A geneticização da percepção do quotidiano: reflexões desde uma sociologia da ‘ficção científica’
Resumo
Neste artigo, pretende-se questionar a crescente utilização do conhecimento genético na construção da realidade. Seguramente, a expansão da genética vem apurando o conhecimento quanto aos processos dos estados de saúde e do adoecimento, incidindo numa possibilidade (todavia discursiva) de melhoria na qualidade de vida e manutenção da saúde humana. Por outro lado, questões ligadas ao desenvolvimento da genética encontram-se no limiar de situações históricas onde os empregos de questões biológicas/raciais surtiram efeitos devastadores nas sociedades ocidentais. Desde o chamado ‘racismo científico’ à emergência da eugenia, o caráter biológico/genético ficou à mercê da política e da economia. Há questões éticas que remetem a uma discussão epistemológica de como o conhecimento científico idóneo foi (e poderá voltar a ser) utilizado pelas forças imprevisíveis que compõem a história. Se a investigação científica na área da genética trabalha com perguntas e finalidades claras inerentes à condição humana, o ponto central aqui será a reflexão sobre fenómenos já presentes em nossa sociedade que indicam incertezas para o nosso futuro. A ficção científica servirá de pano de fundo a uma meditação mais ampla sobre a genética enquanto um conjunto de práticas e de discursos, tendo como destaque os riscos sociais e políticos da sua disseminação desregrada.
Palavras-chave: Genética; Epistemologia; Produção da realidade; Crítica à Ciência; Ficção Científica.
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Cedo à revista Paralaxe os direitos autorais de publicação de meu artigo e consultarei o editor científico da revista caso queira republicá-lo depois em livro.