Anderson Nunes de Carvalho Vieira
Mestre em Agronegócios e Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Contato: andersonvieira.nunes@hotmail.com
Cássia Patrícia da Costa Aguiar
Graduada em Teologia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Contato: cassiacostaaguiar@gmail.com
Elisângela da Silva Carneiro
Especialização em Formação Pedagógica do Professor Universitário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Contato: andersonvieira.nunes13@gmail.com
Resumo: Este estudo versou sobre a imutabilidade do Deus Altíssimo, por meio do Deus Pai e do Deus Filho, numa visão comparativa entre os escritos do Livro do Profeta Malaquias e da Epístolas aos Hebreus. Como questionamento levantou-se: Existe congruência nas cosmovisões sobre a imutabilidade de Deus entre os escritos do Profeta Malaquias e do Escritor da Epístola aos Hebreus? Ou seja, ambos autores estão em consonância no que diz respeito a imutabilidade do Deus Altíssimo? Para solucionar a problemática levantada, teve-se como objetivo geral Identificar se existe concordância da cosmovisão teológica sobre a imutabilidade de Deus entre os escritos do Profeta Malaquias e do Escritor da Epístola aos Hebreus. A metodologia empregada foi a do tipo qualitativa de caráter descritiva e bibliográfica. Conclui-se que existe base bíblica e teológica para afirmar que ambos os escritos estão em consonância sobre a imutabilidade de Deus, porém um na ótica de Deus Pai e outro na ótica de Deus Filho.
Palavras-Chave: Imutabilidade; Profeta Malaquias; Epístola aos Hebreus
Abstract: This study dealt with the immutability of the Most High God, through God the Father and God the Son, in a comparative view between the writings of the Book of the Prophet Malachi and the Epistles to the Hebrews. As a question was raised: Is there congruence in the worldviews about the immutability of God between the writings of the Prophet Malachi and the Writer of the Epistle to the Hebrews? In other words, are both authors in line with regard to the immutability of the Most High God? To solve the problem raised, the general objective was to identify whether there is agreement of the theological worldview on the immutability of God between the writings of the Prophet Malachi and the Writer of the Epistle to the Hebrews. The methodology used was that of a qualitative type of descriptive and bibliographic character. It is concluded that there is a biblical and theological basis to affirm that both writings agree about the immutability of God, but one in the perspective of God the Father and the other in the perspective of God the Son.
Keywords: Immutability; Prophet Malachi;Epistle to the Hebrews
Primeiramente cabe esclarecer que a imutabilidade estudada neste trabalho é referente ao Deus cristão descrito através das Escrituras Sagradas como sendo O Criador de todas as coisas e Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É importante frisar também que Deus não pode ser definido ou explicado em Sua totalidade pela ótica racional de Suas criaturas, ou seja, do ponto de vista humano. Por isso, é necessário compreender que todos os esforços humanos para definir a total plenitude de Deus será insuficiente, uma vez que seres criados e limitados não podem descrever a completa magnitude de um Ser incriado e infinito.
A imutabilidade de Deus é um atributo inerente à Sua própria essência. Junto com os Seus demais atributos, a imutabilidade de Deus torna-O um Ser distinto de Sua criação. Do ponto de vista das ciências naturais, a entropia[1] é uma grandeza física que dá suporte aos postulados da Segunda Lei da Termodinâmica. Ela descreve justamente a característica absoluta da matéria em ser mutável, ou seja, que muda com o passar do tempo. Essa mudança sempre tenderá de um estado organizado para um estado desorganizado, caso nenhuma força contrária atue sobre o meio ou sistema. Assim, toda a matéria existente está sujeita à entropia, a qual dá a característica mutável de todas as coisas criadas.
Já do ponto de vista filosófico, tudo está em constante transformação. Foi Heráclito, filósofo que viveu em torno de 540 a.C. em Éfeso, quem cunhou a expressão “devir”[2]. Segundo Kahn (2009), Heráclito foi um pensador que compreendeu que toda a natureza e as pessoas viviam em constante metamorfose. Por isso, o filósofo teria eternizado a expressão: “nada é permanente, exceto a mudança”. Conforme Kahn (2009) é dele também a analogia do rio: “nenhum indivíduo entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras”. Desta forma, é possível concluir que todas as coisas que se originam da matéria estão em constante mutação e, logo, são mutáveis.
Assim, fica mais do que evidente que a imutabilidade acaba sendo uma característica única e exclusiva de Deus, conferindo-Lhe um atributo divino. Tais atributos de Deus também são conhecidos como Perfeições Divinas, pois retratam Seu grande esplendor, poderio e vontade. Seus atributos são manifestos em toda a Sua criação e são descritos nas Escrituras Sagradas por meio de diversos livros e epistolas. O escritor aos Hebreus discorre sobre a imutabilidade de Deus:
(...) Pelo que, querendo Deus mostrar mais abundante a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento, para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firma consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta. (Hb. 6:17-18). (BÍBLIA DE ESTUDO DEFESA DA FÉ, 2020. p. 1947).
Por isso, a imutabilidade é um dos atributos que diferencia Deus de Sua criação. Enquanto Sua criação está sujeita às leis da natureza e aos padrões morais e éticos de uma sociedade que lhes confere mutabilidade, Deus é um Ser totalmente independente de tais leis e sistemas. Logo, sua imutabilidade diz respeito tanto a seu caráter divino quanto as suas ações como Ser Supremo. Sabendo que a Bíblia Sagrada é um instrumento da revelação divina para os cristãos este estudo se propôs a averiguar a seguinte proposição: Existe congruência nas cosmovisões sobre a imutabilidade de Deus entre os escritos do Profeta Malaquias e do Escritor da Epístola aos Hebreus? Ou seja, ambos autores estão em consonância no que diz respeito a imutabilidade do Deus Altíssimo?
Para solucionar a problemática levantada, teve-se como objetivo geral Identificar se existe concordância da cosmovisão teológica sobre a imutabilidade de Deus entre os escritos do Profeta Malaquias e do Escritor da Epístola aos Hebreus. Como objetivos específicos, propôs-se: a) Conceituar imutabilidade de Deus do ponto de vista teológico e filosófico; b) Descrever as visões sobre a imutabilidade de Deus contida no Livro do Profeta Malaquias e na Epístola aos Hebreus; e c) Identificar se existe compatibilidade teológica, no que tange a imutabilidade de Deus, em ambos escritos.
A imutabilidade de Deus é um dos seus maiores atributos e, assim como os demais, é inerente à sua essência. Este atributo demonstra, grosso modo, que somente Deus possui a personalidade invariável algo que só é possível em um Ser totalmente poderoso. Desta forma, este estudo teve por relevância discutir esta característica divina, a qual contribui e concorda com as demais já conhecidas. A importância de se estudar a imutabilidade de Deus está no fato de nós criaturas querermos conhecer mais da natureza do Criador, atribuindo-lhe, assim, a verdadeira glória e reverencia. Do ponto de vista filosófico, é possível compreender que a imutabilidade de Deus é um atributo que demonstra a sua imensidão e infinitude como Ser. Desta forma, Deus é autoexistente, totalmente independente de Sua criação, infinito em poder e glória e exaltado sobre a natureza, sendo livre de suas leis. Para a Teologia, estudar a imutabilidade de Deus é compreender melhor parte da Sua essência e, como Ele sendo um Ser perfeito, Se relaciona com Sua criação que se tornou imperfeita. É um estudo que se propõe a elevar a relevância do Ser divino, por meio de um de seus maiores atributos, a imutabilidade.
Atributos são característica que fazem parte de um ser, pessoa ou coisa. Esses atributos podem ser intrínsecos, ou seja, que compõe a sua natureza ou adquiridos com o passar do tempo. Quando os atributos são adquiridos com o passar do tempo, ou até mesmo perdidos, este ser, pessoa ou coisa é considerado mutável.
Deus possui diversos atributos que Lhe são únicos, pois emanam do seu Ser. Outros Ele, por sua graça e misericórdia, compartilhou em partes com suas criaturas. Tais atributos podem ser divididos em dois grandes tipos: Os atributos incomunicáveis e os atributos comunicáveis.
Como o próprio nome diz, os atributos incomunicáveis são aqueles atributos que são única e exclusivamente de Deus. Estes atributos são chamados de incomunicáveis porque Deus não compartilha com sua criação, ou seja, são intrínsecos à sua natureza de Criador. É nesta categoria que se encontra a imutabilidade. Os atributos incomunicáveis de Deus são:
Deus também possui diversos outros atributos dos quais Ele compartilha em partes com Suas criaturas. Os atributos comunicáveis de Deus só são perfeitos nEle, porém suas criaturas, em especial o ser humano, possuem partes destes atributos também (Gn. 1:26-28).
Do ponto de vista teológico, somente Deus é o único ser que possui o atributo da imutabilidade. Sobre a imutabilidade Conegero (2020) discorre:
Imutabilidade: significa que Deus não muda jamais, ou seja, tanto Seu ser como Suas perfeições não sofrem qualquer alteração, e Ele não muda, de forma alguma, os Seus propósitos e promessas (Tg 1:17). Aqui é importante entender que qualquer tipo de alteração que as Escrituras pareçam sugerir é apenas figuras de linguagem para que nós, humanos, possamos compreender de forma mais didática o relacionamento dele conosco. (CONEGERO, 2020).
Desta forma, a Teologia Cristã e Judaica considera Deus como sendo um ser que não tem nenhuma sombra de variação e nem mudança de pensamento. Santo Agostinho afirmava que toda a criação poderia ser considerada escalas menores que demonstram a grandeza de um Deus inerrante e imutável. Quando Santo Agostinho faz a comparação das coisas criadas com o Criador, é possível compreender um pouco melhor a natureza de coisas criadas e incriadas:
Pense o homem o que quiser: um ser criado não se compara ao criador. Exceto Deus, tudo o que realmente existe foi feito por Deus. Quem pode calcular exatamente a distância entre o criador e a criatura? (...). Deus é inefável. É mais fácil exprimir o que não é do que aquilo que é. Pensas na terra. Deus não é isto. Pensas no mar. Deus não é isto. Em tudo que existe na terra, homens e animais. Deus não é isto. Tudo que existe no mar, que voa nos ares. Deus não é isto. Tudo o que brilha no céu, as estrelas, o sol e a lua. Deus não é isto. No próprio céu. Igualmente não é Deus. Pensa nos Anjos, Virtudes, Potestades, Arcanjos, Tronos, Sedes, Dominações. Deus não é isto. E o que é então? Somente pude declarar o que não é. Perguntas o que é? O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu (I Co 2, 9). (AGOSTINHO, 1997, p. 85).
Assim, é possível perceber a grande distância que existe entre a finitude das coisas criadas e a infinitude do Criador. Outra característica importante, do ponto de vista teológico da imutabilidade, é a imutabilidade de Deus no que diz respeito à sua vontade e seus propósitos. Deus não foi, não é e jamais será pego de surpresa. Deus não pode mudar de ideia ou de opinião, pois isto demonstra falta de conhecimento ou aquisição de novos conhecimentos e Deus já possui seu conhecimento pleno por essência. Toda e qualquer menção nas Escrituras de que Deus se arrependeu, mudou de ideia, se lembrou de algo é meramente figura de linguagem para que seus pensamentos se tornem mais acessível a suas criaturas. Conforme Dutra (2018):
Deus é imutável com relação à sua vontade e propósito. Uma mudança em seu propósito é, quando um homem determina fazer isso agora, o que determinou não fazer, ou fazer o contrário; quando um odeia aquilo que amava ou começa a amar o que antes odiava; quando a vontade é mudada, o homem começa a querer aquilo que ele não desejou antes, e cessa a vontade daquilo que ele desejou. Mas, tudo o que Deus decretou é imutável; tudo o que Deus prometeu será cumprido: “A palavra que sai da sua boca não tornará para Ele vazia, mas cumprirá o que Ele deseja” (Is. 55:11); qualquer coisa que Ele “quiser, Ele fará” (Is. 46:11; Nm. 23:19); seus decretos são, portanto, chamados de “montanhas de bronze” (Zc. 6:11), bronze, como substância e solidez; montanhas, como sendo imóveis, não só por qualquer criatura, mas por si mesmo; porque eles estão sobre a base da sabedoria infalível, e são apoiados pelo poder incontrolável. (DUTRA, 2018. p. 358).
Ainda conforme Dutra (2018), a imutabilidade de Deus não pode ser distinta de sua natureza, ou seja, Deus e sua imutabilidade são coexistentes em sua essência. Sem essa característica Deus não seria quem Ele é:
A vontade de Deus é a mesma com sua essência. Se Deus tivesse uma vontade distinta de sua essência, Ele não seria o Ser mais simples. Deus não possui uma faculdade de vontade distinta de si mesmo; com o seu entendimento nada mais é que Deus integiens, entendimento de Deus; assim sua vontade nada mais é que Deus volens, se Deus quiser; sendo, portanto, a essência de Deus; embora seja considerado, de acordo com nossa fraqueza, como uma faculdade, é como uma compreensão e sabedoria, eterna e imutável; e não pode mais ser mudado do que a sua essência. (DUTRA, 2018. p. 359).
Como Jesus Cristo também é um no Pai, Ele também possui a mesma essência. Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019) comenta a alegria que todo o cristão deve ter em saber que Cristo é como o pai, o mesmo sempre, ou seja, imutável:
Bem, então, o próximo. Se Jesus Cristo é sempre o mesmo, então, minha alma, se esforce para imitá-Lo! Seja você a mesma, também. Lembre-se que se você tivesse mais fé, você seria tão feliz na fornalha quanto no monte da alegria! Você seria tão contente na fome quanto na abundância (...). (SPURGEON, 2016, p. 215 apud site O estandarte de Cristo (2019).
Desta forma, do ponto de vista teológico, Deus nunca mudou, Deus não muda e Deus nunca mudará. Em Deus não existe sombra de variação, dupla personalidade ou pensamentos ambíguos. Em Deus não existe dúvida, variância ou permuta de ideias. Ele é o mesmo sempre.
A Filosofia é um ramo do conhecimento, que diferentemente do conhecimento científico, não precisa de um método específico para provar suas verdades. Enquanto o conhecimento científico necessita de instrumentos metodológicos, observacionais e falseáveis para comprovar suas verdades, a Filosofia por sua vez trabalha com elaboração de postulados de cunho racionais, com a sistematização de tese, antítese e síntese que, na maioria das vezes, pode ser obtida por meio do instrumento dialético.
A questão da imutabilidade do ser já era discutida pelos filósofos pré-socráticos, e até mesmo por Sócrates, Platão e Aristóteles. Tales, Anaximandro e Anaxímenes, todos de Mileto, chegaram a debruçar pensamentos sobre as questões da mutabilidade e imutabilidade das coisas, pessoas e do Universo. Porém, são Heráclito e Parmênides os pensadores que mais irão debater sobre o tema ao longo da filosofia antiga. Afinal, o ser poder possuir algo de imutável? A imutabilidade existe de fato? Quem ou o que poderia ser realmente imutável em sua essência?
Parmênides de Eléia (530 a 460 a.C.) possui o seu famoso paradoxo do ser e não ser para explicar a questão da imutabilidade, Santos (2013) traz as palavras de Parmênides:
Admitamos que o ser não seja uno, mas múltiplo. Nesse caso, cada ser é ele mesmo e não é os outros seres; portanto, cada ser é e não é ao mesmo tempo, o que é impensável ou absurdo. O ser é uno e não pode ser múltiplo. Admitamos que o ser não seja eterno, mas teve um começo e terá um fim. Antes dele, o que havia? Outro ser? Não, pois o ser é uno. O não-ser? Não, pois o não-ser é o nada. Portanto, o ser não pode ter tido um começo. Terá um fim? Se tiver, que virá depois dele? Outro ser? Não, pois o ser é uno. O não-ser? Não, pois o não-ser é o nada. Portanto, o ser não pode acabar. Sem começo e sem fim, o ser é eterno. Admitamos que o ser não seja mutável. No que o Ser mudaria? Noutro ser? Não, pois o ser é uno. No não-ser? Não, pois o não-ser é o nada. Portanto se o ser mudasse, tornar-se-ia não-ser e desapareceria. O ser é imutável e o devir é uma ilusão de nossos sentidos. (SANTOS, 2013. p. 75).
Parmênides faz uma grande distinção entre o pensar e o perceber, entre o existir e o não existir, entre o concreto e o metafísico. Partindo-se desta lógica, para Parmênides todo o ser é imutável uma vez que o ser não pode ter surgido do não-ser ou se transformar em não-ser. Assim, o ser só pode ser idêntico a si mesmo, e não pode ser o não ser ao mesmo tempo. Por isso, Parmênides acreditava que o ser não poderia ter sido gerado, pois se assim o fosse em algum momento ele seria o não-ser o que contraria a lógica.
Já para Heráclito de Éfeso (500 a 450 a. C.) o mundo é uma constante mudança e está em constante transformação. Para Heráclito, não existe um ser imutável como dizia Parmênides, mas tudo é mutável. Para Heráclito somente a mutabilidade é imutável, ou seja, o que é imutável é que todas as coisas são mutáveis. O devir de Heráclito denotava a ideia de transformação que acontece em tudo, com a existência de alternância de contrários. Spinelli (2003, p. 91) traz as palavras de Heráclito “Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai”.
A metodologia empregada nesta pesquisa é do tipo indutiva. Pesquisas indutivas possuem a característica de formular realidades individuais que podem ser aplicadas em contextos gerais. Conforme Marconi e Lakatos (1986), a metodologia indutiva deve, necessariamente, abranger três fases:
A abordagem utilizada é do tipo qualitativa de caráter descritiva e bibliográfica. A abordagem qualitativa se deve ao fato de a pesquisa envolver variáveis que são de impossível mensuração, ou seja, a imutabilidade de Deus. Outro aspecto a se levar em consideração é que o objeto de estudo, no caso Deus, não é passível de mensuração também. O caráter descritivo da pesquisa se deve ao fato de a pesquisa realizar uma descrição da imutabilidade de Deus, comparando o livro do Profeta Malaquias com a Epístola aos Hebreus de autor desconhecido.
O objeto de estudo é a imutabilidade de Deus, considerando este como sendo o Único Deus[3] para as religiões cristã e judaica. Foram utilizados artigos científicos na área de Ciência da Religião e Teologia, bem como livros sobre o assunto. As Bíblias utilizadas para aprofundamento da descrição da imutabilidade do Deus Altíssimo foram a Bíblia de Estudo Pentecostal (1995) com notas do Pastor Donald Carrel Stamps e a Bíblia de Estudo Defesa da Fé (2009) com notas do colegiado bíblico da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), ambas com tradução para o português por João Ferreira de Almeida e versão literária Almeida Revista Corrigida.
As discussões deste estudo se baseiam na comparação entre o livro do Profeta Malaquias (Antigo Testamento) e a Epístola aos Hebreus (Novo Testamento) das Sagradas Escrituras e identificar se existe concordância da cosmovisão teológica sobre a imutabilidade de Deus entre os referidos escritos.
O nome Malaquias significa “mensageiro de Jeová”, e é possível ver em seus escritos o emprego literal do seu nome. O Livro de Malaquias foi escrito pelo profeta que lhe dá o nome por volta de 430 a 420 a.C. Acredita-se que o livro tenha sido escrito após a reconstrução dos muros de Jerusalém no período pós-exílio judeu na Babilônia, uma vez que o profeta era contemporâneo de Esdras e Neemias. O tema principal do livro gira em torno do amor de Deus para com o Seu povo, o pecado do povo e dos sacerdotes e a vinda do SENHOR. (STAMPS, 1995).
Na Bíblia Sagrada é o último livro do Antigo Testamento, contendo 04 capítulos e 55 versículos. Conforme os estudos da Bibliologia[4], o livro de Malaquias está relacionado entre os livros dos profetas menores[5], haja vista o tamanho de sua obra literária em comparação com os profetas maiores[6]. Cabe frisar que o fato de estar relacionado como profeta menor pela bibliologia não implica dizer que o livro de Malaquias é de pouca expressão ou importância. Também não está relacionado com a estatura do profeta, mas sim com a extensão literária de seu livro. Já na Torá, livro sagrado judeu, o livro do profeta é o último livro de estudos rabínicos proféticos, sendo também o último livro da escritura sagrada judaica.
No tocante ao atributo da imutabilidade de Deus, Malaquias 3:6 descreve “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (SBB, 2009). Nesta passagem o profeta Malaquias ressalta que Deus não muda e jamais mudará e, é justamente este atributo que faz com que Ele não destrua a humanidade (na passagem, o povo de Israel). Por Deus ser misericordioso e perdoar os pecados do seu povo quando este se demonstra arrependido, Ele sempre cumprirá com sua promessa de não aniquilar a humanidade, pois as promessas de Deus são eternas e imutáveis.
É notório que o homem é um ser totalmente mutável, ou seja, está em constante transformação e mudança. E o fato de o homem ser totalmente mutável, deixa claro a necessidade de se amparar e solidificar em um Ser que seja totalmente imutável. Esta afirmação pode ser corroborada em Salmos 102:26-28:
Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão, como roupa os mudará, e ficarão mudados. Mas, tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim. Os filhos dos teus servos continuarão, e a sua descendência ficará firmada perante ti. (SBB, 2006).
Assim, conforme o salmista, o caráter, a essência e a personalidade de Deus são imutáveis. O mesmo pode ser encontrado na Epístola de Tiago no capítulo 1 e versículo 17: “Toda boa dádiva e todo do perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sobra de variação”, (SBB, 2006). Deus não possui instabilidade nem sentimental, nem de caráter e muito menos de atitudes. Desta forma, Deus é imutável em sua essência, em sua natureza, em seus atributos, em suas virtudes, em seus planos e desígnios, nas suas promessas e ameaças.
Desta forma, quando Malaquias escreve ao povo israelita que se arrependa de seus pecados e se volte ao Deus verdadeiro, ele lança mão indiretamente do atributo da imutabilidade do SENHOR, pois ele não muda nem em suas promessas e nem suas ameaças e juízos. A preocupação do profeta era justamente de o povo não mudar sua maneira de viver e com isso Deus trazer juízo sobre a nação, uma vez que Suas Palavras não mudam e nem tornam atrás.
Para a Teontologia[7], a característica imutável de Deus se deve ao fato dEle ser eterno. Assim, a eternidade de Deus significa que Ele sempre existiu e sempre existirá; nada veio antes dEle. Ele existe por si só. É um ser incriado. A imutabilidade do Senhor denota que Ele é sempre o mesmo em Seu ser eterno, (SEMBLANO, 2020). Ainda conforme Semblano (2020) é justamente a imutabilidade de Deus que o torna um ser totalmente amoroso, totalmente misericordioso, totalmente justo, totalmente bondoso e compassivo. Ou seja, o mesmo amor e cuidado que Deus nutre pela sua criação no primeiro dia da existência é o mesmo amor e cuidado que ele nutre hoje.
Malaquias deixa uma lição filosófica também do ponto de vista da imutabilidade do SENHOR: Deus não muda de ideia e nem de personalidade e consequentemente não há sobra de variação. Se Deus fosse um Ser mutável, como a humidade é, ele poderia ter sido um Deus melhor no passado e pior hoje ou vice-versa. Este fenômeno só não acontece porque Deus é totalmente imutável.
Desta forma, uma das maiores lições da imutabilidade de Deus contidas nos escritos do Profeta Malaquias está na segurança que a humanidade pode ter com relação ao Deus Criador, uma vez que Ele não mudou, não muda e jamais mudará, ou seja, porque somente Deus é imutável. Assim, essa imutabilidade pode ser traduzida por segurança em Deus, como é visto também em Malaquias 3:10b:
“(...) E depois, fazei prova de mim, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós uma benção tal, que dela vos advenha a maior abastança” (STAMPS, 1995).
Quando Deus diz por meio de Malaquias “fazei prova de mim”, tal afirmação só é possível para um Ser que seja imutável. É a característica de jamais mudar com o passar do tempo que determina a segurança plena nos atos, personalidade e promessas de Deus. Assim, Malaquias ao mesmo tempo em que dava uma grande repreensão no povo israelita (porque Deus não muda as suas ameaças) ele também dava a esperança e segurança em Deus (porque Deus não muda suas promessas e bondade).
De acordo com Stamps (1995), a Epístola aos Hebreus deve ter sido escrita por volta de 70 d.C. em Roma, não sendo descartado também um período que pode ir de 60 a 96 d.C. O fato é que o autor da epístola é desconhecido até a presente data, porém já foram cogitados como autores o apóstolo Paulo, Lucas, Apolo, Clemente de Roma, Barnabé, Timóteo, Silvano, Felipe e Priscila. Porém, se a autoria é desconhecida, fica evidente em toda a obra que a epístola é direcionada à segunda geração de cristãos[8] judeus. O tema do escrito gira em torno de um novo concerto de Deus para com o homem por intermédio de Jesus Cristo, refutando, assim, o tradicionalismo judaico. A epístola discorre sobre a importância da obra redentora de Cristo e sua supremacia sobre os profetas e sacerdotes.
A Epístola aos Hebreus está localizada no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, sendo o 19º livro do Novo Testamento possuindo 13 capítulos e 303 versículos. Segundo estudos, o termo Hebreu vem de “filhos de Éber” ou עברים, transliterado como Ivrim que significa “povo do outro lado do rio”. Porém, foi um termo muito empregado pelos romanos do século I a X ao povo judeu que até então se autodenominavam israelitas, os quais atualmente são chamados de israelenses de origem semita. Dentro da bibliologia, o escrito faz parte das chamadas Epístolas Gerais, sendo muito utilizada para esboçar o verdadeiro sacrifício de Cristo e o abandono aos hábitos tradicionais judaizantes, (SOUZA, 2006).
Se no livro do Profeta Malaquias a imutabilidade é atribuída ao Deus Pai, na Epístola aos Hebreus essa mesma imutabilidade agora é atribuída ao Deus Filho conforme está escrito em Hb. 13:08: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”, (SSB, 2006). Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019) comenta que, se Jesus Cristo é Filho de Deus, logo também possui os mesmos atributos do Deus Pai. Assim, Jesus Cristo também possui o atributo da imutabilidade. Desta forma, Jesus Cristo e Deus seriam um só, distinto em duas pessoas. É o mesmo que acontece com a noção de casal: Marido e mulher, separados no genótipo e fenótipo, porém unidos em uma só carne conjugal.
Jesus Cristo sendo Deus e compartilhando a imutabilidade do Pai, possui atributos humanos que não mudam. Seu caráter, sua moralidade, seu amor, sua complacência, sua bondade etc. que foram retratadas na esfera humana, são imutáveis. Diferentemente de nós, humanidade caída pelo pecado, Jesus não tem os atributos humanos mutáveis. Pois, se os tivesse não seria Deus. Assim, Jesus conserva todos os atributos de Deus e todos os atributos humanos voltados para o bem de forma imutável. Nas palavras de Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019):
“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre”. Ele é o mesmo em Sua Pessoa. Nós mudamos perpetuamente. A flor da juventude dá lugar à força da virilidade e a maturidade da humanidade desaparece na fragilidade da velhice. Porém, “tu tens o orvalho da tua mocidade”. Jesus Cristo, a quem adoramos, Tu és tão jovem como sempre! Viemos a este mundo com a ignorância da infância. Nós crescemos buscando, estudando e aprendendo com a diligência da juventude. Alcançamos algum pouco conhecimento em nossos anos mais maduros. E então, em nossa velhice nós cambaleamos de volta para a imbecilidade de nossa infância! Mas ó, nosso Mestre, tu foste perfeitamente presciente de todas as coisas mortais ou eternas desde antes da fundação do mundo! Tu sabes de todas as coisas agora e Tu serás o mesmo para sempre em Sua onisciência! Somos um dia fortes e no dia seguinte fracos, um dia resolvidos e no dia seguinte hesitantes, uma hora constantes e a próxima hora instáveis como a água. Nós somos em um momento santos, guardados pelo poder de Deus. No próximo momento nós estamos pecando, enganados pelos nossos próprios desejos. Mas o nosso Mestre é sempre o mesmo — puro e nunca manchado — firme e nunca mudando — eternamente onipotente, imutavelmente onisciente! Nenhum de Seus atributos passará […]. Sem variação ou sombra de mudança, Ele permanece firme e estável. Será que Salomão cantou a respeito de seu mais bem-Amado: “A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos são crespos, pretos como o corvo. Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como flores perfumadas; os seus lábios são como lírios gotejando mirra com doce aroma. As suas mãos são como anéis de ouro engastados de berilo; o seu ventre como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas como colunas de mármore, colocadas sobre bases de ouro puro; o seu aspecto como o Líbano, excelente como os cedros”? (SPURGEON, 2016, P. 47 apud site O estandarte de Cristo (2019).
Através de seu sermão n° 170, Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019) deixa evidente que Jesus, em sua natureza divina e humana, não apresenta variação. Ele usa Hebreus como base para seus esboços fundamentação exegética. No entanto, o mais impactante sobre Cristo é que sua maior característica é totalmente imutável independentemente da ação humana: o amor. Para descrever essa característica de Jesus Cristo, é preciso entender de qual tipo de amor está sendo discorrido. Lewis (2017), em sua obra primorosa sobre o amor cristão “Os quatro amores”, descreve quatro tipos básicos de amor: 1) o Amor Storge (στοργη) que seria o amor fratel encontrado no seio familiar. É um tipo e amor natural, ligado as questões biológicas e de afeto habitual. 2) o Amor Philia (φιλια), que seria o tipo de amor entre amigos que transcende o coleguismo ou o companheiro. É a amizade pura e simples. 3) o Amor Eros (έρως) que está atrelado as paixões e ao amor romântico. Amor com desejos sexuais como sendo sua consumação máxima. E 4) o Amor Ágape (αγαπη) que, para Lewis (2017), é um tipo de amor única e exclusivamente pertencente a divindade composta de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, por ser considerado o único tipo de amor que é incondicional, ou seja, não exige nada em troca. Lewis (2017) afirma que o Amor Eros é imutável e inabalável. É a soma de tudo o que é bom da parte de Deus. E Cristo provou possuir esse amor ao morrer na cruz do Calvário por toda a humanidade sem pedir ou ganhar nada em troca.
Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019) também discorre sobre o amor imutável de Jesus pela humanidade:
A Pessoa de Cristo nunca muda. Se Ele vier à terra para nos visitar novamente, como certamente Ele virá, nós vamos encontrar o mesmo Jesus. Quão amoroso, acessível, generoso, gentil e, apesar de vestido de vestes mais nobres do que usava quando Ele nos visitou pela primeira vez a terra, embora não mais o Homem de Dores e experimentado nos sofrimentos, ainda assim Ele será a mesma pessoa, inalterado por todas as Suas glórias, Seus triunfos e Suas alegrias! Nós bendizemos a Cristo, que em meio aos Seus esplendores celestes Sua Pessoa permanece a mesma e Sua Natureza, inalterada. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente”. Mais uma vez, Jesus Cristo é o mesmo de sempre no que diz respeito a Seu Pai. Ele era o Filho amado do Pai antes de todos os mundos. Seu bem-Amado no ribeiro do Batismo. Ele era o Seu bem-Amado na cruz. Ele era o Seu bem-Amado, quando levou cativo o cativeiro, e Ele não é menos o Objeto da infinita afeição de Seu Pai agora do que era então! Ontem, Ele estava no seio de Jeová, Deus, tendo todo o poder com Seu Pai, hoje Ele está na terra O Homem, conosco, mas ainda o mesmo, sempre. Ele sobe ao alto e ainda Ele é Filho de Seu Pai, ainda por herança, tem um nome mais excelente que os anjos, ainda sentado muito acima de todos os principados e potestades, e de todo o nome que é nomeado! Ó Cristão, dê-Lhe sua causa para defender! O Pai lhe responderá, tão bem, agora, como fez antes! Não duvide da graça do Pai! Vá para o seu Advogado, Ele está tão próximo do coração de Jeová como sempre, quão prevalente em Sua intercessão! Confie nEle; então, confiando nEle você pode ter a certeza do amor do Pai por você! Mas agora há um pensamento ainda mais doce. Jesus Cristo é o mesmo para o Seu povo como sempre. Temos prazer em nossos momentos mais felizes, em dias passados, em pensar nAquele que nos amou quando não tínhamos nascido. Temos muitas vezes cantado com entusiasmo sobre Aquele que nos amou quando nós não O amávamos: Jesus me procurou quando [eu era] um estranho, Extraviado do rebanho de Deus. Ele, para salvar a minha alma do perigo, interpôs o Seu sangue precioso. (SPURGEON, 2016, p. 51 apud site O estandarte de Cristo (2019).
Assim, tanto Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019) quanto Lewis (2017) corroboram com os escritos de Hebreus no que tange a imutabilidade de Cristo em suas duas formas distintas.
Do ponto de vista teológico, a imutabilidade de Deus continua no livro do Profeta Malaquias corrobora com a imutabilidade de Jesus Cristo nos escritos da Epístola aos Hebreus. Enquanto o livro do profeta dá ênfase no agir de Deus sobre o povo de Israel, o autor aos Hebreus debruça esforços em esboçar o amor de Cristo por toda a humanidade, sem distinção.
A exegese é a mesma, porém com aplicações históricas distintas: O profeta ao povo de Deus, os israelitas e o autor da epístola aos Hebreus ao povo cristão da segunda geração. Não há o que se falar em contradição, somente em complementação. Os planos e o agir de Deus é imutável assim como de Cristo também o são. E, considerando que Jesus Cristo também é Deus, é de se esperar que, assim como Deus, Ele jamais muda ou mudará. Na visão de Spurgeon (2016) apud site O estandarte de Cristo (2019):
A mesma estabilidade que a âncora dá ao navio, quando finalmente consegue agarrar-se a alguma rocha inamovível, esta mesma estabilidade a nossa esperança concede aos nossos espíritos, quando, como uma âncora, fixa-se em uma verdade de Deus tão gloriosa como esta: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre”. Não há nenhuma mudança nEle: “Sua vontade é imutável Ainda que obscuro possa ser a minha situação, Seu coração amoroso ainda é Inalteravelmente o mesmo. Minha alma por muitas mudanças passa, Seu amor não conhece variação.” Suas circunstâncias não são nenhuma prova de que Cristo muda, elas são apenas a prova de que você muda. Se Jesus Cristo é sempre o mesmo, então, minha alma, se esforce para imitá-lO! Seja você a mesma, também. Lembre-se que se você tivesse mais fé, você seria tão feliz na fornalha quanto no monte da alegria! Você seria tão contente na fome quanto na abundância. Você se alegraria no Senhor, quando a azeitona não produzisse nenhum azeite, bem como quando o tonel estivesse prestes a rebentar e transbordante. Se você tivesse mais confiança em seu Deus, você seria muito menos jogado para cima e para baixo. E se você tivesse uma maior proximidade com Cristo, você teria menos oscilação! Ontem você podia orar com todo o poder da oração, talvez se você sempre vivesse perto do seu Mestre, você poderia sempre ter o mesmo poder em seus joelhos! Uma vez você poderia oferecer desafio para a fúria de Satanás e você pode enfrentar um mundo carrancudo, amanhã você fugirá como um covarde! Mas se você sempre se lembrar dAquele que suportou tal contradição dos pecadores contra Si mesmo, você pode sempre ser firme e inabalável em sua mente. Guarde-se de ser muito variável. Busquem a Deus para que Sua Lei possa ser escrita em seus corações, como se fosse escrita em pedra e não como se fosse escrita na areia. Busquem que a Sua graça possa vir a vocês como um rio e não como um ribeiro que falha. Procurem manter as suas conversas sempre santas, de forma que o seu curso possa ser como a luz da aurora, que não tarda, mas que arde mais e mais brilhante até que seja dia perfeito. Sejam como Cristo, sempre os mesmos! Mais uma vez, se Cristo é sempre o mesmo, Cristão, alegre-se! Venha o que vier, você está seguro. “Deixem as montanhas de seus lugares serem arremessadas Descerem para as profundezas e enterradas ali! Convulsões agitem o mundo sólido. Nossa fé nunca precisa temer!” (SPURGEON, 2016, p.77 apud site O estandarte de Cristo (2019).
Deus e Seu filho unigênito jamais mudaram, não mudam e jamais mudarão.
Pode-se concluir deste estudo que a imutabilidade do Deus Altíssimo é um dos seus maiores atributos e está ligado aos seus atributos incomunicáveis, ou seja, que Ele não compartilha e não delega para ninguém. Que Sua imutabilidade confere a característica de sempre ser o mesmo em qualquer circunstância. Claramente que isso não exclui as suas diferentes formas de agir, pois Deus é um ser. Sua imutabilidade não O torna estático, mas O torna invariável em todas as suas ações e sentimentos.
Verificou-se ao longo do estudo que no livro do Profeta Malaquias 3:6 Deus não muda e jamais mudará “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (SBB, 2009). Este é um atributo perpétuo, está com Ele desde a eternidade. Deus é atemporal, logo o tempo não lhe traz mudanças e nem sobra de variação.
Conclui-se também que o a Epístola aos Hebreus discorre sobre a mesma forma de imutabilidade, porém em Cristo Jesus Hb. 13:08: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”, (SSB, 2006). Sendo assim, Jesus Cristo herda o mesmo atributo de Deus Pai, sendo ambos da mesma essência. Em Hebreus, não só Cristo, mas também seu reino será eterno e imutável Hb. 12: 28 “Pelo que, tendo recebido um Reino que não pode ser abalado, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverência e piedade”; (SSB, 2006).
Assim, conclui-se do ponto de vista teológico, lançando mãos da metodologia exegética, que tanto os escritos do Livro do Profeta Malaquias no Antigo Testamento quanto os escritos da Epístola aos Hebreus no Novo Testamento estão em consonância e harmonia teológica, racional e exegética. Não há divergências e sim congruências entre ambos escritos, pois falam de um mesmo Deus distinto de duas pessoas, a saber, Deus Pai e Filho. Por fim, parafraseando os dois versículos chaves de ambos escritos: Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente porque o SENHOR não muda e jamais mudou e jamais mudará. Ele é imutável eternamente.
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[1] Entropia: É uma das grandezas da Física que está postulada na Segunda Lei da Termodinâmica. A Segunda Lei da Termodinâmica comprova a finitude de todas as coisas provenientes da matéria, (SERWAY e JEWETT, 2014).
[2] Devir: Pensamento de Heráclito que diz respeito ao mundo em constante mudança e transformação. Para ele o universo seria um “eterno devir”, (KAHN, 2009).
[3] Deus no cristianismo seria distinto em três pessoas: Pai (Deus), Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Também chamado de Santíssima Trindade. Para a religião Judaica, Deus seria Javé (em hebraico: יהוה) — YAHWEH. Este seria o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
[4] Bibliologia é um ramo da Teologia Sistemática que se ocupa em estudar a origem da Bíblia, sua inspiração, história, canonicidade, estrutura e formação literária, (SOUZA, 2006).
[5] Profetas Menores é uma denominação literária para os livros do Antigo Testamento escrito por profetas que possuem um número pequeno de textos. Segundo a bibliologia atual estão neste rol os livros dos seguintes profetas: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, (SOUZA, 2006).
[6] Por conseguinte, os Profetas Maiores seriam os livros do Antigo Testamento com literatura mais densa do ponto de vista da quantidade de sua escrita. Estão neste rol: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel, (SOUZA, 2006).
[7] Teontologia é uma parte da Teologia Sistemática que se dedica a estudar Deus Pai em seus atributos, personalidade e ações, (SEMBLANO, 2020).
[8] Segunda Geração de Cristão é o termo usado por diversos teólogos para os cristãos que viveram próximos à época de Jesus, porém não o viram pessoalmente.