Prezado(a) leitor(a)
Por uma teologia situada...
O pensamento da fé cristã não pode ficar distante da realidade. Neste sentido, a Teologia deve se fazer próxima das questões humanas, abandonando o modelo abstrato e manualístico, assumindo à dimensão histórica. Esse modo de fazer teologia, vinculada à fé a vida, ele está fundamentado no mistério da encarnação. Por meio da encarnação, a realidade celeste e a terrestre se uniram, não havendo mais a possiblidade de se separar a dimensão salvífica da dimensão histórica.
A relação entre a salvação e a história possibilita uma teologia no estilo místico, uma reflexão da fé como ato segundo, já que a realidade com suas tramas, antecede o pensar a fé. Segundo o Papa Francisco. “O Evangelho convida, antes de tudo, a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-o nos outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos” (EG 39).
Nesta edição, a Revista eletrônica Espaço Teológico, oferece uma série de artigos que fazem essa ponte entre pensamento teológico e atualidade. No primeiro artigo, O Papa Francisco e a questão dos ministérios eclesiais: da pirâmide (invertida) a imagem do poliedro, de Anderson Costa Pereira e Ney de Souza, reflete-se sobre os gestos simbólicos surpreendentes do Papa Francisco com relação a dimensão eclesial e social. Em ambos os casos, as figuras do poliedro e da pirâmide invertida mostram-se emblemáticas. Essas figuras ressaltam valores fundamentais para o cristianismo e para a sociedade, destacando o valor da diversidade e do serviço descentralizado. Diante desta proposta do atual pontífice, os autores perguntam sobre como aplicá-los numa instituição de estilo monárquica e hierárquica?
O artigo seguinte, Em busca do fundamento cristológico para a práxis libertadora: entre Jon Sobrino e Juan Luis Segundo, de Antonio Eduardo Pereira Pontes Oliveira e Vicente Artuso, apresenta duas elaborações cristológicas fundamentados na práxis libertadora. Em ambas cristologias, percebe-se à rica presença dos estudos sobre Jesus histórico, permitindo uma proximidade da reflexão teológica ao contexto social e cultural atual. Já, o terceiro artigo, De Deus Todo-poderoso ao Pai de Misericórdia: a imagem de Deus pós-teísta e o no pensamento do Papa Francisco, de Roseane do Socorro Gomes Barbosa, explana acerca de alguns argumentos pós-teístas que enfatizam a necessidade de superar os conceitos: Theós e religião. Neste texto, a autora argumenta sobre a indispensabilidade de o cristianismo fazer-se adulto, frente aos vários questionamentos oriundos da crítica pós-teísta. Para tal empreitada, Roseane pensa o Deus Todo-poderoso, tendo como contraponto o pensamento do Papa Francisco, resgatando a figura paterna de Deus.
O quarto texto, E Deus disse: “haja uma só fé”. e houve o monoteísmo. o poema da criação (Gn 1,1–2,4a) enquanto credo javista, de Diego Augusto Gonçalves Ferreira, versa sobre uma temática bíblica. Nele, o autor considera às narrativas que tratam da origem do mundo, retomando à gênese do poema da criação, restaurando à fé de Israel no período pós exílio da Babilônia. O artigo subsequente, O milagre no pensamento científico e evolucionista, de Josiney Alves de Souza, trata da questão dos milagres. Nele, o autor pensa a temática do milagre ao lado do pensamento científico e evolucionista. Em sua visão, a reflexão sobre intervenção divina é apresentada em harmonia com a confirmação bíblica da inviolabilidade das leis da natureza, possibilitando uma conciliação das acepções distintas de milagre.
No sexto artigo, Evangelicalismo e política no brasil em perspectiva da teoria da estetização da política de Susan Buck-Morss: um ensaio sobre o fascismo, de Petterson Brey, estabelece um espelhamento dialogal entre alguns aspectos selecionados da teoria da estetização da política de Susan Buck-Morss e o panorama brasileiro contemporâneo acerca do evangelicalismo e a política. Nele, o autor afirma que o fascismo decorre de um processo de manipulação (manipulação das massas), relacionando o envolvimento do evangelicalismo brasileiro com a estetização política desenvolvida pelo fascismo europeu.
Boa Leitura
Glaucio A. F. de Souza – Editor