Cleibson Américo da Silva*
* Doutorando e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe; Especialista em Ética e Filosofia Política; Graduado em Filosofia e em História. Professor do ensino médio, EJA, pré-vestibular na rede privada.
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Resumo:
Na propagação do primeiro anúncio da fé cristã acerca da morte e ressurreição de Jesus Cristo - querigma - os primeiros discípulos encontraram imensos obstáculos, seja na Palestina, entre os conterrâneos de Jesus - ou mesmo entre os judeus da diáspora, dispersos no mundo helenístico - seja no mundo greco-romano, dominado pelo politeísmo, pelo culto religioso à figura do imperador, etc. Em relação aos primeiros, as maiores dificuldades partiam do fato de que os judeus não acreditaram na pessoa de Jesus, o nazareno, como sendo o “Māshyāḥ” profetizado e, em vista disso, tomaram uma postura de hostilidade à mensagem cristã. Já os segundos apresentavam resistências de ordem filosóficas, políticas, religiosas, éticas etc. Não obstante esses obstáculos, que renderam perseguição e morte a milhares de cristãos nos três primeiros séculos, o querigma foi anunciado e, paulatinamente, o cristianismo foi ocupando espaços e lançando as bases da civilização ocidental. Para percorrer esse trajeto do querigma cristão, não obstante os obstáculos, esse artigo foi dividido em três partes: a primeira apresenta a Palestina no século I e as relações entre judeus e cristãos; a segunda mostra o mundo greco-romano e a hostilidade ao querigma cristão; e, por fim, na terceira, o anúncio querigmático, apesar dos desafios ambientais, culturais, sociais, políticos e religiosos. Para tanto, foi usada uma metodologia bibliográfica de consulta a fontes primárias e secundárias, tanto da documentação histórica do cristianismo primitivo, quanto da literatura universal, com o objetivo de recompor o trajeto da mensagem cristã no mundo palestino e greco-romano.
Palavras chave: Querigma. Cristianismo. Greco-romano. Judaísmo
Abstract
In the propagation of the first announcement of the Christian faith about the death and resurrection of Jesus Christ - kerygma - the first disciples encountered immense obstacles, either in Palestine, among Jesus’ countrymen - or even among Diaspora Jews, dispersed in the Hellenistic world - either in the GrecoRoman world, dominated by polytheism, by the religious cult to the figure of the emperor, etc. In relation to the former, the greatest difficulties stemmed from the fact that the Jews did not believe in the person of Jesus, the Nazarene, as being the prophesied “Māshyāḥ” and, in view of this, took a position of hostility to the Christian message. The latter, on the other hand, presented philosophical, political, religious, ethical resistances, etc. Despite these obstacles, which brought persecution and death to thousands of Christians in the first three centuries, the kerigma was announced and, gradually, Christianity was occupying spaces and laying the foundations of Western civilization. In order to follow this path of the Christian kerygma, despite the obstacles, this article was divided into three parts: the first presents Palestine in the first century and the relations between Jews and Christians; the second shows the Greco-Roman world and hostility to the Christian kerygma; and, finally, in the third, the kerigmatic announcement, despite the environmental, cultural, social, political and religious challenges. For this purpose, a bibliographic methodology of consultation with primary and secondary sources was used, both from the historical documentation of primitive Christianity, as well as from universal literature, in order to recompose the path of the Christian message in the Palestinian and Greco-Roman world.
Keywords: Querigma. Christianity. Greco-Roman. Judaism.
O cristianismo nasceu com uma missão bem específica: anunciar o mistério da morte e ressurreição como a causa de salvação para o gênero humano. A tradição cristã deu a essa mensagem o nome de “querigma”, que quer dizer “o primeiro e fundamental anúncio salvífico”, diante do qual todos os outros devem estar de acordo, e com o qual toda a dogmática cristã deve convergir. Esse anúncio primordial teria como destinatários, por meio dos discípulos de Jesus, o nazareno, os judeus e pagãos (gregos e romanos), inicialmente, e, depois, todas as nações.
O ambiente em que o querigma nasceu não lhe era favorável e nem havia confluência de interesses entre cristãos, judeus e gentios. Se por um lado os “discípulos do Nazareno” pretendiam convencer a todos acerca do evento sal-vífico da páscoa cristã, por outro, os destinatários da mensagem não estavam, a priori, totalmente abertos a essa novidade. Todavia, Jesus mandou que eles tivessem coragem e fossem ao mundo anunciar (Mt 28,19), e garantiu-lhes que estaria com eles todos os dias até a consumação dos séculos.
Da Palestina, onde tudo começou, o anúncio do querigma foi se expandin-do em todas as direções, tanto nos ambientes judaicos, quanto nos ambientes helenísticos e romanos. Evidentemente que haveria hostilidades e resistências em muitos desses espaços, uma vez eram portadores de longas tradições reli-giosas e culturais, que divergiriam substancialmente do querigma. No mundo judaico as principais resistências estavam na aceitação de Jesus como Māshyāḥ, já que em vários sentidos ele não correspondia com as expectativas nacionalis-tas e políticas que muitos do povo israelita esperavam.
Por outro lado, o ambiente greco-romano também era um grande desa-fio aos cristãos, sobretudo pela tradição filosófica, cultural e religiosa adversas àquela ensinada pela comunidade cristã. O mundo conhecido era praticamente aquele dominado pelo império romano e, por isso, as perseguições se realiza-ram de modo sistemático, impondo violência e morte aos cristãos, sobretudo por se recusarem ao culto imperial e a adoração aos deuses do panteão roma-no. Não obstante as dificuldades ambientais, culturais, religiosas etc., o que-rigma cristão foi anunciado com bravura e destemor, de modo a impressionar até aos pagãos, conforme recorda Eusébio de Cesareia (2000, p. 437), em sua História Eclesiástica.
Para apresentar toda essa temática, foi realizada uma pesquisa bibliográfi-ca pela história da Igreja primitiva, buscando na documentação histórica do cris-tianismo, bem como em comentadores e historiadores da antiguidade greco-ro-mana, percorrer os caminhos do querigma cristão. Para tanto, serão percorri-dos aqui os principais caminhos do primitivo anúncio cristão, primeiramente no ambiente palestinense no século I d.C., vendo os desafios que este apresentava ao cristianismo nascente. Em seguida será mostrado como o ambiente greco--romano representada um grande desafio, devido a fatores de ordem religiosa, filosófica, política, ética etc. E, por fim, mostrar como, não obstante esses de-safios, o anúncio do querigma não sucumbiu, nem mesmo diante das violentas perseguições e mortes.
O Cristianismo nasceu em um ambiente sob alguns aspectos favorável e em outros desfavorável ao ‘querigma’ cristão, entretanto, a saída dos limítro-fes da Palestina e a penetração na cultura greco-romana, além de necessária para a difusão dos ideais cristãos, era também uma questão de sobrevivência da Igreja nascente. O nascimento de Jesus de Nazaré, no século I da nossa era, é consensualmente considerado o maior evento histórico de todos os tempos, responsável por dividir a história em duas partes e por mudar a fisionomia dos séculos seguintes, que seria intrinsecamente marcada por este fato, seja no âm-bito cultural, seja no espiritual, social etc.
O nascimento de Jesus de Nazaré se deu na Palestina, conforme os relatos evangélicos, no tempo em que Herodes, o Grande (73 a 4 a.C.)1 era o rei da Judeia e Cesar Augusto2, o imperador romano, entre 30 a.C. e 14 d.C. Nesse con-texto, a Terra Santa já passara por sucessivos domínios estrangeiros, tanto pelos babilônicos, sob o rei Nabucodonosor, em 587 a.C., quanto pelos macedônicos, sob Alexandre Magno (o grande), em 332 a.C., entre outros, e, por último, pelos romanos, quando o general Pompeu, em 63 a.C., submeteu Jerusalém e decla-rou a Palestina como província romana. Esse domínio político-administrativo construído e imposto pelo império romano se estendia da península Ibérica, to-mando quase toda a Europa, parte da Ásia, norte da África, e toda a margem do mar Mediterrâneo - chamado pelos romanos de “mare nostrum” (ROPS, 1988, p. 108), - onde está situada a Palestina, numa faixa territorial que somava mais de 3 milhões de km2, conforme aponta Daniel Rops (Ibidem).
O império romano adotara o politeísmo3 como religião oficial, embora con-servasse certa tolerância ao monoteísmo4 judaico, permitindo o culto religioso e não obrigando os judeus a sacrificarem aos deuses do panteão romano, embora vez ou outra as tensões entre judaísmo e império se inflamavam, até que, em 70 d.C., depois de um prolongado clima de tensão, o grande templo de Jerusalém foi totalmente destruído pelas legiões romanas conduzidas pelo general Tito.
Dois anos se passaram, marcados pelas agitações que se seguiram à morte de Nero; na Páscoa de 70, Roma mais uma vez resolveu pôr ponto final no assunto. Vespasiano enviou seu filho Tito com todas as forças e máquinas que eram necessárias. Em Jerusalém, os fanáti-cos pela luta a qualquer preço ocupavam o Templo sob a direção de João de Giscala; mas, na cidade alta, faziam-lhes frente os partidá-rios ainda não liquidados de uma política menos atroz, comandados por Simão Bar Giora. Os dois grupos uniram-se contra os legionários e o cerco começou. Quando, cinco meses mais tarde, após indescri-tíveis cenas de horror, o cerco chegou ao fim 31, Jerusalém estava em ruínas, o Templo queimado e milhares de cadáveres rolavam sob as patas dos cavaleiros núbios a serviço de Roma. (Ibid., p. 51)
Diante disso, os judeus fizeram sua mais dolorosa e definitiva “diáspora”, e foi precisamente nesse evento que começou, de fato, a distinção entre judeus e cristão, conforme aponta Daniel Rops:
A tomada de Jerusalém contribuiu para exasperar ainda mais as relações entre cristãos e judeus. A partir desse momento, o antagonis-mo tornou-se manifesto. Tácito parece partir dessa presunção nas suas Histórias, quando conta que, num conselho de guerra realizado em 9 de agosto do ano 70, em que se discutiu a conveniência de destruir o Templo, Tito evocou “a luta de uma destas seitas contra a outra, apesar da sua origem comum”. (Ibid., p. 52)
Foi nesse ambiente de dominação romana que o cristianismo nasceu, se desenvolveu, e se expandiu para além de Israel, pelo mundo greco-romano, como uma religião nova e com um uma identidade própria.
Na época do Novo Testamento o antigo império macedônico, que tan-to difundiu a cultura e a língua gregas pelas regiões das margens do mar Mediterrâneo, tinha sido absolvido pelo império romano e, com isso, aconte-cido a fusão das duas grandes culturas da antiguidade ocidental: a cultura gre-ga, com sua literatura, intelectualidade, poesia, língua etc., e a cultura romana, com sua língua latina, seu direito, sua intelectualidade etc. Mais tarde, e aos poucos, essas duas culturas foram profundamente penetradas pela fé e moral judaico-cristã.
Essa fusão entre a cultura grega e romana teve início, sobretudo, depois da morte de Alexandre Magno, em 323 a.C., quando o grande império macedô-nico fora dividido em três reinos: o Egito, que passou para as mãos do general Ptolomeu; o reino da Macedônia e da Grécia, que ficou sob o domínio do ge-neral Cassandro; e a Ásia, que incluía as regiões orientais do império, incluído a Ásia menor e a Palestina, foi entregue ao general Seleuco. Toda essa complexa região fora profundamente penetrada pela mentalidade, cultura, valores, poe-sia e filosofia dos gregos.
Por outro lado, o império romano, que se formara com Cesar Augusto em 27 a.C., foi o herdeiro direto do helenismo e o responsável por fundir e difun-dir uma cultura que perduraria séculos e que seria um dos fundamentos do que se pode chamar de “cultura ocidental”. Mesmo com a queda do império romano do ocidente, em 476 d.C., quando Odoacro, rei dos hérulos, depôs o último imperador de Roma, Rômulo Augusto (AQUINO, 2010, p. 23), a cultura greco-romana não sucumbiu, já que fora absolvida e herdada, agora, pelo cris-tianismo, o qual “restaurou e promoveu a civilização depois da queda de Roma” (WOODS, 2008, p. 11).
Embora o ambiente cultural não fosse tão favorável ao anúncio cristão - o querigma -, dado que na Palestina predominava o judaísmo e no mundo domi-nado pelo império romano era majoritário o politeísmo, ainda assim os primei-ros seguidores de Jesus, o nazareno, não se amedrontaram diante desse imenso desafio. Como é sabido, por volta do ano 27 ou 28, Jesus constituiu seus
doze apóstolos: primeiro, Simão, também chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, o filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, aquele que o entregou. (Mt 10,2-4).
Esses doze seguidores, a princípio chamados de discípulos5, ficaram sob suas orientações, aprendizado, vivências etc., por cerca de 3 anos, onde pu-deram ver e ouvir o evangelho6 anunciado por Jesus, afim de que, após a sua ressurreição, fossem pelo mundo palestinense-grego-romano proclamando a mensagem cristã, que convencionou-se chamar de “Querigma”. Nessa “ida” os doze passaram da condição de discípulos para a condição de “apóstolos”7. Etimologicamente, a palavra ‘querigma’ advém do substantivo grego κήρυγμα e significa anúncio, proclamação. Essa palavra deriva de κῆρυξ kérix, que eram os homens responsáveis por percorrer os reinos proclamando as notícias relacio-nadas à vida e às decisões palacianas. Esse vocábulo entrou na tradição cristã como sinônimo de “primeiro anúncio das verdades da fé”. O principal conteúdo a ser anunciado, e que de fato era a essência do querigma, consistia na procla-mação da “morte e ressurreição gloriosa de Jesus Cristo,” conforme os apósto-los anunciavam: “este homem, entregue segundo o desígnio determinado e a presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o pela mão dos ímpios. Mas Deus o ressuscitou [...]”. (At 2,23-24a).
Logo após a ressurreição de Jesus Cristo, acontecida, provavelmente, na madrugada do domingo do dia 9 de abril do ano 30, e seguido um período de 50 dias, onde se deu constantes aparições do ressuscitado, seus doze apóstolos foram pelo mundo conhecido anunciando que Ele (Jesus) estava vivo e glorioso.
Tiago de Zebedeu, filho de João, e Tiago de Alfeu (este último pro-vavelmente diferente de Tiago o justo, parente de Jesus e chefe da comunidade judeu-cristã de Jerusalém) pregaram sobretudo na Palestina, junto com o apóstolo Matias. André, irmão de Pedro, evangeliza de maneira especial as regiões do mar Negro (e, por isso, está na origem do patriarcado de Bizâncio-Constantinopla); Filipe, as da Ásia Menor; Bartolomeu, a Armênia e a Pérsia; Judas Tadeu, a Síria e a Mesopotâmia; Simão, a África setentrional; Mateus, a Etiópia; Tomé, a Índia; e João, as regiões em torno de Éfeso. (PIERINI, 1998, p. 49)
Jesus advertira seus discípulos a respeito dos desafios do anúncio do evan-gelho quando disse: “por causa de mim, sereis conduzidos à presença de go-vernadores e de reis, para dar testemunho perante eles e perante as nações” (Mt 10,18). Com essas palavras, ele deixava claro que a evangelização custaria desafios e perseguições e, não raro, o sacrifício da própria vida. Em vista disso, os doze, no evento da ascensão de Jesus e da promessa do Espírito Santo, em pentecostes (At 1,8), assumiram a força espiritual que o Cristo prometera, para serem testemunhas “em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria, e até os con-fins da terra” (Ibidem).
Quando começaram a anunciar o evangelho, os discípulos usufruíram, ain-da que por pouco tempo, da chamada pax romana, uma vez que os conflitos entre povos e reinos praticamente tinham desaparecido no século I d. C., por força ampla dominação de Roma.
As grandes oportunidades que o Evangelho terá para se propagar no Império resumem-se numa palavra, numa célebre fórmula - a paz romana, Pax Romana! Os primeiros tempos da semeadura cristã correspondem ao período mais calmo e mais livre de ameaças que o Ocidente jamais conheceu. (ROPS, 1988, p. 115).
Essa paz no império foi, de fato, inicialmente favorável aos cristãos da épo-ca apostólica, entretanto, os desafios não tardaram a chegar, como já estava predito e esperado. Após o evento de pentecostes, os doze partiram para as diversas partes do mundo mediterrâneo, asiático, africano, europeu etc. Entre as muitas dificuldades encontradas pelos doze pode-se elencar as seguintes: oposição dos judeus, oposição dos gentios e, não muito depois, a oposição do império romano, as quais serão apresentadas separadamente a seguir.
Não era de se esperar, da parte dos judeus, uma aceitação de que Jesus, o na-zareno, fosse considerado o messias ַחיִׁשָמ (Māshyāḥ), em grego Χριστός (Christós), cujo significado é “ungido”, uma vez que as expectativas em torno dessa figura eram políticas, ou seja, esperavam um messias-libertador político, sobretudo do domínio romano, que apesar de tolerar o judaísmo, provocava, não raramente, tensões entre pagãos e judeus. Como o nacionalismo judaico fora ferido, desde a época da invasão babilônica, com a destruição do templo por Nabucodonosor em 587 a.C., e deportação para o exílio da Babilônia, que durou até 538 a.C., quando Ciro, o grande, rei dos persas, libertou o povo judeu e permitiu seu retorno à Terra Santa, e, mais tarde, a nova dominação macedônica (332 a.C.) e romana (a partir de 63 a.C.) a.C., feriram novamente o orgulho nacionalista dos israelitas, o que se esperava, por conseguinte, era um messias-político. Ao invés disso, apareceu Jesus de Nazaré da Galileia, habitante pobre da periferia, filho de carpinteiro, di-zendo que “a vinda do Reino de Deus não é observável. Não se poderá dizer: ‘Ei-lo aqui! Ei-lo ali!’, pois eis que o Reino de Deus está no meio de vós”. (Lc 17,20b-21), significando que esse Reino começa com ele mesmo, e acontece primeiramente dentro de cada indivíduo que o acolhe.
A expectativa política em torno do Messias-Jesus, portanto, foi frustrada, uma vez que aquele que se apresentou como o “rei ungido” foi crucificado entre os malfeitores, sem conseguir libertar Israel do dominador estrangeiro e “idó-latra” - o império romano. Com efeito, “a figura do Messias foi receptadora das misérias e das expectativas populares. Nos dois séculos anteriores e posteriores a Cristo, transformou-se no símbolo salvífico por excelência do povo judeu.” (ESTRADA, 2005, p. 47). Com isso, não apenas o judaísmo palestinense, mas também o judaísmo da diáspora - dispersão pelo mundo greco-romano - não acreditaram em Jesus como sendo o Messias de Israel e, por isso, houve tantas hostilidades entre judeus e cristãos.
Ao afirmarem que Jesus era o Messias, os membros da comunidade assumiam antes de mais nada uma atitude de rebeldia contra Javé e contra a Lei, pois o seu líder fora condenado pelo tribunal sagrado sob uma acusação particularmente grave e depois de um processo cuja legalidade não se queria discutir. Por outro lado, esses homens atingiam as raias do absurdo, pois era evidente que não se haviam manifestado os grandes sinais da realização messiânica: os soldados de Roma continuavam lá, sobre as muralhas da fortaleza Antônia, e Israel não recuperara a sua glória. Mas, acima de tudo, havia ain-da uma coisa pior: esses homens atentavam contra o que um povo sempre tem de mais sensível - o seu orgulho. E este orgulho, tratan-do-se do povo eleito, era parte integrante da certeza da sua missão. (ROPS, 1988, p. 27)
Esses fatores por si só já concorriam para uma separação entre ambos os grupos, todavia, após a destruição do templo de Jerusalém, no ano 70 d.C., as duas religiões começaram a ficar realmente distintas, de modo que, a partir desse evento, o judaísmo começou a tratar com mais hostilidade os cristãos, conforme testemunha Eusébio de Cesareia8 (2000, p. 117): “ora, após a ascen-são de nosso Salvador, os judeus, além do que haviam ousado contra ele, arma-ram contra os apóstolos quantas ciladas puderam”. Isso mostra que o judaísmo apresentava dois obstáculos ao querigma: primeiro o fato de não acreditar na messianidade de Jesus, e, segundo, por se distinguir do cristianismo nascente, tomou a postura de deixar claro ao império romano que se tratava de uma nova religião, ou mesmo uma seita. Tudo isso deixa entrever que o ambiente judai-co, seja dentro seja fora de Israel, não era favorável ao anúncio do querigma, constituindo, dessa forma, um dos grandes desafios à mensagem cristã, isso por vários motivos, entre os quais, o fato de alguns seguimentos não verem em Jesus de Nazaré o messias esperado. Por causa disso, em vários momentos os judeus colaboraram com a perseguição imperial aos cristãos, conforme estar testemunhado na Carta circular da igreja de Esmirna (FOLCH GOMES, 1979, p. 53) a despeito do martírio de São Policarpo, onde se diz que após a sua conde-nação à fogueira “o povo saiu à busca de lenha nos armazéns e nos banhos, e, como sempre nestas ocasiões, os judeus era os mais ardorosos”.
Se os cristãos encontraram bastante oposição na Palestina, onde tudo co-meçou, e do seio do judaísmo, que era a religião praticada pelo próprio Jesus e alguns de seus discípulos, não foi menor no mundo dominado pelo império romano. Por vários motivos, que serão aqui apresentados, o ambiente de hos-tilidade foi quase que constante nos 300 primeiros anos da comunidade cristã.
Qualquer que seja a razão, a consistência e a amplitude da persegui-ção, o fato mais grave é que, aos olhos dos pagãos, o cristianismo diferencia-se a partir de então do judaísmo, mas também passa a ser tachado, até Constantino, com uma marca infame, resumida na ex-pressão técnica “superstitio nova et maléfica”.9 (PIERINI, 1998, p. 57)
Essa taxação pejorativa em relação aos cristãos já indicava o tipo de com-portamento que o império tomaria em relação a eles, e mostra como o ambien-te além de Israel apresentava desafios ao querigma. É verdade que o império romano não extinguiu as religiões dos povos dominados, que havia certa tole-rância em relação a elas, desde que não promovessem insurreições contra o imperador e contra a “pax romana”. Entretanto, o cristianismo surge dentro do judaísmo, e, aos poucos, foi assumindo sua própria identidade de religião inde-pendente. Alguns eventos ajudaram nessa diferenciação, como a perseguição de 64 d.C., promovida pelo imperador Nero, na qual os cristãos foram acusados de incendiar Roma; depois, a destruição do templo de Jerusalém ajudou signi-ficativamente essa distinção; o culto, as orações e os costumes também foram clareando a nova religião.
Quando chegou a época do imperador Domiciano, em torno de 94 d.C., começou uma violenta perseguição aos cristãos, e sobretudo por estes se re-cusarem a prestar o “culto imperial” e a chamar o imperador de “dominus et deus”, conforme testemunha Suetônio, em sua obra A Vida dos doze Césares (2012, p. 295).
O culto imperial não cessará de crescer ao longo dos dois primeiros séculos. Todos os sucessivos senhores do Império o estimularão: uns com moderação e até com certo constrangimento, como Tibério, Cláudio e Vespasiano, que recusarão em vida todos os atos de ado-ração; outros com complacência, como Calígula, Nero e Domiciano, que contemplarão com gosto as oferendas sacrificiais fumegando em sua honra. Mas todos, mesmo os prudentes Antoninos, estimu-larão esse culto por verem nele, em última análise, uma forma de lealismo e a expressão visível da dedicação dos súditos ao seu se-nhor. (ROPS, 1988, p. 122)
Esse culto ao imperador era praticado como forma de lealdade ao império e como devoção aos seus deuses. Nesse sentido, não cultuar significava colocar--se em oposição a Roma e ser acusado de ateísmo, o que configurava crimes graves a serem punidos.
É verdade que, segundo as leis romanas, os cristãos incorriam no crime de lesa-majestade e de sacrilégio a partir do momento em que, no seu coração, repudiavam os deuses do Império e, especialmente, fugiam ao culto de "Roma e Augusto". Mas, para haver sacrilégio, é necessário que haja um ato, e não há notícia alguma de que, nos dois primeiros séculos, os cristãos se tivessem lançado a atacar ídolos. Somente no século III é que vamos encontrar textos jurídicos que fundamentam as perseguições contra os cristãos na sua recusa de sacrificar a "Roma e Augusto", isto é, na dupla acusação de sacrilégio e de lesa-majestade. (ROPS, 1988, p. 159)
Além da recusa ao culto imperial, no mundo helenístico-romano os desa-fios ao querigma eram numerosos, por vários motivos, sejam de ordem política, cultural, filosófica, teológica etc. Com efeito, a mensagem cristã de que há um único Deus, e que esse Deus se fez carne (Jo 1,14), e que sua carne pode ser dada em alimento, e que ele ressuscitou dos mortos etc., contrasta frontalmen-te com a racionalidade grega dispersa pelo império romano, graças à difusão do helenismo empreendida por Alexandre Magno.
Para um grego aceitar essas ideias pregadas pelos apóstolos, sobretudo Paulo de Tarso (At 17,22-34) era, de fato, ir de encontro ao que a cultura clás-sica construída desde Sócrates, Platão e Aristóteles, uma vez que, ao contrário do monoteísmo, eles cultivavam o politeísmo; em oposição à encarnação da divindade, eles defendiam a indignidade da matéria, visto que “o corpo consti-tuía para a alma uma espécie de prisão, através da qual ela devia forçosamente encarar as realidades, ao invés de fazê-lo por seus próprios meios e através de si mesma [...],” (PLATÃO, 1983, p. 88); assim como a ideia de ressurreição e alimentação do corpo material de Cristo seria inimaginável para um heleno não convertido, uma vez que a matéria era vista como princípio do mal. Assim, os ideais racionais do helenismo constituíam mais um grande desafio para a o querigma apostólico.
Chegando a Atenas no outono de 50, Paulo vai conhecer a derrota mais estrondosa da sua carreira. Atenas já não é a nobre capital de Péricles e de Fídias; é uma cidade quase toda em ruínas, em que pulula o turista, um desses centros de decadência onde a extrema racionalidade acaba levando à negação de tudo. (ROPS, 1988, p. 75)
O conjunto de ideias elaborado na Grécia clássica não estava presente apenas em Atenas ou na chamada magna Grécia, às margens do mar Egeu, mas praticamente em todo o Mediterrâneo, norte da África e parte da Ásia, tudo agora dominado pelo império romano. Entre os aspectos religiosos da Grécia antiga e da Roma imperial não haviam muitas diferenças, visto que o politeísmo e o panteão gregos foram absorvidos pelo panteão e pela religião dos romanos. Entretanto, a tolerância ao monoteísmo era reservada praticamente ao judaís-mo, visto que os demais povos cultivavam o politeísmo. Esse fator inflamaria alguns imperadores contra os cristãos, pois estes não consentiam em cultuar as divindades dos romanos. Diante de uma polêmica entre cristãos e pagãos, sob o reinado de Trajano (98-117 d.C.), o procônsul da Bitínia Plínio, o jovem, escreveu ao imperador, pois recebera várias denúncias acerca dos cristãos, e não sabia como proceder em julgamento, visto que “nada encontrara em suas ações de ímpio ou de oposto às leis. Somente, eles se levantavam antes do ama-nhecer para cantar hinos a Cristo, como a um Deus. Rejeitavam o adultério, o homicídio e os crimes odiosos da mesma espécie, e tudo fazia de acordo com as leis” (EUSÉBIO DE CESAREIA, 2000, p. 158-159). Segundo Eusébio, Plínio “escre-veu ao imperador Trajano, declarando que, exceto a recusa de adorar os ídolos, nada encontrara neles de criminoso”. (Ibid., p. 159). Eis, portanto, um dos gran-des desafios ao querigma: a fé monoteísta e a recusa de prestar culto pagão.
Não se pode estabelecer - escreve o imperador - uma regra geral, que possa funcionar como uma fórmula fixa. Não é o caso de perse-gui-los. Se forem denunciados e houver culpa, devem ser punidos, mas com esta restrição: quem negar ser cristão e o provar com fatos, adorando os nossos deuses, poderá com seu arrependimento obter o perdão, ainda que seu passado seja suspeito. (PIERINI, 1998, p. 65)
A recusa ao culto imperial e ao politeísmo, com efeito, estão entre os maio-res motivos de perseguição aos cristãos nos três primeiros séculos do cristianis-mo, cessando apenas após o édito de Milão, em 313 d.C., o qual “estabelecia a tolerância em relação a todas as religiões e, em particular, aos cristãos [...]” (Ibid., p. 127). Até esse decreto imperial, foram poucos os momentos de plena paz por parte da Igreja na idade antiga, conforme os testemunhos mais antigos da literatura cristã até o século IV.
Não obstante as perseguições violentas e sangrentas, que vitimaram mi-lhares de cristãos, entre leigos, sacerdotes, bispos e papas, tornando-os már-tires, o anúncio do querigma não foi sufocado, já que “Le sang des Chrétiens est une semence”,10 conforme declarava Tertuliano (1827, p. 371). Por mais que o ambiente, a política imperial e a situação cultural desfavorecessem o teste-munho evangélico, os cristãos possuíam um etos de destemor tal que os fa-ziam enfrentar os inúmeros perigos de morte e prisões. Provas disso podem ser encontradas na História eclesiástica de Eusébio de Cesareia (303 d.C.), como também nas “Acta martyrum” (Atas dos mártires), que são uma coletânea de documentos históricos do cristianismo primitivo, “nos quais se apresentam os sofrimentos experimentados pelos mártires cristãos como consequências das perseguições” (MANZANARES, 2005, p. 48).
Entre os exemplos de martírio de cristãos por recusarem a negação a Cristo e ao culto imperial, podem ser citados, entre outros, o de São Policarpo, narra-do na Carta circular da igreja de Esmirna (FOLCH GOMES, 1979, p. 50-55), escri-to do século II d.C., quando diante da proposta do procônsul romano: “‘faze o juramento e eu te libertarei. Insulta ao Cristo’. Respondeu Policarpo: ‘há oitenta e seus anos que o sirvo e nunca me fez mal algum. Como poderia blasfemar meu Rei e Salvador?’”, como também o de Santo Inácio de Antioquia, ocorri-do conforme ele mesmo previra em sua Carta aos romanos (apud LIGHTFOOT, 2020, p. 84-89).
Esses, de fato, entre outros, foram os grandes obstáculos ao anúncio do querigma que, não obstante, se espalhou por todo o império, mundo palesti-nense e greco-romano, entre as culturas e tradições desses povos e dos povos germânicos, e paulatinamente foi transformando-as até formar a civilização ocidental, pois “a Igreja não só não repudiou nenhuma dessas tradições, como na realidade aprendeu e absorveu delas o melhor que tinham para oferecer” (WOODS, 2008, p. 6).
Conclusão
Essa pesquisa objetivou mostrar como o ambiente palestino e greco-ro-mano apresentavam grandes desafios ao anúncio do querigma cristão, e, não obstante, os discípulos do Nazareno anunciaram com bravura e destemor a mensagem salvífica da páscoa do Cristo. Para apresentar essa temática, foram percorridos três caminhos: o primeiro foi o de mostrar como o ambiente pales-tino-judaico oferecia grandes desafios aos cristãos, uma vez que Jesus não fora aceito pelos seus com sendo o Messias esperado.
Num segundo momento foi discorrido acerca do mundo greco-romano, com suas filosofias, culturas, jurisdições imperiais, religiosidades politeístas etc., no sentido de evidenciar como tudo isso era contrário ao querigma cristão, e que, por isso mesmo, representava um grande desafio para o cristianismo dos três primeiros séculos.
No terceiro e último momento o foco estava sobre o anúncio querigmático propriamente dito, apesar dos desafios; e como tudo isso não fez os cristãos sucumbirem, ao contrário, enfrentaram com bravura as hostilidades, persegui-ções e mortes, em nome da fé que acreditavam e professavam.
Foi precisamente desse encontro do cristianismo com o judaísmo e com o mundo greco-romano que nasceu o que ficou conhecido como “civilização oci-dental” (WOODS, 2008, p. 5-6). A herança desse encontro pode ser identificada em vários âmbitos da cultura, como o direito, a moral, a educação, a ciência etc.
Tudo isso deixa entrever que os desafios, por mais que tenham se apresen-tado como gigantescos, e até insuperáveis, se tornaram pequenos e exequíveis diante de uma fé professada com fidelidade, movida pelas certezas fundamen-tais da salvação que Jesus, o Cristo, prometera aos que perseverassem até o final (Mt 10,22).
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[1] Herodes, o Grande, viveu entre os anos 73 a 4 a.C. Como Jesus nasceu antes da morte de Herodes, a datação mais provável do seu nascimento é o ano 6 a.C. No século VI, Dionísio, o pequeno, monge, matemático e astrônomo, fez um cálculo equivocado sobre a data do nascimento de Cristo, contando a partir da fundação de Roma, em 753, quando na verdade, ocorreu entre 746 e 750 da fundação da cidade eterna. Isso gerou um erro de três ou quatro anos. Em vista disso, sua morte deve ser situada, conforme Pierrini (1998, p. 45) não no ano 33, mas no ano 30 d.C., mais precisamente numa sexta-feira, dia 7 de abril.
[2] Cesar Augusto, cujo nome de nascimento era Caio Otávio, nasceu em 63 a.C.; foi o fundador do império romano e primeiro imperador de Roma, em 27 a.C., e ficou no poder até sua morte, em 14 d.C.
[3] A palavra politeísmo - πολυθεϊσμός - provém de dois vocábulos gregos: πολύς, que significa “muitos” e θεός, que quer dizer “Deus”. Portanto, o politeísmo é a crença em muitos deuses, típico das religiões e mitologias antigas.
[4] A palavra monoteísmo - μονοθεϊσμός - provém da junção de duas palavras: μόνος, ou seja, “um só” e θεός, que significa “Deus”. Monoteísmo, portanto, é a crença em um único Deus. As três principais religiões representantes do monoteísmo são o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
[5] De origem latina, o substantivo discipŭlus significa, etimologicamente, aluno, estudante, seguidor. Esse termo era muito comum no mundo antigo, sobretudo greco-romano, para designar aquelas pessoas que se acercavam a um mestre intelectual ou místico.
[6] A palavra evangelho - εὐαγγέλιον - em sua etimologia grega significa “boa notícia”.
[7] A palavra ‘apóstolos’ em língua grega ἀπόστολος significa “enviados em missão”.
[8] Eusébio de Cesareia (263 a 339 d.C.) é um importante Padre da Igreja e bispo. É considerado o primeiro historiador cristão e, por isso, “pai da história da Igreja”, a qual procurou apresentar em sua célebre obra História eclesiástica, datada de 303, com acréscimos posteriores. Essa obra, entre outras de sua autoria, está entre as principais fontes historiográficas da antiguidade cristã.
[9] A frase latina “superstitio nova et maléfica” significa “nova e maléfica superstição”.
[10] No texto original em latim está dito “Semen est,sanguis christianorum”, ou seja, “O sangue dos cristãos é uma semente (de novos cristãos)”.