DERÁS: O DEBATE SOBRE A DEFINIÇAO E APLICAÇAO DO TERMO NOS ESTUDOS EXEGETICOS DO SECULO XX

Prof. Dr. Boris Agustín Nef Ulloa

 

RESUMO

No último século, os exegetas cristãos, para obter uma compreensão mais profunda dos escritos neotestamentários, despertaram progressivamente para a necessidade de conhecer as fontes, práticas e características da exegese judaica (do período do Segundo Templo e do período Rabínico). Esta mudança de perspectiva fez com que a exegese cristã entrasse em diálogo com o derás, a hermenêutica própria do judaísmo. Neste artigo apresentamos a complexa questão da definição e da distinção dos dois termos: derás e midrás. Seguimos o caminho histórico percorrido pelos exegetas cristãos quanto à compreensão e à aplicação dos dois termos. Enfocamos, de modo particular, o debate sobre a compreensão do midrás/derás enquanto gênero literário específico (Wright) ou método exegético e hermenêutico (Bloch; Díez Macho; Le Déaut; etc).

Palavras-chave: Derásh; Midrásh; Exegese hebraica (história).

 

ABSTRACT

In the last century, the Christian exegetes, to obtain a deeper understanding on the neo-testamentary papers, have progressively brought about the need of having access to the sources, practices and characteristics related to the Jew exegesis (from the Second Temple period and from the Rabbinic period). This perspective change made the Christian exegesis start a dialogue with Derash, the Jew hermeneutics itself. In this article, it is presented the complex question of two terms distinction and definition: Derash and Midrash. We follow the Historical path traced by the Christian exegetes about the understanding and the use of the two terms. Focusing, in a particular way, the Midrash and Derash understanding debate as an specific literary kind (Wright) or Exegetic and Hermeneutic method (Bloch; Diéz Macho; Le Déaut; etc ).

Key words: Derash; Midrash; Hebraic Exegesis (History).


INTRODUÇÃO

Com este estudo iniciamos uma serie de artigos sobre o Derás. Num primeiro momento, nosso objetivo é apresentar esta realidade do mundo bíblico judaico: suas raízes, características e fundamentos, assim como suas conseqüências na formação dos textos sagrados do judaísmo (partes 1 e 2). Num segundo momento, desejamos demonstrar como esta realidade judaica influenciou a interpretação cristã das Escrituras e, conseqüentemente, como marcou o espírito que gerou grande parte dos escritos neotestamentários (parte 3).
Este primeiro artigo tem como objetivo apresentar de forma breve a evolução da compreensão deste fenômeno exegético e hermenêutico. Dentro da qual sublinhamos a difícil tarefa encontrada pelos exegetas cristãos ao longo do século XX quanto à definição, distinção e aplicação dos termos derás e midrás.

1) DEFINIÇÃO DOS TERMOS DERÁS/MIDRÁS

Definir com precisão os termos derás/midrás é uma tarefa complexa. As divergências existentes entre os diversos estudiosos que têm trabalhado neste campo, principalmente ao longo do século XX[1] , trazem à luz esta complexidade. Wright, em 1966, enfatizava que "justamente o desenvolvimento das investigações bíblicas no campo do midrás tornou mais evidente que existe pouco consenso entre os autores sobre o que realmente vem a ser o gênero midrás"[2]. O mesmo problema foi sublinhado por Água Pérez em 1992 (26 anos depois!): não é estranho que continue existindo uma dificuldade entre os exegetas quanto ao que se deve entender por midrás; de fato, tratando-se de realidade tão complexa, é fácil destacar um aspecto esquecendo-se de outros[3].

As dificuldades emergem a partir de perguntas básicas como: Em que aspectos se poderiam distinguir os termos midrás e derás? Poderiam ser usados indistintamente como sinônimos? Se existe distinção, qual seria o campo específico de cada uma destas categorias? Qual aspecto encerra cada um dos termos, quer seja no judaísmo do segundo Templo, no judaísmo rabínico e/ou no cristianismo primitivo? Afinal: derás ou midrás?

Uma das pioneiras neste campo de investigação, Bloch, em seu artigo "Écriture et tradition dans le Judaïsme, aperçus sur l'origine du midrash" (em 1954), ao descrever o valor e a centralidade da Torá no judaísmo do segundo Templo, apresenta a profunda relação entre Aliança e Torá, entre Torá escrita e Torá oral, entre Escritura e Tradição. Destaca que, na época da fixação definitiva dos textos (e do cânon) da bíblia hebraica, a atividade do judaísmo foi inteiramente inclinada para as Escrituras. Esta atividade se desenvolveu progressivamente na busca do sentido das Escrituras, "a qual foi designada pelo nome de midrás, ou mais exatamente de Midrás Tora; segundo Bloch, esta poderia ser traduzido livremente por 'estudo do sentido da Torá'"[4].

Segundo Bloch, "a origem do gênero midrásico é inseparável da formação e da vida dos livros santos"[5] ; motivo pelo qual o midrás deve ser identificado como um fenômeno tipicamente judaico. Por isso, segundo a autora, "nada seria mais errôneo, — mais próprio a falsear a inteligência (conhecimento, entendimento) das relações entre Escritura e Tradição oral no Judaísmo, — que considerar o midrás uma criação tardia do judaísmo rabínico"[6].

Por outro lado, Bloch, continuando seus estudos sobre o tema, em seu artigo intitulado "midrash" (1957), alertava para a necessidade de encontrar a justa definição para o termo midrás e restituir-lhe seu verdadeiro sentido. A autora notava nesse então que a compreensão do termo ficava muitas vezes obscurecida porque, com freqüência, se lhe atribuía o sinônimo de fábula, o que acabava por lhe atribuir um sentido depreciativo que, de fato, não correspondia ao seu sentido original[7].

Os estudos de Bloch recordam a etimologia da raiz hebraica frd (derás = escavar, buscar, investigar, sondar e inquirir)[8] e dos substantivos derivados vrdm (midrás =relato – parafrásico ou não - atualizador de um texto), avrd (derášá = predicação, exposição doutrinal) e nvrd (daršan = aquele que explica publicamente as Escrituras; o 'pregador'). Em seguida, descreve como a raiz foi paulatinamente utilizada ao longo do período pós-exílico, durante a formação de diversos livros sagrados e posteriormente no judaísmo rabínico.

Segundo Bloch, na Bíblia hebraica, o verbo frd é encontrado com freqüência. Em todas suas acepções, profanas ou religiosas, a raiz evoca a idéia de uma busca aplicada[9] . Porém, é justamente na sua acepção religiosa que o verbo é mais utilizado, significando freqüentar um lugar de culto, buscar a Deus, buscar resposta de Deus no culto e na oração pessoal. Na época pós-exílica este sentido da busca de Deus é direcionado para as Escrituras, de modo que a vrd designa então o estudo da Torá (tomado em seu sentido mais amplo, como toda a revelação divina, professada um caminho de vida)[10].

Bloch define o termo midrás como:

«Na realidade, ele designa um gênero edificante e explicativo, estritamente anexado à Escritura, na qual a parte de amplificação é real, porém secundária, e permanece sempre subordinada ao fim religioso essencial, que é de valorizar mais plenamente a obra de Deus, a Palavra de Deus»[11].

Por outro lado, afirma que o hebraico rabínico não acrescenta nada de essencial ao significado do verbo vrd e que na época tannaítica essa raiz (e sobretudo o substantivo vrdm,) já possuía um sentido técnico, o qual é conservado no judaísmo até nossos dias[12]. Bloch descreve, ainda que brevemente, a utilização da raiz vrd nos manuscritos de Qumrán. Entre os quais destaca a 'regra da comunidade', onde faz referência à função do intérprete da Torá, o "doresh ha-Torá", aquele que deve consagrar seu estudo de fato exclusivo[13].

Delcor, em "Contribution à l'étude de la législation des sectaires de Damas et de Qumrân" (1955), examinou os diversos contextos onde é utilizada a expressão hrwth frdm[14]. Para conhecer melhor seu conteúdo, averiguou a utilização do verbo frd no Manual de Disciplina, no qual aparece uma dezena de vezes com diferentes acepções: interrogar alguém para um exame (6,14); estudar, buscar o direito em sentido profano (6,7; 8,24); quanto aos sentidos religiosos, o manual, já na primeira linha, impõe aos membros da comunidade o dever de buscar a Deus la frd (1,1); e o significado de estudar a Torá (6,6). O autor conclui: "os diversos empregos de frd no Manual de Disciplina são aproximadamente os mesmos daqueles no Antigo Testamento"[15].

Gertner, em seu estudo "Midrashim in the New Testament" (1962), apresenta uma série de elementos que em seu conjunto lançam luzes para uma melhor compreensão do midrás neotestamentário[16]. Antes de tudo declara: "o midrás, este grande sistema de interpretação bíblica, se apresenta sob vários tipos literários e formas estruturais"[17]. Dentro dessa diversidade literária e de formas, distingue dois tipos principais de midrás: o mais familiar, 'o aberto (explícito) ou visível' e o menos familiar, mas não menos importante, 'o encoberto (implícito) ou invisível'. No primeiro tipo, o texto bíblico é citado explicitamente, o que facilita sua identificação; já no segundo, não vêm mencionados nem o texto, nem a idéia, nem a técnica utilizada e em geral este tipo de midrás é apresentado, ou na forma de uma paráfrase concisa, ou de uma composição parafrásica estendida. Por conseguinte, sua natureza midrásica se vela e não se reconhece facilmente[18].

Por outro lado, o autor apresenta também a tese de que algumas (muitas) das unidades ou composições cristãs que inicialmente eram midrásicas foram sendo transformadas com a evolução das tradições orais e escritas que as transmitiram, até que receberam sua redação definitiva que encontramos no Novo Testamento. Tal transformação consistiria basicamente na perda ou omissão do texto das Escrituras que até então era a base sobre a qual se fundamentava o recurso derásico em questão[19]. Segundo Gertner, esta demidrasização seria o motivo por que se torna difícil identificar o caráter midrásico de muitas perícopes do Novo Testamento e por conseqüência sua compreensão é também dificultada.

Wright, no seu estudo intitulado "The Literary Genre Midrash" (1966), fez acreditar o debate sobre a definição e aplicação do termo midrás. Nos seus dois artigos, propõe que o termo midrás deveria ser compreendido única e exclusivamente como um gênero literário[20] . Diante das conclusões de Bloch, Wright, por um lado, está de acordo quanto às origens do midrás na Escritura, mas não aceita sua descrição-definição por considerá-la muito elástica, o que, segundo ele, estaria provocando alguns desvios de compreensão e de aplicação do termo de modo equivocado da parte de outros estudiosos[21].

Com sua definição muito restrita, posiciona-se contrariamente, não apenas nas conclusões de Bloch, mas também nas de Gertner[22]. Segundo Wright, a compreensão demasiado ampla, larga e imprecisa com que os citados autores definiram o midrás os levou a não distinguir claramente entre método exegético (procedimento midrásico, técnica ou atividade interpretativa geral) e gênero literário[23].

Wright insiste que, para caracterizar propriamente um midrás, a nova composição surgida deve ter como causa direta de sua existência o texto da Escritura que lhe serviu de substrato. Ou seja, o texto citado deve ser o centro de interesse, o motivo, a causa que tem gerado o surgimento da nova composição midrásica[24]

Le Déaut, no seu artigo "A propos d'une définition du midrash" (1969), respondeu a Wright. Em primeiro lugar, reconhece como louvável a intenção de Wright em precisar melhor a terminologia, pois isto responde a uma necessidade concreta. Mas Le Déaut rejeita sua tese central de que o midrás é exclusivamente um gênero literário. O principal argumento para rejeitá-la é que Wright, no seu estudo, se baseou num método regressivo partindo do midrás rabínico para analisar os escritos mais antigos. Segundo Le Déaut, esta projeção até o passado da concepção domidrás rabínico conduz o autor a afirmações pelo menos discutíveis[25].

O problema da cronologia é sério neste campo porque não se deve desconhecer que existe uma evolução histórica dos termos[26]. Diante de tal questão, Díez Macho, no seu artigo "Deráš y exégesis del Nuevo Testamento" (1975), lança una advertência quando chama a atenção para o que define como um "lamentável anacronismo" que deixam entrever alguns estudos, ao fundamentar-se em certas concepções (sobre derás/midrás, sentido pešat e deráš de um texto, etc.) presentes no judaísmo medieval, as deslocam até o judaísmo do segundo Templo e/ou até o judaísmo rabínico contemporâneos ao surgimento dos textos neotestamentários, sem o devido discernimento histórico-evolutivo das mesmas[27].

Díez Macho buscou desembaraçar o nó existente entre os termos midrás e derás. Para concretizar tal objetivo, começa por distinguir dois aspectos do derás. Primeiro: enquanto busca do sentido da Escritura, derás deve ser entendido como sinônimo de exegese. Segundo: porque utiliza técnicas e procedimentos determinados, derás é também sinônimo de hermenêutica. É a hermenêutica antiga dos judeus e dos cristãos primitivos procedentes do judaísmo[28].

O autor explicita seu desejo de excluir todo tipo de ambigüidade, razão pela qual justifica sua opção intencional de não utilizar o termo midráš senão deráš. Em seguida propõe uma distinção prática diante da utilização pontual dos mesmos. Sugere que o termo deráš seja utilizado para designar a hermenêutica e o método exegético próprio do judaísmo, deixando de modo restrito o uso do termo midráš para os resultados literários obtidos a partir da aplicação do método deráš. Assím Midráš-Midrašim (com maiúscula)[29] seria(m) somente para designar uma (as) obra(s) da literatura rabínica (por exemplo: Midráš Berešit Rabbá), enquanto midráš (com minúscula) para designar uma pequena unidade literária (por exemplo: o midráš sobre o pão da vida em João 6)[30].

Rathaus, em "Lecture de la Bible dans la tradition midrasique" (1976), afirma "a palavra derásh indica um método exegético especial, aplicado à interpretação da Escritura e, talvez, mais que um método, é una 'forma de espírito' particular, uma maneira de situar-se diante dos livros santos e de folhear suas páginas"[31]. Nessa mesma direção vai também a descrição dada por Bruns em "The Hermeneutics of Midrash" (1990): "el midrash deveria ser pensado mais como uma 'forma de vida' (form of life)[32] que simplesmente como uma forma de exegese (no sentido técnico). Pensamento semelhante apresentam Remaud e Ketterer "Le midrash" (1992), quando destacam que antes de ser um método exegético de leitura e atualização da Torá, derás é, por excelência, um espírito que integra o ser mesmo do Judaísmo[33].

Água Pérez, na sua obra "El método midrásico y la exégesis del Nuevo Testamento" (1985), ofereceu em estudo amplo e sistemático sobre a utilização do método e do espírito derásico na composição e formação do Novo Testamento[34]. O autor não se preocupa em apresentar uma nova descrição dos termos midrás/derás. De fato, seu estudo busca uma síntese a partir das definições e descrições apresentadas por Bloch, Le Déaut, Gertner, Díez Macho e Vermes; motivo pelo qual posiciona-se contrário à concepção restritiva defendida por Wright[35].

O autor destaca a chave, o princípio hermenêutico que distingue substancialmente o derás judeu do derás cristão: a fé em Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado, como o Messias anunciado nas Escrituras. Enquanto para os mestres judeus o texto da Escritura ocupa o ponto central, para os seguidores de Jesus o centro é o acontecimento Cristo; por isso, os cristãos fazem a leitura das Escrituras a partir de sua fé em Jesus morto e ressuscitado, o Cristo-Messias[36].

Água Pérez identifica três esquemas (ou modelos de recursos) derásicos no Novo Testamento: modelo promessa-cumprimento (ou prefiguração-realização); modelo inserção-substituição; modelo oposição-contraposição[37]. Em seguida desenvolve sua obra apresentando um extenso número de exemplos de composições neotestamentárias, nas quais é possível detectar um (ou mais) dos modelos derásicos anteriormente enumerados[38].

O mesmo autor, voltando ao derás judeu no seu artigo "El mundo del midrás/derás" (1992) enfatiza que o derás tem como característica essencial a oralidade[39]. As formas escritas são sempre tardias. De modo que no judaísmo do segundo Templo não se pode falar em obras midrásicas escritas. Mas sem dúvida se pode falar, ou melhor, se deve reconhecer a existência de um espírito derásico, que guiou, incentivou e alimentou a permanente obra de atualização da Escritura ao longo de todo o período de pós-exílio. Podemos dizer inclusive que este espírito derásico é um elemento fundamental na formação da Bíblia hebraica[40].

Segundo Heinemann, este 'espírito' ou 'forma de vida' continua presente no judaísmo rabínico, quando já estavam escritos todos os livros que posteriormente foram reconhecidos como integrantes da TANAK, a qual trazia em si mesma um valor didático, pedagógico, de ensino e de instrução que conduzia os criadores rabínicos de aggadá a olhar para o passado e para o futuro.

«Los aggadistas tienen como objetivo principal el tomar posición frente a las cuestiones candentes de la actualidad en medio a las cuales deben guiar el pueblo y confirmarlo en la fe. Por eso son impelidos a mirar hacia el pasado volviéndose sobre la Torá. En la cual investigan todo sentido escondido en los textos sagrados y en cada una de sus palabras. Teniendo en mente los desafíos presentes miran hacia el futuro, visto que debían orientar a su propia generación, buscar soluciones para sus problemas, responder a sus interrogaciones teológicas y guiarla en sus problemas espirituales»[41].

Rathaus, no seu estudo sobre o midrás rabínico (e talmúdico), aponta para uma das suas características fundamentais, (a não literalidade), que, por outras palavras, equivale a dizer "o Midrás começa onde termina a interpretação literal[42]. Destaca também que o afastamento da letra do texto apresenta graus muito deferentes e que este depende diretamente do objetivo e da elaboração pessoal de cada intérprete.

Quando as interpretações são mais filológicas, o resultado da exegese é mais seco e literal. Quando são mais carregadas de elementos aggádicos, a tendência é gerar um resultado literário formulado por meio de um vínculo tênue e ocasional com o texto bíblico, sendo que às vezes o enlace falta de fato. É evidente que nesses casos extremos a criatividade do intérprete vai muito mais além dos limites permitidos pela exegese; aí sim realmente se entra no campo da lenda popular ou da fábula[43].

Frente a esta ampla e complexa realidade, torna-se importante notar que entre os dois pólos, aquele da filologia pura (e seca) e o da lenda ou fábula, existe um vasto campo no qual a exegese midrásica desenvolveu suas mais belas produções. Graças à livre reconstrução e interpretação que, sem cair no desvio de uma imaginação sem freios, mas permanecendo numa estreita dependência dos textos sagrados e se utilizando, quando convém, de elementos filológicos (com bases exegéticas), chegou a grandes e importantes resultados. O conjunto da literatura rabínica (e, por que não dizer, o próprio Novo Testamento) é um testemunho vivo dos preciosos resultados conseguidos no interior do judaísmo (e do cristianismo), graças à utilização do método derásico.

BIBLIOGRAFIA

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Prof. Dr. Boris Agustín Nef Ulloa
Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção – Sao Paulo, SP. e.mail: banefulloa@hotmail.com



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Notas

[1] R. Bloch, R. Le Déaut, A.G. Wright, A. Díez Macho, M. Gertner, F. Manns, A. del Água Pérez, S. Muñoz Iglesias, M. Remaud, dentre tantos outros. Suas respectivas obras e/ou artigos serão citados ao longo deste estudo.

[2]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 106, usa a expressão "the genre midrash" e defende como tese que midrás deve ser considerado exclusivamente como um gênero literário.

[3]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, «El mundo del midrás/derás», Estudios Bíblicos 50 (1992), 322.

[4]
R. BLOCH, «Écriture et tradition dans le Judaïsme», Cahiers Sioniens 8 (1954), 14-16. Além do mais, a autora sublinha que as metas desta busca eram a compreensão do sentido de cada palavra e o penetrar o espírito do texto para, então, obter seu significado profundo e sua aplicação prática.

[5]
U R. BLOCH, «Écriture et tradition dans le Judaïsme», Cahiers Sioniens 8 (1954), 14.17-23.24-25.26-31, destaca que o desenvolvimento da instituição da sinagoga ao longo do período do segundo Templo contribuiu para reforçar a tendência de centralidade da Torá na vida cotidiana do povo de Israel. Nota, também, que a atividade de atualização das Escrituras (Pentateuco, Profetas e Escritos), seja por meio do Targum ou do midrás, (também por meio da apocalíptica e da literatura pseudo-epígrafa) formou, no interior do judaísmo do segundo Templo, diversas tradições (interpretativas e explicativas) orais que enriqueceram a religião de Israel. Tais tradições progressivamente foram fixadas por escrito, de modo particular (mas não exclusivamente) depois da destruição do segundo Templo, com o surgimento do judaísmo rabínico. Partindo dessa afirmação, recorda que os chamados midrashim tannaíticos, apesar de terem sido escritos somente ao longo do século II d.C., certamente, contêm materiais em parte muito antigos.

[6]
R. BLOCH, «Écriture et tradition dans le Judaïsme», Cahiers Sioniens 8 (1954), 24.

[7]
Segundo R. BLOCH, «Midrash», Dictionnaire de la Bible Supplément, V, 1263, o fato que ao termo midrás, com freqüência seja atribuído um sentido depreciativo comporta, entre outros, um grande inconveniente: "leva a desconhecer os antecedentes deste gênero na literatura bíblica".

[8]
L.A. SCHÖKEL, Dicionário Bíblico Hebraico-Português, 163-164, palavra hebraica derivada do verbo darash, cuja raiz vrd é traduzida genericamente por procurar, buscar e recebe também outros sentidos como: indagar, investigar e averiguar. Pode-se, portanto, afirmar que este verbo implica na idéia de uma pesquisa intensa e de um esforço concentrado, impulsionado pelo desejo de procurar.

[9]
R. BLOCH, «Midrash», Dictionnaire de la Bible Supplément, V, 1263.

[10]
R. BLOCH, «Midrash», Dictionnaire de la Bible Supplément, V, 1263.

[11]
R. BLOCH, «Midrash»,Dictionnaire de la Bible Supplément, V, 1263.

[12]
R. BLOCH, «Midrash», Dictionnaire de la Bible Supplément, V, 1263-1264.

[13]
F. GARCIA MARTINEZ, Textos de Qumrán, 56, recorda que na Regra da comunidade de Qumrán 6,6-7, se lê: "y que no falte en el lugar en que se encuentran los diez un hombre que interprete la Torá día y noche"; além do mais, F. MANNS, Le Midrash, approche et commentaire de l'Ecriture, 45, recorda que, no CD 8,9 e 9,13, o maestro da justiça recebe o título de Doresh ha Torá.

[14]
M. DELCOR, «Contribution a l'étude de la législation des sectaires de damas et de Qumrân», Revue Biblique 62 (1955), 66, põe em evidência as três vezes que no "Manual de Disciplina" aparece a expressão hrwth frdm: 6,25; 8,15; 8,26.

[15]
M. DELCOR, «Contribution a l'étude de la législation des sectaires de damas et de Qumrân», Revue Biblique 62 (1955), 67.

[16]
M. GERTNER, «Midrashim in the New Testament», Journal of Semitic Studies 7 (1962), 271-291, descreve quatro exemplos de midrashim implícitos presentes no NT (Mc 4,1-22; Lc 1,65-75; 1Cor 15,53.56; e a carta de Santiago).

[17]
M. GERTNER, «Midrashim in the New Testament», Journal of Semitic Studies 7 (1962), 268.

[18]
M. GERTNER,«Midrashim in the New Testament», Journal of Semitic Studies 7 (1962), 268-269.

[19]
M. GERTNER, «Midrashim in the New Testament», Journal of Semitic Studies 7 (1962), 268.

[20]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 105-138; 417-457 (principalmente as páginas 120-122).

[21]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 106.108.138.

[22]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 74.114.133; R. LE DÉAUT, «A propos d'une définition du midrash», Biblica 50 (1969), 405.

[23]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 106.138.

[24]
A.G. WRIGHT, «The Literary Genre Midrash», Catholic Biblical Quarterly 28 (1966), 455.

[25]
R. LE DEAUT, «A propos d'une définition du midrash», Biblica 50 (1969), 398-399.

[26]
H. MACCOBY, Early Rabbinic Writings, 22-23, "The term midrash has acquired a number of meanings, in the course of time, so that a full history of its evolution would have to take into account developments in the ancient, medieval and even modern world".

[27]
A. DÍEZ MACHO, «Derás y exégesis del Nuevo Testamento», Sefarad 35 (1975), 38-39; G.L. BRUNS, The Hermeneutics of Midrash, 190, também chama a atenção para esta questão da evolução histórica do midrás. O autor, não obstante, o classifica como um conceito ou prática rabínica. Portanto, pertencente ao judaísmo rabínico. Insiste que é certamente tão antigo quanto os próprios textos da Torá.

[28]
Note-se que o pensamento de Díez Macho, quanto ao uso dos termos midrás/derás, evoluiu progressivamente. No seu livro "El Targum. Introducción a las traducciones aramaicas de la Biblia", 11-12 (publicado em 1972), utilizou o termo midrash; porém, três anos mais tarde (em 1975), para falar da mesma realidade, utiliza o termo deráš; inclusive em A. DÍEZ MACHO,«Derás y exégesis del Nuevo Testamento», Sefarad 35 (1975), 37, sugere que, para evitar mal-entendidos, deráš deve ser preferido a midráš. A la vez, S. MUÑOZ IGLESIAS, «Derás y Nuevo Testamento»,Estudios Bíblicos 46 (1988), declara sua satisfação que "en nuestros días se esté consiguiendo una coincidencia y precisión terminológicas que hace veinte años no existían, cuando se empleaba indiscriminadamente el término midrás con el peligro de confundir los resultados de esta exégesis compilada en los midrashim rabínicos con el fenómeno psicológico que está en la base de ese talante exegético y que se concentra en determinadas técnicas o procedimientos, generadores de peculiares formas literarias.

[29]
Segundo S. MUÑOZ IGLESIAS, «Derás y Nuevo Testamento», Estudios Bíblicos 46 (1988), 306 "esta es una sugerencia poco afortunada". A razão é simples, a distinção entre substantivos iniciados com maiúscula ou minúscula pode servir na língua espanhola ou em outras neolatinas, porém, o mesmo não vale em outras línguas, por exemplo, no inglês e no alemão.

[30]
A. DÍEZ MACHO, «Deráš y exégesis del Nuevo Testamento», Sefarad 35 (1975), 37.

[31]
A. RATHAUS, «Lecture de la Bible dans la tradition midrasique», SIDIC 9/2 (1976), 12.

[32]
G.L. BRUNS, «The Hermeneutics of Midrash», in SCHWARTZ, R.M., ed., The Book and the Text. The Bible and Literary Theory, Oxford 1990, 190-191, "At all events, my argument would be that we ought to think of midrash as a form of life rather than simple form of exegesis (in the technical sense); that is, midrash is concerned with practice and action as well as with (what we think of as) the form and meaning of texts".

[33]
E. KETTERER-M. REMAUD, O Midraxe, 10.

[34]
P. GRECH, Il messaggio biblico e la sua interpretazione, 50, apresenta os fundamentos da interpretação cristã do Antigo Testamento e reconhece o grande valor da obra de Água Pérez, sobre o qual afirma: "nel suo prezioso libro El método midrasico y la exégesis del Nuevo Testamento, dopo aver analizzato le tecniche esegetiche correnti nel giudaismo contemponareo di Gesù, stabilisce delle analogie con i metodi scritturistici degli autori neotestamentari. Egli individua tre modelli che caratterizzano le relazioni che intercorrono tra l'annunzio cristiano e l'Antico Testamento utilizzato dalla Chiesa apostolica".

[35]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, El método midrásico y la exégesis del Nuevo Testamento, 35, nota 22, comenta o debate entre Wright e Le Déaut quanto à definição-descrição de midrás. O autor se posiciona favorável às concepções defendidas pelo exegeta francês e afirma: "La exégesis derásica se puede aplicar a diversos géneros literarios". Para ilustrar e justificar sua posição, o autor cita uma extensa lista de gêneros literários presentes na literatura rabínica, nos escritos de Qumrán e nos pseudo-epígrafos, nos quais se encontram características da exegese derásica.

[36]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, El método midrásico y la exégesis del Nuevo Testamento, 84-87; P. GRECH, Il messaggio biblico e la sua interpretazione, 50.

[37]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, El método midrásico y la exégesis del Nuevo Testamento, 87-96.

[38]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, El método midrásico y la exégesis del Nuevo Testamento, 97-272. Mais precisamente para o modelo promessa-cumprimento (pp. 97-207), no qual apresenta, entre muitos exemplos, os relatos da infância em Mt e Lc; a paixão, morte e ressurreição de Jesus; Jesus, Filho do Homem; Jesus Sacerdote segundo Melquisedec. Para o modelo inserção-substituição (ver páginas 209-254), no qual apresenta o derás da nova Aliança; do Reino; e a aplicação derásica de títulos a Jesus como Kyrios, Cordeiro de Deus, etc. Para o modelo oposição-contraposição (páginas 255-272), no qual apresenta as antíteses em Mt 5,21-48 e a justificação pela fé defendida por Pablo em Rm e Gl.

[39]
J. HEINEMANN, «The Nature of the Aggadah», in G.H. HARTMAN-S. BUDICK, ed., Midrash and literature, 41-55.

[40]
A. DEL ÁGUA PÉREZ, «El Mundo del midrás/derás», Estudios Bíblicos 50 (1992), 321.

[41]
J. HEINEMANN, «The Nature of the Aggadah», in G.H. HARTMAN-S. BUDICK, ed., Midrash and Literature, 48-49. É importante observer que tanto A. DEL ÁGUA PÉREZ, «El mundo del midrás/derás», Estudios Bíblicos 50 (1992), 325, como G.L. BRUNS, «The Hermeneutics of Midrash», in SCHWARTZ, R.M., ed., The Book and the Text. The Bible and Literary Theory, Oxford 1990, 191, citam a definição elaborada por Heinemann sobre o trabalho dos aggadistas. Note-se que esta definição ajuda na compreensão do trabalho dos hagiógrafos do NT.

[42]
A. RATHAUS, «Lecture de la Bible dans la tradition midrasique», SIDIC 9/2 (1976), 13.

[43]
A. RATHAUS, «Lecture de la Bible dans la tradition midrasique», SIDIC 9/2 (1976), 13.