ARTIGO  
Perfil sociolinguístico dos surdos em regiões de  
baixa demografia no estado do Tocantins  
Sociolinguistic profile of the deafs in low demography regions in the  
state of Tocantins  
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, Brasil.  
FLUXO DA SUBMISSÃO  
Submissão do trabalho: 30/04/2023  
Aprovação do trabalho: 25/05/2023  
Publicação do trabalho: 29/05/2023  
Resumo  
A pesquisa em Sociolinguística das comunidades surdas ainda é escassa  
no Brasil, principalmente em relação ao emprego efetivo da Língua de  
Sinais Brasileira Libras, em contato com a língua portuguesa. Com base  
nessa constatação, esta pesquisa objetiva descrever  
o perfil  
sociolinguístico dos surdos resultantes da comunicação e contato da  
Língua Brasileira de Sinais e da língua portuguesa. O corpus é formado  
por entrevistas realizadas via whatsapp com 30 surdos residentes em  
regiões de baixa demografia do Estado do Tocantins. Os resultados  
parciais revelam que, além da Libras e da língua portuguesa, os  
entrevistados empregam estratégias comunicacionais adicionais, como  
linguagem de sinais caseira e outras formas de comunicação.  
10.23925/2318-7115.2023v44i1e61873  
Palavras-chave: Sociolinguística; Libras; Teoria laboviana.  
Abstract  
Research in Sociolinguistics of deafs communities is still scarce in Brazil,  
mainly in relation to the effective use of the Brazilian Sign Language Libras,  
in contact with the Portuguese language. Based on this finding, this research  
aims to describe the sociolinguistic profile of deaf people resulting from  
communication and contact with the Brazilian Sign Language and the  
Portuguese language. The corpus is made up of interviews conducted via  
WhatsApp with 30 deaf people living in low-demographic regions of the  
State of Tocantins. Partial results reveal that, in addition to Libras and the  
Portuguese language, respondents employ additional communication  
strategies, such as homemade sign language and other forms of  
communication.  
Distribuído sob Licença Creative Commons.  
Keywords: Sociolinguistics; Libras; Labovian theory.  
Fernando Cardoso dos SANTOS  
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1.  
Introdução  
As condições educacionais do século XIX, até certo ponto, são passíveis de serem  
questionadas, principalmente quanto ao tratamento do alunado surdo, uma vez que o objetivo  
era atender os padrões sociolinguísticos daquela época, bem como movimentos sociais os quais  
não estavam abertos ou preparados às diversidades sociais, culturais e individuais.  
O padrão era que os surdos “falassem” – na verdade eles sempre falaram -, de acordo  
com a língua majoritária oral. Dessa forma a preocupação era “normalizar” os surdos aos padrões  
de comportamento linguístico da época (MCDONNELL, 2016).  
Embora mais de um século tenha se passado, ainda não há acesso pleno dos surdos a uma  
língua que lhes seja acessível, qual seja uma língua de sinais. Com base nessa constatação inicial,  
a pesquisa se preocupou em descrever e revelar o perfil sociolinguístico dos surdos em regiões de  
baixa demografia no Estado do Tocantins. Esse objetivo central da pesquisa surgiu da necessidade  
de expandir o campo investigativo, o qual é guarnecido de carências em estudos científicos  
direcionados para essas regiões remotas, bem como para minorias linguísticas nos limites do  
Estado, que por vezes, ainda estão sujeitas à visão acerca dos indivíduos dos surdos predominante  
no século XIX.  
É de praxe que “privilégios” são acentuados nas cidades de grande demografia, isso  
porque há maior união sociolinguística dos surdos, familiares, profissionais e simpatizantes que  
fazem parte da sociedade surda. Privilégios como cursos de formação de profissionais em Libras,  
curso de Libras, profissionais habilitados e capacitados na fluência bilíngue.  
Por outro lado, os surdos e seus familiares das regiões remotas não têm acesso de  
maneira integral à Libras e à língua portuguesa como segunda língua, devido à inúmeras questões,  
dentre elas a baixa demanda de profissionais, a pouca difusão da língua, a falta de interesse do  
setor público para contribuir com a inclusão das minorias linguísticas.  
Diante do contraste entre as condições dos surdos de grandes centros urbanos e dos  
surdos moradores de regiões isoladas, surgiram indagações hipotéticas que estariam envoltas  
apenas pelos conhecimentos empíricos como: Que línguas são utilizadas pelos surdos? Sem  
acesso à Libras e à língua portuguesa como L2, como ocorre o contato, a comunicação e a  
interação dos surdos nos diversos contextos de interação?  
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Quanto a isso, importa questionar se é possível haver comunicação e compreensão entre  
indivíduos surdos-surdos e surdos-ouvintes, embora os surdos e ouvintes não possuam fluência  
em uma língua sistematizada como a Libras.  
2
. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA  
2
.1 Sociolinguística e suas contribuições  
Segundo Elia (1987, p. 65) “[...], a Sociolinguística (distinta da Sociologia da Linguagem)  
estaria enriquecida com dados de natureza social, o que lhe permitiria ir além da frase, no sentido  
de uma gramática da interação falante/ouvinte”. Assim, a Sociolinguística mostra-nos influências  
sociais que regem nos diferentes contextos de comunicação e interação entre os indivíduos de  
fala. E essas influências não são imunes às variedades de ideologias e concepções quanto à  
diferença do outro, podendo ocorrer por via de comportamentos e atitudes linguísticas, bem  
como estranhamento do outro por não encaixar nos padrões almejados pela sociedade.  
Nos primórdios dos estudos científicos sociais e linguísticos, os objetos de estudo língua  
e sociedade não alcançaram o êxito em caminharem separados, contudo, o aprofundamento  
prático em campo, ficou evidenciado que ambas possuem relações intrínsecas, mudam e variam  
conforme o tempo e o comportamento social. Essas discussões calorosas em torno de sociologia  
e de sua relação com a linguística tiveram seu apogeu na Europa, especificamente na França, e  
estenderam-se não somente para a América, mas também para outros continentes.  
Conforme o sociólogo Émile Durkheim (1984, p.11), um dos principais estudiosos da  
Sociologia, é possível definir que  
a sociologia é aquela que apresenta os fenômenos sociais externos aos indivíduos. Admite-  
se hoje que os fatos da vida individual e os da vida coletiva são até certo ponto  
heterogêneos: pode-se até dizer que um acordo, se não unânime, pelo menos muito geral,  
1
está em processo de formação sobre esse ponto. (tradução nossa)  
O foco dos estudos de Durkheim era a sociologia, mas ele também dedicava uma vertente  
ao debate da linguística, no jornal francês Année sociologique, além de contar, entre seus  
discípulos linguistas como Meillet e Lévy-Brul. Um deles já definia a língua como uma das várias  
técnicas corporais que o homem emprega na sociedade (URIBE-VILLEGAS, 1977). A menção  
1
No original: c'est celle qui présente les phénomènes sociaux comme extérieurs aux individus. On nous accorde  
aujourd'hui assez volontiers que les faits de la vie individuelle et ceux de la vie collective sont hétérogènes à quelque  
degré : on peut même dire qu'une entente, sinon unanime, du moins très générale, est en train de se faire sur ce point.  
(DURKHEIM, 1984, p. 11)  
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“língua como várias técnicas corporais que o homem emprega na sociedade”, o autor demonstra  
que a língua vai além do aspecto da fala oralizada, que era vista com prestígio pela sociedade, e  
que técnicas corporais são línguas, que apesar de não seguirem as normas de estruturação  
padronizada, são fatores linguísticos e sociais que transmitem enunciados significativos e  
passiveis de compreensão entre os atores envolvidos, estendendo este posicionamento a outras  
sociedades de línguas diferentes em território onde impera uma língua majoritária.  
Meillet contribuiu com seu legado, bem como orientou importantes discípulos cientistas  
que muito contribuíram com o surgimento da sociolinguística, como: Joseph Vendryes (1875-  
1
960), Gauthiot Robert (1876-1916), Marcel Coehn (1844-1974), Alf Sommefeldt (1892-1865),  
Georges Dumézil (1898-1986), Émile Benveniste (1902-1976) André Martinet (1908-1999), entre  
outros.  
A partir de 1963, a linguística apercebeu-se que não fazia sentido deixar de lado o  
movimento social, isso porque as discussões giravam em torno desse assunto, a ponto de atingir  
quase total unanimidade o fato de o social e a língua não poderem ser separados um do outro.  
Meillet afirma que  
[...] somos reconduzidos a uma concepção histórica [...], e que caímos na simples  
consideração de fatos particulares; porque se é verdade que a estrutura social é  
condicionada pela história, nunca são os fatos históricos eles mesmos que determinam  
diretamente as mudanças linguísticas, e são as mudanças na estrutura da sociedade a  
única que pode modificar as condições de existência da língua. Será necessário determinar  
a que estrutura social responde uma dada estrutura linguística e como, em geral,  
mudanças na estrutura social resultam em mudanças estrutura linguística. (MEILLET, 1982,  
2
p. 17, tradução nossa)  
Segundo ele, as dimensões do estudo social e linguístico estão condicionadas aos vários  
fatores sociais, com os quais a diversidade linguística se relaciona às identidades sociais do emissor  
e receptor e à situação comunicativa.  
Em meados da década de 60, havia muitos debates teóricos suficientes para pôr em  
prática questões da indivisibilidade da língua e sociedade, foi então que Labov (1960), concluiu  
que era a hora de ir a campo para aplicar a teoria na prática, no entanto, ele ainda estava  
2
No original: qu’on soit par là ramené à une conception historique, et qu’on retombe dans la simple considération  
des faits particuliers ; car s’il est vrai que la structure sociale est conditionnée par l’histoire, ce ne sont jamais les faits  
historiques eux-mêmes qui déterminent directement les changements linguistiques, et ce sont les changements de  
structure de la société qui seuls peuvent modifier les conditions d’existence du langage. Il faudra déterminer à quelle  
structure sociale répond une structure linguistique donnée et comment, d’une manière générale, les changements  
de structure sociale se traduisent par des changementsde structure linguistique. (MEILLET, 1982,p. 17).  
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procurando entender como a heterogeneidade (ainda questionada, predominavam os estudos  
estruturalistas, desconsiderando-se o contexto social) da estrutura da língua era desconectada  
dos fenômenos sociais, e estava sendo defendida por renomados estudiosos antes de suas ideias.  
Para ele, a sociolinguística é a linguística dentro do contexto social, que pode ser estudada usando  
métodos de estratificação social, para averiguar a diversidade linguística de acordo com o  
contexto e movimento social coletivo e individual (LABOV, 2008; FREITAG, 2010; CALVERT, 2012;  
OLIVEIRA, 2017; MUSSALIM & BENTES, 2001).  
A preocupação desses precursores da corrente teórica sociolinguística era aliar as regras  
e restrições e variações da língua a um sistema funcional e estruturado, ou seja, uma língua sempre  
funcional e plena, embora em variação e mudança constante.  
Nos dias atuais, pesquisas em Sociolinguísticas são influenciadas em sua maioria pelas  
contribuições teóricas de Labov (1963), mas, ainda predominam na estratificação social e nas  
comparações linguísticas, em especial a gramática. Considerou-se nesta pesquisa teorias que  
abordam referências à cultura e aos povos surdos para aprofundar estudos sociolinguísticos da  
comunidade surda e das línguas de sinais. Diante disso, tomou-se como estudos do americano Ceil  
Lucas (2004), que deixou excelentes contribuições sobre Sociolinguísticas das línguas de sinais,  
variação das línguas de sinais na comunidade surda e cultura surda.  
Assim, amparado nos trabalhos de Lucas (2004), esta pesquisa buscou, para além da  
observação da língua de sinais, de forma que concretizou revelar os perfis sociolinguísticos dos  
participantes surdos em regiões de baixa demografia no Estado do Tocantins. Perfis que são  
construídos com base no indivíduo surdo, ou seja, perfis que o próprio sujeito construiu de forma  
natural ou sob influência do contexto social. Essa visão tem como objetivo buscar novas formas  
de ver o sujeito que não sejam especificamente sujeitos do sistema estruturalizados.  
A partir desses pressupostos, diversos estudos sobre a sociolinguística vêm sendo  
desenvolvidos atualmente, com ênfase para comparações fonológicas, morfológicas, sintáticas,  
semânticas e estruturais da língua, bem como a diversidade linguística relacionada à estratificação  
social, considerando fatores como idade, gênero, cultura, entre outros.  
2.2. Contato sociolinguístico no contexto surdo  
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Assim como qualquer pessoa, os indivíduos surdos assumem suas posturas conforme o  
ambiente de contato, podendo afetar ou não o comportamento linguístico dos falantes (cf.  
WEINREICH, 1953). Dessa forma, o contato sociolinguístico aqui descrito aponta os fenômenos  
resultantes do contato das línguas dos participantes em suas diversas modalidades como a língua  
portuguesa falada e escrita, gestos e Libras.  
Na modalidade de língua portuguesa escrita, é relevante a compreensão de como os  
participantes surdos trocam informações ao terem contato com idioma diferente no ambiente  
escolar e por meio de recursos tecnológicos (redes sociais, whatsapp, Instagram e Facebook).  
Segundo Machado e Quadros,  
O contato entre línguas ocorre quando línguas diferentes interagem ou se alternam no  
uso, ou entre dialetos que estão em constante contato no mesmo território, seja pela  
colonização, por invasões ou conquistas de guerras, por migrações, ou em localidades  
situadas em fronteiras. As línguas interagem também por meio de viajantes, da ciência e  
tecnologia, das relações industriais e comerciais internacionais, dos intercâmbios de  
estudos científicos, dos meios de comunicação, da globalização etc. Esse contato  
linguístico pode promover a produção e o aumento das palavras/sinais que se tornarão  
empréstimos podendo provocar alterações fonológicas, morfológicas e ortográficas nas  
línguas de chegada (MACHADO; QUADROS, 2020, p. 171).  
Estudos sobre contato linguístico tratam, em sua maioria, de discussões teóricas que  
abordam contato linguístico entre línguas faladas em diferentes contextos interativos. Os autores  
afirmam que podem ocorrer variadas formas de contatos, provocando então diferentes  
resultados, podendo ou não desencadear novos produtos provenientes do contato, como o  
processo de bilinguismo, dialetos, empréstimo linguístico, code-switching, pidgins, entre outros.  
No entanto, abordar a relação língua e sociedade, vai além da descoberta das variações  
linguísticas no campo da gramática, possibilitando investigar também as variabilidades linguísticas  
entre culturas e as variabilidades individuais dentro de um mesmo grupo social, indo em direção  
mais aprofundada nos produtos derivados dos contatos entre culturas distintas, entre indivíduos  
interculturais e suas atitudes, comportamentos e sentimento de pertencimentos diante da  
imersão num contexto em que diferentes línguas são usadas para o processo de comunicação  
interação. Segundo Weinreich (1953),  
[
...] duas ou mais línguas serão consideradas em contato se forem usadas alternadamente  
pelas mesmas pessoas. Os indivíduos que usam a linguagem são, portanto, o locus do  
contato. A prática do uso alternado de dois idiomas será chamada de BILINGUALISMO, e  
as pessoas envolvidas, BILÍNGUES. Aqueles casos de desvio das normas de qualquer  
idioma que ocorrem na fala de bilíngues são resultado de sua familiaridade com mais de  
um idioma, ou seja, como resultado do contato linguístico, serão referidos como  
fenômenos de INTERFERÊNCIA. São esses fenômenos da fala e seu impacto nas normas  
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de qualquer uma das línguas expostas ao contato que convidam o interesse do linguista  
3
(
WEINREICH, 1953, p. 1, tradução nossa) .  
O bilinguismo, inclusive, é uma das propostas que ainda prevalece no processo de ensino dos  
surdos nas escolas, e, a cada dia ganha mais força, por intermédio da lei para sua inserção como  
proposta no ensino regular, bem como criação de escolas bilíngues Libras-Língua Portuguesa. Essa  
proposta não é recente, e tem um histórico de lutas para melhoria na inclusão dos surdos no  
contexto escolar, e a partir desse ponto, o bilinguismo vem sendo ampliado para todos os setores  
sociais. Dessa forma, torna-se uma necessidade ser bilíngue para melhor se situar no “mercado  
linguístico”.  
Quadros (2017) relata que quando há o contato dos surdos de forma intensa com a língua de  
herança no contexto familiar e na comunidade em geral, diz-se que o herdeiro é “supostamente  
bilíngue”, por estar em contato com duas línguas nativas, podendo ele não ter fluência, ou ser  
“mais ou menos fluentes em uma e outra língua (desbalanceados)”. (p. 1).  
Em se tratando dos surdos brasileiros, o debate sobre o bilinguismo ganhou fôlego com uma  
das propostas para educação de surdos, pois, antes de 2002, não havia um consenso sobre as  
propostas de ensino no contexto escolar. A abordagem do bilinguismo dos povos surdos  
concentra-se na educação e no reconhecimento das línguas de sinais e da Língua Portuguesa  
4
dentro do contexto escolar, ou seja, os alunos são “inseridos” na sala de aula com alunos  
ouvintes, professores ouvintes e intérprete de Libras. Consequentemente, o aluno está tendo  
acesso a duas línguas, a Língua Portuguesa e a Libras. Nota-se, em muitos casos, apenas o  
profissional intérprete sabe a Libras, portanto o ambiente bilíngue é restrito e não envolve  
abordagem bilíngue dentro de todo o contexto escolar como um todo.  
Quanto a interferência dita por Weinreich, o autor ainda explicita,  
3
two or more languages will be said to be in contact if they are used alternately by the same persons. The language-  
using individuals are thus the locus of the contact. The pratice of alternately using two languages will be called  
BILINGUALISM, and the persons involved, BILINGUAL. Those instances of deviation from the norms of either  
language which occur in the speech of bilinguals are a result f their familiarity with more than one language, i.e as a  
result f language contact, will be referred to as INTERFERENCE phenomena. It is these phenomena of speech and  
their impact on the norms of either language exposed to contact that invite the interest of the linguistic. (WEINRICH,  
1
953, p. 1).5  
4
Até meados de 1999, os surdos eram inseridos ou integrados em contextos escolares onde não havia acesso integral  
às suas necessidades. Após lutas dos povos surdos, o temo melhor usado foi a “inclusão” que perdura até os dias  
atuais, com conceito de que essa inclusão aborda todas as possibilidades de acesso e atendimentos às especificidades  
dos surdos.  
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O termo interferência implica o rearranjo de padrões que resultam da introdução de  
elementos estrangeiros nos domínios mais altamente estruturados da linguagem, como a  
maior parte do sistema fonêmico, grande parte da morfologia e sintaxe e algumas áreas  
5
do vocabulário (parentesco, cor, clima, etc.). (WEINREICH, 1953, p. 1) .  
O contato e a interação sociolinguística não estão atrelados apenas à língua, assim reações  
entre os indivíduos, sejam positivas ou negativas, dependendo do comportamento, da cultura,  
bem como o contexto interativo, devem ser consideradas. A posição individual e coletiva também  
é relevante, porque, como se trata de povos minoritários, tratá-los sem distinção quantitativa  
eleva a compreensão de que todos são iguais perante os direitos e deveres sociais. Ações de  
inclusão devem atingir também indivíduos surdos que residem em cidades distantes dos grandes  
centros urbanos, mesmo que em menor número deve ser visto no mesmo patamar onde se diz  
cultura majoritária.  
Lucas et. al., (2002), em seu trabalho sobre as línguas de sinais, relata que,  
Em situações de contato prolongado, uma língua costuma exercer alguma influência sobre  
a outra. Quanto mais apoio houver para uma variável demográfica, sociopsicológica ou  
psicológica, mais provável é que um grupo permanece uma entidade com sua língua,  
6
cultura e identidade intacta (LUCAS at. al., 2002, p. 157, tradução nossa) .  
Os surdos e suas heterogeneidades sociolinguísticas atualmente têm ocupado seu espaço  
na sociedade, nas múltiplas esferas sociais, no contexto familiar e econômico, porque tem  
conquistado reconhecimento de seus direitos linguísticos. Sua mobilidade não está relacionada  
apenas a contextos culturais, como associações, grêmios, e locais específicos de contato para  
interagirem. Pelo contrário, estão onde qualquer outro indivíduo possa estar.  
Bourdieu apud Rubio e Souza também dá evidências de que o social caminha a passos  
lentos à frente do movimento surdo, ao mencionar que,  
A situação de igualdade com as crianças ouvintes e falantes de português, [...], irá  
depender de uma série de fatores, dentre eles da aceitação da surdez, do acesso da criança  
à linguagem empregada no contexto familiar (nem sempre, os pais têm o domínio de uma  
língua de sinais) e da avaliação que a criança e os adultos fazem da língua de sinais e da  
língua oral presente no ambiente, ou seja, dos valores que as línguas em contato  
apresentam no “mercado linguístico” (BOURDIEU, 1977 apud RUBIO e SOUZA, 2021, np.).  
5
The term interference implies the rearrangement of patterns that result from the introduction of foreign elements  
into the more highly structured domains of language, such as the bulk of the phonemic system, a large part f the  
morphology and syntax, and some áreas of the vocabulary (kinship, color, weather, etc.). (WEINRICH, 1953, p. 1).  
6
In situations of prolonged contact one language usually exerts some influence on the other. The more support there  
is for a demographic, sociopsychological, or psychological variable, the more likely it is that a group will remain an  
entity with its language, culture, and identity intact. (LUCAS at. al., 2002, p. 157).  
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As proposições citadas acima se devem às morosidades na difusão da língua dos povos  
surdos e sua cultura, visão estereotipada e estigmatização da língua, que infelizmente atrelam-se  
também à pessoa surda, isto porque, nem todos os surdos não exercem o papel de ativista, mas  
há de se considerar que, os surdos que vivem em regiões distantes dos grandes centros urbanos  
carecem de informações que possam contribuir para o desenvolvimento de sua pessoa e  
manterem-se atualizados, e é por isso que eles de certa forma são dependentes dos ouvintes, e  
são através destes e mídias sociais que recebem informações. No contexto escolar como  
mencionam os autores, a desigualdade entre pais e filhos ocorre por desconhecerem a Libras, fato  
marcante em regiões onde o acesso à informação das particularidades quanto à pessoa surda, e  
suas normalidades e independências. Devido à escassez de informações, os pais se preocupam em  
curar a surdez, recorrendo aos aparelhos auditivos, e aos implantes cocleares. Foi para esta  
finalidade que a lei 10.436 de 24 de abril de 2002, em seu artigo 2º, garante a difusão da Libras,  
assegurando adquirir o conhecimento da Libras pela sociedade em todas as regiões do país, no  
artigo 2º diz,  
Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas  
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão  
da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização  
corrente das comunidades surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).  
Os dispositivos legais ora existentes no Brasil são majoritariamente de origem Federal que  
passam a ser validado em todo território nacional. Este caminho chegar a cidades de baixa  
demografia é uma situação que requer atenção, pois nos pequenos municípios há risco de a  
hierarquia política não atender a regulamentação Federal, pois nessas cidades não a demanda de  
profissionais capacitados, como então não há políticas engajado na luta pelos direitos linguísticos  
dos surdos, e levam como justificativa a falta de acesso aos surdos, bem como pequeno número  
de indivíduos residentes no município. No entanto, resta ficar a cargo das famílias e pessoas que  
se simpatizam com situações frágeis das pessoas suas, para construção de políticas linguísticas  
regionais.  
3. Procedimentos Metodológicos  
A pesquisa aqui realizada se ajusta com a abordagem qualitativa e quantitativa. Por  
meio da pesquisa descritiva foi realizada uma variedade de procedimentos metodológicos,  
incluindo levantamentos, observações e análises de dados secundários, com objetivo de  
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descrever com precisão e objetividade as características do perfil sociolinguístico dos surdos  
em regiões de baixa demografia distantes dos grandes centros urbanos no Estado do  
Tocantins, bem como dos fenômenos resultantes da interação e contato entre suas línguas e  
a língua portuguesa em diferentes contextos interativos, em sua quantidade, distribuição e  
frequência. Oportunizando oferecer suporte para a tomada de decisões nas futuras pesquisas  
que abordam a temática dos povos surdos.  
A pesquisa descritiva, segundo Gil (1999 p. 45) “têm por objetivo primordial a descrição das  
características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre  
variáveis”. A variáveis deste trabalho são as relações que ocorrem nos ambientes onde se fazem  
jus ao uso da Libras.  
A descrição do perfil dos surdos se circunscreve em descrever de forma holística as  
características do perfil sociolinguístico dos surdos que fazem o uso da Libras, português e de  
outras formas de comunicação, e conforme Triviños (1987, p.110), o foco essencial do estudo  
descritivo  
reside no desejo de conhecer a comunidade, seus traços característicos, suas gentes, seus  
problemas, suas escolas, seus professores, sua educação, sua preparação para o trabalho,  
seus valores, os problemas de analfabetismo, a desnutrição, as reformas curriculares, os  
métodos de ensino, o mercado ocupacional, os problemas do adolescente, etc.  
Dessa forma, a pesquisa qualitativa, bem como a metodologia abordada, se preocupou  
com a veracidade e a validade dos dados coletados. Assim, ao fazer a triangulação no uso de  
diferentes fontes e métodos de coleta de dados, possibilitou ter uma visão holística dos  
contextos, cenários e ambientes que cercam os surdos e fenômenos ações que ocorrem  
nesses espaços. O método de coleta face a face possibilitou garantir a credibilidade, assim  
como a qualidade significativa no contato com participantes surdos e dos dados coletados.  
Minayo pontua que,  
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas  
ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela  
trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes,  
o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos  
fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (2001, p.21).  
Na análise quantitativa, pretendeu-se mostrar números que quantificam em relações à  
língua em uso dos municípios investigados, sendo o quantitativo de surdos que sabem ou não a  
Libras, a língua portuguesa, frequência em que costumam socializar com surdos/ouvintes,  
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frequência de contato com surdos/ouvinte, bem como outras formas de comunicação no  
contexto familiar e social, explicitado pelos participantes no âmbito da investigação em campo.  
A proposta de avaliar um número significativo, no mínimo 30 participantes surdos, é  
justificada pela quantidade que possibilita uma margem para apresentar também a análise  
quantitativa, com objetivo de revelar o quantitativo de surdos que fazem o uso comum de uma  
determinada língua(gem), recursos extralinguísticos, dentre os outras situações que se fazem  
jus a responder as questões propostas neste trabalho, como taxa de recorrência, fenômenos  
padronizados e possibilidade de prever acontecimentos futuros.  
No levantamento de participantes surdos, foram feitas buscas com objetivo de localizar  
e identificar os surdos que residem nos pequenos municípios distantes num raio de até 300km  
da capital Palmas no Estado do Tocantins. Dentro deste raio, foram selecionados apenas  
surdos que tenham qualquer grau de perda auditiva.  
A investigação para levantar os participantes surdos ocorreu da seguinte forma;  
contato com seções do ensino especial da Secretaria Estadual e Municipal de Educação, por  
meio de ofício e contato telefônico; por meio de informações através das coordenadorias da  
Educação Especial das Diretorias Regionais de Ensino; indicações do informante da pesquisa;  
indicações dos surdos já conhecidos pelo pesquisador e indicações dos surdos conhecidos  
pelos participantes que foram entrevistados.  
Disposto dos dados do levantamento dos participantes dos pequenos municípios, foi  
organizada a rota de visita para aplicação do questionário de entrevista. No município onde  
reside o pesquisador, as entrevistas foram realizadas no formato presencial, nos demais  
municípios foram feitas via whatsapp, devido à distância e recursos para custeio no  
deslocamento do pesquisador.  
Ao entrar em contato com os participantes foi definido o local do encontro, bem como  
do horário para acesso ao aplicativo whatsapp, conforme decisão dos entrevistados. No início,  
antes da entrevista, foi explicitado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE7.  
Neste primeiro momento percebeu-se que a diversidade de comunicação dos participantes  
surdos foi bastante variada de um indivíduo para o outro, ou seja, uns disseram não falar em  
Libras, outros sim, uns comunicavam apenas por sinais caseiros, outros fazem o uso da Libras,  
7
TCLE foi aprovado pelo comitê de Ética em janeiro/2023.  
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recursos extralinguísticos e leitura labial simultaneamente, logo, a explicação do termo e a  
aplicação da entrevista ocorreu de forma que foi utilizado recursos comunicativos que atendem à  
necessidade específica dos participantes, seja Libras, gestos, expressão facial e corporal, sinais  
caseiros, sinais icônicos,8.  
Na elaboração do questionário da entrevista, traçou-se um roteiro semiestruturado de  
forma que abordasse perguntas que pudessem responder ao problema desta pesquisa. Ao  
aplicar a entrevista não se ateu apenas às respostas fechadas do questionário, ademais, foi  
permitido que os surdos discursassem por livre e espontânea vontade, o que eles  
considerassem necessários expor suas condições sociolinguísticas em seus contextos de  
convivência, assim expandiu-se possibilidades de percepção quanto ao perfil sociolinguístico  
dos entrevistados de acordo com seus discursos e exposições de suas ideias.  
O questionário da pesquisa adotado foi conforme modelo survey. Este modelo segundo  
Paiva (2019, p. 50), “é um tipo de pesquisa descritiva bastante comum nos estudos sociais e  
educacionais”, e ainda conforme Brown e Rodgers (2002, p. 142), refere-se ao método survey  
como “quaisquer procedimentos usados para coletar e descrever as características, atitudes,  
visões, opiniões, e assim por diante, de estudantes, professores, administradores e qualquer outra  
9
pessoa que seja importante para o estudo” (BROWN; RODGERS, 2002, p. 142, tradução nossa ).  
Grifee (2012) define questionário como “os questionários como instrumentos de coleta de dados  
são instrumentos populares de pesquisa em muitos campos, incluindo comunicação, educação,  
10  
psicologia e sociologia” (p. 135, tradução nossa ).  
Foram entrevistados 11 surdos no formato presencial e 19 via whatsapp. No caso dos surdos  
que dominavam Libras, a explicitação do termo de consentimento e a decorrência da entrevista  
aconteceram em Libras. Alguns responderam que falam Libras mais ou menos. Assim a entrevista  
foi aplicada de forma que possibilitou alternar a fala entre Libras, gestos, mímica expressão facial  
e corporal, e leitura labial.  
A entrevista feita por meio do aplicativo whatsapp foi gravada em vídeo, e a entrevista que  
ocorreram de modo presencia; as respostas foram anotadas de imediato em diário de campo para  
8
Destaque-se, neste momento, que o pesquisador proponente da pesquisa é surdo, pertencente à comunidade de  
surdos do Estado do Tocantins.  
9
any procedures used to collect and describe the characteristics, attitudes, views, opinions, and so on, of students,  
faculty, administrators, and anyone else who is important to the study. (Brown and Rodgers, 2002).  
1
0
“questionnaires as data-gathering instruments are popular research instruments in many fields including  
communication, education, psychology, and sociology” . (GRIFEE, 2012, p. 135)  
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evitar desencontros entre as respostas dos entrevistados e o risco de esvair da memória do  
pesquisador.  
O ponto inicial da entrevista sucedeu caráter informal, como saudações introdutórias  
(
olá, bom dia, como vai, prazer conhecer você, qual nome da sua cidade etc.). O papel do  
informante nas entrevistas presenciais foi abrandar o ambiente para que o entrevistado se  
sentisse à vontade com seus pares surdos, possibilitando assim melhores consistências de  
dados e variabilidade nas respostas das perguntas situadas nos discursos dos entrevistados.  
As questões do formulário do apêndice I, abordaram questões focadas no participante  
surdo, com objetivo de conhecer sua concepção, o uso da língua(gem) para comunicação e  
interação com demais indivíduos sejam surdos ou ouvintes.  
A primeira questão: Você fala Libras ou português, ou, como? Ou se comunica de outra  
forma? Como? Dará início a conversa, pois é possível que nem todos os participantes comunicam-  
se na mesma língua, ou melhor, dizer que eles se comunicam de acordo com suas particularidades  
e vivência num contexto sociolinguístico diversificado.  
Dentre diversas formas de comunicação da comunidade surdas, alguns surdos disseram  
não falar em Libras, tão logo a entrevista procedeu por meio de gestos, mímica e expressão  
corporal e facial, considerando também os aspectos icônicos. No caso dos surdos que souberam  
Libras, a entrevista aconteceu em Libras. Alguns responderam que falam em Libras mais ou  
menos, assim a entrevista foi aplicada de forma que possa alternar a fala entre Libras, gestos,  
mímica expressão facial e corporal.  
Em posse desses dados, organizado dos dados seguiu-se para leitura aprofundada  
procedendo-se às análises dos dados coletados.  
Para o desenvolvimento das análises de dados buscou-se suporte de teorias que  
abordassem temáticas e autores dedicados à sociolinguística de surdos, bem como teorias  
sociolinguísticas das línguas oralizadas de forma que puderam ser adaptadas às teorias da  
sociolinguística dos surdos e das línguas de sinais.  
Em posse dos dados qualitativos e quantitativos procedeu-se as análises com base nos  
documentos e discursos que foram além das respostas abarcadas no formulário da entrevista.  
Ou seja, nas respostas em que os surdos discorreram/complementaram ao relatar sua  
trajetória na aquisição, na comunicação, na aprendizagem, no contato de línguas, contato com  
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surdo-surdo e surdo-ouvintes, bem como suas relações/interações sociolinguísticas em  
diferentes contextos linguísticos. Nesta análise foram descritas também o sentimento de ser  
surdo e quanto a oportunidade de ter a Libras, gestos e mímicas de acordo com sua aceitação  
e bem-estar no dia a dia.  
Enfim, discorreu-se as considerações finais com apontamentos às contribuições que  
esta pesquisa nos trouxe, ponto de vista do pesquisador, bem como apontamentos de novos  
horizontes teóricos, práticos e metodológicos, assim como políticas linguistas que asseguram  
a valorização da Libras e dos direitos dos povos surdos.  
4
. Resultados  
A pesquisa mostrou e confirmou de acordo com os pressupostos teóricos que a língua é  
inseparável do social e ambos se complementam, portanto nem a língua nem o social sobrevivem  
sem o outro.  
As das hipóteses elencadas e foram baseadas em conhecimentos empíricos, no linguajar  
social, porque elas levantavam suspeitas quanto à língua usada nos diversos contextos interativos  
dos surdos, uma vez que muitas pessoas não se comunicam e nem se intercomunicam por receio  
de não saberem a língua diferente das faladas pelos surdos.  
A hipótese: É possível haver comunicação e compreensão entre os indivíduos surdos-  
surdos e surdos-ouvintes, embora estes não possuam fluência em uma língua sistematizada como  
a Libras.  
Os resultados mostraram que sim, apesar de contextos múltiplos e diversos, houve  
possibilidades de comunicação e compreensão entre os falantes envolvidos nos ambientes em  
que há múltiplas línguas em uso, sendo a Libras, língua portuguesa, gestos, mímicas, sinais  
icônicos, enfim recursos extralinguísticos.  
Em contexto sociolinguístico familiar os dados revelaram que os pais de todos os  
participantes não se comunicam em Libras. No contexto social seus amigos ouvintes também não  
se comunicação através da Libras, e os que falam são poucos, porém, não têm contato com  
frequência. Nos contextos em que interagem com seus pares surdos alguns não sabem Libras,  
outros sim.  
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Assim, os resultados apresentaram uma ampla diversidade de contextos interativos em  
que os surdos transitam. Portanto, que resultados fiéis de como é de fato a comunicação nesses  
múltiplos contextos interativos?  
Os resultados apontaram que, em contextos familiares, os surdos comunicavam através de  
gestos, mímicas, fazendo-se leitura labial e da iconicidade. Os resultados da análise qualitativa  
revelaram que ao fazerem o uso da leitura labial nem sempre consegue entender o contexto  
comunicativo, mas conseguem compreender bem quando o contexto da conversa é curto, ou  
seja, sentenças curtas, caso contrário, não conseguem compreender através da leitura labial, pois,  
consideram essa aptidão razoavelmente eficaz.  
Os surdos que sabem Libras, em contextos interativos com amigos ouvintes se  
comunicavam em Libras, caso contrário, recorriam-se aos gestos, leitura labial, mímicas,  
expressões e recursos extralinguísticos.  
Nos contextos de amigos surdos, tanto aqueles que sabem ou não a Libras, a comunicação  
flui de forma harmoniosa, se o surdo souber Libras, a comunicação acontece em Libras, caso  
contrário, recorrem-se aos gestos e sinais icônicos. Neste caso há particularidades a se considerar,  
ao serem indagados o porquê a comunicação flui harmonicamente bem com seus pares surdos  
que não sabem Libras, o resultado geral foi que todos eles na fase infantil começaram a se  
comunicar através de gestos, mímicas, sinais icônicos e leitura labial por serem filhos de pais  
ouvintes que não sabem Libras, e que esta fase da vida foi a fase linguística comum para todos os  
participantes da pesquisa.  
A comunicação que em se fazem o uso da leitura labial é expressa pela fala em língua  
portuguesa pelos ouvintes de forma que o surdo através da visão capta os movimentos labiais  
para compreender o enunciado. Contudo, os resultados quanto ao uso, contato e interação nos  
contextos sociolinguísticos em que se fazem o uso da língua portuguesa apontou que o uso da  
leitura labial não é escolha dos surdos, mas uma maneira a qual eles recorrem para terem acesso  
mínimo no contato e nas interações com pessoas que não sabem expressar por outros meios  
linguísticos. Dada essa situação, todos participantes demonstraram desconfortos, e que essa  
forma de comunicação é em último caso.  
Apesar de haver, na atualidade, ensino de Libras na escola, com o português como segunda  
língua, nem sempre os surdos do interior têm/tiveram acesso pleno a essas línguas.  
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O resultado para esta hipótese no quesito da língua portuguesa escrita, apenas 5 disseram  
escrever mais ou menos e complementaram que conseguem escrever apenas sentenças curtas,  
não conseguindo descrever textos longos. Quanto a aprendizagem da Libras na escola, o  
resultado mostra que não tiveram acesso a Libras para ocasiões comunicativas extensa e  
complexas, deixando claro que nos ensinamentos na escola ainda prevalece o uso da língua  
majoritária.  
Quanto à comunicação via recursos tecnológicos, redes sociais, o resultado aponta que as  
trocas de mensagens também eram apenas palavras curtas e de uso cotidiano, como  
cumprimentos e saudações, por outro lado, a comunicação síncrona acontecia por meio de  
videochamada exclusivamente com surdos e com quem sabe expressar na língua de sinais, mesmo  
que não seja estruturada.  
Na hipótese em que se diz que os surdos de regiões interioranas fora dos grandes centros  
urbanos, apresentam características diferentes em relação à comunicação no dia a dia dos surdos  
residentes em regiões metropolitanas. Pode se referenciar esta hipótese aos pressupostos  
culturais dos surdos que moram distantes das grandes metrópoles urbanas.  
Os resultados revelaram que os surdos residentes em regiões remotas demostraram um  
comportamento razoavelmente dependentes, sejam de seus pais, sejam das pessoas ouvintes por  
imaginarem que os ouvintes têm mais conhecimentos de temas abordados e estarem mais  
familiarizados com atualidades, do mesmo modo sentem diferentes de seus pares surdos que  
moram nas grandes metrópoles, por estes terem mais acessibilidades a empregos, cultura,  
socializações e informações. Dos participantes da pesquisa 70% demonstraram interesse em  
mudar para cidade grande, na esperança de melhorar a qualidade de vida e ter acesso às suas  
necessidades e aperfeiçoamento da língua brasileira de sinais.  
Em síntese, diante da diversidade dos resultados e em consonância com os diversos  
contextos, podemos concluir que os surdos têm perfis que variam de acordo com os contextos  
com os quais interagem, ou seja, se estão em contextos ouvintes que não sabem Libras,  
demostram terem um perfil que atenda minimamente sua inclusão nesse contexto, um perfil que  
eles usam diversos meios comunicativos. Esse perfil também é sintetizado em contextos  
familiares.  
Em contextos interativos nos quais os interlocutores surdos e ouvintes fazem o uso da  
Libras, os surdos demostraram um perfil comunicativo mais consistente, sentem-se orgulhosos e  
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inclusos, oportunizando-os fazer o uso de sua língua e compreender o contexto comunicativo  
naturalmente. Por outro lado, em contextos em que há surdos que sabem e não sabem a Libras,  
demostram um perfil acolhedor, em que retrocedem às aprendizagens linguísticas da infância,  
tempos em que comunicavam em gestos, mímicas, sinais icônicos e recursos extralinguísticos,  
pois os surdos que não sabem Libras ainda se comunicam dessa forma.  
Por fim, quanto ao perfil demostrado em contexto em que a língua portuguesa é mais  
usada, revelaram um tom desmotivador, dificuldade, obstáculos, pois nesta ocasião, não há  
compreensão integral e completa na comunicação, no entendimento dos discursos abordados  
nos contextos interativos.  
Diferente de falantes de outras línguas, os surdos fazem questão de se comunicarem com  
todos e com todas as línguas diferentes da sua, pois, eles se transformam em atores linguísticos,  
oras balbuciam, imitam, fazem mímicas, movem a face, o corpo, oras apenas expressam  
silenciosamente, beneficiando a si mesmo e ao outro, afirmando reciprocidade e desejo de  
inclusão e reforço nos laços interativos e culturais. Portando, essas infinitas possiblidades  
comunicativas deveriam ser vistas além das concepções surdas de forma que alcancem também  
a sociedade ouvinte.  
Considerações finais  
Os surdos residentes em cidades pequenas, distantes e de baixa demografia, possuem  
perfis diferentes. A pesquisa mostrou que eles reagem às inconstâncias dos contextos os quais  
têm contato e interagem, isto é, todos os participantes vivem em contextos sociolinguísticos em  
que a língua portuguesa é mais utilizada. Como não há grêmio, socialização entre seus pares, eles  
se esforçam na medida do possível para interagirem com falantes de outras línguas, e é por isso  
que eles “quase que forçosamente” fazem o uso de recursos não contemplados pelo sistema  
estruturado da língua, como sinais caseiros, por exemplo. Portanto, recursos extralinguísticos  
devem ser considerados como parte da língua de sinais de que por ora não são contemplados pelo  
sistema desta língua.  
As escolas, bem com a gestão pública, deveriam dar mais visibilidade à comunidade surda  
local, com desenvolvimento de ações inclusivas e criações de legislações específicas que possam  
atender as necessidades coletivas e individuais dos surdos. Passados 21 anos da criação da Lei da  
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Libras, os municípios investigados, ainda carecem na difusão da Libras nos contextos  
sociolinguísticos, como consequência, a falta de valorização da Libras, e perpetuando as pessoas  
surdas como um mero deficientes.  
Em suma, considera-se que, mesmo não havendo Libras nos contextos e ambientes de  
contatos e interações nos quais os surdos transitam, há um conformidade de entendimento de  
acordo com as línguas faladas, seja ela língua portuguesa, gestos, sinais caseiros e sinais icônicos,  
uma vez que estes recursos extralinguísticos são expressos concomitantemente com a leitura  
labial caracterizando os perfis dos participantes como plurilíngues, abarcando laços  
sociolinguísticos além do purismo e da polarização linguística.  
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