), Bugueño-Miranda (2007), Bugueño-Miranda e Farias  
2013) e Seliste (2019). Como resultado, percebemos a necessidade de  
(
melhor definição dos traços essenciais da obra, como o perfil de  
usuário e a função, a fim de estruturar os componentes canônicos de  
acordo com as reais necessidades dos potenciais usuários.  
Palavras-chave: Lexicografia da Libras; Lexicografia Bilíngue;  
Macroestrutura; Microestrutura.  
Abstract  
This article presents the analysis of the Dicionário da Língua de Sinais do  
Brasil: a Libras em suas mãos by Capovilla et al. (2019). It is the most  
relevant and widespread Libras dictionary in the country, being the most  
recent version of the dictionaries produced by Capovilla's team. This study  
is part of the doctoral research in Letters at the Federal University of Rio  
Grande Sul. The aim of this work is to analyze the dictionary in its  
constitutive components, in order to identify the paths and challenges for  
Distribuído sob Licença Creative Commons.  
Rodolpho Pinheiro D’AZEVEDO  
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writing the dictionary of our research. As a methodology, we apply in this study the principles of  
canonical structuring for semasiological dictionaries (macro, microstructure, and Front Matter) from  
Borba and Bugueño-Miranda (2012), Bugueño-Miranda (2007), Bugueño-Miranda and Farias (2013)  
and Seliste (2019). As a result, we recognized the need to better define the essential features of the  
work, such as the user profile and its function, in order to structure the canonical components  
according to the real needs of potential users.  
Keywords: Brazilian sign Language Lexicography; Bilingual Lexicography; Macrostructure;  
Microstructure.  
1.  
Introdução  
O desenvolvimento de obras lexicográficas em Libras originou-se no século XIX. Porém,  
mesmo passado mais de um século dessa prática, vemos poucos avanços na organização dessas  
obras. O primeiro dicionário brasileiro em Libras foi produzido em 1875, por Flausino José da  
Gama, o Iconographia dos Signaes do Surdos-Mudos. Nela, é apresentada a forma iconográfica do  
sinal seguido do registro da equivalente na língua oral, organizados por campos semânticos. A  
segunda obra lexicográfica brasileira foi Linguagem das Mãos do padre Eugênio Oates (1969).  
Nessa obra, além do sinal e equivalente em língua portuguesa, outras informações estão  
presentes em sua microestrutura: +sinal +entrada em português +número do verbete +descrição  
dos movimentos para constituir o sinal (parâmetros) +sinais com relações semânticas com o sinal-  
entrada.  
Atualmente, os dicionários de maior circulação no país ainda se assemelham às obras  
acima citadas. Vemos uma forte inclinação para a representação palavra-sinal, além de  
informações adicionais que os redatores acham pertinente. Porém, com o acesso a teorias e  
metodologias lexicográficas, as propostas de dicionários português-Libras devem ser redigidas  
em segundo bases teórico-metodológicas consolidadas, de modo que a obra cumpra seus  
objetivos almejados.  
Para isso, dois grupos de fatores devem ser considerados na redação de um dicionário: a  
definição dos traços essenciais e os componentes canônicos da obra. Segundo Bugueño-Miranda  
(2019b, p. 12), os traços essenciais de um dicionário correspondem ao axioma básico “toda obra  
lexicográfica deve ser produto da interseção de três parâmetros: a) uma taxonomia, b) uma  
definição de perfil de usuário e c) uma função”. Assim, esses parâmetros são responsáveis pelo  
alcance da funcionalidade das informações apresentadas no dicionário, o definindo como  
instrumento linguístico” (FARIAS, 2009, p. 31). Os componentes canônicos, por outro lado, são  
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concebidos a partir da delimitação dos traços essenciais do dicionário. É a partir deles que a  
apresentação de um dicionário é obtida. São quatro os componentes canônicos de um dicionário:  
o Front Matter, a macroestrutura, a microestrutura e a medioestrutura.  
Tendo essas informações em vista, temos o objetivo de analisar o Dicionário da Língua de  
Sinais do Brasil: A Libras em suas mãos de Capovilla et al. (2019) (Doravante DLSB). Essa obra foi  
escolhida dado que é a maior obra de Libras disponível e a obra de maior circulação no país. Para  
tanto, avaliaremos seu Front Matter, sua macroestrutura e sua microestrutura, tendo em vista os  
desdobramentos destes componentes a partir dos traços essenciais.  
Este estudo parte de uma pesquisa de doutorado vinculada ao Programa de Pós-  
Graduação em Letras  Universidade Federal do Rio Grande do Sul - PPGLetras-UFRGS. Nessa  
pesquisa, nosso intuito é a formulação das bases teórico-metodológicas para elaboração de  
dicionário on-line de verbos português-Libras e para aprendizes de Libras como Segunda Língua.  
Em vista disso, neste artigo investigamos os caminhos ou desafios encontrados no DLSB (2019),  
de modo a refletir sobre possíveis caminhos a serem seguidos em nossa pesquisa.  
2. Front Matter  
Além da nominata do dicionário, que corresponde a sua lista de entradas, existem  
elementos externos a ela que compõe a estrutura do dicionário. Para a metalexicografria inglesa,  
estes elementos são o Outside Matter (textos externos), que se divide em Front Matter, Middle  
Matter e Back Matter. De acordo com Bugueño-Miranda (2019a, p. 15), ainda não há trabalhos que  
permitam conferir uma função determinada para o Middle Matter e Back Matter. Por outro lado,  
já existe literatura nos estudos metalexicográficos que delimita as funções do Front Matter.  
Segundo o autor, “o Front Matter deve cumprir três funções: em primeiro lugar, assinalar  
o usuário ao qual o dicionário está destinado; em segundo lugar, assinalar a função do dicionário  
e, finalmente, servir de manual de instruções” (BUGUEÑO-MIRANDA, 2919a, p. 15). Vemos que  
cabe a esse elemento a apresentação dos traços essenciais da obra, estes que servem de base  
para sua ordenação. Além disso, “o Front Matter é uma ponte de comunicação entre o consulente,  
o lexicógrafo e o próprio dicionário” (FORNARI e BUGUEÑO-MIRANDA, 2006, p. 248). Assim  
sendo, as informações do Front Matter devem estar ordenadas de maneira clara e acessível, de  
modo a apresentar instruções que possibilitem, ao consulente, o uso autônomo da obra.  
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Como apontado por Borba e Bugueño-Miranda (2012, p. 35), para o cumprimento suas  
funções, o Front Matter precisa responder às seguintes questões:  
A) Para quem é? - delimitação do perfil de usuário almejado.  
B) Para que serve? - apresentação dos objetivos a serem alcançados pelo dicionário.  
C) Que tipo de palavras contém? - informação sobre os critérios de seleção  
macroestrutural.  
D) Como se usa? - apresentação dos recursos disponíveis, como a simbologia (setas,  
asteriscos), as marcações gráficas (negrito, itálico) e as abreviaturas utilizadas. (grifo  
nosso)  
Para responder a essas questões, os autores apresentam três princípios que devem guiar a  
redação do Front Matter de um dicionário1:  
Abrangência: “indica que o conteúdo disposto no Front Matter precisa ser relevante e  
realmente informativo”;  
Concisão: “diz respeito à maneira clara e sintética a partir da qual as informações contidas  
nesse componente precisam ser redigidas e organizadas”;  
Eficiência: “possibilita ao usuário a visualização de todos os segmentos do PCI que  
conformam os verbetes” (BORBA e BUGUEÑO-MIRANDA, 2012, pp. 35-36).  
Ademais, os autores apresentam a relação entre o Front Matter e os demais componentes  
canônicos, como mostrado a seguir:  
Figura 1. relação entre o Front Matter e os demais componentes canônicos  
Fonte: Borba; Bugueño-Miranda (2012, p. 37).  
Nesta imagem, os autores conduzem analogia dos símbolos colocados no Front Matter  
com suas características. São eles:  
[O símbolo de atenção] indica que esse componente canônico contém informações  
importantes, com as quais o usuário precisa entrar em contato.  
A fechadura indica que o conteúdo dos demais componentes canônicos do dicionário  
(macro, micro e medioestrutura) estaria cifrado, ou seja, o usuário só poderia  
compreendê-lo totalmente se estivesse armado das informações necessárias para tanto.  
A chave indica que o Front Matter pode ajudar o usuário a “abrir”, decifrar, compreender  
o conteúdo do dicionário, presente nos seus demais componentes canônicos. (BORBA;  
BUGUEÑO-MIRANDA, 2012, p. 37).  
1
Os conceitos de abrangência e concisão foram propostos por Fornari (2008, s.p., apud BORBA; BUGUEÑO-MIRANDA,  
2012, p. 35). O conceito de eficiência é adicionado à lista por Borba e Miranda (2012, p. 36).  
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Assim, percebemos a importância deste elemento, que atua como o alicerce da obra. Um  
bom Front Matter é aquele em que o consulente entende com clareza como funciona o dicionário,  
conseguindo utilizá-lo em todos seus recursos.  
Para a análise desse componente, Borba e Bugueño-Miranda (2012, p. 38) propõem os  
seguintes parâmetros de avaliação: 1) Presença de Front Matter; 2) Macroestrutura (Seleção  
macroestrutural); 3) Macroestrutura (Corpus utilizado); 4) Microestrutura; 5) Medioestrutura; 6)  
Usuário almejado; 7) Função; 8) Middle Matter; 9) Back Matter. Utilizamos esses parâmetros para  
a análise do DLSB (2019).  
O DLSB (2019), apesar de possuir um Front Matter extenso, com vinte e uma páginas,  
somente apresenta cinco dos parâmetros de análise. O primeiro diz respeito a presença desse  
elemento na obra, além de descrever o usuário almejado, a microestrutura e é parcialmente  
mencionado a seleção macroestrutural e o corpus utilizado. Sobre o usuário almejado, na última  
frase do Front Matter é apresentado que “todas essas características [descritas no Front Matter]  
fazem deste dicionário uma obra de consulta essencial para a população surda brasileira e a  
cultura brasileira” (DLSB, 2019, p. 42). Assim sendo, percebemos que, a princípio, a obra é  
direcionada para o consulente Surdo. Para este público, a Libras é sua primeira língua, enquanto  
a língua portuguesa é adquirida como segunda língua. A priori, para este público, a organização  
lemática seguindo a ordem alfabética da língua portuguesa satisfaz a necessidade de  
compreensão, sendo assim uma obra com função passiva. Porém, não há nenhuma informação na  
obra que indique que ela tenha sido organizada tendo como objetivo auxiliar os consulentes nessa  
função.  
Em relação à seleção macroestrutural, há informação de que os sinais registrados com  
marcação de variação linguística são “aqueles em relação aos quais foi encontrada documentação  
lexicográfica segura acerca do uso corrente do sinal naqueles estados” (DLSB, 2019, p. 34). Porém,  
em nenhum momento é descrito quais documentos fazem parte do corpus utilizado. Ademais, na  
página treze, há lista de Surdos e intérpretes que participaram como colaboradores da obra,  
divididos entre as unidades da federação. Supomos que esses colaboradores participaram da  
coleta dos sinais, informando qual era o sinal utilizado em sua região. Contudo, dentre as quinze  
unidades federativas apresentadas, uma possui somente um colaborador Surdo (Alagoas)  
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enquanto sete possuem dois colaboradores (Brasília, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná,  
Pernambuco e Sergipe). Caso nossa suposição se confirme, essa quantidade de colaboradores não  
é suficiente para a determinação da variação em questão, uma vez que tais sinais podem ser  
idioletos do próprio sinalizante, sem representar a realidade linguística da comunidade Surda da  
região.  
No que diz respeito a microestrutura, a obra apresenta descrição detalhada dos  
segmentos informativos presentes no verbete. São doze informações possíveis de inclusão, que  
serão apresentadas na explanação da microestrutura. Entretanto, o dicionário apresenta  
teoricamente cada uma dessas informações, através de terminologia específica para descrição  
linguística da Libras proposta pelos autores. Essas informações são descritas com vocabulário  
demasiado técnico, o que impossibilita a compreensão de um consulente comum, aquele que  
busca a obra para suprir sua necessidade. Desta forma, apesar de sua descrição detalhada, as  
informações apresentadas não satisfazem os critérios de abrangência, concisão e eficiência  
descritos anteriormente.  
Em suma, está evidente que o Front Matter da obra segue a tendência descrita Fornari e  
Bugueño-Miranda (2006, p. 249) em que “o Front Matter não costuma seguir nenhuma concepção  
teórica e que, na verdade, acaba não cumprindo nenhuma função dentro dos dicionários”. Esse  
fato é evidenciado na falta de descrição de sua função, o que impacta diretamente sua  
macroestrutura e microestrutura. Ademais, o tecnicismo utilizado não condiz com a necessidade  
do consulente. Por esse motivo, o Front Matter é incapaz de servir de manual de instruções para  
o usuário, sendo este encaminhado direto para a nominata da obra.  
3. Macroestrutura  
A macroestrutura, segundo Bugueño-Miranda (2019a), responde à necessidade do  
dicionário de ter um princípio de ordenação, ou seja, um nível de organização da linguagem. Esse  
princípio de ordenação requer um algoritmo de busca, empregado conforme os objetivos da obra.  
Ademais, além do sistema de busca, cabe à macroestrutura a seleção de lexias e as regras de  
lematização das unidades. Bugueño-Miranda (2007) apresenta dois parâmetros para a seleção  
macroestrutural de um dicionário: o parâmetro quantitativo e o qualitativo.  
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.1. Seleção macroestrutural quantitativa  
A seleção macroestrutural quantitativa diz respeito a quantidade de verbetes que  
aparecem no dicionário. Ela é baseada a partir do critério de estatístico ou em critérios sin- ou  
dia)sistêmicos. O primeiro leva em consideração a frequência de ocorrência de cada palavra, o  
(
qual delimita a escolha de inclusão ou exclusão lexical na obra. O segundo utiliza a sincronia para  
sua definição. Por meio de um intervalo de tempo, é possível selecionar as unidades léxicas que  
constarão na obra. Ao parâmetro sincrônico, “podem-se empregar parâmetros complementares,  
tais como uma perspectiva sintópca frente a diatópica, uma perspectiva sinstrática v/s diastrática,  
uma sinfásica v/s diafásica, etc.” Bugueño-Miranda (2007, p. 265). Por meio da seleção  
macroestrutural quantitativa, é possível evitar o inchaço macroestrutural da obra, excluindo-se o  
excesso de verbetes sem nenhuma serventia. Para tanto, é necessária a delimitação clara dos  
traços essenciais da obra, que servem para a delimitação dos parâmetros utilizados para a seleção  
macroestrural.  
Em relação à obra analisada, suas 2918 páginas, divididas em três volumes, apontam que  
a obra é macroestruturalmente densa. De fato, com uma média de 4,5 entradas por página,  
estimamos que a obra apresente 12 753 verbetes. Esse valor pode parecer singelo comparado às  
línguas orais, mas para a lexicografia em Língua de Sinais trata-se de uma obra robusta. A nível de  
comparação, o Dicionário Ilustrado de Libras (Brandão, 2011), segundo dicionário impresso de  
maior circulação no país, possui 3 225 verbetes. Listamos três motivos que podem contribuir para  
esse fator: a lematização de variantes, lematização de nomes próprios e a lematização de  
classificadores.  
Em relação às variantes, o dicionário lematiza cada uma em verbete, usando, assim, de  
uma solução homonímica. Esta prática contribui para o inchaço da obra, uma vez que cada  
variante possui elementos microestruturais semelhantes. Ademais, a obra lematiza sinais que só  
possuem uma fonte, como nos casos dos sinais dos presidentes do Brasil. Mais uma vez  
ressaltamos que se pode tratar de idioletos que não representam a realidade linguística da região.  
Também percebemos a lematização de outros nomes próprios, como os nomes de praias, por  
exemplo. Esse registro exaustivo das praias brasileiras aumenta o inchaço da obra. O ideal é que  
informações desta natureza façam parte de um dicionário específico que contemplem somente  
informações toponímicas.  
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Em terceiro lugar, outro fator que contribui para o grande número de verbetes na obra é  
a lematização dos classificadores, também denominados descrições imagéticas (cf. CAMPELLO,  
008). A presença da lematização dos classificadores faz com que signos que não pertence  
2
diretamente ao léxico da Libras possam ser descritos visualmente pelo enunciador. Este  
fenômeno contribui para o aumento de entradas na obra, uma vez que para palavras da língua  
portuguesa é proposto uma descrição visual do signo em Libras.  
3
.2. Seleção macroestrutural qualitativa  
Em relação à seleção macroestrutural qualitativa, Bugueño-Miranda e Farias (2013)  
apresentam os seguintes fatores a serem analisados: 1) tipos de unidades léxicas registradas,  
2) solução polissêmica versus solução homonímica, 3) lematização de formas de type e token e  
4) disposição lemática. Analisaremos cada um a seguir.  
3
.2.1. Tipos de unidades léxicas registradas  
Em um dicionário, a seleção das unidades léxicas segue preceitos teóricos e  
metodológicos do redator. Diferente do que o senso comum acredita, um dicionário é incapaz de  
apresentar todo léxico da língua. Diariamente, palavras são criadas e outras deixam de ser  
utilizadas, o que impossibilita que um dicionário esteja sempre atualizado com todas as unidades  
léxicas da língua. Cabe ao redator determinar quais delas serão lematizadas em sua obra.  
Esta escolha é, mais uma vez, diretamente relacionada com o objetivo da obra e seus  
elementos essenciais. As unidades léxicas que compõem a obra vão depender de qual público ela  
deseja alcançar, qual a necessidade desse público (compreensão ou produção) e qual modelo de  
obra é necessário para suprir essa necessidade. Nesse sentido, Seliste (2019, p. 137) apresenta  
critérios para seleção lemática de um dicionário bilíngue, a partir das propostas de Tarp (2008) e  
Selistre (2012):  
a) frequência (atualmente baseado em estudos de corpora);  
b) sistematicidade (inclusão de todos os itens que pertencem a um mesmo campo  
semântico, como, por exemplo, o nome de todos os dias da semana);  
c) relevância (para o usuário-alvo);  
d) transparência em itens simples (não inclusão de itens simples cuja forma e conteúdo  
coincidem na L1 e na L2, como “motor” e “lava” em inglês e português);  
e) transparência em itens compostos (itens compostos que tenham equivalência  
simétrica, isto é, quando é possível chegar ao significado da composição através da  
consulta individual dos itens que a constituem, como art gallery/“galeria de arte”),  
segundo Selistre (2012). (SELISTE, 2019, p. 137, grifo nosso).  
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Pela falta de descrição detalhada do DLSB (2019), é difícil concluir se algum desses  
critérios foram seguidos na seleção macroestrutural. Em relação à frequência, tendo em vista que  
estudos de corpora em línguas de sinais são ainda incipientes, dificilmente este critério é  
empregado na obra. De fato, a obra se estrutura como um dicionário de língua geral, ao qual é  
adicionado o maior número de sinais encontrados.  
Em relação à relevância, nos questionamos se as unidades léxicas registradas satisfazem,  
de fato, as necessidades do seu usuário almejado. Tomemos, por exemplo, a lematização dos  
descritores imagéticos. Nem todas as entidades que possuem um significante em português tem  
um significante equivalente em Libras. Porém, essas entidades são representadas através da sua  
descrição visual, por meio da iconicidade presente na língua. Um exemplo é a lematização de  
PELICANO. A descrição desta ave parte dos sinais de PASSARINHO, como mostrado a seguir:  
1
2
3
Quadro 1. sinais de PASSARINHO , PASSARINHO e PASSARINHO  
PASSARINHO  
1
2
3
PASSARINHO  
PASSARINHO  
Fonte: DLSB (2019, pp. 2116-2117)  
2
3
Em PASSARINHO e PASSARINHO , o sinal é resultado da iconicidade com relação ao bico e as  
1
asas, respectivamente. Em PASSARINHO , vemos sinal representado pela composição dos sinais de  
2
3
PASSARINHO e PASSARINHO . Já em PELICANO, são registrados os seguintes sinais:  
Figura 2. Sinal de PELICANO1  
Fonte: DLSB (2019, p. 2141)  
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Figura 3. Sinal de PELICANO2  
Fonte: DLSB (2019, p. 2141)  
Cada um desses sinais é realizado pela composição de PASSARINHO2 e PASSARINHO1,  
respectivamente, e formas diferentes de descrever a papada da ave. Porém, esses sinais não  
constituem uma unidade léxica compartilhadas pelos usuários da língua. A sinalização deste  
animal parte percepção visual de cada sinalizante, o que acarreta formas diferentes para o mesmo  
significante. Contudo, ainda carecem trabalhos que analisem os descritores imagéticos mais ao  
fundo, sendo este fenômeno ainda um mistério na linguística das línguas de sinais.  
Consequentemente, são necessários estudos que proponham soluções para registro lexicográfico  
deste fenômeno.  
Por fim, a obra lematiza nomes próprios. Segundo Buguño-Miranda (2019a), a princípio,  
nomes próprios não devem estar presentes na nomenclatura de um dicionário. A razão desta  
restrição é devida a falta de significação dessas unidades. Neste sentido:  
No que concerne aos nomes próprios, já é consenso que essas unidades carecem do que  
se costuma chamar de significação (cf. RIEMER (2010, p. 110)). Se, pelo contrário, o  
dicionário é um repertório de palavras com significação léxica ou relacional, então a  
lematização de nomes próprios não procede. (BUGUÑO-MIRANDA, 2019a, p. 17)  
Porém, o autor indica os casos em que a lematização dessas unidades é possível. Dentre elas, é  
passível de lematização “[...] situações nas quais se julga que os nomes próprios - particularmente  
os topônimos - podem oferecer uma dificuldade de ordem ortográfica e/ou morfológica”  
(BUGUÑO-MIRANDA, 2019a, p. 17).  
Em relação a Libras, a diferença de modalidade traz a necessidade de uma dupla  
nomeação para o mesmo sujeito ou local: uma por meio da datilologia, que representa a forma  
escrita do português, e outra a partir de um sinal identificador, que o representa dentro da  
comunidade Surda. Assim, há necessidade do registro dos sinais de topônimos e de celebridades  
segundo os objetivos de cada obra. Porém, essas unidades carecem de significação, o que limita  
sua necessidade de lematização ao registro das equivalências.  
3
.2.2. Solução polissêmica versus solução homonímica  
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A polissemia e a homonímia representam um obstáculo na redação de um dicionário.  
Ambos os fenômenos se caracterizam pelas coincidências fonético-ortográficas das palavras.  
Contudo, o que diferencia a polissemia e a homonímia diz respeito a maneira pela qual estas  
coincidências ocorreram. A esse respeito, BUGUEÑO-MIRANDA (2016) nos apresenta a distinção  
destes dois fenômenos:  
Polissemia – “a multiplicidade de conteúdos semânticos de um signo” [inhaltliche  
Mehrdeutigkeit eines Zeichens] (ULRICH, 2002, apud BUGUEÑO-MIRANDA 2016, p. 126).  
Homonímia  “tipo de multiplicidade de significação léxica, na qual se fala de diferentes  
palavras: as expressões homônimas possuem uma mesma forma da expressão em relação  
à ortografia (...) e pronúncia (...), mas com significação diferente e geralmente com origem  
etimológica distinta (...)” (BUßMANN (1990, s.v. Homonymie apud BUGUEÑO-MIRANDA  
2016, p. 126).  
Deste modo, enquanto a polissemia diz respeito aos múltiplos significados para a mesma  
unidade léxica, a homonímia é o fenômeno em que duas (ou mais) unidades léxicas distintas se  
correspondem ao nível fonológico e ortográfico.  
Dentre os critérios para distinção entre significados polissêmicos e homonímicos,  
tradicionalmente os dicionários utilizam a etimologia. Assim, em uma análise diacrônica, formas  
polissêmicas possuem a mesma origem, enquanto formas homonímicas possuem origem  
diferente. De acordo com Palmer (1976, p. 68):  
If it is know that identical forms have diferente origins they are trated as homonymous  
and given separate entries. If it is know that they have one origin, even if they have  
different meanings, they are treated as polysemic and given a single entry in the  
2
dictionary.  
Porém, o critério diacrônico não considera a sincronia dos significados no momento da  
redação da obra. Bugueño-Miranda (2016, p. 145) exemplifica essa situação com a palavra francesa  
1
grève. Ele possui os seguintes significados: GREVE : “terrain plat formé de sables et de graviers,  
3
2
situé au bord de la mer ou d'un cours d'eau” e GREVE “cessation volontaire et collective du travail  
décidée par des salariés, un groupe professionnel dans un but revendicatif (amélioration des  
4
conditions de travail, protestation contre les licenciements, etc.)” (Le Petit Robert, s.v. grève).  
2
Tradução nossa: Se for sabido que formas idênticas têm origens diferentes, elas são tratadas como homônimas e  
recebem entradas separadas. Se se sabe que têm uma origem, mesmo que tenham significados diferentes, são  
tratados como polissêmicos e recebem um único verbete no dicionário.  
3
Tradução nossa: terreno plano composto de areia e cascalho, localizado à beira-mar ou um curso de água.  
Tradução nossa: cessação voluntária e coletiva do trabalho decidida pelos empregados, grupo profissional para fins  
4
de protesto (melhoria das condições de trabalho, protesto contra demissões, etc.).  
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2
Estes significados possuem a mesma origem, uma vez que “as Lesearten s.v. grève derivam todas  
1
de grève por metonímia”. (BUGUEÑO-MIRANDA, 2016, p. 145). Porém, atualmente não é clara a  
relação entre estes dois significados, o que se assemelha a um caso de homonímia.  
Tendo isso em mente, Bugueño-Miranda (2016, p. 125) conclui que:  
Distinções metodológicas entre polissemia e homonímia nem sempre se podem aplicar  
consequentemente para o tratamento que o léxico recebe no dicionário, tanto em função  
das particularidades da língua objeto, como em função das particularidades da própria  
obra lexicográfica (metodologia metalexicográfica)  
Para resolver esta questão, o autor propõe soluções polissêmicas e homonímicas para o  
ordenamento da macroestrutura e microestrutura da obra. Por meio das soluções polissémicas,  
todas as acepções são reunidas no mesmo verbete sobre o mesmo lema. Por outro lado, nas  
soluções homonímicas, cada acepção configura um verbete diferente, onde cada acepção está  
relacionada a um lema diferente. Assim, além das soluções baseadas na etimologia, o autor  
propõe soluções polissêmicas não etimológicas e soluções homonímicas não etimológicas de base  
semântica ou morfológica.  
No DLSB (2019), somente são aplicadas soluções homonímicas em seu ordenamento.  
Mesmo para sinais variantes em Libras, que poderiam ser registrados no mesmo verbete em  
português, a obra registra cada um em um verbete diferente. A seguir, temos os verbetes MÃE1  
2
3
MÃE e MÃE , onde cada verbete apresenta uma variante.  
1
2
3
Figura 4. verbetes MÃE MÃE e MÃE  
Fonte: DLSB (2019, p. 1738)  
3
.2.3. Lematização de formas de type e token  
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A distinção entre type / token diz respeito às formas preferenciais (forma canônica ou  
invariante) e não preferenciais (forma não canônica ou variante). De acordo com Bugueño-  
Miranda (2019a, p. 17):  
A distinção se aplica ao âmbito da ortografia e ao âmbito de preferência ou interdição de  
determinadas formas lexicais. Essa distinção se estabelece em relação a determinados  
eixos do diassistema, tais como o diatópico, o diacrônico, o dianormativo ou o diafásico-  
diastrático.  
Para tanto, para a distinção entre type e token, podem ser utilizados alguns critérios:  
frequência de cada forma, sendo a mais frequente o type e a menos o token; diferença entre a  
forma atualmente usada (type) e as formas em desuso ou obsoletas (token); a distinção formal e  
informal/vulgar; distinção entre a forma majoritariamente utilizada em um país e aquela utilizada  
em uma localidade específica etc.  
Quando pensamos em obras bilíngues, essa distinção type / token também ocorre nas  
duas línguas. Na língua de partida, ela está relacionada a qual forma será o verbete principal (type),  
aquele que contém os comentários semânticos, e qual será aquele que realizará referência ao  
verbete principal (token), por meio do sistema de remissivas. Já na língua de chegada, a diferença  
estará relacionada a ordem de apresentação/ordenação das formas no verbete.  
Na obra, não é feita nenhuma distinção entre type e token. Tomemos como exemplo os  
verbetes LATRINA, PRIVADA e VASO SANITÁRIO. Para cada unidade, é lematizado duas formas variantes,  
como mostrado a seguir:  
Figura 5. verbetes LATRINA (1) e (2)  
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Fonte: DLSB (2019, p. 1649)  
Figura 6. verbetes PRIVADA (1) e (2)  
Fonte: DLSB (2019, p. 2308)  
Figura 7. verbetes VASO SANITÁRIO (1) e (2)  
Fonte: DLSB (2019, p. 2830)  
Em cada caso, observamos a repetição das informações contidas na microestrutura com  
1
pequenas alterações, como no exemplo de VASO SANITÁRIO . Esta repetição contribui para o inchaço  
da obra, que pode ser percebido pelos três volumes que possui. O uso da diferenciação das formas  
traria economia ao dicionário, não somente em sua produção, mas também na utilização pelo  
consulente, uma vez que obras mais compactas são mais fáceis de manusear. Porém, apesar desta  
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1
2
repetição, é possível identificar a forma que a obra considera como type. Em LATRINA , LATRINA ,  
1
2
PRIVADA e PRIVADA aparecem a indicação “fazer este sinal VASO SANITÁRIO”, o que indica que esta é  
a forma preferencial adotada pela obra.  
3
.2.4. Disposição lemática  
Segundo (BUGUEÑO-MIRANDA (2019, p. 20), em um dicionário semasiológico, a  
nominata de um dicionário semasiológico pode estar ordenada de três formas:  
1
) estrutura lisa  ordenação dos lemas em ordem alfabética, alinhados a direita, sem a  
presença de subentradas.  
) estrutura de nicho léxico  lemas ordenados na ordem alfabética como na estrutura  
2
lisa com subentradas que igualmente estão ordenadas na ordem alfabética.  
) estrutura de ninho léxico  semelhante a estrutura de nicho léxico, tendo como  
3
diferença a não ordenação alfabética das subentradas.  
Dentre as opções, a estrutura lisa é a mais utilizada nas obras brasileiras. Neste sentido, o  
DLSB (2019) também utiliza esta disposição segundo a ordem alfabética do português. Porém, em  
alguns casos, a utilização de estruturas de nicho léxico pode ser benéfica em um dicionário  
bilíngue. Segundo Seliste (2019, p. 137)  
Embora os dicionários bilíngues, tanto ativos quanto passivos, sejam, em geral,  
organizados na forma de estrutura lisa, o nicho léxico representa uma opção bastante  
adequada para esse tipo de obra, uma vez que, além de manter a vantagem da  
manutenção da ordem alfabética, favorece a percepção da produtividade léxica de um  
item e, por isso, amplia as chances do consulente de aumentar seu vocabulário (ganho de  
massa léxica).  
Percebemos, assim, que essa estrutura pode ser benéfica em um dicionário português-  
Libras. Tomemos como exemplo os lemas complexos a partir da palavra ANDAR no DLSB (2019).  
Tendo como base a acepção deslocar-se/transportar-se, a obra lematiza nove formas:  
ANDAR A CAVALO,  
ANDAR À TOA,  
ANDAR CAMBALEANDO,  
ANDAR DE BICICLETA, ANDAR DE CARRO,  
ANDAR NA CORDA  
ANDAR DE MODO LEVE E SUAVE (CL),  
ANDAR DOS ANIMAIS (CL),  
BAMBA (CL),  
ANDAR NA PONTA DOS PÉS (CL) (DLSB, 2019, pp.196-198). Essa multiplicidade de formas é devida a  
isomorfia das línguas que compõem o dicionário. Em língua portuguesa, a indicação do modo (ou  
instrumento) em que a ação andar é realizada é expressa a nível sintático, na forma verbo +  
advérbio. Em Libras, por outro lado, estas indicações ocorrem ou na morfologia do verbo ou em  
unidades léxicas diferentes. Assim, a unidade lexical andar em língua portuguesa corresponde a  
diferentes unidades lexicais em Libras, como mostrado a seguir:  
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Figura 8. ANDAR em português e suas equivalentes em Libras  
Fonte: DLSB (2019, pp.195-197, adaptado)  
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Temos, assim, uma equivalência 1 para 10, em que uma unidade léxica em português  
5
equivale a dez unidades léxicas em Libras. A partir disso, a estrutura de nicho léxico pode facilitar  
a busca do consulente ouvinte em um dicionário ativo português-Libras. Ao buscar ANDAR em sua  
nomenclatura, a entrada em português apresentará as subentradas correspondentes em Libras,  
contribuindo, assim, para sua necessidade de produção.  
Contudo, as três formas de ordenação da nomenclatura de um dicionário somente podem  
ser aplicadas em um dicionário no sentido português-Libras com funções ativa e passiva. Para um  
dicionário no sentido Libras-português, em qualquer função, o ordenamento em ordem alfabética  
não é uma opção, uma vez que a datilologia não é natural às línguas de sinais. Portanto, é  
necessário o desenvolvimento de sistema de ordenação da massa léxica que considere as  
especificidades de uma língua de modalidade visual-espacial.  
4
.
Microestrutura  
Segundo Bugueño-Miranda (2019a, p. 14), a microestrutura é “o conjunto de informações  
acerca do signo-lema” (BUGUEÑO-MIRANDA, 2019a, p. 14). Essas informações, denominadas  
segmentos informativos, constituem o Programa Constante de Informações (PCI). A partir da  
dicotomia do signo linguístico (significado-significante), o PCI se divide em dois grupos: o  
comentário de forma, relativo ao significante, e o comentário semântico, relativo ao significado.  
A escolha dos segmentos informativos que constituem o PCI de uma obra parte da delimitação  
dos seus traços essenciais. Porém, como salienta Bugueño-Miranda (2019a, p. 15) “Constitui um  
princípio axiomático básico da microestrutura o fornecimento de pelo menos um segmento  
informativo de comentário de forma e um segmento informativo de comentário semântico”.  
Seliste (2019, pp.137-138), apresenta as seguintes possibilidades de segmentos  
informativos para cada tipo de comentário:  
1
) Comentário de forma:  
a) informações ortográficas: ortografia, divisão silábica (em dicionários passivos) e  
variante(s);  
b) informações morfológicas: classe gramatical e flexão;  
c) informações fonológicas: pronúncia (em dicionários passivos);  
d) informações sintáticas: regência e exemplos de sintaxe (em dicionários ativos)  
5
A partir dos itens lematizados no DLSB (2019). Porém, há outras formas de equivalentes de andar em Libras, muitas delas  
de difícil lematização por se tratar de classificadores.  
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2
) Comentário semântico:  
a) informações semânticas: equivalente(s), paráfrase ou ilustração (para os realia e itens  
pouco familiares);  
b) informações pragmáticas: marcas de uso (em dicionários ativos) e desambiguadores  
semânticos;  
c) informações paradigmáticas (em dicionários ativos): antônimos e sinônimos;  
d) exemplos com foco semântico. (SELISTE, 2019, pp. 137-138, grifo nosso)  
Mesmo para línguas de modalidades diferentes, é possível a presença destes segmentos  
informativos, adaptados para a realidade linguística de uma língua de sinais. Além de possuir todos  
os níveis gramaticais, é possível descrever modalidades semelhantes a ortografia e a separação  
silábica em Libras (cf. AGUIAR, 2013). No DLSB (2019), são utilizados doze segmentos  
informativos:  
Comentário de forma  
1
2
3
.
.
.
Soletração digital do verbete a partir da entrada em português;  
Indicação dos estados em que o sinal foi encontrado;  
Classificação gramatical do português;  
4
5
6
.
.
.
Descrição da forma do sinal (como o sinal é realizado);  
Descrição etimológica do sinal, a partir de sua morfologia;  
Descrição etimológica do sinal, a partir de sua iconicidade.  
Comentário semântico  
7
8
9
.
.
.
De uma a cinco ilustrações;  
Sinal escrito em SignWriting;  
Ilustração do sinal equivalente em Libras;  
1
0. Equivalentes em português e inglês (denominados na obra como “verbetes do português  
e do inglês”);  
1. Definição em português;  
2. Exemplos de uso em português.  
1
1
Exemplo de verbete que apresenta todos esses segmentos informativos é mostrado a seguir:  
Figura 9. verbete PASSEATA1  
Fonte: DLSB (2019, pp. 2117)  
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A seguir, analisamos cama um dos segmentos relativos de cada comentário.  
4
.1. Comentário de forma  
Primeiramente, descrevemos os segmentos informativos referentes aos comentários de  
forma. Em todos os verbetes, é apresentada a datilologia em português. Apesar de ser uma forma  
de representar as letras do alfabeto por meio dos parâmetros fonológico da Libras, a datilologia  
só tem funcionalidade em casos de necessidade de soletração de nomes próprios ou de palavras  
em língua portuguesa que não possuem equivalentes em Libras. Assim, para qualquer função e  
usuário destinado essa informação é supérflua, uma vez que o em nenhum caso essa informação  
é significativa para o consulente.  
Outros dois segmentos informativos são a indicação dos estados em que o sinal foi  
encontrado e a classificação gramatical. No primeiro caso, a obra apresenta, por meio das siglas  
dos estados, informações de cunho diatópico. Porém, lembramos que este processo pode conter  
idioletos dos informantes. A respeito das informações gramaticais, elas somente são fornecidas  
para o lema em português. Não há nenhuma menção dessas informações em Libras, o que é  
imprescindível para o usuário ouvinte em sua função ativa. Mais uma vez ressaltamos a  
importância da redação de um dicionário a partir da clara definição de seus traços essenciais.  
Por fim, no comentário de forma ainda é possível apresentar as descrições da forma do  
sinal (como o sinal é realizado) e a descrição da etimologia do sinal, que pode ser realizada a partir  
da morfologia e da iconicidade do sinal equivalente. Mais uma vez percebemos as decorrências da  
falta de determinação dos traços essenciais. A respeito da descrição etimológica, é apresentada  
relações dos processos de composição ou derivação na organização do sinal. Essa análise parte  
exclusivamente da morfologia, sem haver qualquer relação com a origem do sinal. No mesmo  
sentido, a informação de iconicidade apresenta uma possibilidade de origem do sinal a partir da  
descrição visual (ou mental) do significado. Estas descrições podem ser benéficas, em certa  
medida, para o usuário ouvinte com pouca habilidade na língua, visto que este se depara com a  
produção em uma língua de modalidade diferente que a sua. Porém, para um usuário Surdo, que  
consulta a obra a fim de compreender uma unidade léxica do português, estas informações são  
supérfluas e desnecessárias.  
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4
.2. Comentário semântico  
A respeito do comentário semântico, enquanto em um dicionário monolíngue o segmento  
informativo básico é a paráfrase explanatória (BUGUEÑO-MIRANDA, 2019a, p. 15), em um  
dicionário bilíngue os equivalentes são o segmento informativo de maior importância. No  
DLSB (2019), as equivalentes são apresentadas em três segmentos informativos: Ilustração do  
sinal equivalente em Libras; sinal escrito em SignWriting e as equivalentes em português e  
inglês. O primeiro questionamento é a presença da equivalente em inglês. Segundo a obra “depois  
de cada verbete em português, aparecem os diversos verbetes em inglês, correspondentes a cada  
um deles. Esse arranjo permite traduzir de Libras para o Português e de Libras para o inglês”  
DLSB (2019, p.30). Porém, não há indícios na obra de que o consulente necessite desta  
informação. Se o objetivo é a disposição destes equivalentes para o usuário Surdo, o ideal é o  
desenvolvimento de dicionário com o par linguístico inglês e Libras, onde os segmentos  
informativos da unidade léxica em inglês seja condizente ou com a necessidade de produção ou  
com a necessidade de compreensão por este usuário. Ademais, como o ordenamento lemático da  
obra é realizado a partir da língua portuguesa, a relação de tradução proposta pelo dicionário só  
é possível na direção português-Libras e português-inglês, não partindo assim da Libras para as  
outras línguas. Para essa possibilidade, a obra deveria ser ordenada lematicamente a partir da  
Libras, o que não é ocaso.  
Em relação ao sinal em Libras, este é registrado por meio da imagem do sinal e de sua  
escrita em SignWriting. Apesar de não ser amplamente difundido e padronizado no Brasil, o esse  
sistema de escrita está em movimento de expansão no país, o que justifica sua pertinência no  
6
dicionário para qualquer função que exerça. Já a expressão visual do sinal , devido ao formato  
impresso da obra, se limita a sua representação estática por meio de imagens. Esta representação  
limita as possibilidades de registro dos parâmetros fonomorfológicos, como o movimento. Assim  
sendo, para uma língua de sinais é ideal o uso de ferramentas informatizadas que possibilitem a  
presença de vídeos.  
Outros segmentos informativos do comentário de forma são a definição e os exemplos  
de uso em português. Mais uma vez é questionável a pertinência desses segmentos. Para o  
6
Em comparação às línguas de sinais, a expressão visual do sinal corresponde a expressão oral, enquanto o sistema  
de escrita SignWriting corresponde a expressão escrita. Por sua tradição ágrafa, a modalidade visual é a culturalmente  
utilizada pela comunidade Surda e assim a modalidade principal de registro em obras lexicográficas.  
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consulente Surdo, que utiliza o dicionário para a compreensão de uma palavra em língua  
portuguesa, não há necessidade de exemplos de uso, uma vez que estes segmentos somente são  
úteis no processo de produção. Por outro lado, a definição em português pode ser utilizada em  
dicionários semi-bilíngues. Nesses casos, esse segmento informativo deve estar adequado  
consulente Surdo, por meio de acessibilidade textual e terminológica, que considere que a língua  
portuguesa é uma segunda língua de segunda modalidade para este público. (cf. FINATTO, 2020)  
Por fim, o último segmento informativo referente ao comentário de forma são as  
ilustrações. Vista a visualidade linguística do sujeito Surdo, faz parte da tradição lexicográfica em  
línguas de sinais a presença de ilustrações nos verbetes. Porém, ilustrações devem ser utilizadas  
a fim de complementar a definição (ou equivalente) do verbete e não como mera ilustração que  
1
2
3
faz alusão ao significado. Vejamos as ilustrações dos verbetes APOIAR , APOIAR e APOIAR , a seguir:  
1
2
3
Quadro 2. Ilustrações dos verbetes APOIAR , APOIAR e APOIAR  
1
2
3
APOIAR  
APOIAR  
APOIAR  
Fonte: DLSB (2019, p. 239)  
Apesar de utilizadas para ilustrar o conceito do verbo apoiar, elas não expressam com  
1
clareza a ação verbal, podendo, inclusive, gerar outras interpretações. Em APOIAR , a seta coloca  
em evidência o homem sem caixa. Porém, sua postura pode ser interpretada de diversas formas,  
2
inclusive como uma ordem, por exemplo. Já em APOIAR , a imagem não expressa o apoio da mãe  
na resolução da tarefa de casa. No último caso, o homem indicado com a seta pode estar fazendo  
diversas coisas, como conversar, influenciar etc. Dessa maneira, não se deve colocar ilustrações  
em verbetes em que não é possível a expressão clara do seu significado e que não auxiliem na  
tarefa de complementação da definição fornecida.  
Por fim, as ilustrações devem estar de acordo com o usuário destinado. Na obra, é descrito  
que as ilustrações aparecem “[...] para permitir à criança surda aprender diretamente o sentido  
ou o significado do sinal sem depreender da leitura do português” (DLSB 2019, p. 24). Porém, na  
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obra não há cuidado para que as ilustrações sempre sejam adequadas às crianças, como  
evidenciado pelas ilustrações dos verbetes relativos a SEXO:  
Quadro 3. Ilustrações dos verbetes relativos a SEXO  
1
2
3
SEXO  
SEXO  
SEXO  
SEXO ANAL  
SEXO ORAL FEITO NA MULHER  
SEXO ORAL FEITO NO HOMEM  
Fonte: DLSB (2019, pp. 2577-2578)  
Percebemos que não só as ilustrações, como também a seleção lemática, não estão  
adequadas para o público infanto-juvenil. Este público necessita de obras específicas para sua  
faixa etária, contemplando suas necessidades linguísticas.  
5. Síntese da avaliação dos dicionários e considerações finais  
O DLSB (2019) é o dicionário de Libras de maior alcance no território nacional. Porém, a  
falta de delimitação dos traços essenciais acarreta problemas macroestruturais e microestruturais  
que o distancia do consulente. Primeiro, sua ordenação alfabética impossibilita que a obra possua  
direção Libras-português, e, assim, não seja possível sua utilização na função ativa pelo consulente  
Surdo. Deste modo, ações como a tradução da Libras para o português e inglês não são possíveis  
de serem realizadas, apesar de haver indicação destas possibilidades no Front Matter da obra. De  
fato, é necessário o desenvolvimento de sistema de ordenação da massa léxica em Libras para  
que estas funções sejam possíveis.  
Por outro lado, parqa função passiva para o consulente Surdo, percebemos o excesso de  
informações supérfluas em sua microestrutura. A definição do potencial usuário incide  
diretamente nos elementos canônicos, uma vez que é por meio dessa delimitação que é possível  
registra os segmentos informativos necessários para cada tipo de usuário. Esse excesso de  
informações, aliados e escolha macroestrutural ampla, contribuem para o inchaço da obra.  
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Sobretudo em formato impresso, além de uma determinação funcional dos itens do PCI, é  
necessário recorrer a estratégias de economia para itens variantes. Assim, a lematização de  
formas de type e token é uma estratégia que facilita esse processo.  
A nível funcional, é necessário a delimitação clara do usuário potencial, a fim de suprir suas  
necessidades. Um dicionário que tenha o objetivo de ser utilizados por diferentes usuários em  
contextos linguísticos diferente não consegue ser útil para todos esses públicos. Primeiro,  
enquanto línguas naturais diferentes entre si, a relação de equivalentes perfeitos é extremamente  
difícil de ser encontrada. Como no caso de andar, um único significante em português é  
equivalente a uma gama de sinais em Libras, dado que nesta língua os fenômenos de predicação  
podem ser realizados a nível fonológico e morfológico. Nesta relação de equivalente, um  
obstáculo a ser resolvido pela lexicologia de línguas de sinais é o registro dos classificadores. Pelo  
seu caráter não lexical, soluções devem ser propostas para o tratamento lexicográfico específico  
a este grupo.  
Ademais, é necessário o questionamento da presença de ilustrações em dicionários  
bilíngues. Apesar do objetivo de exemplificar o conceito por uma imagem, estas nem sempre são  
claras ou suplementam as informações da definição. Assim, é necessário a reflexão sobre a  
relevância dessas ilustrações em uma obra. Ademais, é necessário o cuidado em não utilizar  
ilustrações generalizadas e evitar que as ilustrações (como a seleção lemática) não estejam  
adequadas ao seu usuário.  
Por fim, estas reflexões são essenciais para o desenvolvimento de novas obras em Libras, como a  
que desenvolvemos no PPGLetras. É necessário que a lexicografia em línguas de sinais ultrapasse  
o critério de grande público e se debruce nas expectativas de cada grupo ao buscar um dicionário.  
Espero que novos estudos, como o que estamos produzindo, contribuam cada vez mais para o  
fortalecimento da lexicografia em Libras.  
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