Entre José e Moisés: Deus visita seu Povo  
Between Joseph and Moses: God Visits His People  

Jackson Câmara Silva
*Mestre em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) 

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Resumo:

Deus sempre quis permanecer com sua criação. Mesmo que o ser humano se distancie do Criador e, muitas vezes, se depare com a aflição e o sofrimento, Deus o visita, intervindo com sua ação misericordiosa e salvífica. Este trabalho aborda a temática da visita de Deus ao seu povo perpassando a história de José do Egito e de Moisés. Inicialmente, será situada a história de José, apresentando sua origem, sua coesão, sua provável datação e a maneira como foi inserida no livro do Gênesis e, posteriormente, se dispôs no conjunto do Pentateuco. Entre a fronteira da história dos patriarcas e o Êxodo, serão analisadas paralelamente as ações, os ambientes e os personagens dessas duas histórias, destacando a palavra “visitar”, que aparece de forma semelhante em Gn 50,24-25 e Ex 3,16, apontando para uma conexão entre elas. Por fim, será analisada a visita de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré, destacando-se traços de José e Moisés, a ocorrência do verbo episképtomai no NT e uma hermenêutica do tema, na linha do papa Francisco, a fim de encontrar pistas para a caminhada cristã hoje.  

Palavras chave: DEUS. VISITA. JOSÉ. MOISÉS.  

Abstract

God always wanted to stay with his creation. Even if the human being distances himself from the Creator and often faces affliction and suffering, God visits him, intervening with his merciful and saving action. This work addresses the theme of God’s visit to his people, going through the history of Joseph of Egypt and Moses. Initially, the story of José will be located, presenting its origin, its cohesion, its probable dating and the way it was inserted in the book of Genesis and, later, it was arranged in the Pentateuch set. Between the frontier of the patriarchs’ story and the Exodus, the actions, environments and characters of these two stories will be analyzed in parallel, highlighting the word “visit”, which appears similarly in Gn 50,24-25 and Ex 3,16 , pointing to a connection between them. Finally, it will be analyzed the visit of God in the person of Jesus of Nazareth, highlighting traces of Joseph and Moses, the occurrence of the verb episképtomai in the NT and a hermeneutics of the theme, in line with Pope Francis in order to find clues for the Christian walking today. 

Keywords: DEUS. VISIT. JOSEPH. MOSES. 

Introdução 

O ser humano foi criado para viver em comunhão com Deus. Entretanto, diante de seu livre arbítrio, pode optar em afastar-se do Criador. Mesmo com a desobediência desde os primeiros pais, Deus, em seu amor e em sua misericórdia, não desampara a humanidade. Diante da fragilidade e do sofrimento, Ele ouve o clamor de seu povo e o visita intervindo com sua ação salvífica. 

O verbo visitar encontra seu correspondente hebraico pāqad. Esse ter-mo também apresenta outros significados no AT, como: a) checar presença de alguém ou de algo; b) reunir (um exército); c) computar, calcular, enumerar (Censo); d) tomar interesse sobre uma pessoa; e) condenar; f) Julgar de Deus (ANDRÉ, 2003, p. 51-60). Assim, pāqad significando “visitar” ocorre pela pri-meira vez em Gn 21,1, quando YHWH visitou Sara e realizou sua promessa. Da mesma forma aconteceu com Ana, mãe do profeta Samuel (1Sm 2,21). De fato, é devido à promessa feita aos patriarcas que YHWH não desampara seu povo. A “história de Jacó” (Gn 37,2), com o protagonismo da ação velada de Deus na vida de José, apresenta essa visita, provocando uma mudança radical em sua vida, em sua família e em todo o Egito.

Desse modo, em um primeiro momento, será situada a história de José, destacando sua origem, sua coesão e a maneira de como foi inserida no livro do Gênesis. Uma vez estando no conjunto do Pentateuco, sobretudo na fronteira entre a história dos patriarcas e o Êxodo, será verificado não só Gn 50,24-25 e Ex 3,16, que interliga essas duas histórias, mas os paralelos existentes entre elas. 

Por fim, será feita uma síntese teológica da visita de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré, destacando semelhanças com José e Moisés e a ocorrência no NT do verbo episképtomai, além de uma hermenêutica do tema, segundo o pensamento do papa Francisco a fim de dar luzes para a caminhada cristã hoje.

1. A História de José: entre os patriarcas e o Êxodo

Ao fazer uma retrospectiva da história de Israel, a Assembleia de Siquém, em Js 24,3-5, e o pequeno credo histórico de Dt 26,5 retratam a descida de Jacó e seus filhos ao Egito, que antecede o grande e fundante acontecimento para todo o povo de Israel: o êxodo.

Entretanto, mesmo presente nessas tradições mais antigas, não é citado o nome de José, nem sua história na descida ao Egito. Isso conclui que ela é pos-terior a essas tradições, ao ponto de Ex 1 ser seguido imediatamente por Gn 36, omitindo assim a história de José (TILLESSE, 1997, p. 152).

Para uma leitura global entre os patriarcas e o Êxodo, posteriormente deveria ter-se perguntado: como os israelitas desceram ao Egito para assim serem resgatados por Deus sob a liderança de Moisés? Dentre as finalidades teológicas da história de José, uma primeira seria inevitável: preencher o “vá-cuo” entre Gn 36 e Ex 1. Daí, ela responderia e ampliaria aquilo que já tinha sido conservado. Outras finalidades poderiam ser acrescidas. Tillesse (1997, p. 152-153) defende A legitimação da primogenitura de José diante das outras tribos, destacando a perda do direito de primogenitura de Rúben, justifica-da em Gn 35,22. Em algumas narrativas bíblicas essa supremacia da tribo de José aparece através dos nomes de seus dois filhos Efraim e Manassés, que se apresentarão como duas tribos dentre as outras (Gn 48,5; 49,16b; Sl 60,7; 108,9). Wénin, por sua vez, a reconstrução da fraternidade, sobretudo em terra estrangeira como outra importante finalidade do ciclo narrativo de José. O autor  analisa toda a narrativa de Gn 37 – 50 em sua obra intitulada José ou a invenção da fraternidade. Por fim, se vê que a história de José também mostra a ação velada de Deus em tempos de crise, que provê o necessário e se mantém fiel às promessas aos patriarcas.

Desse modo, em qual período então situar essa narrativa? Segundo Bonora (1987, p. 30), o personagem José, cuja história é situada na região de Siquém e Dotan (territórios ao Norte), provém do grupo de Maquir, que significa “ven-dido”, mercenário a serviço dos cananeus ou dos egípcios que foi integrado à tribo de Manassés (Jz 8,4-21), resultando então como seu primogênito. Por ou-tro lado, havia israelitas nas montanhas de Efraim e que, por volta de 1300 a.C, foram guiados por Moisés e adentraram Canaã sob a liderança de Josué. Daí o “surgimento” do outro filho, Efraim, colocado antes de Manassés (Gn 48,20). Entretanto, no tempo de Salomão, com o império mais consolidado incorpo-rando as tribos do Norte, a história de José se estruturou sendo coroada pelas adições de Gn 38 e 49 que destacam a proeminência de Judá e legitimam a realeza de Salomão. 

Por outro lado, em vista do desconhecimento da história de José nos “cre-dos históricos de Israel” (Js 24,3-5; Dt 26,5), além do destaque de José com sua beleza e sabedoria (como acontece com os personagens pós-exílicos Judite, Daniel, Ester), procura-se situar a história no período do pós-exílio, não muito tardia, em vista de sua anexação aos textos sulistas, ou seja, época persa, legi-timando sua inserção no Sl 105,16-23 (TILLESSE, 1997, p. 152-153). Da mesma forma defende Torquato (2014, p. 600), ancorado em (MÜLLER, 1992, p. 24) quando afirma que no contexto pós-exílico, José acaba sendo paradigma para os israelitas que devem reconhecer-se na figura do vendido e prisioneiro, mas não abandonado por Deus que os liberta (Zc 9,11).

Se a datação é controversa, a coesão, não. Mesmo que haja diferentes tra-dições na narrativa, ela apresenta um esquema narrativo lógico: situação inicial (Jacó, José e os irmãos); nó ou complicação (os irmãos com ciúme resolvem por José na cisterna; provação dos irmãos ao longo das idas e vindas ao Egito); ação transformadora (José administrador no Egito que se dá a conhecer a seus irmãos); desenlace/desfecho (José manda trazer seu pai) e situação final (frater-nidade restaurada)1.

Mas, a narrativa de José, mesmo coesa e apesar de acréscimos posteriores (Gn 38 e 49), foi simplesmente uma história para dar continuidade ou servir como “ponte” entre a história dos patriarcas e o Êxodo? Ou, servindo como “ponte”, haveria elementos paralelos que fazem conexão entre ambas ao ponto de sugerir uma “contaminação” entre a tradição de Moisés no Egito e a tradição de José como afirma Tillesse (1997, p. 151)?

Não só o paralelo do casamento de José com a filha do sacerdote On e de Moisés com a filha do sacerdote madianita, como acenava Tillesse, mas diver-sos paralelos confirmam sua hipótese além de encontrar nas palavras de José em Gn 50,24-25 o “coroamento” deste nexo entre a promessa aos patriarcas e o Êxodo.

Portanto, verificando que Gn 50,24-25 apresenta-se como uma prolepse2 do Êxodo, serão destacados os vários elementos presentes na narrativa de José retornando na tradição do Êxodo sob a ótica da visita de Deus em torno dos personagens José e Moisés. 

2. Entre José e Moisés: Deus vos visitará!

Dirigindo-se aos seus irmãos, José assegura que, mesmo após a sua morte, Deus os visitará e os levará de volta à terra que prometeu aos patriarcas (Gn 50,24). E no momento que Ele os visitar, seus ossos não deverão permanecer no Egito (Gn 50,25), em vista de que ele não deve ficar fora dessa promessa!

A raiz presente nos dois versículos traduzida por “visitar” aparece repetida na forma do imperfeito qal yipeqōd, antecedida pelo infinitivo absoluto pāqōd, que reforça e intensifica a ação verbal. A mesma raiz aparece pela primeira vez em Gn 21,1, também no contexto das promessas patriarcais, quando YHWH visitou Sara e as realizou. A forma traduzida em Gn 50,24.25 aponta para um futuro, o que confirma uma prolepse do Êxodo. A história de José, assim, não está fechada em si, mas irá apontar para o futuro de Israel. Até a frase proferida por José “Eu vou morrer” (heb. anōkî mēth), em Gn 50,24, sugere que na sua ausência, seus irmãos podem se sentir inseguros em vista de Deus já ter visitado e permanecido com José. Daí a forma intensa verbal para assegurar essa visita que, desde José, irá permanecer com os israelitas no Egito.

Os elementos que tocam a narrativa de José e o Êxodo serão apresenta-dos na perspectiva da visita de Deus, mesmo que às vezes não se siga a ordem cronológica dos fatos. Serão analisadas as ações dos personagens e das cenas destacando suas semelhanças e suas diferenças.

2.1. Da cisterna e das águas do Nilo à corte do Egito

A narrativa de José inicia com a “história de Jacó” apresentando seus filhos e suas esposas (Gn 37,2), como acontece também no início do Êxodo (Ex 1,1-7).

Com o ciúme dos irmãos em relação à predileção de Jacó a José, eles tra-mam o seu fim. Entre decidir matá-lo (Gn 37,20), Rúben, no entanto, na tenta-tiva de salvá-lo posteriormente, resolve, com os irmãos, jogá-lo numa cisterna vazia e sem água. O termo hebraico bôr (cova, cisterna, poço) aponta para “lu-gar de provação”, “sofrimento”, “prisão”, onde se experimenta ou se esconde de um grande perigo (1Sm 13,6), ao ponto de lugar de morte (Jr 41,7.9), sinôn-imo do Sheol (Is 14,15; 38,18). Também é local de castigo para os outros povos (Ez 26,20; 31,14; 32,18.23.24.29). Mas, quando alguém é lançado vivo, pode-se clamar ao Senhor (Lm 3,53.55; Sl 30,3.4) e ser liberto por Ele (Sl 40,2) (LEWIS, 1998, p. 145). Desse modo, os irmãos de José viram sua aflição e não o ouvi-ram, como relembrarão ulteriormente (Gn 42,21). Ao contrário, Deus o ouviu e o visitou. Através dos planos de Judá, os irmãos resolveram ouvi-lo (Gn 37,27) e retiraram José da cisterna para vendê-lo como escravo a mercadantes (Gn 37,28), fizendo-lhe chegar ao Egito (Gn 37,36).

O sofrimento da cisterna onde estava José evoca o sofrimento dos israelitas no Egito. José, oprimido pelos irmãos, tornou-se escravo e os israelitas oprim-idos pelos egípcios, também (Ex 1,8-22). Assim como José, pequeno, fraco e impotente, Moisés, que chorava, escapa da morte. É salvo, não da cisterna, mas agora das águas, também local de aflição, tormenta e provação (Ex 2,5-10).

José e Moisés chegam à corte do Egito. O primeiro foi comprado pelo eu-nuco do Faraó, Putifar (Gn 39,1). O segundo foi “retirado das águas” pela filha do Faraó, recebendo seu nome egípcio (Ex 2,5-10)3. Ambos prosperam. José as-sistido por YHWH teve muito êxito e tudo que empreendia fazia prosperar (Gn 39,2.3), ao ponto da bênção de YHWH atingir tudo (Gn 39,5). Se outrora não havia encontrado “graça” diante dos irmãos, agora a encontrava diante de Deus (Gn 39,4). Por outro lado, Moisés foi criado pela sua própria mãe e, quando cresceu, retornou às regalias do palácio faraônico (Ex 2,8-10).

Depois da bonança, experimentam mais uma provação! A mulher de Putifar procura seduzir José, mas este temente4 (heb. yārē’) a Deus a recusa. Acusado injustamente, fica na prisão (Gn 39,7-20). O relato apresenta o termo “prisão”, mas modifica para “cisterna” em Gn 40,15 e 41,14. Este termo aparece em 37,20 pela primeira vez encerrando nesta última ocorrência, formando uma moldura, ampliando a semântica do termo cisterna ao aproximar com prisão, conotando local de sofrimento (TORQUATO, 2014, p. 596, notas 10 e 13).

Moisés, já crescido, saiu para ver os seus irmãos, assim também como aconteceu a José quando saiu para ver seus irmãos e se deparou com sua pri-meira provação. Se o egípcio é morto e escondido na areia, José, ao contrário, é escondido na cisterna, mas Deus não permite que ele morra. Constata que as tarefas pesavam sobre eles, ao ponto de um deles ser ferido por um egípcio. Testemunhando isso, Moisés o mata e esconde na areia (Ex 2,11.12). No dia seguinte, indagando a dois hebreus, que brigavam sobre o porquê ferir o próximo, é interpelado pelo agressor: “Quem te constituiu nosso chefe e juiz?” (Ex 2,14). Não estaria aqui um prelúdio do que Moisés se tornaria? Não teria liga-ção com a história de José que se tornaria chefe no Egito? Moisés precisa então fugir porque o faraó procura matá-lo e assenta-se junto a um poço (heb. be’er) na terra de Madiã. O termo também significa abismo e local de destruição (Sl 55,23; 69,15) (LEWIS, 1998, p. 144). Mesmo que aqui não se aponte para isso, pois no poço há água (Ex 2,16-19), existe uma aproximação semântica e gráfica ao termo “cisterna” (heb. bôr) que remonta à cisterna e à prisão de José. Aqui ele é confundido com um egípcio e livra as setes filhas do sacerdote de Madiã da mão dos pastores tirando água (aquele que “é tirado das águas”) e dando de beber o rebanho (Ex 2,16-19). Moisés então se casa com Séfora, a filha do sa-cerdote de Madiã, que deu à luz um filho de nome hebraico Gersam, da raiz ger, que significa “estrangeiro residente” (Ex 2,21-22). José também é confundido com um egípcio pelos irmãos (Gn 42,8), que salva não somente eles, mas todo o Egito. Além disso, também se casa com uma filha de sacerdote (de On), Putifar, que gerou dois filhos de nomes também hebraicos: Manassés (“Ele (Deus) me fez esquecer”) e Efraim (“Ele (Deus) me tornou fecundo”) (Gn 41,50-52).

Na prisão, YHWH visitou José. Ele o assistiu estendendo sua bondade (heb. hésed) que o fez encontrar graça (heb. hēn) aos olhos do carcereiro-chefe (Gn 39,21). José torna-se liderança e tem o poder sobre os detidos (Gn 39,22) “por-que YHWH o assistia e fazia prosperar o que ele empreendia” (Gn 39,23b). Não só em tempos bons, mas no sofrimento, na prisão injusta, no clamor profundo e íntimo do justo inocente, José experimenta a ação de Deus. Não se procura Deus, mas Ele se manifesta invisivelmente na história em cada circunstância (BONORA, 1987, p. 59).

Os israelitas, também estão “numa prisão”, porém gemendo e gritando no “fundo da servidão”, ou seja, no fundo de seu sofrimento (Ex 2,23). Deus ouviu seu clamor e a aliança entre os patriarcas é lembrada (Ex 2,24). Se Ele visita e age veladamente na prisão e ao longo de toda história de José, no Êxodo, Ele se faz co-nhecer (Ex 2,25). Wénin (2005, p. 277) destaca três lugares para ação de Deus nes-ta narrativa: 1) Gn 38,6-10: Deus iniciando a transformação de Judá na história de Tamar; 2) Gn 39,2-5.21-23: Adonai ao lado de José na casa de Putifar e na prisão; 3) Gn 46,3-4; Gn 47,27: Deus confirmando projeto de vida de José. Desse modo, diferentemente da história de José que não há teofanias, o anjo do YHWH visita Moisés na sarça ardente e se manifesta como o Deus dos patriarcas (Ex 3,1-6). 

A ação velada de Deus vai prosseguindo na interpretação dos sonhos dada a José (Gn 40,8), que usufrui deste dom e ajuda o copeiro-mor e o padeiro do fa-raó. Àquele com resultado favorável, ou seja, que será restituído seu lugar junto ao faraó, José pede que o lembre quando suceder o bem, para que o copeiro--mor interceda junto ao faraó e o faça sair da prisão (Gn 40,14). Entretanto, ele não se lembrou de José imediatamente (Gn 41,23), mas os sonhos do faraó ao serem interpretados o impeliram para mandar chamar José e tirá-lo da prisão (Gn 41,8-14). A voz de José é ouvida pelo faraó (WÉNIN, 2005, p. 255). Outrora descido à cova e à prisão, José é salvo por Deus, mediante a interpretação dos sonhos que o faz apresentar-se com aspecto transformado (Gn 41,14). De fato, José enfatiza o protagonismo de Deus diante do faraó: Ele dá resposta favorável (Gn 41,16); anuncia e mostra o que vai realizar (Gn 41,25.28); porque o fato está decidido e Deus tem pressa de realizá-lo (Gn 41,32).

Portanto, através da sabedoria manifesta na vida de José, Deus o faz subir à corte do faraó, e mais uma vez transformado, restituído de dignidade e de poder, o faraó o faz subir sobre o melhor carro de guerra (Gn 41,40-43).

2.2. Entre Escondimento e Revelação: Deus visita e salva seu povo

Deus, ao ver a miséria do seu povo, ao ouvir o grito da opressão e ao conhe-cer suas angústias, desce para libertá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir à terra da promessa, onde corre leite e mel (Ex 3,7-8). Se Deus vai agindo na sucessão dos fatos de José, com Moisés, Ele, que se revelou na sarça ardente, dá uma ordem expressa: “Vai, pois, e eu te enviarei ao faraó, para fazer sair do Egito o meu povo, os israelitas” (Ex 3,10). Se José vai interpretando os sonhos, sendo instrumento de Deus no desenrolar dos fatos, Moisés, por sua vez, mes-mo inicialmente fazendo objeção à sua missão, aceita-a (Ex 3,11-13). 

Em todas as falas de José aparece o termo Deus (heb. Elohîm/Eloha), que nunca precede à expressão “Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Porém, somente em Gn 50,25 aparece menção aos pa-triarcas; e em Gn 49,25 “Deus de teu pai”, porém não vinculado ao termo “Deus”. “Todo-poderoso” só aparece na boca de Jacó (Gn 43,14 48,3; 49,25). Já Moisés, que experimentou a revelação de Deus, também deve esperar a revelação de seu nome: YHWH. Curioso é que na narrativa de José este termo aparece ape-nas na boca do narrador e não dos personagens (Gn 39,2; 39,3.3.5.5.21.23.23; 49,18). Enquanto na narrativa de Moisés, o tetragrama está na maioria das vezes vinculado à expressão que enuncia os patriarcas.

José e Moisés têm uma importante missão: são instrumentos da visita de Deus para salvar seus irmãos. Como a interpretação do sonho do faraó, chegou o tempo em que “a fome assolava toda a terra” (Gn 41, 56). José recebe a admin-istração que garantiu subsistência no Egito (Gn 41,37-57). Para serem salvos da fome, Jacó envia seus filhos ao Egito que se encontram com José, sem o recon-hecer (Gn 42,1-24). Eles são provados por José a fim de converterem seu coração. Reconhecem a falta contra José (Gn 42,21) e no retorno à Canaã, encontrando dinheiro devolvido na saca de trigo, questionam aquilo que Deus os tinha feito (Gn 42,28), pois além disso, Simeão havia ficado preso (Gn 42,24) e Benjamin, seu irmão mais novo e mais caro a Jacó, deveria ser trazido (Gn,42,15).

A volta ao Egito causa pavor, visto que é local de medo, assombro e sof-rimento (Gn 43,18.33). Entretanto, os irmãos de José recebem a saudação do intendente para ficarem em paz e não temerem em vista da ação do “Deus de vosso pai” diante da adversidade (Gn 43,23). Benjamin também recebe saudação de José: “Que Deus te conceda graça, meu filho” (Gn 43,29). Em se-guida, mais uma provação: a taça de prata de José “encontrada” junto com din-heiro na saca de Benjamin, resulta na captura dele no Egito (Gn 44,1-17). Mais uma vez os irmãos reconhecem a ação de Deus nos fatos: “Foi Deus quem mos-trou a falta de teus servos” (Gn 44,16a).

Moisés, partindo de Madiã, volta para o Egito e se encontra com o faraó. Se, outrora, os irmãos de José sofrem provação quando estão na corte do Egito, os israelitas, irmãos de Moisés, também: não ouvindo Moisés, o faraó multi-plica e dificulta os trabalhos do povo, oprimindo-os cada vez mais (Ex 5,6-18). As provações das andanças dos irmãos de José entre Canaã e o Egito, não faz recordar as provações das andanças dos irmãos de Moisés (israelitas) do Egito à Canaã? Os questionamentos acerca de Deus diante da provação não ecoam nos questionamentos que os israelitas fizeram na caminhada do deserto?

De fato, Deus ouviu o clamor de seu povo. José se revela aos irmãos e afir-ma que Deus o enviou para salvar a vida deles para “grande libertação”, estabe-lecendo-o governador e salvando todo o Egito (Gn 47,25). Jacó desce ao Egito e parte da promessa de Deus é cumprida (Gn 16,3-4; Gn 46,1-7). Ele profere a José que, mesmo depois de sua morte, “Deus estará convosco e vos reconduzirá à terra de vossos pais” (Gn 48,21), semelhante a Gn 50,24.

Recebendo instruções para sua missão, Moisés deve dizer aos anciãos de Israel que Deus tem visitado e visto o que tem acontecido no Egito (Ex 3,16). Parece que esse trecho torna-se o cumprimento de Gn 50,24.25 e conecta as duas histórias em meio aos diversos elementos que foram vistos em paralelo. Aqui também é utilizada a forma do infinitivo absoluto pāqōd antes do perfeito qal pāqadetî, para reforçar e intensificar a ação verbal como ocorrera anterior-mente. Em Gn 50,24.25, José “profetiza” a visita de Deus como sugere a forma verbal do imperfeito qal, pāqōd yipeqod. Já em Ex 3,16, há uma mudança na segunda forma verbal que está no perfeito qal, pāqōd pāqadetî, além de se apresentar na 1ª pessoa. Logo, essa mudança verbal indica que a promessa fei-ta a José é cumprida pelo próprio Deus (daí o verbo em 1ª pessoa), quando se revela a Moisés.

Se Deus salvou os irmãos de José para grande libertação, no êxodo, Moisés guia seu povo após várias tentativas com o faraó. Israel vai reconhecendo essa visita, reverenciando e adorando YHWH (Ex 4,31). Após celebrar a Páscoa como memorial dessa “grande libertação” e após a morte dos primogênitos, os ir-mãos de Moisés ultrapassam o Mar Vermelho e juntos vão subir do Egito rumo à terra que Deus deu aos seus pais. Assim, a promessa de Deus a Jacó (Gn 16,3-4; Gn 46,1-7) e a “profecia” de José são cumpridas.

3. Deus visita seu povo: na pessoa de Jesus e nos discípulos de hoje!

O paralelo feito entre as narrativas de José do Egito e de Moisés mostrou a maneira de como a visita de Deus foi concretizada no povo de Israel. Este últi-mo ponto apresentará uma síntese teológica dessa visita na pessoa de Jesus de Nazaré e uma hermenêutica do tema que repercute na caminhada cristã hoje.

Primeiramente, é possível observar algumas características de José e de Moisés na figura de Jesus e averiguar que a visita de Deus atinge sua plenitu-de n’Ele. Por mais que os Evangelhos não explicitem José do Egito, Torquato (2014, p. 602) apresenta um paralelo entre a vida de José e de Jesus contendo: a ameaça de morte “Vinde, matemo-lo” (Gn 37,19-20 // Mt 21,38; 26,4); o des-pojamento da túnica (Gn 37,23 // Jo 19,23-24; Mc 15,24); a venda por moedas de prata (Gn 37,28 // Mt 26,14-15; 27,9) e a frase “fazei o que ele vos disser” (Gn 41,55 // Jo 2,3.5). Além disso, se o mal planejado pelos irmãos contra José, Deus o transformou em bem (Gn 50,20), da mesma forma acontece com a vida de Jesus. O mal que seu povo fez matando-o na cruz, Deus o transformou em bem, dando-lhe vida em plenitude. A visita de Deus, portanto, provoca a salva-ção de todos! 

Por sua vez, Moisés é citado no NT 81 vezes, dentre as quais, 37 estão nos Evangelhos, o que confirma uma intensa relação entre o profeta e Jesus. Constantemente o Mestre faz referência a Moisés quando se utiliza da Lei para fundamentar sua discussão com os escribas e fariseus (Mc 7,10; Mt 8,4; 19,7.8; 23,2; Jo 8,5) e os saduceus (Mt 22,24). Também se identifica como o cumpridor da Lei: as promessas de Deus a Moisés atingem seu pleno cumprimento na pes-soa do Filho do Homem (Jo 1,17.45; 3,14; 5,45.46; 6,32; 7,19-23). 

Martini em seu “itinerário pascal” apresenta paralelos entre Moisés e Jesus. Os dois são os “servos de Deus” que sofrem ao viver no meio do povo, consumindo-se ao ponto de serem “triturados” e “esmagados” (MARTINI, 1985, p. 60-70.74). São profetas poderosos em “palavras e em obras” (Lc 24,19; At 7,22b)5. Alimentam o povo de pão (Ex 16,4-12; Mt 14,13-21; 15,32-39). Não dão segurança alguma quanto ao que vão encontrar na caminhada, mas convidam o povo e os discípulos a confiarem em Deus, cabendo a eles decidirem recuar ou prosseguir em seu seguimento (Mt 8,19ss). Também são protagonistas da Páscoa. Através de Moisés, “homem da páscoa”, “homem da ‘passagem’”, Deus salvou seu povo passando-o da escravidão à liberdade da terra prometida. Em Jesus, “nossa páscoa”, o ser humano ultrapassa o pecado e a morte e ressuscita para a vida eterna (MARTINI, 1985, p. 12).

As semelhanças entre José e Moisés e Jesus destacaram a ação salvífica da visita de Deus, capaz de transformar um mal em bem e fazer o ser humano “passar” da situação de morte para a vida. Entretanto, pode-se observar tam-bém o “visitar” de Deus na pessoa de Jesus através da ocorrência do verbo gre-go episképtomai que, em geral, traduz o hebraico pāqad6. Das onze referências do termo no NT, cinco delas apresentam Deus como sujeito do verbo visitar. No Benedictus, a visita de Deus que remiu seu povo (Lc 1,68) culmina no anúncio da vinda do Messias (Lc 1,78). No episódio do filho da viúva de Naim, Jesus ma-nifesta plenamente essa visita devolvendo-lhe a vida. O povo não só reconhece n’Ele o surgimento de um grande profeta, mas também que “Deus visitou seu povo” (Lc 7,16). Na continuidade da missão de Jesus, os discípulos concretizam a visita de Deus aos gentios como anunciou Tiago (At 15,14). Já Hb 2,6 retoma o Sl 8,6 que trata de um louvor ao nome de Deus pelos seus feitos para com o ser humano, fruto de sua visita.

O termo ainda aparece outras três vezes em Atos. Na eleição dos diáconos (At 6,3), o significado do termo aponta para o verbo “escolher”. Enquanto em At 15,36, o “visitar” pode também significar “averiguar” como os irmãos das cidades evangelizadas estão. Entretanto, no discurso de Estêvão em At 7,23, retoma-se o episódio de Moisés visitando seus irmãos oprimidos no Egito. Essa visita se relaciona com a salvação de Deus por meio do profeta que vê a opres-são dos hebreus como evidencia At 7,25.

Por fim, episképtomai aparece ainda em Mt 25,36.43, quando Jesus elenca as obras de misericórdia em seu discurso escatológico, e em Tg 1,27, quando o apóstolo exorta acerca da “religião pura e imaculada para com Deus”. Nessas referências, o sujeito do termo não se dirige a Deus, mas ao discípulo que deve visitar os doentes, os órfãos e as viúvas nas tribulações. Na linha de uma tra-dição judaica, este visitar não assume um sentido teológico como os exemplos anteriores, mas um aspecto ético, sobretudo aos mais desamparados, baseado no cumprimento do amor ao próximo (BEYER, 1973, p. 603). 

Desta forma, assim como a visita de Deus se concretizou na vida de José, de Moisés e alcançou sua plenitude na pessoa de Jesus, também se mani-festa quando o discípulo assume verdadeiramente os passos de seu Mestre. Entretanto, o mundo de hoje pode estar desacreditado. Além das diversas expe-riências atrozes ao longo da história da humanidade como catástrofes naturais, guerras, dominações, mazelas sociais e ambientais, surge a inesperada pande-mia causada pelo novo “coronavírus”. Entre milhões de infectados e milhares de mortes no mundo pela “COVID-19”, outros sintomas de uma sociedade há anos doente, ficaram mais evidentes. A desigualdade social, a violência, a fome, a corrupção, a mudança climática são o retrato das “pandemias ocultas do mun-do”, como afirmou o papa Francisco (2020, p. 12). Nesse sentido, de que forma pode-se assumir uma autêntica ética cristã capaz de ultrapassar o seguimento superficial dos mandamentos de Deus? Como deixar que eles transformem suas estruturas mais profundas e manifestem assim os frutos dessa visita? 

Assim como Deus se utilizou de cada um de seus servos e transformou o so-frimento em salvação, também nos interpela a criar algo novo que atinja todas as estruturas da humanidade, fazendo “a música do Evangelho vibrar nas entra-nhas”, ou seja, no mais profundo do ser humano, como afirmou Francisco na Encíclica Fratelli Tutti (FT 277)7. Por mais que os gestos de solidariedade tenham ajudado muitas pessoas, é urgente uma radical mudança na forma de pensar a fé, as relações sociais, a economia, a política e o meio ambiente.

A fé não pode jamais estar desvinculada da vida cotidiana e nem ser indife-rente ao sofrimento do irmão (1Jo 3,17), pois do contrário seria morta (Tg 2,17). José teve compaixão de seus irmãos e agiu em favor deles. Moisés assumiu ris-cos: defendeu o hebreu explorado pelo egípcio e, anos depois, conduziu o povo de Israel pelo deserto, libertando-o do sofrimento. Jesus acolheu pecadores, curou os enfermos e saciou os famintos. A exemplo dos três, que agiram em favor dos mais vulneráveis, os indivíduos de hoje jamais devem ser indiferentes ao próximo, sobretudo os pobres, os desabrigados e os refugiados. Com isso, dá-se um novo rosto às relações sociais. 

Na linha de Francisco (2020, p. 72), a economia precisa assumir um caráter “maternal”, centrada no cuidado com os pobres e com a Criação, capaz de sus-tentar, proteger e regenerar. Pautada na dignidade humana e na regeneração ecológica, deve ultrapassar a acumulação de bens e às “necessidades básicas da vida”, como terra, teto e trabalho, saúde e educação. Já a política deve in-tegrar e dialogar com os pobres, os excluídos, os vulneráveis, dando-lhe “voz nas decisões que afetam suas vidas” (FRANCISCO, 2020, p. 12; 121). Com isso, o deslocamento da mentalidade consumista à lógica do cuidado pode impactar diretamente no meio ambiente, morada de todos os seres humanos.

É tempo de superar conflitos, desde o interior dos lares às relações entre países, inclusive dando um novo rumo nas relações internacionais através da solidariedade (FT 126). Os discursos de ódio, o enorme investimento na fabri-cação de armas, as contendas nas mídias sociais, o “bombardeio de fake news” devem dar lugar à cultura da paz, da solidariedade e do amor mútuo. É tempo do diálogo fecundo capaz de encontrar soluções e inovações para tantas situ-ações da humanidade. Para isso, é essencial a confiança uns nos outros, e com humildade, buscarem juntos o bem, sempre abertos no aprendizado mútuo “num intercâmbio de dons” (FRANCISCO, 2020, p. 89). É tempo de esperança, que não se dá apenas nas notícias promissoras das descobertas científicas que pretendem dar um fim à pandemia, mas também que interpela o ser humano a repensar seu modo de vida.

Portanto, homens e mulheres são chamados a experimentar e testemu-nhar a visita de Deus hoje. Impelidos pela compaixão que sensibiliza e impul-siona o cuidado com o outro e com a “Casa Comum”, devem ser instrumentos que manifestem fé, amor e esperança num mundo que atravessa tempos tão desafiantes.

Considerações finais

O sofrimento na vida do ser humano é inevitável. A dor insuportável vai re-velando muitas vezes sua impotência. Na cisterna-prisão ou nas águas do Nilo, José e Moisés, frágeis, são salvos por Deus e preparados para uma missão: ser instrumento da visita de Deus que liberta seu povo da aflição e da escravidão.

Entre a história dos patriarcas e o Êxodo, está a promessa de Deus que, como fio condutor, vai perpassando a narrativa de José e de Moisés. No escon-dido, Deus vai visitando o personagem José, fazendo empreender sua liderança já na prisão. Dando a ele a interpretação de sonhos do faraó, Deus o faz subir ao poder no Egito e salva da fome os egípcios e também seus irmãos. Revelando-se a Moisés, Deus ouve o clamor de Israel, concretiza a promessa outrora feita a Jacó (Gn 48,21) e proferida por José (Gn 50,24.25), visitando seu povo (Ex 3,16). 

Mesmo que a história de José fosse inserida posteriormente no Gênesis, as passagens acima funcionam como ligadura entre as duas histórias. Gn 50,24.25 se apresenta como prolepse de Ex 3,16, ao ponto de revelarem semelhanças inclusive na forma verbal que intensifica o “visitar” de Deus. Além disso, foram percebidos vários elementos paralelos entre os personagens, ações e ambien-tes das narrações que amalgamam as histórias.

Entre José e Moisés está Deus que age no decorrer da história do ser hu-mano, que deve interpretar os fatos e perceber que sua visita já acontece no sofrimento. Deus é aquele que também se relaciona de forma pessoal e se dá a conhecer mesmo quando as adversidades da vida parecem turvar seu conhe-cimento. Entre a provação das andanças dos irmãos de José de Canaã ao Egito, e dos irmãos de Moisés (os israelitas) ao longo do deserto, o ser humano se depara com uma crise de fé: Onde está Deus? O que Ele nos fez? 

A visita de Deus não só perpassou a história do povo de Israel, mas atingiu sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo, que traz consigo traços de José do Egito e de Moisés. Os gestos e as palavras do Mestre, não só intrigaram os apóstolos, como também impele os cristãos de hoje. Diante da COVID-19 e das “pande-mias ocultas do mundo”, na linha do papa Francisco, faz necessário manifestar a visita de Deus através de uma autêntica ética cristã que reivindica uma radical mudança das estruturas da humanidade como a fé, as relações sociais, a eco-nomia, a política e o meio ambiente. Esse comprometimento ético é capaz de superar a indiferença, as divisões, o egoísmo e o esquecimento, principalmente atendo-se ao cuidado dos mais vulneráveis. 

Portanto, as narrativas de José e de Moisés e seu paralelo na pessoa de Jesus convidam cada um não só a confiar em Deus, mas também a experimen-tar e testemunhar uma fé autêntica que repercuta em um mundo muitas vezes sem esperança. A visita de Deus que resgatou a fraternidade na família de José, libertou da escravidão o povo de Israel e trouxe a redenção da humanidade certamente pode fazer o mesmo nos dias de hoje.     

Referências

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Notas

[1]  Esses cinco passos articulam um enredo unificado e coeso e são descritos por Vitório (2016, p. 61-62). 

[2]  Trata-se de um artifício de temporalidade da narração indicando projeção para o futuro (VITÓRIO, 2016, p. 114). 

[3]   Da raiz mšh” tirou”, porém uma vez dado o nome pela filha do faraó o nome é egípcio. José também receberá um nome egípicio: “Safanet-Fanec”, que quer dizer “Deus disse: Ele está vivo”. (Bíblia de Jerusalém, nota c). 

[4]   Com o mesmo termo hebraico, Moisés é “temente” a Deus ao ponto de cobrir seu rosto diante da manifestação de YHWH no Horeb (Ex 3,6).  

[5]   Quando Lucas se dirige a Jesus, a expressão é invertida para “obras e palavras”. 

[6] Quando a visita se dá entre pessoas, é muito comum utilizar o verbo érchomai (Lc 1,43; Jo 11,45; Rm 1,10; 15,23.29.32; 1Cor 4,19). 

[7] Quando as referências de Francisco forem da Encíclica Fratelli Tutti, será usada apenas a sigla FT e o número correspondente.