DA TIRANIA AO DISCIPULADO

Ms. Pe. Edson Donizete Toneti

RESUMO

O artigo retoma uma reflexão ao mesmo tempo envelhecida e atual, ou seja, o poder que configura a tirania e o modelo cristão de discípulo espelhado na prática de Jesus Cristo. Nas tiranetes reside o continuismo e aprofundamento dos vazios na justiça social, porém nos discípulos desponta uma nova esperança de transformação da sociedade.

Palavras-chave: Tirania, discipulado, poder e liberdade.

 

ABSTRACT

This article retakes an aged and current reflection at the same time, that is, the power that configures tyranny and Christian model of disciple look like the disciples of Jesus Christ. In the tyranny there is continuity of emptiness in social justice; however, in the disciples it blunts a new hope of transformation of the society.

Key words: Tyranny, disciple, power and freedom.


INTRODUÇÃO 

Em meados de Setembro de 2006 aconteceu na Cidade do México o Segundo Congresso sobre Doutrina Social da Igreja para o Continente Latino Americano. A proposta para este encontro era de realizar um exercício de discernimento dos sinais dos tempos no Continente. Esta tarefa sempre necessária, também teve o intuito de contribuir na missão dialogante das Comunidades Eclesiais com o mundo, a fim de 'recuperar a criação' ante os devastadores e crônicos problemas sociais, que se apresentam hodiernamente como um desafio e tanto. A motivação para tal empreitada é sempre nova e esperançosa, pois é resposta a Jesus Cristo que, pela palavra e ação, indica caminhos de vida e libertação para os povos latino-americanos e outros.

Temática latente desde longa data na teologia latino-americana, refletiu-se mais uma vez sobre a possibilidade real de diálogo Igreja-Mundo e Mundo-Igreja à luz da Carta Apostólica [1] Octogésima Adveniens do Papa Paulo VI. A possibilidade de alternativas ao movimento que se convencionou chamar globalização tem sido uma forma de enfrentamento ante as tiranias modernas. Porém, não deixa de ser um espelho para o qual a Igreja também se vê desafiada a olhar, desde de sua estrutura até sua missão propriamente dita. Este tem sido um itinerário onde a paciência histórica no seio eclesial, e fora dele, é primordial, pois os efeitos globalizantes soam ligeiramente incômodos, mas paradoxalmente instrutivos e destrutivos na vida sócio-eclesial.

 

PODER E LIBERDADE: PARA REFLETIR

Quando Hans Kung publicou o livro intitulado Projeto de Ética Mundial: uma moral ecumênica em vista da sobrevivência humana, ele principiou recorrendo ao documento preparatório para a reunião mundial das Igrejas cristãs em Seul em 1990 [2] que trazia números alarmantes quase 20 anos atrás, a saber:

1- A cada minuto, os países do mundo gastam 1,8 milhão de dólares com armamento militar.

2- A cada hora morrem 1.500 crianças por causa da fome ou por causa de doenças provocadas pela fome.

3- A cada dia deixa de existir uma espécie de animal ou vegetal.

4- A cada mês são acrescentados pelo sistema econômico mundial mais 7,5 bilhões de dólares de dívida ao 1,5 trilhão de dólares de dívidas já existentes. (...)

5- A cada ano é devastada para sempre uma parte de floresta tropical correspondente a 3 ou 4 vezes a área territorial da Coréia.

A façanha de tamanho desastre é uma verdadeira 'ogiva nuclear' na vida social da humanidade. Caso fosse retratado com números atuais, a indignação só aumentaria com o que no âmbito secular comumente se denomina desenvolvimento e, no eclesial, se pode chamar de vazios da Doutrina Social da Igreja. O anseio de uma visualização positiva dos números sociológicos sempre foi grande, embora não raras vezes tenha sido acompanhado pela falta de ousadia, subserviência, alienação, ou quem sabe, excessivo zelo pastoral. Os números costumeiramente jogam contra o povo e não é este o maior problema que a Doutrina Social da Igreja enfrenta. A dificuldade maior está em ver que o povo não titubeia em jogar contra o próprio povo. Seria demasiado forte a expressão comparativa de que para cada direito reclamado, para cada sinal de esperança, para cada gesto de respeito à cultura do outro, para cada luta de movimento social, para cada área ambiental preservada, para cada dívida ressarcida, etc, existe uma contrapartida mesquinha e hipócrita. Doutra forma se pode argumentar que a missão evangelizadora que a Igreja propõe aos cristãos leigos ainda é ínfima no mundo globalizado, pois padece de uma cadência prática, ainda que haja a argumentativa. Por que será ?

O eco do Segundo Congresso sobre Doutrina Social para o Continente Latino-americano também reconstrói sonhos de 20, 30, 40 e 50 anos atrás, para averiguar apenas um passado recente, que ainda estão vivos no coração da Igreja, quiçá no coração dos pastores. Sonhos como a Opção pelos pobres (tanto na consciência da desigualdade-exclusão como na dimensão da espiritualidade bíblica); O compromisso da Igreja com a democracia (em tempos de globalização excludente); A questão das migrações e suas conseqüências (vivemos um continente em mobilidade); O papel da mulher (tanto na sociedade como na Igreja); Autocrítica na Igreja (para reconhecer que as suas estruturas não estão respondendo aos novos sinais dos tempos); a necessidade urgente de retomada da evangelização integral; superação do clericalismo; revalorização do protagonismo dos leigos/as; Ecologia como integrante da opção pelos pobres, os que mais sofrem com a destruição da natureza; Diálogo ecumênico e inter-religioso. São poucos os sonhos para o tamanho do 'colchão' e dos seres humanos que repousam sobre ele. Como diz o próprio Compêndio da Doutrina Social da Igreja, "para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário valorizar o amor na vida social – no plano político, econômico, cultural –, fazendo dele a norma constante e suprema do agir. Se a justiça é, em si mesma, apta para 'servir de árbitro' entre os homens na recíproca repartição justa dos bens materiais, o amor, pelo contrário, e somente o amor (e portanto também o amor benevolente que chamamos 'misericórdia'), é capaz de restituir o homem a si próprio." [3]

Uma sociedade solidária e humanizante é também sonho antigo do povos latino-americanos, porém esbarrando num ou noutro desgoverno que culmina quase sempre num pesadelo, que poderia apenas ser 'noturno', mas já se incorporou há muito à nossa realidade.

Na Antiguidade foi dada uma receita nada convencional em forma de poesia. Quando Homero eternizou seu pensamento na ILÍADA, também devia ter suas motivações para, a seu tempo, lançar luzes ou talvez sombras na realidade que o cercava. "Em ter vários senhores nenhum bem sei, que um seja o Senhor, e que um só seja o rei, dizia Ulisses em Homero, falando em público. Se nada mais tivesse dito, senão: Em ter vários senhores nenhum bem sei, estaria tão bem dito que bastaria; mas se para raciocinar precisava dizer que a dominação de vários não podia ser boa, pois o poderio de um só é duro e insensato tão logo tome o título de senhor, em vez disso foi acrescentar o contrário: Que um só seja o Senhor, e que um só seja o rei." (ILÍADA, II. 204-205) Este governo de um só ao qual a história tem servido de palco no decorrer dos séculos, também tem sido o protagonista de grande parte dos fatos que criam os números supracitados e, desafortunadamente, pode estar sendo o suporte para o jogo do povo contra o povo. Por que uma conclusão tão negativa ? Pelo simples motivo de perceber que a cada tirano 'eleito' correspondem um sem número de tiranetes, que outra coisa não fazem senão reproduzir a força tirânica e zelar pela sua ostentação. A relação que se estabelece neste tipo de governo não se pauta pela solidariedade ou pela humanização, mas pelo medo ou desejo de poder e dinheiro. Por que será ?

O Continente Latino-americano ja passou por dissabores políticos dos mais variados, assim como situações constrangedoras para a própria Instituição Eclesial. Também já alcançamos mudanças consideráveis na estrutura política e econômica, assim como a emancipação, à duras penas, de bandeiras sociais. Porém, ainda nos vemos numa encruzilhada que parece levar a uma conclusão no mínimo provocativa, sobretudo se considerada junto com a caminhada da Igreja Latino-americana e seu contínuo desejo de liberdade: a lógica do poder é contrária à lógica da liberdade. Sem liberdade para agir, as opções e os compromissos que convém tomar como Comunidade de Fé para realizar as transformações sociais, políticas e econômicas que se apresentam como necessárias e urgentes perdem sua força. A experiência política na América Latina deixa claro que o exercício do poder, portanto, deve estar eivado de outros instrumentais que não os que a história tem demonstrado ineficazes para o bem comum até aqui. A experiência eclesial também pode ser luz para um bom discernimento do que seja semear a boa semente, sobretudo se considerada a experiência das Comunidades Eclesiais de Base. Sabedoria é um dom que supõe serviço, mas não servidão.

Neste diapasão, pode ser interpelada a ação institucional da Igreja no Continente Latino-americano, uma vez que também aqui parece não haver boa adequação entre as propostas do Magistério e a dinâmica do mundo secularizado. Os sonhos latino-americanos não se confundem com apreensões históricas, mas passam pelas mesmas a fim de tornar a realidade da sociedade mais humana, solidária e menos tirânica e subserviente. Numa relação de iguais, salvaguardados os ministérios próprios de cada um, encontramos o problema da alteridade tanto na relação social quanto na relação eclesial, pois ambas ainda conservam uma idéia de pretensa servidão. A falsa consciência, denunciada nos moldes de Medellín e Puebla, e a cegueira continuam fazendo com que o laicato seja receptáculo, uma espécie de massa inerte sobre a qual imprime-se um poder que lhes é estranho, pois os precede [4]. Excepcionalmente, de onde deveria brotar nova relação, costumeiramente se estabelece relação semelhante àquelas geradas pela tirania, ou seja, o Povo de Deus não promove, apenas é promovido quando a conveniência política permite. Esta problemática faz com que o povo seja sempre marionete, não o autor, de uma vontade que, a cada dia, a cada instante, gera o poder. Ao término de uma conferência latino-americana cujo foco é o discipulado, ainda tateamos caminhos para a missão, pois não crescemos o suficiente para discernir como cristãos nossa responsabilidade na missão. Tal fato não se deve ao descompromisso, mas ao mantenimento da servidão.

O discernimento necessário à Igreja para lidar com 'seu poder' está na luz das palavras inalteráveis do Evangelho. Ao denunciar o que o exercício do poder não deveria ser, por exemplo, Jesus Cristo revelou o poder serviço que objetiva a dignidade humana, contrário senso do poder tirânico que se deleita com uma ilusão que ofusca a visão concentrada da realidade. À Igreja, Mãe e Mestra, 'restou' a fidelidade evangélica, cuja missão está justamente na libertação da humanidade quando anuncia Jesus Cristo e seu Reino como realidade salvífica. Por este motivo também, a sabedoria que a Igreja institucional administra junto ao Povo de Deus, deveria torná-la ainda mais, uma comunidade discipular por excelência. Na contramão da governança tirânica e subserviente, a ela cabe promover os batizados na transformação da sociedade latino-americana em uma comunidade mais humana nos minutos, horas, dias, meses ou anos. Pode ser que o quadro social e seus números sejam outros. O povo pode se dar conta de que não dá vitória jogar contra si próprio. Desta forma o saber e o conhecimento da verdade evangélica são condições da liberdade porque são muralhas às ilusões que consolidam a tirania e combatem o esquecimento das indignações, algo querido na atual configuração política que se deleita com os bons números, mas tem repugnância de seus débitos.

Os verdadeiros sábios não se arrogam apologetas da sabedoria, mas a partilham assim como Jesus o fez nas Parábolas. Os verdadeiros tiranos, por sua vez, a compreendem, pois governam, sempre, por meio da censura e do auto-de-fé dos livros. A prática eclesial e institucional [5] pode, ecumenicamente, contribuir muito para a comunhão da comunidade humana e para a comunidade humana comungar princípios comuns. A eleição do discípulo se dá menos pelo seu caráter institucional e mais pela sabedoria com que promove a aquisição da verdade, oferecendo na mesma proporção valores sólidos o bastante para não colocar povo contra povo ou conduzí-lo ao erro. Em palavras pastorais a CNBB disse de evangelizar pelo testemunho de comunhão, serviço, diálogo e anúncio. Ninguém precisa de uma plataforma de governo melhor que esta, porém precisa sair do argumento e ser mais prático. Cada vez mais se ouve dizer que a fé em Deus não tem nada a ver com política, economia, educação, trabalho, moradia, saúde, etc. Estes, aliás, são chavões pastorais que marcaram época, mas também permanecem campo fértil de incubação da corrupção, da falta de ética nas relações, da desigual distribuição dos bens, das dívidas e catástrofes naturais antecipadas. Mas se, como Jesus, acreditamos que Deus é Pai e Mãe de todos os seres humanos, então a fé terá necessariamente um reflexo social e nos obrigará a promover o ecumenismo e a lutar pela justiça e pela paz, transformando o que é célula 'cancerígena' no tecido social implodido por certas 'ogivas nucleares'.

Para Jesus Cristo o mais importante nunca foi a ostentação do poder, mas a medida com que o poder se desnuda de sua tirania e se torna sinal de comunhão apostólica. Sua ação evangelizadora é uma recomendação para que 'tiranetes' deixem de confabular sobre o tesouro alheio e, como discípulos, estejam mais atentos às necessidades da comunidade. É como dizer que em primeiro lugar não há que saber se a pessoa pertence à comunidade, mas sim se ela pode realizar o bem que a comunidade deve realizar. A comunidade eclesial não tem o monopólio de Jesus. Jesus [6] não pertence a nós católicos, nem a nós cristãos, mas nós cristãos pertencemos a Ele. A pertença não será escandalosa justamente se os discípulos forem capazes de ir além do pão e circo, uma vez que compreendem na plenitude o gesto de oferta que Jesus fez de si no pão e no vinho como fonte de salvação. Esta ação salvífica em nada se assemelha aos jogos ilusionistas de uma tirania. Em vez de brigar entre nós, povo, para saber quem é o melhor cristão, é melhor fazer o que Jesus pediu a João, ou seja, não querer impedir as pessoas de fazer o bem por causa e em nome de Jesus Cristo, mas colaborar com todos que procuram libertar os outros do poder do mal. Este pode ser o horizonte ecumênico [7] capaz de imprimir um novo ritmo aos anseios de cá e de lá no campo da justiça social, preenchendo os vazios da Doutrina Social da Igreja e abrindo novas perspectivas de diálogo para os povos latino-americanos.

O título do presente artigo pode parecer estranho aos olhos do leitor, mas também instigante quando recordamos que, entre os outros males combatidos por Jesus, estavam as falsas lideranças. Jesus percebeu a mentalidade tirânica das autoridades da época e a denunciou clara e abertamente. Não teve medo de denunciar a hipocrisia de muitos líderes religiosos, tais como os sacerdotes, escribas e fariseus [8]. Diante das ameaças do poder político, econômico e religioso, tanto dos judeus como dos romanos, Jesus não se intimidava, mas conservava uma atitude de grande liberdade [9]. Agindo assim Jesus fazia estremecer as pilastras de uma tirania multifacetada e das tiranetes que a sustentavam, pois incomodava todos os que estavam instalados no seio de um poder corrupto e corruptivo. De vez em quando a divisa entre o tirano e o discípulo é estreita, assim como pode ser peculiar aderir à função de tiranete e abandonar a missão discipular.

A Igreja Latino-americana busca reavivar seu ardor missionário sem perder a identidade que é própria dos discípulos de Jesus Cristo, quando à luz da Palavra de Deus lida, refletida, rezada, cantada e celebrada, esta Igreja Povo de Deus, procura colaborar [10], contando com a ajuda de todos os homens e mulheres de boa vontade, na solução dos graves problemas que afetam boa parte de sua população. A estreita relação entre evangelização e libertação [11], fé e vida, já faz parte do patrimônio desta Igreja e caracteriza a luta pela justiça na construção da paz [12]. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja nos faz reviver uma firme esperança quando diz que "os cristãos, especialmente os fiéis leigos, são exortados a comportar-se para que brilhe a força do Evangelho na vida cotidiana, familiar e social. Eles se apresentam como filhos da promessa quando, fortes na fé e na esperança, aproveitam o momento presente (cf. Ef 5, 16; Cl 4, 5) e esperam a glória futura pela paciência (cf. Rm 8, 25). Mas não escondam esta esperança no íntimo da alma, e sim pela renovação contínua e pela luta contra os dominadores do mundo das trevas, contra os espíritos da malícia, também a exprimam nas estruturas da vida secular. As motivações religiosas de tal empenho podem não ser compartilhadas, mas as convicções morais que dele decorrem constituem um ponto de encontro entre os cristãos e todos os homens de boa vontade." [13]

 

CONCLUSÃO

Por fim, o reclamo por mais discípulos propõe a velha e sempre nova reviravolta nas relações, de tão claro que está que as posturas tirânicas estão fadadas ao fracasso dia menos dia. Por que será ?

Cada vez mais se impõe aos setores da sociedade e da Igreja uma perspecitiva participativa, reclamada no âmbito específico da instituição eclesial pelo princípio da subsidiariedade e pelo horizonte ecumênico. Esta característica desinstaladora, desvela a incômoda vocação cristã, qual seja, escancarar o problema das tentações tais como Jesus o enfrentou. Contemporaneamente falando, lidar com o problema do poder, da dominação ou subserviência, travestido ele de qualquer tipo de roupagem que lhe seja conveniente.

A lógica do poder foi, é e será contrária à lógica da liberdade.

 

Ms. Edson Donizete Toneti
Mestre em Teologia Moral pela Pontífícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção.





BIBLIOGRAFIA

KUNG, Hans. Projeto de Ética Mundial: uma moral Ecumênica em vista da sobrevivência humana, tradução Haroldo Reimer, São Paulo: Paulinas, 1993.
PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, traduzido pela CNBB, São Paulo: Paulinas, 2005.
DEBERGÉ, Pierre. Ética do poder: abordagem bíblico-teológica, tradução João Paixão Neto, São Paulo: Paulinas, 2002.


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Notas


[1]
Parágrafo 4 da Carta Apostólica Octogésima Adveniens do Papa Paulo VI ao Cardeal Maurice Roy, em 1971, para celebrar o octogésimo aniversário da Encíclica Rerum Novarum: "... É às comunidades cristãs que cabe analisar, com objetividade, a situação própria do seu país e procurar iluminá-la, com a luz das palavras inalteráveis do Evangelho; a elas cumpre, haurir princípios de reflexão, normas para julgar e diretrizes para a ação, na doutrina social da Igreja. (...) A essas comunidades cristãs incumbe discernir, com a ajuda do Espírito Santo em comunhão com os bispos responsáveis e em diálogo com os outros irmãos cristãos e com todos os homens de boa vontade, as opções e os compromissos que convém tomar, para realizar as transformações sociais, políticas e econômicas que se apresentam como necessárias e urgentes, em não poucos casos."

[2]
KUNG, Hans. Projeto de Ética Mundial: uma moral Ecumênica em vista da sobrevivência humana, tradução Haroldo Reimer, São Paulo: Paulinas, 1993, p. 16.

[3]
PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, traduzido pela CNBB, São Paulo: Paulinas, 2005, p. 323.

[4]
"Com relação à religião, mais do que nunca nós sofremos sob a carga da superinformação. O problema não é a coleta de material, mas a sua avaliação e a interpretação de seu sentido. Para realizar isso, necessita-se da força da visão geral, a visão para o que é essencial e a diferenciada capacidade de discernimento. (...) Muitas vezes, necessita-se menos de um espelho que tudo reflete, e mais de uma lente que permita ver as coisas de forma concentrada. KUNG, Hans. Op. cit., p. 198.

[5]
"Embora reconhecendo a natureza particular da Igreja, como realidade visível e invisível, instituição e comunhão, o princípio de subsidiariedade inscreve no próprio centro de sua vida, e de cada comunidade, a exigência da acolhida, do diálogo e do debate. Fundado na comum dignidade de todos os batizados e no direito de cada batizado de poder exercer plenamente sua vocação batismal, ele tem como consequência o dever de estar atento ao lugar de cada batizado na vida da Igreja, para que cada um deles, em seu lugar e de acordo com sua responsabilidade, possa ser plenamente autor do anúncio do Evangelho." DEBERGÉ, Pierre. Ética do poder: abordagem bíblico-teológica, tradução João Paixão Neto, São Paulo: Paulinas, 2002, p. 155.

[6]
"Não deve proibir, porque quem não é contra é a favor" Lc 9, 50.

[7]
"Uma tal teologia para a paz exige uma verdadeira teologia ecumênica, que rigidamente tem conhecimento de causa e que é política e eticamente relevante e, além disso, está voltada para o futuro. Uma tal teologia ecumênica não se arroga o papel de um sumo-sacerdote auto-justificado e moralizante nem de um juiz supremo supostamente neutro. Ela está distante tanto de qualquer teologia eclesiástica doméstica quanto de toda teologia universitária acadêmica e não engajada. Apesar de toda eclesialidade crítica e cientificidade séria, ela está sempre em primeira linha interessada no destino das pessoas e das comunidades de fé diretamente afetadas. Sim, ela se preocupará com o futuro de nosso mundo dividido e explorado." KUNG, Hans. Op. cit., p. 201.

[8]
Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc 11,15-18.

[9]
Lc 13,32;23,9; Jo 19,11;18, 23.

[10]
Gaudium et spes, n. 1.11.

[11]
Evangelii Nuntiandi, n. 30.

[12]
Medellín , Introdução, 6; Paz, 16.

[13]
PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Op. cit., p. 321.