Jéssica do Nascimento RODRIGUES; Marcela Tavares de MELLO
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“com a maior dificuldade a gente vai conseguindo ir aprendendo a desenvolver esses textos,
porque nada melhor do que a prática, mas a prática precisa ser corrigida para a gente ver onde
que a gente está errando”. Práticas escriturais embasadas em modelos da internet e em
experiências compartilhadas por colegas de curso, sem orientação, como apenas um requisito
para o cumprimento de uma disciplina ou do curso, não excluem a responsabilidade do professor
de um trabalho mais acurado e de qualidade com o texto acadêmico, lembrando que “o mero
conhecimento da ossatura não leva a redação do texto em si” (GERALDI, 2010, p. 98).
A afirmação enunciada pela aluna “a gente vai conseguindo ir aprendendo a desenvolver
esses textos” corrobora Fiad (2016), quando afirma que, de uma forma ou outra, os estudantes
vão se acomodando às práticas típicas da esfera discursiva acadêmica. Todavia, é preciso pontuar
que há uma distância entre “se acomodar” a uma prática e, de fato, apropriar-se de forma
significativa desta com intuito de utilizá-la para satisfazer as necessidades linguageiras, ou seja,
alcançar o propósito comunicativo pretendido de forma intencional e adequada. Ainda que não
exista um declínio no processo letramento, quando gêneros discursivos são analisados, torna-se
possível compreender a natureza situada, institucionalizada e ideológica das práticas de
letramento, bem como é facilitada a identificação dos critérios definidores dos gêneros, tais como
função, forma e situacionalidade.
Nesse ponto, outro aspecto merece destaque, trata-se da constatação, por parte das
estudantes, da ausência do retorno (correção, avaliação) dos textos produzidos. Tal inação é
apontada no discurso enunciado por uma das estudantes, em tonalidades dialógicas que
expressavam descontentamento, e vai de encontro a uma concepção de escrita compreendida
como processo. Sob o prisma das atividades de feedback, é preciso recuperar a assertiva de
Mendonça e Johnson (1994), que afirmam que
[
...] a interação entre pares que é proporcionada pelas atividades de feedback
permite que os alunos, ao se engajarem em uma conversa exploratória, construam
o significado dentro do contexto da interação social enquanto testam e trabalham
novas idéias, conjugando, assim, os aspectos cognitivos e sociais da linguagem
(
MENDONÇA; JOHNSON, 1994 apud SOARES, 2008, p. 83).
Considera-se que dar um retorno acerca das questões textuais influencia no
desenvolvimento da consciência linguística, visto que o estudante consegue visualizar as questões
apontadas no retorno, bem como compreender a escrita como um processo, que envolve leitura,
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São Paulo (SP), v. 44 n.2, ago./dez. 2023
ISSN 2318-7115