Inêz de Oliveira LIMA; Grassinete C. de Albuquerque OLIVEIRA
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De Maeyer (2006) questiona o que se aprende nas prisões e por quê? A seu ver, o que
esses sujeitos aprendem não são programas detalhados, módulos estruturados ou mesmo
currículos pensados por especialistas em educação para o contexto prisional. Destaca que nas
prisões, assim como em outros lugares, há necessidades e urgências a serem vistas no universo
carcerário. Para a autora,
[...] necessidade e urgência de conhecer as redes de influência, necessidade e urgência de
integrar as atitudes que serão positivamente tomadas em consideração para uma saída
mais rápida da prisão, necessidade e urgência de saber como melhorar seu cotidiano,
necessidade e urgência de guardar um mínimo de intimidade, necessidade e urgência de
simplesmente existir. Nessas condições, aprende-se rápido e vai-se direto ao essencial. (DE
MAEYER, 2006, p 44).
Ir direto ao essencial pode significar, para esses sujeitos que se encontram encarcerados
no seu presente vislumbrando um possível futuro de liberdade, propor uma educação que
considere a experiência positiva com o aprendizado, que estimule o querer saber, o registro do
conhecimento e o partilhar os saberes com os demais colegas de estudo. E como a leitura pode
contribuir para desenvolver essa rede de saberes e de compartilhamento de aprendizagens? Julião
e Paiva (2014) argumentam que, no Brasil, o número de pessoas sem escolarização nos diferentes
níveis da educação básica soma-se, de modo perverso, a mais de 100 milhões de brasileiros que
não chegam à conclusão do ensino médio e, ao transpor para a realidade do cárcere privado, esse
dado é ainda mais acentuado. Nesse sentido, projetos de leitura são bem-vindos, seja de forma
isolado ou associados a programas de escolarização como o projeto de remição de pena pela
leitura, como meio de propor condições para o sujeito em privação de liberdade de aprender. Vai-
se além,
[...] se nem a leitura, nem a educação, podem ser vistas como projeto salvacionista,
entretanto, afirma-se que a primeira pode, sim, libertar pela capacidade imaginativa que
possibilita e pelo poder de criar situações imaginadas, transportar cada sujeito para novos
voos, pela densidade de narrativas e prosas que bons autores produzem, no conjunto de
obras literárias à disposição de bons acervos e boas bibliotecas. (JULIÃO; PAIVA, 2014, p.
1
22).
A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo, conforme bem afirma Freire
1989) e isso indica que aprender a ler e a escrever é aprender a ler o mundo, a compreender o
(
contexto. Não é manipulação da palavra, não é relação mecanicista, mas é diálogo, é dinamicidade
que mantém o vínculo entre linguagem e realidade, com a vida que se vive porque educação é um
ato político e transformador. Lessa e Oliveira (2020) destacam que o ato de educar envolve
considerar o outro em todas as suas singularidades, como sujeito partícipe que ressignificam o
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São Paulo (SP), v. 44 n.1, jan./jul. 2023
ISSN 2318-7115