Pessoa humana à imagem e semelhança de Deus no ciberespaço

Human person in the image and likeness of God in cyberspace

Guadalupe Corrêa Mota
Doutora em Educação pela Universidade Católica de Santos. Professora da Universidade Católica de Santos. Contato: guadalupemota@unisantos.br

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Resumo: Nesta segunda década do século XXI, testemunhamos a emergência de novas tecnologias digitais, materializadas na internet, nas redes sociais digitais, nas máquinas providas de inteligências artificiais, que estão a transformar radicalmente a maneira como pensamos, vivemos e nos relacionamos. Para os cristãos, o avanço dessas tecnologias gera reflexões profundas sobre o significado da existência humana, da vida, da morte, e, consequentemente, questionamentos sobre a existência de Deus e do modo como nos relacionamos com Aquele a quem chamamos de Deus-Pai Criador, as Três Pessoas da Santíssima Trindade. Este artigo, em forma de ensaio crítico, a partir de referenciais da Antropologia Cristã e do Magistério do Papa Francisco, e em diálogo interdisciplinar com autores do campo da Comunicação e da Cibercultura Digital, centra-se na discussão sobre o conceito de “pessoa humana como relacionalidade presencial” à luz das transformações sociais e tecnológicas em curso, a partir da questão: que imagem de Deus e que imagem de humano estão sendo gestadas nessa nova configuração das sociabilidades humanas? Na conclusão, reafirma-se a dignidade inalienável da pessoa humana e sua condição de criatura à imagem e semelhança de Deus, cuja referência última de humanidade é Jesus Cristo, frente às pretensões tecnocientificistas e culturais de prescindir do humano e da relacionalidade transcendental no jardim da nova vida cibernética digital, e apontam-se insights práticos para uma ação evangelizadora qualificada no ambiente digital do ciberespaço.

Palavras-chave: Antropologia Teológica; Três Pessoas da Santíssima Trindade; Pessoa Humana; Cibercultura digital

Abstract: In this second decade of the 21st century, we witness the emergence of new digital technologies, materialized on the internet, in digital social networks, in machines equipped with artificial intelligence, which are radically transforming the way we think, live and relate. For Christians, the advancement of these technologies generates deep reflections on the meaning of human existence, life, death, and, consequently, questions about the existence of God and the way we relate to the One we call God-Father Creator. , the Three Persons of the Holy Trinity. This article, in the form of a critical essay, based on references from Christian Anthropology and the Magisterium of Pope Francis, and in interdisciplinary dialogue with authors from the field of Communication and Digital Cyberculture, focuses on the discussion on the concept of “human person as face-to-face relationality” in light of ongoing social and technological transformations, based on the question: which image of God and which image of human beings are being created in this new configuration of human sociability? In conclusion, the inalienable dignity of the human person and his condition as a creature in the image and likeness of God, whose ultimate reference of humanity is Jesus Christ, is reaffirmed, in the face of techno-scientific and cultural pretensions to dispense with the human and transcendental relationality in the garden of new digital cyber life, and practical insights are pointed out for a qualified evangelizing action in the digital environment of cyberspace.

Keywords: Theological Anthropology; Three Persons of the Holy Trinity. Human Person; Digital Cyberculture

Introdução

A antropologia cristã resguarda, como em vaso de ouro, a dignidade inalienável da pessoa, a partir da compreensão de ser humano criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 2-3). Dessa premissa derivam todas as implicações teológicas, eclesiais, pastorais imbricadas na peculiaridade da “relacionalidade” como atributo ontológico constitutivo fundante tanto da Comunidade Trinitária (Deus-pessoas-em-relação) quanto da comunidade humana e do humano singular: pela nossa condição biológica, somos estruturalmente dependentes e determinados à relacionalidade enquanto consciência aberta ao transcendente. A relacionalidade, é, pois, locus da vivência íntima do mistério da fé, em que a pessoa humana e as pessoas divinas desfrutam daquela condição de amorosidade, na qual, identidade e distinção se estabelecem, dando a cada um dos agentes a possibilidade de existência autônoma e livre (PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, 2022). 

Segundo a Antropologia cristã, para que esta relacionalidade se materialize, é necessária outra condição sine qua: a presencialidade. O Deus da tradição judaico-cristã, dá a conhecer-se por diferentes expressões de sua presença: pela sua Palavra, pelo seu Espírito, pela manifestação plena, definitiva e irrenunciável na Encarnação de seu filho Jesus (DV 2). Presença divina atualizada cotidianamente em cada ação de amor em favor da vida, em qualquer condição em que a pessoa humana se encontre. 

Na contemporaneidade, a emergência da cibercultura digital, com os novos entes – dado virtual, informação virtual, realidade virtual, mundo virtual, pessoa virtual, pessoa digital, pessoa eletrônica, comunidade virtual, telepresença, relação “a distância” -, está a tensionar estes fundamentos da antropologia cristã – relacionalidade e presencialidade – diante do que algumas perguntas se impõem: no que constitui e como se experiencia o ser imagem e semelhança de Deus no ciberespaço? Que imagem de Deus e que imagem de humano estão sendo gestadas nessa nova configuração das sociabilidades humanas? A vida virtual no ciberespaço é locus da vivência, pessoal e comunitária, do mistério da fé? Como se materializam, no ciberespaço, relacionalidade e presencialidade, como elementos constitutivos da qualidade salvífica da vivência pessoal e comunitária da fé?

Estamos assistindo a emergência de novas tecnologias de informação, comunicação, educação, gerenciamento da vida em todas as instâncias, baseadas em dados digitais, dispositivos robóticos, telemáticos e em inteligências artificias. Essas tecnologias estão a fazer emergir, igualmente, novos modos de pensar, novos modos de agir e viver, novos modos de se relacionar (SANTAELLA, 2013, 2018, 2021, 2022). O uso cotidiano desses aparatos cibernéticos digitais estão a fazer emergir novas compreensões sobre o sentido do ser humano, o sentido da vida, o sentido da morte, da vida eterna e, por consequência, questionamentos sobre o sentido da existência de Deus que, para a tradição cristã, é o criador de tudo e a tudo governa, conduzindo o ser humano e toda a criação a um destino de plena realização no encontro definitivo com este Deus-Pai Criador (FRANCISCO, 2023, on-line).

A Tradição da fé da Igreja Católica, baseada nas Sagradas Escritura, nos ensinamentos do Magistério, na reflexão teológica, na história e na existência singular de cada criatura humana, afirma que a pessoa é portadora de dignidade inalienável porque foi criada à imagem e semelhança de Deus. Deus que também é compreendido e reverenciado como Deus-Pessoa, a Comunidade Trinitária das Três Pessoas divinas que estabelece uma aliança de amor, de comunicação, de comunhão com toda a comunidade de pessoas humanas. Portanto, na Antropologia cristã, o ser humano, em função desta deferência relacional-pessoal com Deus, alcança lugar de destaque (mas não de exclusividade), o que torna a humanização, do humano e do mundo, mesmo no ‘mundo digital’, uma tarefa permanente para o cristão (FRANCISCO, 2015). 

Nesse sentido, o conceito “pessoa”, resultado da confluência das tradições grega, latina e judaico-cristã (De Mori, 2018), é um conceito fundamental para a constituição da identidade cristã e para a realização da missão do “cristão” em meio ao drama da existência humana, com suas alegrias e incertezas, angústias e esperanças, sonhos e medos (GS). Daí a insistência do Papa Francisco, em todos os seus pronunciamentos, documentos, homilias, mensagens, catequeses, fazer o mesmo apelo: colocar a pessoa no centro de toda a vida da Igreja, de toda ação pastoral, de todo empenho evangelizador. A exemplo de Jesus Cristo.

Com o avanço do capitalismo, a pessoa humana passa a ser compreendida como um indivíduo coisificado, destituído de subjetividade singular, fragmentado por uma ontologia materialista imanente, destituído de seu caráter de criatura à imagem e semelhança de Deus, situado em sua “condição humana” difusa, vaga, impossível de ser qualitativamente determinada (De Mori, 2018). Este ‘indivíduo’ será socialmente reconhecido como “digno’ a partir da quantidade de bens materiais que possui, ou vir a possuir, ou em função de algum cargo público. E a concepção do Deus cristão, Três Pessoas da Santíssima Trindade, também vai se diluindo, tornando-se, igualmente, uma ideia difusa, um conceito abstrato, evanescente que se perde nas brumas da necessidade da existência cotidiana e, mais especificamente, no âmbito da vida privada: 

Deslocou-se a questão da existência de Deus para as verdades indemonstráveis. Deus saía do campo da racionalidade para o da emoção. Valia o que a instabilidade emocional consegue [...] o conteúdo da fé cristã se tornava cada vez mais implausível (LIBANIO, 2006, p. 118).

Chegando ao século XXI, surge uma nova modificação na compreensão do “ser pessoa” com o advento das inteligências artificiais, em que esses artefatos robóticos suscitam a discussão se, a partir da aceitação de que esses dispositivos possuem “inteligência”, “consciência”, “senciência” (IHU, 2023, on-line), poderão vier a ser consideradas “pessoas eletrônicas” portadoras de direitos ou de dignidade, ao nível da “pessoa humana”? Se isto vir a acontecer, como a atribuição e o reconhecimento ontológico de “pessoa” a dispositivos robóticos tensiona a compreensão do ser humano da Tradição cristã, pessoa criada à imagem e semelhança de Deus? 

1. Pessoa à luz da Antropologia Cristã: o ser-em-relação

Em o Compêndio de Antropologia Bíblica, lançado pela Pontifícia Comissão Bíblica, em 2022, lê-se: 

Não se deduz da Bíblia uma definição da essência do homem, mas antes uma consideração articulada de seu ser como sujeito de múltiplas relações. Em outras palavras, podemos entender o que a Escritura revela sobre o homem apenas se explorarmos as relações que a criatura humana tem com o conjunto da realidade” (PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, p. 24. Grifo meu).

E a Laudato Si, do Papa Francisco, vai nos lembrar de três relações fundamentais: com Deus, com o próximo e com a terra (FRANCISCO, 2013, p. 45).

Esta dimensão da relacionalidade como dimensão constitutiva da ontologia humana é evocada em toda a Escritura em diferentes nuances, mas, sem rebuscamentos, no ensinamento de Jesus a respeito dos critérios da salvação ou da perdição quando do julgamento final. Iniciando a perícope, Jesus refere-se a si mesmo como o Filho do “Homem” e, ao final, sentencia: “[...] toda vez que fizeste isso a um desses meus irmãos menores, a mim o fizestes” (cf. Mt 25, 40). 

Na perícope são enunciadas uma série de situações em que a relacionalidade e a presencialidade são os sinais distintivos da pessoa humana amada por Deus Pai, deixando evidente a responsabilização histórica pela existencialização da humanidade entre os homens: é na condição biológica e psíquica dos humanos (e com Francisco envolvendo toda a Criação) que a pessoalidade encontra a sua mais alta ressonância de ser imagem e semelhança de Deus. Quando, na corporeidade, são infligidas violências que causam dor, sofrimento, fome, sede, nudez, opressões de toda ordem, é aí que a imagem e semelhança de Deus se desfigura, embora não anule a condição de dignidade inalienável. É o que assevera Palácio: “O mistério, a santidade, a graça passam pela opacidade da carne [...] Essa condição encarnada do cristianismo é a razão última do discernimento cristão” (PALÁCIO, 1994, on-line).

Essa referência à corporalidade remete-nos à consciência da dinâmica relacional com Deus: é na existência histórica, concreta, cotidiana que a pessoa é convocada a viver a sua vocação como vivente, como criatura, como irmão. E isso só é possível, a partir da corporalidade com a qual habitamos esta realidade terrena. É a partir do nosso corpo que nos sentimos e nos identificamos como seres situados em determinado tempo/espaço. É esta configuração corporal, sempre situada, sempre relacionada, que me traz à consciência a distinção do “eu-pessoa” e do “outro-pessoa”. O corpo me define e me limita como membro de uma coletividade e me coloca naquela condição de pensar a mim mesma, pensar a minha realidade, pensar (e concretizar) a resposta que Deus me fez à existência (LADARIA, 2017, p. 68).

É o corpo humano o locus do encontro entre o humano e o divino, no qual todos os encontros são possíveis de serem sinais – ou antissinais – da novidade evangélica tornada carne em Cristo Jesus, pois “não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no coração dos discípulos de Cristo” (GS, 1).

E esta novidade não é outra coisa senão a concretude da existência do “Filho do Homem”: “É inegável que o anúncio cristão gira, desde o início, ao redor do “acontecido com Jesus”: esse homem Jesus [...] Não se trata de “ideias” claras e distintas, nem de uma “doutrina” bem articulada [...] Trata-se de uma existência humana concreta. De uma história real, muito peculiar” (PALACIO, 1994, on-line).

“Mas que significa ainda a palavra “Deus” quando a experiência que nos abre Jesus faz saltar em pedaços tudo o que a linguagem humana costuma designar com este nome? Que significa ainda “Deus” e o “homem” quem em Jesus os descobrimos como uma relação constitutiva, impensável em termos de sensata razão humana?” (PALACIO, 1994, on-line. Grifo do autor).

“No “acontecido com Jesus” a realidade toda foi afetada nos seus fundamentos: a antropologia, com maneira de entender-se em relação (não há mais homem e mulher) [...] tudo o que existe é “projeto” tendido para o seu futuro, “sombra” que só adquire consistência real (corpo) em Cristo (Col. 3,11) (PALACIO, 1994, on-line. Grifo e aspas do autor).

Papa Francisco, na Evangelii gaudium, Falando sobre o anúncio da novidade cristã, que deve ser feito por todo cristão do modo mais simples possível, em cada encontro, lembra do conteúdo fundamental deste anúncio: 

“O amor pessoal de Deus que se fez homem, entregou-Se a si mesmo por nós e, vivo, oferece sua salvação e sua amizade”. (FRANCISCO, 2013, n. 128, p. 81. Grifo meu). E mais à frente, questiona: “Um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de apresentá-la, de torná-la conhecida, que amor seria”? (FRANCISCO, 2013, n. 264, p. 149. Grifo meu).

Do exposto podemos chegar à seguinte conclusão: a Antropologia Cristã aponta como dados da fé os atributos corporalidade, relacionalidade e presencialidade como constitutivos ontológicos da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus. E é no concreto da existência, vivida em meio às ambiguidades, contradições, paradoxos, alegria e esperanças que a vida humana materializa a vocação singular e comunitária do ser humano como ser-em-relação. Porém, a ubiquidade da cibercultura digital, com a emergência das “interfaces e hibridizações humano-tecnologias nos obrigam a repensar a ontologia do humano em suas múltiplas determinações (SANTAELLA, 2013. Grifo meu), e, de modo especial, em relação à concepção de pessoa humana e de Deus-Pessoa da Comunidade Trinitária. 

É esta tensão, em expansão, que veremos, brevemente, na próxima seção.

2. Ser pessoa na cibercultura: novos entes, novas ontologias

É fato que vivemos hoje em uma ambiência, de escala global, chamada de ciberespaço, que é o “mundo” construído pelo invisível aparato das tecnologias digitais de informação e comunicação, materializada na rede mundial de computadores, na internet, com a consequente formação da cibercultura que são 

todas as práticas sociais comunicativas que passaram a se desenvolver nesses espaços, (sendo que) o traço mais característico do ciberespaço e, especialmente, da cultura que nele viceja reside na velocidade de suas transformações tanto técnicas quanto dos usos humanos correspondentes (SANTAELLA, 2013, p. 30. Grifo meu).

E é neste ambiente de socialização e de vida no qual estão sendo criados entes que estão a desafiar e a tensionar as nossas concepções antropológicas tradicionais: pessoa digital, pessoa eletrônica, gêmeo digital, avatar, perfil digital, inteligência artificial, comunidade virtual, relacionamento virtual, like, deslike, cancelamento, seguimento virtual, engajamento virtual, ranking social etc.

Outras   características do ciberespaço são: o ambiente virtual que se refere ao espaço não físico onde as comunicações, as interações, o armazenamento e compartilhamento de dados acontece; a globalização, em que o ciberespaço transcende barreiras físicas, nacionais, culturais, religiosas; a multimodalidade, pois suporta uma variedade de formas de comunicação e de linguagens: visual, sonora, em movimento, estática, hiperlinks; instantaneidade das interações, dos estímulos e das respostas; e a extrema condição de ameaça e vulnerabilidade em que essas interações acontecem, colocando em risco a privacidade, a segurança pessoal e coletiva, a saúde psíquica, dentre outros aspectos da vida ‘concreta’ dos usuários.

Os artefatos construídos com as tecnologias robóticas, telemáticas, inteligência artificial, e a infraestrutura cibernética digital ubíqua e pervasiva foram apresentados como arautos de uma nova era da ‘condição humana’ que, agora liberada do trabalho maçante, perigoso, poderia dedicar o tempo livre para a fruição, no desenvolvimento da criatividade, para o uso de um tempo ‘bem gasto’ em prol de relações humanas mais saudáveis. O mundo seria um novo jardim do Éden, com os humanos e os demais seres vivendo em grande harmonia.

Entretanto, de acordo com De Mori, “[...] saímos da época das grandes certezas, dadas pelas “grandes narrativas”, e entramos num período de debilidade, que afeta nossa concepção de Deus, de ser humano e do mundo” (DE MORI, 2018, p. 19), e o ciberespaço vem a ser um locus privilegiado para esta evanescência, pois “à multivocalidade da vida urbana veio se entrelaçar a multidimensionalidade e multitemporalidade do ciberespaço, tudo isso sob o signo da efemeridade, do fugaz, fugidio, aparecimento e desaparecimento - nas frações de segundos de toques de dedos apressados” (SANTAELLA, 2013, p. 32. Grifo meu).

Neste ano de 2023, a internet foi “sacudida” por uma avalanche de imagens, criadas com o auxílio de softwares incrementados com inteligência artificial (I.A): em “um minuto” era possível criar uma imagem – estática ou em movimento – a partir de um comando de texto, de voz, de outro desenho ou até mesmo de um simples rascunho. O único empecilho para a criação dessas maravilhas cibernéticas era a imaginação do criador. Impossível precisar quantos bilhões – talvez já trilhões – de imagens foram criadas no período, embora seja possível identificar tendências na tipologia dessas novas criações. Digo ‘novas’, porque, de fato, o uso da I.A liberou o artista humano de um limite biológico na elaboração de uma peça gráfica, feita manualmente. Os algoritmos desses novos aplicativos para a criação de imagens são desenvolvidos para realizarem a captação, análise e síntese de trilhões de imagens disponíveis na internet. Com isso, a imagem resultante de um comando de texto alcança níveis inéditos de composição. Dessa forma, estão nascendo ‘mundos’, ‘realidades’, ‘pessoas’, ‘seres’, ‘eventos’. Ou pelo menos, por enquanto, projeções da imaginação humana para um futuro, de modo geral, nada acolhedor.

As imagens a seguir são algumas dessas tendências que estão a povoar o ciberespaço alimentando ou retroalimentando a imaginação humana e tensionando as concepções de vida, de história, de ser pessoa humana que ainda reivindica o direito à transcendência como dimensão constitutiva de sua integralidade biológica (ARAÚJO, 2022). Estas imagens foram coletadas na rede social Instagram no mês de novembro e dezembro. Não estão sob julgamento ou crítica ou autores humanos destas imagens. Elas são trazidas aqui para ilustrar o quão desafiador é o ambiente do ciberespaço para um projeto de evangelização que tenha como ponto de partida uma compreensão ‘tradicional’ de “ambiente de evangelização’, que seria aquele identificado com os territórios geográficos de um bairro, de uma cidade ou de um país. Em se tratando de ciberespaço essa dimensão geográfica/fronteiriça desaparece como desaparece a noção de ‘encontro com o outro’, a noção de ‘anúncio’ enquanto pronúncia, fala da mensagem evangélica, a noção de ‘comunidade de fiéis’ em que todos podem se conhecer e se assumirem como irmãos. Todas essas noções que são pressupostos para um planejamento pastoral assumem outra forma no ciberespaço. E é esta ‘gramática’ diversa que somos chamados a descobrir, a manejar na nossa tarefa evangelizadora neste ambiente.

3. Implicações teológico-pastorais: nova gramática para o humano no ciberespaço

Papa Francisco é enfático em seu diagnóstico sobre os desafios do tempo presente para a missão evangelizadora da Igreja: “Para nada serviria descrever os sintomas, se não reconhecêssemos a raiz humana da crise [...] há um modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de a arruinar” (FRANCISCO, 2015, p. 65). Daí a necessidade de nos determos para discernir o que estamos construindo e sendo como humanos no ciberespaço, para decidir, conscientemente, qual o lugar do humano nesse mundo de hibridização homem-máquina em expansão, porque, em última instância, “a interconectividade cria novas e prolíficas formas de sociabilidade. Relações humanas mediadas pela tecnologia ainda são relações humanas” (MOL GUIMARÃES, 2022, p. 13. Grifo meu).

Há três campos em que a diluição do conceito de pessoa, de Deus e de mundo encontram forte ressonância na cibercultura com consequentes impactos na atividade pastoral. São elas:

3.1 Sobre a perda do sentido do conceito de pessoa

O esvaziamento do conceito de Deus-Pessoa, de Pessoa Humana em sua integralidade, de tempo histórico como processo na cultura digital informacional. Essa cultura é, predominantemente, marcada pelo individualismo, pela experiência da imaterialidade, da frugalidade dos relacionamentos virtualizados e idealizados, da lógica do cancelamento, do descarte automático do outro, da produção de identidades/avatares ao sabor do humor momentâneo, do consumo contínuo de informações, da realização imediata de desejos, em que religião também se torna objeto de consumo imediato, individual, sem necessidade de pertencimento a uma comunidade de fé. Na verdade, o consumo já se tornou ‘deus’ da religião capitalista e, agora na versão digital, o fluxo incessante das imagens – e do consumo de imagens – presta tributo (ou culto) ao ‘gosto do freguês’.

A vida absorta no mundo virtual vem desfigurando a experiência de transcendência na sua dinâmica de “relação pessoal”, de “busca permanente, de iniciação mistagógica, de itinerário de fé”. Aprofundar-se na dimensão mistagógica do relacionamento com Jesus, na dinâmica do seguimento do discipulado missionário implica experimentar o tempo, a demora, o desconhecido. Implica parar – literalmente – a correria do dia a dia e colocar-se naquela atitude de silenciamento interior, de contemplação, de escuta autêntica da voz do Senhor que nos fala. Mas este parar e silenciar – em meio aos estímulos incessantes das telas – se torna uma experiência física, por vezes, angustiante e prolongada, desnecessária e antiquada. Aprende-se a viver a experiência religiosa mais como um “direito” a ser garantido (lógica meritocrática) e ao acesso imediato, sem que isso implique no difícil exercício da convivência com a comunidade que requer, de cada um, aquela atitude de ‘paciência histórica’ com a caminhada individual.

Nessa cultura do instantâneo, do aceleracionismo, das mudanças vertiginosas, de permanente crise de sentido, não há lugar para a vivência da interioridade, da oração silenciosa, do tempo necessário para o encontro com o Divino. Pelo contrário, busca-se, de toda as formas, a eliminação da calma, da pausa, do contato com a fragilidade, da debilidade, da consciência do limite físico, do fim. 

O conceito do corpo biológico X corpo digital: Essa marca cultural do capitalismo – o culto ao corpo jovem, o culto à aparência da eterna juventude - também ganhou nova dimensão com a cultura digital. A lógica da self - a foto do “rosto perfeito” para a foto instagramável (fotos com características peculiares para a rede social Instagram) - desencadeou o incremento da indústria de cosméticos e da estética em escala global. Hoje em dia, adolescentes preferem uma cirurgia estética, como presente de 15 anos, em vez do tradicional “baile de 15 anos” (JORNAL DA USP, 2021, on-line). Mas não só: uma multidão de crianças, jovens, adultos, idosos submetem seus corpos – de todos os biotipos – a uma rotina de remodelamento forçado por meio de dietas, exercícios físicos, jejuns prolongados, e nos casos mais extremos intervenções cirúrgicas, a fim de se aproximarem de um ideal estético que elimina, sobretudo, as “marcas do tempo” na biologia corporal, e se tornam produto a serem exibidos na vitrine da internet.  O corpo transformado em produto e o humano em empreendedor de si, o homem-empresa.

E, ao nível da subjetividade, a eliminação das características e das funções associadas ao arquétipo limitado, frágil, precário do “corpo biológico” em contraposição a uma estética corporal editada pelos filtros das câmeras fotográficas digitais: a imagem digital não precisa ser a imagem biológica. Aliás, não deve ser, se você quer conquistar e manter milhares de “seguidores”. E o ambiente do ciberespaço é pródigo na produção das estéticas que extrapolam a condição biológica, empurrando a discussão sobre a ontologia humana para níveis da superação total das funções biológicas – respirar, ter sede, ter fome, ter sono, transpirar etc. -, em que se possa substituir o orgânico por órgãos sintéticos. O desafio é vencer o limite final, a morte (ARAÚJO, 2022).

Com efeito o ser humano, mortal por definição, pensando em ultrapassar todo o limite mediante a técnica, corre o risco, na obsessão de querer controlar tudo, de perder o controle sobre si mesmo; na busca duma liberdade absoluta, de cair na espiral duma ditadura tecnológica. Reconhecer e aceitar o próprio limite de criatura é condição indispensável para eu o homem alcance ou, melhor, acolha a plenitude como uma dádiva; ao passo que, no contexto ideológico dum paradigma tecnocrático animado por uma prometeica presunção de autossuficiência, as desigualdades poderiam crescer sem medida (PAPA FRANCISCO, 2023, on-line).

3.2 O sentido de viver em comunidade/sociedade

A natureza desterritorializada do ciberespaço desencadeia esta debilidade da sociabilidade democrática e do sentido de cidadania associada ao pertencimento a um território geográfico ou cultural. A assunção da meritocracia e do produtivismo são valores do neoliberalismo que estão a contaminar aquela pretensão comunitária e solidária originárias da cibercultura. Tem-se a ilusão de que, no ciberespaço, o diálogo, a interação, os compartilhamentos de conteúdos seriam facilitadores do anúncio da novidade evangélica. Mas o que se observa é a disseminação, em escala vertiginosa, de uma cultura de intolerância, de ódio, de fake News, de extremismos que em nada favorece o encontro de diálogo para o anúncio da mensagem de salvação.

As “comunidades de fé virtuais” também têm se constituído como bolhas digitais mais para fins de apologética do que para aquela experiência pessoal de encontro com o ‘outro’ reconhecido em sua dignidade de filho e irmão, criados por Deus-Pessoa à sua imagem e semelhança. Essas comunidades reverberam a mesma lógica excludente, beligerante e hostil em relação à pluralidade que caracteriza nosso tempo presente.

3.3 Sobre ‘memória do povo’ como constitutivo da identidade 

A antropologia bíblica preza a ancianidade como locus da memória da ação de Deus na história. Homens e mulheres, avançados em idade, tornam-se guardiões dos sinais da presença de Deus no meio do povo, como que a indicar o caminho verdadeiro para a construção daquele ideal de vida fraterna em que a dignidade de todos permaneça preservada (GROSS, 2022). Papa Francisco, na sua catequese sobre a velhice reverbera essa deferência do papel dos idosos nas Escrituras e reafirma a importância dos idosos, não apenas em relação à função de guardiões da memória, mas, sobretudo, por serem pessoas que, no contexto da sociedade consumista, são relegados a condição de descartáveis porque já não produzem e pouco consomem. (FRANCISCO, 2022, on-line. Catequese proferida de fevereiro a agosto de 2022 no Vaticano). Trata-se daquela defesa intransigente de toda pessoa, independente de idade, classe social, religião, cor, gênero. 

Mas esta questão da memória como constitutivo da identidade pessoal e coletiva está a se alterar drasticamente quando situada no ciberespaço. O consumo incessante de dados, de informações, de imagens, pela técnica da rolagem da tela de forma acelerada, e sem qualquer referência de espaço-tempo na qual são produzidas, não possibilita a formação de ‘memórias’ pessoais e coletivas nesta referência à construção de identidades situadas ou relacionadas a um território, geograficamente delimitado. 

É que, de novo, temos de nos remeter à característica da desterritorialização do ciberespaço, e da velocidade, como ‘destruidores’ de memória. Além de que, com o armazenamento das informações nas ‘memórias digitais’ (o que antes era privilégio dos anciãos), desvincula-se, na prática, da necessidade da presença física do ancião (ou de qualquer equivalente) para acessar as memórias/histórias de um grupo. Basta recorrer aos dispositivos digitais de armazenamento de informações e conhecimentos. E, de maneira acelerada, impõe-se a cultura globalizada com seus padrões, valores, estéticas e necessidades em vista, unicamente, de atender ao mercado global, ao consumo, ao capitalismo. Identidades locais, valores locais, costumes locais, arte local, religião local (entendendo local, no caso, do Cristianismo, como aquela expressão própria de cada comunidade) diluem-se na homogeneização do ‘global’ que passa a ser considerado como o mais importante.

A seguir, a título de contribuição, apresento alguns elementos a serem considerados quando do planejamento de uma ação evangelizadora no ambiente digital.

Quadro 2 - Evangelização no ambiente digital

Questões

Possibilidades

Limites 

Evangelização Online

A internet oferece um alcance global para a difusão da mensagem religiosa, permitindo a evangelização em larga escala. 

Divergências de interpretação da mensagem evangélica e a possibilidade de mal-entendidos podem surgir devido à natureza aberta da internet.

Há também o limite da língua, restringindo, inicialmente, o anúncio aos falantes do mesmo idioma.

Comunidade Virtual

A criação de comunidades virtuais pode fortalecer os laços entre os membros da igreja, proporcionando suporte espiritual e social online.

A superficialidade (e a facilidade de desconexão) das interações online pode ser um desafio para a construção de relacionamentos profundos e baseados nos princípios da fé.

Educação Religiosa Online

 

A internet oferece recursos vastos para a educação religiosa, com cursos online, vídeos e materiais acessíveis a todos.

A falta de supervisão pode resultar em interpretações errôneas ou deturpações da doutrina.

Participação em Debates e Diálogos

 

A igreja pode se envolver em debates e diálogos inter-religiosos, promovendo a compreensão mútua e a tolerância.

A internet também é um espaço para conflitos e polarizações, podendo gerar debates acalorados e mal-entendidos.

Transmissão de Celebrações e Eventos

 

Transmitir missas, eventos e celebrações ao vivo permite que os fiéis participem virtualmente, independentemente da localização.

Questões técnicas e a falta de interação física podem afetar a experiência religiosa dos participantes online. Porém, a natureza da liturgia católica requer a presencialidade do fiel e o modo online não substitui a celebração presencial.

Ética Digital

 

A igreja pode promover uma ética digital, incentivando o uso responsável da tecnologia e combatendo o discurso de ódio, as fake News, os preconceitos.

Lidar com questões éticas complexas, como privacidade e segurança online, pode ser desafiador, ainda mais em situação de total impossibilidade de verificação e controle do conteúdo.

Apoio Pastoral Online

 

Oferecer aconselhamento e apoio pastoral online pode ser crucial, especialmente em momentos de crise, tragédias, isolamento.

A confidencialidade pode ser mais difícil de manter, e a qualidade do apoio pode variar devido à natureza virtual.

Desafios da Secularização

 

Enfrentar os desafios da secularização ao utilizar a internet como meio para reconectar-se com aqueles que se afastaram da fé.

A internet também pode expor a igreja a críticas intensas, a desafios ideológicos e a debates acirrados entre membros da própria comunidade de fé, o que viria a caracterizar um contratestemunho diante de não cristãos.

Responsabilidade Digital

 

Assumir a responsabilidade digital ao monitorar a disseminação de informações falsas e promover uma presença online autêntica.

O controle sobre a informação é limitado, e a igreja pode se deparar com desafios na gestão de sua reputação online.

Fonte: Profa. Dra. Guadalupe C. Mota, dezembro 2023.

Conclusão

A tarefa que a experiência no ciberespaço está trazendo para a Antropologia cristã é esta: não se trata de caracterizar a ontologia do ser pessoa virtual, tentando encontrar nas Escrituras referentes para legitimar este ente que se dissemina de maneira acelerada que já domina fiéis cristãos, enquanto lógica não cultural ou geograficamente situada, descaracterizando a condição da relacionalidade e da presencialidade como constitutivos da identidade cristã. Nada há nas Escrituras sobre avanços tecnológicos do século XXI.

A grande tarefa da Antropologia é a de nos relembrar, a nós ‘humanos biológicos’, a ancestral vocação de ser pessoa humana no quadro da história da salvação. Salvação entendida como experiência pessoal e comunitária da relação amorosa entre o humano e o divino, em que se distingue e se especifica a nossa condição frágil e mortal. E, ainda que esta fragilidade e finitude habite o nosso corpo mortal, é nele que a glória de Deus se manifesta em todo o seu esplendor, relembrada pelo salmista: “O que é o ser mortal para que te lembres dele, e o filho do ser humano para que cuides dele”? (cf. Sl 8).

Assim, pois, como Jesus se encarnou em determinado tempo histórico e cultura e aprendeu a ser e a viver como o seu povo na vivência cotidiana, é preciso que cristão se ‘encarne’ na cultura digital do ciberespaço para que o anúncio e a vivência da fé se tornem fermento na massa (cf. Lc 13,21) e possa gerar vida nova e uma nova humanidade.

Referências

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