VOCABULÁRIO TEOLÓGICO, TEOLOGIA PATRÍSTICA

Sergio alejandro ribaric
Doutor em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCRJ). Professor de Teologia Sistemática da Faculdade de Teologia Mosteiro de São Bento- SP. Contato: 
ribaric@gmail.com


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Antônio Bogaz, padre orionita, professor, teólogo e pensador católico, já é um nome conhecido e dispensa qualquer tipo de apresentação acadêmica. Professor de Liturgia e Patrística da faculdade do mosteiro de São Bento e do Instituto São Paulo de Estudos Superiores, é autor de inúmeros livros de teologia além de artista plástico e produtor de vários filmes (mais de 13 longas-metragens escritos e dirigidos). Navega com maestria sobre todos esses campos o que torna cada encontro com sua obra, um momento de conhecimento onde é possível perceber a amabilidade ímpar, característica já bem conhecida dos paroquianos da Nossa Senhora Achiropita - Região Episcopal Sé, SP, na qual é (também!) pároco. A leitura deste volume da série “Vocabulário teológico” das Paulinas torna-se, portanto, necessária e imprescindível.

Com competente prefácio de Joao Décio Passos, professor do Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP, é o primeiro de uma futura série da “coleção Vocabulário Teológico” da Editora Paulinas (São Paulo, 2022), que aborda os tempos iniciais da nossa era cristã: a chamada era dos padres ou patrística.  "A coleção é uma ferramenta de trabalho para estudantes e estudiosos de teologia e ciências afins. Cada volume oferece um rol de temas essenciais das grandes fases da história da teologia, bem como de autores referenciais que a demarcaram com suas contribuições originais. A intencionalidade didática do texto direciona o conjunto sucinto de verbetes que compõem cada volume, assim como a estrutura interna de cada tema sistematizado. O conhecimento desses conceitos esclarece e fundamenta os conteúdos de fé, situa o processo de transmissão da mesma em contínua renovação e contribui com o diálogo crítico e criativo entre os diversos modelos teológicos”. 

Para os menos familiarizados sobre o tema, a “Patristica” recebeu esse nome porque foi desenvolvida pelos primeiros cristãos, ou seja, os Pais da Igreja Católica e buscou a elaboração doutrinal das verdades de fé de um cristianismo inicial. Usando os conceitos da Filosofia Grega, principalmente a de Platão, formou os primeiros tempos do cristianismo, e as fontes cristas que se iniciam com a própria morte de Jesus (alguns historiadores consideram que esse período teve seu início a partir das Epístolas de São Paulo e se encerrou no século VIII).  A Patrística é, portanto, uma corrente filosófica que surgiu na transição da Antiguidade Clássica (Gregos e Romanos) para a Idade Média. Seu maior representante é Agostinho de Hipona (354 - 430).

Nesse período, o cristianismo estava começando a se organizar, era pouco conhecido e muito perseguido por todos os governos e religiões. Basicamente a patrística é a filosofia responsável pela elucidação e formulação progressiva dos chamados dogmas cristãos e pelo que se chama hoje de tradição católica. Por essa breve definição já se apercebe a importância do conhecimento de cada um dos verbetes aqui tratados.  O livro, embora fazendo parte da coleção “Vocabulário Teológico”, não se destina apenas a comunidade de teólogos ou de estudantes de teologia. Apesar de não ter intenção didática, a formulação dos termos atinge todo o público cristão, inclusive leigos, que querem se aproximar da história e do caminhar da ação do ES nos primórdios da Igreja de Cristo. 

Nas palavras do próprio autor: “Os Pais da Igreja são assim denominados por haverem constituído a grande base explicativa da fé. O cristianismo nascera de um encontro ao mesmo tempo tenso e fecundo entre a sabedoria advinda da fé (pistis) e a sabedoria advinda do pensamento grego (gnosis). Verdade revelada e verdade investigada buscaram os meios de dialogar, do ponto de vista de seus respectivos conteúdos e métodos, o que resultou na temporalidade de quatro séculos de um sistema interpretativo amplo, profundo e complexo sobre os significados da fé cristã, segundo as exigências das duas fontes.

O pensamento patrístico testemunha o processo de construção da interpretação racional da fé, desde as fontes bíblicas e com as sucessivas camadas de autores e ensinamentos que se acumularam com o tempo. O gigantesco edifício que daí se eleva diante dos estudiosos de hoje constitui um paradigma que permite entender os modos de pensar a fé no passado e, ao mesmo tempo, a prática teológica atual. O ensinamento que se pode haurir desse conjunto vai além da reprodução dos conteúdos ali formulados na busca de praticar de novo o diálogo desafiante entre o auditus fidei e o intellectus fidei, no contexto atual da racionalidade tecnocientifica”.

Ficha técnica:

BOGAZ, Antônio Sagrado. Vocabulário teológico: teologia patrística. São Paulo, Editora Paulinas 2022.