Fernando Cardoso dos SANTOS
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O termo interferência implica o rearranjo de padrões que resultam da introdução de
elementos estrangeiros nos domínios mais altamente estruturados da linguagem, como a
maior parte do sistema fonêmico, grande parte da morfologia e sintaxe e algumas áreas
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do vocabulário (parentesco, cor, clima, etc.). (WEINREICH, 1953, p. 1) .
O contato e a interação sociolinguística não estão atrelados apenas à língua, assim reações
entre os indivíduos, sejam positivas ou negativas, dependendo do comportamento, da cultura,
bem como o contexto interativo, devem ser consideradas. A posição individual e coletiva também
é relevante, porque, como se trata de povos minoritários, tratá-los sem distinção quantitativa
eleva a compreensão de que todos são iguais perante os direitos e deveres sociais. Ações de
inclusão devem atingir também indivíduos surdos que residem em cidades distantes dos grandes
centros urbanos, mesmo que em menor número deve ser visto no mesmo patamar onde se diz
cultura majoritária.
Lucas et. al., (2002), em seu trabalho sobre as línguas de sinais, relata que,
Em situações de contato prolongado, uma língua costuma exercer alguma influência sobre
a outra. Quanto mais apoio houver para uma variável demográfica, sociopsicológica ou
psicológica, mais provável é que um grupo permanece uma entidade com sua língua,
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cultura e identidade intacta (LUCAS at. al., 2002, p. 157, tradução nossa) .
Os surdos e suas heterogeneidades sociolinguísticas atualmente têm ocupado seu espaço
na sociedade, nas múltiplas esferas sociais, no contexto familiar e econômico, porque tem
conquistado reconhecimento de seus direitos linguísticos. Sua mobilidade não está relacionada
apenas a contextos culturais, como associações, grêmios, e locais específicos de contato para
interagirem. Pelo contrário, estão onde qualquer outro indivíduo possa estar.
Bourdieu apud Rubio e Souza também dá evidências de que o social caminha a passos
lentos à frente do movimento surdo, ao mencionar que,
A situação de igualdade com as crianças ouvintes e falantes de português, [...], irá
depender de uma série de fatores, dentre eles da aceitação da surdez, do acesso da criança
à linguagem empregada no contexto familiar (nem sempre, os pais têm o domínio de uma
língua de sinais) e da avaliação que a criança e os adultos fazem da língua de sinais e da
língua oral presente no ambiente, ou seja, dos valores que as línguas em contato
apresentam no “mercado linguístico” (BOURDIEU, 1977 apud RUBIO e SOUZA, 2021, np.).
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The term interference implies the rearrangement of patterns that result from the introduction of foreign elements
into the more highly structured domains of language, such as the bulk of the phonemic system, a large part f the
morphology and syntax, and some áreas of the vocabulary (kinship, color, weather, etc.). (WEINRICH, 1953, p. 1).
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In situations of prolonged contact one language usually exerts some influence on the other. The more support there
is for a demographic, sociopsychological, or psychological variable, the more likely it is that a group will remain an
entity with its language, culture, and identity intact. (LUCAS at. al., 2002, p. 157).
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São Paulo (SP), v. 44 n.1, jan./jul. 2023
ISSN 2318-7115