Rogério TILIO
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ambiente sociocultural: ideologia, reprodução cultural e social, poder, classe social, capitalismo,
relações sociais de produção, conscientização, emancipação e libertação, currículo oculto e
resistência. Por sua vez, as teorias pós-críticas de currículo, sem desmerecer as preocupações
das teorias críticas, abrem espaço para a conscientização crítica por meio do engajamento com
as diferenças e da problematização: identidade, alteridade e diferença, subjetividade,
significação e discurso, relação saber-poder, representação, cultura, questões de gênero, raça,
etnia e sexualidade, e multiculturalismo (TADEU DA SILVA, 2000).
O currículo de língua estrangeira, entretanto, não parece ter ainda incorporado teorias
críticas e pós-críticas do currículo. Isso talvez possa ser explicado pelo caráter aparentemente
meramente instrumental atribuído ao ensino de língua estrangeira: o de aprender a língua para
usá-la em interações com falantes nativos. Nesse contexto, não causa estranheza uma definição
de currículo como a proposta por Jobrack (2011): atividades de ensino, aprendizagem e avaliação
e materiais organizados e disponibilizados para o ensino de determinada disciplina. O currículo
é entendido como a substância daquilo que é ensinado; envolve materiais educacionais e
instrucionais, sejam eles impressos ou digitais: livros didáticos, livros-texto, livros de atividades,
experiências e atividades práticas – materiais que professores utilizam para prover conteúdos
em suas aulas diárias, para quaisquer disciplinas e em quaisquer níveis (JOBRACK, 2011).
Essa última definição merece atenção por incorporar os materiais didáticos ao currículo,
mas também por superestimá-lo. O material didático, sobretudo o livro didático, ocupa lugar de
destaque no cenário educacional, especialmente no ensino de línguas: deve ser seguido
(
CORACINI, 1999); dita grande parte do comportamento do professor em aula (DIAS;
CRISTÓVÃO, 2009); a principal fonte de informaꢁꢀo no contexto pedagꢅgico (JOHNS, 1997); a
principal arma no arsenal do professor (GRANT, 1987), a fonte mais utilizada no ensino, uma
fonte de saber institucionalizado (CARMAGNANI, 1999); o depositꢄrio de um saber estꢄvel a ser
decifrado, descoberto e transmitido ao aluno (SOUZA, 1995a); tradicionalmente, o principal
mediador no ensino, a principal fonte utilizada por professores (SOUZA, 1999b). Nesse contexto
de ensino de línguas, é uma prática recorrente tomar um livro didático como currículo. No
entanto, é preciso destacar que o livro didático não é o currículo – apesar do papel fundamental
que o primeiro pode vir a desempenhar no segundo.
O livro didático pode ser definido como um conjunto de recursos a serem
pedagogicamente utilizados com o intuito de mediar a aprendizagem. Conceituar o livro didático
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São Paulo (SP), v. 44 n.1, jan./jul. 2023
ISSN 2318-7115