Devair José de Assis
Bacharel em Filosofia pela Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI/ Mogi das Cruzes – SP. Contato: devair_federal@live.com
Glaucio Alberto Faria de Souza
Doutor em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Professor da Faculdade de Filosofia e Teologia Paulo VI/ Mogi das Cruzes – SP. Contato: gafsteologo@gmail.com
Resumo: Esta pesquisa tem como foco a análise da "Cultura do Descarte Humano", uma expressão cunhada pelo Papa Francisco, em diálogo com sociólogos como Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky. A pesquisa explora como o individualismo, o consumismo e a instabilidade da modernidade contribuem para a marginalização e exclusão de pessoas, tratadas como bens descartáveis pela sociedade. A partir da Ética de Jesus, que propõe compaixão e solidariedade, esta pesquisa contrasta a lógica do descarte com uma visão humanizadora, defendendo que a dignidade humana é inegociável. A análise percorre tanto documentos da Igreja quanto reflexões contemporâneas, buscando soluções práticas para enfrentar essa realidade.
Palavras-chave: Cultura do Descarte Humano; Ética de Jesus; Dignidade Humana; Solidariedade; Exclusão Social
Abstract: This research focuses on the analysis of the "Culture of Human Waste", an expression coined by Pope Francis, in dialogue with sociologists such as Zygmunt Bauman and Gilles Lipovetsky. The research explores how individualism, consumerism and the instability of modernity contribute to the marginalization and exclusion of people, treated as disposable goods by society. Based on the Ethics of Jesus, which proposes compassion and solidarity, this research contrasts the logic of waste with a humanizing vision, arguing that human dignity is non-negotiable. The analysis covers both Church documents and contemporary reflections, seeking practical solutions to face this reality.
Keywords: Culture of Human Waste; Ethics of Jesus; Human Dignity; Solidarity; Social Exclusion
Este artigo analisa a "Humanidade de Jesus como contraponto à cultura do descarte humano", um tema que conecta a ética cristã às problemáticas sociais contemporâneas, com base nas reflexões do Papa Francisco e na teologia de José M. Castillo. A cultura do descarte humano, conceito amplamente difundido pelo Papa Francisco, caracteriza-se pela desvalorização da dignidade humana e pela marginalização dos mais vulneráveis, que são tratados como itens descartáveis em uma sociedade moldada pelo individualismo e pelo consumismo exacerbado. Essa realidade, agravada pela precariedade das relações sociais e pelo enfraquecimento da solidariedade, desafia valores éticos fundamentais e exige respostas urgentes.
A humanidade de Jesus emerge, neste cenário, como uma referência ética e prática que contrasta diretamente com a lógica do descarte. Seus ensinamentos e sua vida, marcados pela compaixão, pela solidariedade e pelo respeito à dignidade de cada pessoa, oferecem um modelo de enfrentamento às dinâmicas excludentes. Nesse contexto, o presente artigo busca demonstrar como a ética de Jesus não apenas questiona a cultura do descarte humano, mas também propõe ações concretas que promovem uma sociedade mais justa e solidária.
A pesquisa utiliza uma abordagem bibliográfica, explorando textos teológicos, sociológicos e documentos papais, como Evangelii Gaudium e Fratelli Tutti. Inicialmente, examina as raízes sociológicas da cultura do descarte humano, com base em autores como Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky, destacando a influência do consumismo e do individualismo na exclusão social. Em seguida, analisa a humanidade de Jesus como uma resposta ética e prática, exemplificada por sua solidariedade com os marginalizados, como no encontro com a Samaritana, que reflete cuidado e acolhimento.
Por fim, o artigo examina a ética de Jesus como um contraponto necessário à cultura do descarte humano, utilizando a perspectiva de José M. Castillo e outros autores para explorar como essa ética pode ser aplicada em ações concretas nos dias atuais. A reflexão se alinha à proposta do Papa Francisco de uma "Igreja em Saída", que acolhe os mais vulneráveis e promove a fraternidade como valor central na construção de uma sociedade que respeita a dignidade de todos. Ao longo do texto, busca-se oferecer uma análise crítica e fundamentada, mostrando que a humanidade de Jesus não é apenas um modelo teológico, mas também uma proposta prática para responder às crises éticas e sociais do mundo contemporâneo.
Neste início, será realizada uma análise interdisciplinar que articula a Doutrina Social da Igreja Católica com as contribuições de sociólogos contemporâneos, a fim de compreender e enfrentar o fenômeno da cultura do descarte humano. Essa realidade, amplamente presente na sociedade atual, desafia princípios éticos fundamentais e gera profundas consequências sociais. A palavra "cultura", segundo Nicola Abbagnano, refere-se ao conjunto dos modos de vida criados e transmitidos entre os membros de uma sociedade, destacando sua formação coletiva. (ABBAGNANO, 2000, p.228) Já o termo "descarte" é compreendido como o ato de jogar fora ou livrar-se de algo ou alguém. (AURÉLIO, 2010, p. 233), sendo utilizado por Papa Francisco tanto no contexto do lixo e da poluição (LS 20-22) quanto no sentido de exclusão de pessoas. (FT 19-20) O termo "humano", por sua vez, envolve a disposição à compreensão e empatia, como explicado por Abbagnano, que aponta para a sociabilidade essencial à humanidade. Para explicar melhor, o texto cita uma fala de Kant:
Humanidade (Humanitàt) significa, por um lado, o sentimento universal da simpatia e, por outro, a faculdade de poder comunicar pessoal e universalmente; essas são duas propriedades que, juntas, constituem a sociabilidade própria da humanidade. (Menschheit), graças à qual ela se diferencia do isolamento animal. (ABBAGNANO, 2000, p.518)
A "Cultura do Descarte Humano", portanto, se refere aos valores e atitudes que excluem e negligenciam a dignidade humana, criando uma sociedade que, ao invés de promover a união, gera indiferença e exclusão. Essa realidade é paradoxal, pois os termos "cultura" e "humanidade" implicam em união, enquanto a cultura do descarte fomenta a separação e o afastamento. Deste modo o Papa Francisco aponta essa contradição ao afirmar que o ser humano passou a ser tratado como um "bem de consumo", descartável após seu uso (EG, n.53). Nesse contexto, a resposta para essa cultura destrutiva é a "opção pelos últimos", proposta pelo Papa, que visa resgatar a dignidade dos marginalizados e excluídos pela sociedade. Assim afirma o Papa: “A própria beleza do Evangelho nem sempre a conseguimos manifestar adequadamente, mas há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos últimos, por aqueles que a sociedade descarta e lança fora.” (EG, n. 195)
O termo “Cultura do Descarte Humano” não aparece nas obras dos sociólogos, pois é um termo cunhado pelo Papa Francisco nos seus documentos ao refletir sobre os problemas sociais atuais, e também sobre problemas já antigos na sociedade, aqui é importante entender-se que este problema que o Papa aponta tem forte relação com problemas já trabalhados por sociólogos.
O sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017), em sua teoria da “Modernidade Líquida”, descreve a sociedade atual como caracterizada pela fluidez e insegurança, onde as relações e estruturas sociais estão em constante transformação. Ele afirma que, em um mundo flexível e incerto, "as estratégias e planos de vida só podem ser de curto prazo" (BAUMAN, 2001, p.130), o que leva à instabilidade emocional e à ideia de descarte das pessoas quando não são mais úteis. A modernidade líquida, assim, relaciona-se diretamente à cultura do descarte, onde as pessoas se tornam descartáveis devido à falta de vínculos estáveis, seja no trabalho ou nas relações pessoais.
Em um outro aspecto o sociólogo Gilles Lipovetsky, apresenta, em "A Felicidade Paradoxal", argumento onde a sociedade de hiperconsumo cria uma busca incessante pela felicidade, onde tudo é consumido em nome do prazer pessoal. Lipovetsky observa que, em uma civilização individualista-mercantil, "tudo é feito em prol da nossa máxima felicidade" (LIPOVETSKY, 2007, p.336-337) formando assim uma sociedade individualista focada no “Eu” e não no coletivo, o que leva ao descarte de tudo que não contribui diretamente para essa busca, Esse fenômeno se reflete nas relações interpessoais, que se tornam superficiais e transitórias, pois se baseiam no prazer imediato e no egoísmo.
A cultura do descarte humano surge como um resultado dessas dinâmicas sociais, onde as pessoas, os vínculos e até os empregos são descartados quando não servem mais para atender aos interesses imediatos ou à busca pela felicidade do indivíduo. Bauman e Lipovetsky convergem para uma crítica a uma sociedade que, ao priorizar o individualismo e o consumo, enfraquece as relações sociais e desconsidera a dignidade humana, de modo que os problemas apontados por eles só servem para aumentar a difusão de uma cultura que não olha para o ser humano, mas somente para si próprio, aumentando a gravidade da cultura do descarte.
Tal associação demonstra que o Papa Francisco não desenvolveu essa ideia de forma isolada, mas sim a partir de uma reflexão sobre problemas sociais previamente discutidos por sociólogos. Com base nessas reflexões, o Sumo Pontífice elaborou seu pensamento sobre essas questões. No próximo tópico, será realizada uma análise mais aprofundada desse pensamento.
A Cultura do Descarte Humano, conceito cunhado pelo Papa Francisco, reflete sobre problemas sociais já discutidos por sociólogos, como a exclusão, o individualismo e a desigualdade. Diante desta realidade o Papa propõe uma Igreja em saída, com "as portas abertas" para alcançar as periferias humanas (EG 46). Ele exorta a Igreja a se inquietar pela situação dos marginalizados: “Se alguma coisa nos deve santamente inquietar... é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força... da amizade com Jesus Cristo” (EG 49).
Esta critica social surge no início do Pontificado do Papa Francisco com a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, onde o Papa denuncia os problemas de uma sociedade que prioriza o dinheiro em detrimento da dignidade humana. Ele critica a economia da exclusão, onde "uma queda na bolsa de valores é mais importante do que a morte de um idoso" (EG 53), e rejeita a teoria da “recaída favorável”[1], que sustenta que o crescimento econômico automaticamente resolverá as desigualdades sociais. O Papa argumenta que essa visão ignora a realidade, pois os excluídos continuam à margem, esperando melhorias que nunca chegam. Esse sistema reflete o que ele chama de Globalização da Indiferença[2], onde "cada pessoa acaba tornando-se incapaz de se compadecer" (EG 54).
O bispo de Roma identifica uma "crise antropológica profunda"[3] como raiz desses problemas, marcada pela "negação da primazia do ser humano" (EG 55). A obsessão pelo ganho financeiro reduz o ser humano a um mero consumidor, negligenciando as relações sociais e a integralidade da pessoa. Essa redução é um reflexo de uma sociedade centrada no consumo, na qual o dinheiro assume uma posição dominante e transforma o ser humano em um meio, e não em um fim. Como enfatiza o Papa, essa perspectiva desumaniza e fragmenta ainda mais o tecido social (EG 55).
O Papa Francisco associa a violência social à desigualdade, destacando que sua raiz está na injustiça estrutural do sistema. Ele critica a tendência de culpar os pobres e as populações marginalizadas por essa violência, afirmando que o verdadeiro problema reside nas bases injustas da sociedade. Como alerta: "Assim como o bem tende a difundir-se, assim também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir a sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça." (EG 59)
O Bispo de Roma adverte que "a desigualdade social gera uma violência que... não poderá ser resolvida" (EG 60). Essa reflexão converge com as críticas de Lipovetsky ao consumismo e ao individualismo, os quais não apenas agravam as desigualdades sociais, mas também enfraquecem os laços comunitários e fomentam uma cultura de exclusão. Nesse contexto, a violência emerge como um sintoma de um sistema que prioriza o lucro e o consumo em detrimento da dignidade humana e do bem-estar coletivo, evidenciando como a desigualdade social tende a alimentar ciclos crescentes de violência.
O Papa Francisco destaca a opção preferencial pelos pobres, enfatizando que eles são os destinatários principais do Evangelho (EG 21) e podem experimentar uma alegria autêntica, mesmo diante das adversidades (EG 7). No início da Evangelii Gaudium, ele afirma que os pobres são excluídos quando a sociedade se fecha em seus próprios interesses (EG 2) e lembra que Jesus louvou ao Pai porque a revelação divina foi dirigida aos pobres e pequeninos (EG 21) pois são eles os destinatários principais do Evangelho. (EG 48)
Essa preocupação reflete não apenas os passos de Jesus, que sempre olhou para os marginalizados, mas também o desafio contemporâneo de enfrentar os problemas sociais que aumentam o número de pessoas em situação de vulnerabilidade. Francisco conclama a sociedade a rejeitar a lógica do descarte e a buscar uma fraternidade que promova a inclusão e dignidade de todos, especialmente dos mais pobres e necessitados.
Nos escritos do Papa Francisco, percebe-se o motivo de utilizar um termo paradoxal como "Cultura do Descarte Humano". Não apenas descreve uma realidade superficial, mas também expressa um significado mais profundo: é uma cultura que não promove a união, mas sim a destruição. O Papa relaciona essa cultura com diversas áreas e nos desafia a buscar uma Fraternidade e Amizade Social, onde todos devem ser vistos como "Irmãos e Irmãs". (CF 2024)
A teologia cristã reconhece que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, assumiu a natureza humana por completo, exceto o pecado. Este mistério da encarnação não se limita a uma condescendência divina; é também uma expressão radical de solidariedade, como afirma Castillo: "No entanto, isso não quer dizer, somente nem principalmente, que o homem tenha sido elevado à condição divina, mas que Deus rebaixou-se à condição humana.” (CASTILLO, 2015, p.186) Jesus compartilhou da condição humana, enfrentando necessidades, alegrias e sofrimentos, como atestado em diversas passagens bíblicas. Ele sentiu fome, sede, cansaço e dor, além de experimentar as profundezas do sofrimento humano, especialmente na paixão e morte na cruz. Essa solidariedade manifesta-se na disposição de Jesus em identificar-se com os mais pobres e marginalizados, revelando a proximidade de Deus com os que sofrem. (CASTILLO, 2015, p.187)
O mistério da encarnação tem implicações éticas e sociais profundas. Jesus, ao assumir a condição humana, não se distanciou dos desafios sociais de seu tempo. Ao contrário, inseriu-se em uma realidade marcada por desigualdades, discriminação e exclusões, e optou por viver entre os pobres e marginalizados. Essa escolha demonstra a centralidade da solidariedade em sua missão e reforça o caráter transformador de seu ministério.
A solidariedade[4] de Jesus, elemento central de sua humanidade, é exemplificada no encontro com a Samaritana relatado em João 4,1-42. Esse episódio revela como Jesus rompe barreiras sociais e religiosas para alcançar aqueles que estavam à margem. O evangelista destaca que Jesus "tinha que passar pela Samaria" (Jo 4,4), uma decisão que vai além da necessidade geográfica. Essa escolha simboliza a missão universal de Jesus e sua disposição em buscar os excluídos, pois "A nova aliança anunciada em Caná dirige-se à humanidade inteira e não malogrará pela recusa dos seus." (BARRETO; MATEOS, 1989, p. 207) Dessa forma, Jesus já se dispõe a seguir um caminho não convencional, mesmo diante da profunda inimizade entre judeus e samaritanos[5], demonstrando a missionalidade[6] do projeto messiânico que busca solidariedade para com todos.
No poço de Jacó, Jesus encontra a Samaritana e inicia um diálogo inesperado, O poço, no Antigo Testamento, está relacionado com Jacó, pois foi ali que ele encontrou Raquel (Gn 29,2-10). Além disso, o poço possui um significado mais amplo, reunindo em si o sentido do poço dos patriarcas e o manancial que Moisés fez jorrar da rocha, representando a Lei, e, por outro lado, está associado a Sião, o centro do culto judaico. Assim, o poço simboliza todas as instituições judaicas: a Lei, o templo, a sinagoga e seu centro. (BARRETO; MATEOS, 1989, p. 208)
O poço também pode ser visto como um lugar de encontros marcantes, como o de Isaac e Rebeca (Gn 24,10-27), Jacó e Raquel (Gn 29,1-14) e Moisés e Séfora (Ex 2,16-22). Em João, é nesse poço que a Samaritana encontra seu esposo, daí a importância de afirmar que Jesus tinha que atravessar a Samaria, pois "É no meio dos marginalizados (Samaria) que Jesus encontra sua 'esposa', e esta encontra o sentido da sua vida." (BORTOLINI, 2005, p. 49).
O encontro começa com Jesus pedindo: "Dá-me de beber" (Jo 4,10), o que constitui o primeiro sinal de solidariedade para com o ser humano, uma vez que Jesus compartilha da mesma necessidade de todos os homens. Além disso, ele demonstra a necessidade de um ato solidário fundamental entre os homens: o de dar água. Aqui, a solidariedade de Jesus supera barreiras sociais e políticas, manifestando-se como uma solidariedade voltada para o ser humano, evidenciando-se em favor das necessidades humanas (BARRETO; MATEOS, 1989, p. 210).
A análise dessa perícope revela a solidariedade de Jesus com toda a humanidade. Embora pudesse ter escolhido outro caminho para chegar à Galileia, Ele fez questão de passar por Samaria, demonstrando que sua mensagem não se limitava aos judeus, mas era destinada a todos. Ao encontrar a Samaritana, Jesus demonstra solidariedade ao pedir água, compartilhando das necessidades humanas e rompendo a barreira social do preconceito entre os dois povos. Ao pedir a água, Ele solicita a aceitação da mulher, ainda presa à antiga Lei (poço de Jacó). Porém, no diálogo com Jesus, ela percebe que não precisa mais viver sob essas leis antigas, podendo abandonar seus deuses e viver uma nova vida. Ao pedir a água viva, a mulher, que antes foi convidada a aceitar o Messias, agora pede para ser aceita. E Jesus a aceita, assim como a todos os samaritanos, solidarizando-se com os que sofrem e oferecendo dignidade a todos.
A ética de Jesus, fundamentada na solidariedade, tem suas raízes na escolha de iniciar sua missão na Galileia, uma região marginalizada e desprezada. O Evangelho de Marcos afirma: "Depois que João foi preso, veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus." (Mc 1,14). Essa decisão não foi acidental, mas uma escolha consciente por aqueles que viviam à margem da sociedade. Sua primeira ação foi viver e pregar em uma região marcada pela pobreza e má reputação (CASTILLO, 2010, p. 37-38).
A Galileia era vista com preconceito pelos judeus; ser chamado de "galileu" era uma ofensa, como se vê quando afirmam a Pedro: “Tu também estavas com Jesus, o galileu!” (Mt 26,69). Mesmo após a morte de Jesus, no Pentecostes, a questão sobre os discípulos era: “Não são, acaso, galileus todos esses que falam?” (At 2,7). Ao escolher essa região, Jesus não só se solidariza com os pobres e excluídos, mas também os eleva como destinatários de sua mensagem no ato de levar essa mensagem primeiramente aos pequenos. (CASTILLO, 2010, p. 39).
O sociólogo José Maria Castillo afirma que "as mudanças profundas e duradouras na sociedade não vêm de cima, mas de baixo" (CASTILLO, 2010, p. 42), ou seja, a transformação social começa a partir da perspectiva dos marginalizados, onde a dor e a injustiça se manifestam de maneira mais crua. Para Castillo, as mudanças duradouras não vêm das elites, mas do povo. Jesus exemplifica essa lógica ao viver entre os pobres, compartilhar suas dificuldades e propor um projeto de vida baseado na humildade, compaixão e justiça. Seu ministério na Galileia demonstra que a mensagem do Reino é inclusiva e transformadora, desafiando estruturas sociais e religiosas opressivas.
Portanto, para entender a realidade da dor e da injustiça, é necessário adotar a perspectiva dos oprimidos. Isso explica a solidariedade de Jesus com os excluídos. Jesus não apenas proclama uma ética de solidariedade, mas a vive intensamente, inserindo-se no contexto dos marginalizados. Ele supera preconceitos, dignifica os desprezados e aponta para uma sociedade renovada pela prática do amor e da justiça. Essa ética, fundamentada em sua solidariedade com os que sofrem, continua a oferecer respostas relevantes para os desafios sociais contemporâneos.
Nesta pesquisa, foram analisadas duas questões centrais: a Cultura do Descarte Humano e a Humanidade de Jesus com sua ética, abordadas separadamente para garantir uma compreensão mais detalhada de seus fundamentos. Neste ponto, torna-se indispensável colocá-las em contraste, a fim de identificar caminhos concretos para superar os graves desafios éticos e sociais que afligem a humanidade. Este diálogo revela não apenas as diferenças estruturais entre os dois paradigmas, mas também evidencia o potencial transformador da ética de Jesus como uma resposta às crises contemporâneas.
A Cultura do Descarte Humano representa uma crise ética e social de larga escala, caracterizada pela exclusão e marginalização sistemática de pessoas que não atendem aos critérios de utilidade estabelecidos pela lógica do consumismo e da globalização econômica. Este fenômeno conecta-se diretamente à análise de Zygmunt Bauman sobre a modernidade líquida, marcada pela fluidez, instabilidade e precariedade das relações humanas, sociais e econômicas. Bauman observa que, nesse contexto, as tradições e os vínculos sólidos se dissolvem, deixando os indivíduos expostos a uma dinâmica de descartabilidade, na qual perdem valor quando deixam de ser "úteis" ou adequados às demandas do sistema (BAUMAN, 1999, p. 7).
Embora Bauman não utilize diretamente o termo "Cultura do Descarte Humano", sua análise oferece uma base conceitual clara para entender como a lógica consumista desumaniza os indivíduos, reduzindo-os a meros instrumentos de consumo ou produção. Nessa lógica, a dignidade intrínseca do ser humano é ignorada, e ele passa a ser tratado como mais um elemento descartável no fluxo incessante do mercado (BAUMAN, 2001, p. 130).
Em oposição a essa lógica de descarte, a ética de Jesus surge como uma alternativa radical e profundamente transformadora. Jesus não apenas reconhece a dignidade intrínseca de cada pessoa, mas também centraliza sua missão nos marginalizados e excluídos. Para Edward Schillebeeckx, a divindade de Jesus é plenamente compreendida na medida em que valoriza a humanidade, sendo ele o ponto culminante da relação entre criatura e Criador (SCHILLEBEECKX, 2008, p. 602). Já Karl Rahner enfatiza que o ser humano é um ser de transcendência, aberto à revelação divina, que encontra em Jesus a máxima expressão de solidariedade divina (RAHNER, 2004, p. 46).
A Encarnação de Jesus não é apenas um evento teológico, mas um ato de solidariedade radical, no qual Deus assume a condição humana para compartilhar a dor e o sofrimento da humanidade. Essa solidariedade se traduz em ações concretas que desafiam as estruturas sociais excludentes de sua época e apontam para uma ética fundamentada na compaixão e na inclusão. Como destaca Castillo, Jesus manifesta em sua própria vida "um compromisso incondicional com os que sofrem" (CASTILLO, 2015, p. 187).
Este contraste entre a cultura do descarte e a ética de Jesus torna-se ainda mais evidente quando analisamos as bases filosóficas e práticas de ambos os paradigmas. Enquanto a cultura do descarte é alimentada pelo individualismo e pelo consumismo, conforme analisa Gilles Lipovetsky, a ética de Jesus aponta para uma visão comunitária e relacional, em que a felicidade e a realização pessoal não são encontradas no prazer individual, mas no cuidado e na solidariedade para com o próximo (LIPOVETSKY, 2007, p. 336-337).
Outro aspecto relevante é a crítica de Jesus à lógica da exclusão econômica, refletida na Globalização da Indiferença denunciada pelo Papa Francisco. Jesus subverte essa lógica ao agir constantemente em favor dos pobres, marginalizados e vulneráveis, como exemplificado em gestos emblemáticos, como o lava-pés (Jo 13, 1-15) e o encontro com o jovem rico, onde ele ensina que o valor da pessoa humana está acima das riquezas materiais (Mt 19, 16-30) (CASTILLO, 2010, p. 180).
Portanto, a ética de Jesus oferece um modelo alternativo à cultura do descarte, enfatizando a dignidade universal do ser humano, a inclusão e a solidariedade. Este modelo se apresenta como uma resposta concreta e necessária aos desafios da contemporaneidade, convidando a humanidade a adotar uma postura ética que coloque o ser humano no centro das relações sociais, econômicas e políticas, em conformidade com a mensagem do Evangelho e a Doutrina Social da Igreja. Assim, o confronto entre esses dois paradigmas aponta para a urgência de uma transformação ética que priorize a dignidade humana e a construção de uma sociedade mais justa e solidária.
Após o processo de análise da Cultura do Descarte Humano em contraste com a Humanidade de Jesus, torna-se evidente como a vida e os ensinamentos de Jesus oferecem uma proposta radical de mudança, desafiando diretamente a cultura de discriminação e exclusão social que marca nossa era. Diante dessa compreensão, é necessário buscar meios para concretizar a ética apresentada por Jesus na realidade contemporânea. Nesse contexto, os documentos do Papa Francisco assumem um papel central, não apenas por terem sido os primeiros a apresentar ao mundo o termo "Cultura do Descarte Humano", mas também por proporem soluções concretas para combater essa cultura, que fragmenta as relações éticas e sociais da modernidade.
A Cultura do Descarte, como já discutido, se refere à prática social de marginalizar, ignorar ou excluir aqueles considerados "inúteis" para o sistema econômico ou social vigente. Em resposta a essa realidade, a Doutrina Social da Igreja (DSI) oferece princípios fundamentais que promovem a solidariedade, a dignidade humana e a inclusão social. Documentos papais como “Evangelii Gaudium” (67), “Fratelli Tutti” (188), “Laudato Si” (50) e “Christus Vivit” (178) delineiam diretrizes concretas para superar essa cultura e construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.
O Papa Francisco denuncia frequentemente o que ele chama de "economia da exclusão", um sistema que favorece a desigualdade e cria um ambiente onde os marginalizados são tratados como descartáveis. Ele afirma: “Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras” (EG 53). Essa crítica aponta para um sistema que coloca o lucro acima das pessoas, tratando seres humanos como objetos descartáveis quando deixam de ser "úteis". Esse cenário, segundo o Papa, cria uma "globalização da indiferença", onde a dignidade humana é subjugada pelo capital e pela busca incessante de eficiência econômica (EG 54).
Em resposta, Francisco propõe uma "Igreja em saída", que vá ao encontro dos marginalizados e busque alcançar as periferias existenciais da sociedade, proporcionando uma resposta concreta à exclusão. Para o Papa, a solidariedade não deve ser um conceito abstrato, mas uma ação concreta: “A própria beleza do Evangelho [...] manifesta-se através da opção pelos últimos, pelos que a sociedade descarta e lança fora” (EG 195).
Na “Fratelli Tutti”, o Papa introduz o conceito de "amizade social" e "amor fraterno", clamando por um renovado espírito de fraternidade universal, onde todos os seres humanos, independentemente de sua origem, cultura ou status social, sejam tratados como irmãos e irmãs. Essa proposta se contrapõe ao individualismo crescente, que alimenta a cultura do descarte. Em vez de viver de forma isolada e egoísta, o Papa propõe uma "cultura do encontro", onde o diálogo e a cooperação entre os povos se tornam a base para uma sociedade mais inclusiva e justa. Ele afirma: “O que conta é gerar processos de encontro, processos que possam construir um povo capaz de recolher as diferenças” (FT 217).
O princípio da "opção preferencial pelos pobres", reiterado por Francisco em vários documentos, coloca os pobres no centro das preocupações sociais e econômicas. Em “Laudato Si”, o Papa vincula a pobreza à crise ambiental, afirmando que os mais pobres são os mais afetados pela degradação ambiental. Ele escreve: “Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres” (LS 48). Essa abordagem ecológica e social está profundamente interligada à crítica à cultura do descarte. O Papa vê o cuidado com a criação e o cuidado com os pobres como inseparáveis. Ele também critica aqueles que propõem soluções como a redução da natalidade, argumentando que a solução está na promoção de um desenvolvimento integral e solidário, que aborde a desigualdade e a má distribuição de recursos, e não apenas o crescimento demográfico (LS 50).
Além disso, Francisco convoca a juventude a se levantar como agentes de mudança, exortando os jovens a se engajarem ativamente na transformação social, recusando-se a ser tratados como descartáveis. Ele afirma: “Amigos, não espereis pelo dia de amanhã para colaborar na transformação do mundo com a vossa energia, audácia e criatividade” (CV 178). Esta é uma chamada à ação não apenas para os jovens, mas para toda a sociedade, a fim de integrar os jovens como parte essencial da solução para os problemas globais, ao invés de vê-los como consumidores ou mão-de-obra barata.
A resposta do Papa Francisco à cultura do descarte não se limita a uma simples crítica; ele propõe caminhos concretos para uma mudança social profunda. Ele convoca tanto a Igreja quanto as comunidades internacionais a promoverem sistemas econômicos mais inclusivos, a educarem para a solidariedade e a fortalecerem as comunidades locais, enfatizando a necessidade de "globalizar a esperança", em oposição à "globalização da indiferença". Ele conclui: “A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença” (FRANCISCO, 2015).
Em seus documentos, o Papa Francisco enfatiza que a transformação das estruturas sociais deve ocorrer a partir da base, com a orientação do amor ao próximo e da justiça: “Cada sociedade precisa de garantir a transmissão dos valores; caso contrário, transmitem-se o egoísmo, a violência, a corrupção nas suas diversas formas, a indiferença e, em última análise, uma vida fechada a toda a transcendência e entrincheirada nos interesses individuais” (FT 113).
Observa-se, então, que a visão do Papa Francisco é profundamente ética e espiritual, visando combater a cultura do descarte humano com base na solidariedade, dignidade e cuidado com os vulneráveis. Sua crítica ao individualismo e à exploração desenfreada está acompanhada de propostas concretas para transformar a sociedade de dentro para fora, promovendo uma cultura do encontro e da fraternidade. O Papa faz um chamado para que a Igreja e todos os cristãos assumam um papel ativo na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde cada pessoa, especialmente os mais pobres, seja tratada com respeito e dignidade, promovendo uma verdadeira Fraternidade e Amizade Social.
Em suma, é possível compreender que a Humanidade de Jesus não é apenas um contraponto à Cultura do Descarte Humano, mas se apresenta como a humanidade plenamente realizada. Jesus nos convida a valorizar cada ser humano independentemente de sua utilidade, condição social ou econômica. Embora essa ética pareça desafiadora, ela continua profundamente relevante no mundo atual, evidenciando o amor de Deus em ação.
A ajuda humanitária prestada em situações de catástrofes ambientais, como enchentes, terremotos e incêndios florestais, revela como o cuidado com o próximo é uma expressão concreta dessa ética. Organizações como a Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras e diversas ONGs locais e globais desempenham um papel crucial ao socorrer e reconstruir vidas, priorizando a dignidade humana acima de qualquer interesse material. Essas organizações refletem, de forma prática, o princípio de Jesus de estar ao lado dos marginalizados, cuidando daqueles que são descartados pela sociedade.
Os documentos do Papa Francisco demonstram que fraternidade e solidariedade não são utopias, mas caminhos concretos para superar a indiferença do mundo moderno. A ética de Cristo, mesmo quando parece impossível em determinados contextos, é vivida e testemunhada através de ações de amor ao próximo, provando que o amor de Deus está vivo e presente no mundo. Ele opera por meio de pessoas e instituições dedicadas a transformar a realidade ao seu redor.
A partir desse exemplo ético, é possível encontrar no cotidiano oportunidades para transformar pequenas ações em gestos de cuidado com o próximo, pautados nos valores de Jesus. Inspirados por uma "Igreja em saída", cada pessoa é chamada a viver a ética do cuidado e da paz, como Jesus ensinou, para se tornar um agente de mudança. Pequenos atos de compaixão e respeito à dignidade humana possuem o poder de construir uma sociedade menos descartável e mais solidária. "Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus." (Mt 5,9). Dessa forma, com os olhos fixos em Jesus, é possível viver como irmãos e irmãs, comprometidos com uma ética que acolhe e que promove a paz de Deus no mundo.
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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS BRASILEIROS. Texto-Base da Campanha da Fraternidade 2024: Fraternidade e Amizade Social. Brasília: Edições CNBB, 2024.
FRANCISCO. Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium” do Papa Francisco sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus, 2013 (A voz do Papa 198)
FRANCISCO. Fratelli Tutti do Papa Francisco sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulus, 2020 (A voz do Papa 210).
FRANCISCO. Laudato Si do Papa Francisco sobre o cuidado com a casa comum. São Paulo: Paulinas, 2015 (A voz do Papa 201).
FRANCISCO. Christus Vivit do Papa Francisco aos jovens e a todo o povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2019 (A voz do Papa 207).
LIPOVETSKY, Gilles. A Felicidade Paradoxal: ensaios sobre a sociedade de hiperconsumismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
RAHNER, Karl. Curso Fundamental da Fé: Introdução ao conceito de cristianismo. São Paulo, Paulinas, 1989.
SCHILLEBEECKX, Edward. JESUS: A história de um vivente. São Paulo. Paulus, 2008.
TORNIELLI, Andrea. A teoria do “gotejamento” que não agrada ao papa. In Instituto Humanitas Unisinos (online) (2015), São Leopoldo, Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/169-noticias-2015/544741-a-teoria-do-qgotejamentoq-que-nao-agrada-ao-Papa%20a. Acesso em: 17 jul. 2024.
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[1] Essa teoria afirma que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Ao falar dessa teoria o Papa Francisco tenta apresentar a fotografia do que acontece, onde essa teoria traz a promessa de que, quando o copo está cheio, ele transbordaria, e os pobres se beneficiaram. Ao contrário, acontece que, quando ele está cheio, o copo magicamente cresce e, assim, não sai mais nada para os pobres. Como mostra o site: A teoria do “gotejamento” que não agrada ao papa. Disponível em: <https://www.ihu.unisinos.br/categorias/169-noticias-2015/544741-a-teoria-do-qgotejamentoq-que-nao-agrada-ao-Papa%20a>. Acesso em: 17 jul. 2024.
[2] A "Globalização da Indiferença", criticada pelo Papa Francisco, é um fenômeno presente na sociedade contemporânea, marcada pela agitação e pelo imediatismo. Essa condição impede que as pessoas vejam o outro como semelhante, como irmão, ou mesmo como alguém digno de ser considerado.
[3] Aqui o termo crise antropológica se emprega no sentido da perda de visão sobre o ser humano integral, reduzido apenas a suas funções de consumo, resultando em uma desumanização progressiva na sociedade contemporânea.
[4] A solidariedade envolve agir com compaixão e buscar o bem-estar coletivo, promovendo a justiça, a igualdade e a dignidade humana.
[5] Podia ter ido para a Galiléia passando pela Transjordânia; pois a Samaria era a região considerada pelos judeus como heterodoxa, raça de sangue mestiço e de religião sincretista. Existia entre os dois povos profunda inimizade. Os judeus tinham destruído o templo samaritano no monte Garizim (128 a.C) o que exacerbou o ressentimento. Nos tempos do procurador Copônio (6-9 d.C.), alguns samaritanos haviam profanado o templo Jerusalém, durante as festas da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios. (BARRETO; MATEOS, 1989, p. 207)
[6] No cristianismo, a missionalidade envolve a prática e o compromisso de levar a mensagem do Evangelho a outras pessoas, comunidades e culturas, com o objetivo de expandir a fé e promover a transformação espiritual e social. Nesta pesquisa, o termo missionalidade se apresenta através do diálogo de Jesus com a Samaritana, mostrando que a mensagem é para todos, que inclui e acolhe a todos, traz transformação e testemunho de quem recebe a mensagem de Jesus.