O Animal que nos olha

Notas sobre o diálogo de Bresson e Skolimowski

Resumo

O artigo aproxima duas produções cinematográficas, Au hasard Balthazar (1966), de Robert Bresson, e EO (2022), de Jerzy Skolimowski, a partir da possível influência que a primeira obra contém na segunda. Ambos os filmes cruzam-se devido à proposta de centralizar um animal, precisamente um burro, como protagonista das narrativas, que recebem a capacidade de enfrentar tanto a fábula em si quanto os espectadores. O contato entre animal e audiência, intermediado pelas propostas de ambos os diretores, abre espaço para debates filosóficos de Berger (1980) e Derrida (2002), nos quais a definição do que é o indivíduo moderno é suscitada a partir do olhar de um outro, uma alteridade limite: o animal. Além disso, será estudado como os filmes contribuem para o tensionamento entre a linha que separa a natureza humana do mundo animalizado, assim como a capacidade da experiência estética do cinema de borrá-la.