FRANCISCO, papa. Carta Encíclica Dilexit nos sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo. São Paulo: Paulinas, 2024.

 

A solidez do amor numa época líquida “anticoração”

Diego Augusto Gonçalves Ferreira

Voltar ao Sumário 

Anunciada em 5 de junho de 2024 e publicada oficialmente em 24 de outubro desse mesmo ano, por ocasião dos 350 anos do aniversário das aparições do Sagrado Coração de Jesus[1] à Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690)[2], em 1673[3], a carta encíclica Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, é a quarta[4] a ter sido escrita pelo papa Francisco. Segundo sua própria apreciação (cf. nº 143), o documento constitui um resumo do seu magistério, já que, redigido no décimo segundo ano de seu pontificado, permite aos cristãos descobrirem o que está escrito nas encíclicas anteriores de cunho social, uma vez que o amor de Cristo fundamenta o cuidado com a criação (Laudato si’) e o convívio fraterno entre todos os seres humanos (Fratelli tutti).

Formada por 220 parágrafos (nºs), Dilexit nos está organizada em 5 capítulos que: contextualizam a temática desenvolvida, ou seja, o amor de Jesus numa época desafiadora (1º capítulo); definem o objeto de interesse do texto, o Sagrado Coração (2º capítulo); recuperam bíblica, teológica e historicamente a devoção ao Coração de Cristo (3º capítulo); e apresentam o amor do Coração de Jesus como fonte de espiritualidade (4º capítulo) e de prática sócio-missionária (5º capítulo). Há, portanto, uma linha de raciocínio que insere o leitor no ambiente cultural que tensiona o assunto – o mundo que parece ter perdido o coração –, esclarece a natureza do Coração de Jesus, e explica como sua devoção se consolidou na Igreja, apresentando de que forma ela é atual e necessária para a mística e o apostolado cristãos no século XXI.

Recuperando a expressão paulina que intitula a carta, “Amou-nos” (Rm 8,37, cf. nº 1), em latim Dilexit nos, Francisco fala no capítulo inaugural sobre “A importância do coração”. Tomando como categorias de análise histórica os desafios políticos, econômicos, sociais, éticos e culturais que fazem eclodir guerras como os conflitos que atualmente envolvem a Rússia e a Ucrânia, Israel e a Autoridade Palestina, além de contribuírem para a formação de um mundo tecnologicamente controlado pela inteligência artificial, o papa caracteriza o coração (καρδιά, kardía, do grego) como o centro constitutivo da pessoa, o núcleo inviolável do sujeito (cf. nº 3-4). Nesta época em que a tentação da superficialidade produz no mundo a pressa frenética, o consumismo desenfreado e a escravidão mercadológica, mecanismos de um sistema ideocultural que rouba o ser humano do sentido de sua existência, ou seja, que inibe no sujeito a aventura existencial que o leva a descobrir seu mistério pessoal (cf. nº 2) e a realizar-se plenamente como pessoa, é urgente resgatar o lugar da profundidade, isto é, o coração, onde todas as decisões são tomadas e as superficialidades não podem ceder às mentiras (cf. nº 6).

Desafiado pelo fortalecimento de um ethos “anticoração” (cf. nº 9), gestado pela líquida sociedade moderna que decidiu viver sem coração[5], produzindo realidades como o consumismo, a tecnologização, a ansiedade, a desumanização, o narcisismo e a autorreferencialidade (cf. nº 17), o ser humano, desorientado do seu próprio centro, precisa abandonar a superficialidade e, regressando ao coração (cf. nº 8), mergulhar nas profundezas de um sentido para sua existência pessoal, coletiva e cosmológica. Nesse sentido, de fato, Dilexit nos pode ser considerada a chave de compreensão do magistério franciscano já que coloca a experiência pessoal da fé (Lumen fidei), a coexistência fraterna do gênero humano no mundo globalizado (Fratelli tutti) e a íntima relação do ser humano com o universo e suas diferentes formas de vida (Laudato si’) sob o “controle político” do coração (cf. n° 13).

Deslocar o controle político exercido pelas guerras, injustiças socioeconômicas, consumismo e desumanização tecnológica, personificado pelo desenvolvimento descomedido da inteligência artificial (cf. nº 31), para o coração, é reunir os fragmentos da pessoa que foram decompostos pela liquidez da cultura moderna e autenticar os vínculos genuinamente humanos (cf. nº 13), corrigindo o paradoxo que aproxima o sujeito daquilo que lhe deveria ser distante e o afasta do que lhe deve ser extremamente próximo: o seu centro pessoal, isto é, o coração. Considerando que o ser humano foi criado para o amor e que cada fibra sua foi minuciosamente feita para amar, então as estruturas “anticoração” da sociedade líquida podem ser modificadas por um “milagre social” (cf. nº 28) que será produzido pelo coração humano a partir de sua íntima e consciente união com o Coração de Jesus, cujo amor humano e divino é estruturalmente sólido, constante e duradouro.

Estabelecido esse cenário para o seu texto, o papa define no segundo capítulo de sua carta, “Gestos e palavras de amor”, qual é o coração capaz de subverter a lógica “anticoração” do mundo líquido: o coração humano e divino de Jesus Cristo! Convidando o leitor a reconhecer no Evangelho (cf. nº 33) as qualidades do Coração de Cristo para decifrar sua pessoalidade (cf. nº 32), para descobrir o núcleo constitutivo do Filho de Deus, Francisco o caracteriza como um coração renegado pela liquidez do amor humano (cf. Jo 1,11), mas dado à amizade com os mais necessitados (cf. Jo 15,15) e próximo das pessoas (cf. Fl 2,7). Aproveitando a categoria epistemológica de “encontro”, abundantemente usada noutras encíclicas e recorrente em seus discursos, o pontífice adjetiva o Coração de Jesus como um “coração sempre aberto ao encontro” (cf. nº 35), que busca o ser humano para encontrá-lo (cf. n° 38), é próximo e está atento às suas necessidades (cf. nº 40); essas características influenciarão diretamente a cosmovisão missionária apresentada no último capítulo da encíclica. A proximidade em relação ao humano, que envolve o Coração de Cristo, é o avesso daquilo que a superficialidade do mundo líquido causa: esta, a desorientação do sujeito em função do que lhe é exterior; aquela, seu autoconhecimento segundo o amor pessoal e concreto. 

Essa proximidade entre duas pessoas, que se dá no encontro, supõe gestos e palavras (cf. nº 36), de modo que o amor do Coração de Cristo é humanizado, encarnado: assim como se encontrou com a samaritana (cf. Jo 4,5-7), com Nicodemos (cf. Jo 3,1-2), com a prostituta (cf. Lc 7,36-50), com a mulher adúltera (cf. Jo 8,11) e com o cego (cf. Mc 10,51), Jesus propõe a todo o ser humano um encontro com o Seu e no Seu Coração (cf. Mt 11,28, nº 43) para que, em profunda comunhão de amor com Ele, seja capaz de realizar no mundo, tão volátil e inconstante quanto as personagens evangélicas citadas, o “milagre social”. Portanto, o Coração de Jesus é aquele que, amado pelo Pai, foi capaz de amar a humanidade por meio de gestos e palavras (cf. nº 47), traduzindo a palavra – declaração – mais eloquente de amor numa prática cuja solidez produziu a salvação do líquido mundo humano: seu corpo pregado na cruz (cf. Gl 2,20, nº 46).

Retirando o amor do senso de mero sentimentalismo em que fora colocado pela cultura da superficialidade, ao caracterizar o amor de Jesus como testemunho vivo, enquanto ação concreta, o papa recupera os fundamentos bíblico-teológicos da devoção ao Sagrado Coração. No terceiro capítulo, intitulado “Este é o coração que tanto amou”[6], Francisco afirma que na veneração do mistério do Coração de Cristo, atraído por esse amor sólido, o ser humano mergulha no centro íntimo da pessoa do Filho de Deus (cf. n° 48) para relacionar-se com Ele como amigo e adorador (cf. nº 49). Tanto na Sagrada Escritura (cf. n° 51) quanto na história da Igreja, o Coração de Jesus é um apelo ao encontro e ao diálogo de Deus feito homem com a humanidade (cf. n° 54): no peito rasgado do crucificado, o ser humano contempla a carne humana do coração de Deus (cf. nº 58), que assumiu a natureza humana integralmente, com exceção do pecado, para santificá-la (cf. nº 62).

Não há, portanto, dissociação entre a pessoa divina de Cristo e o coração humano de Jesus de Nazaré: hipostaticamente[7] unidas (cf. nº 61), a divindade e a humanidade do Filho de Deus se abraçam no núcleo constitutivo da segunda pessoa da Santíssima Trindade, o coração. Se por muito tempo a carne foi desprezada pela reflexão teológica em detrimento do espírito (cf. nº 63), o culto ao Coração de Cristo recupera a humanidade própria do amor cristão, de sorte que nele contemplam-se três dimensões inseparáveis desse amor que se concretiza no coração (cf. nº 65) e que forma o núcleo de cada pessoa: a materialidade (a realidade sensível da matéria), a hominidade (os afetos e sentimentos) e a divindade (a infinitude transcendente que se esconde sob a finitude da matéria, graças ao espírito). O Coração de Jesus, dessa forma, é um resumo da mensagem evangélica (cf. nº 83) e a devoção a Ele, desenvolvida desde os primeiros séculos, mas especialmente no Magistério eclesial dos séculos XIX e XX (cf. nºs 78 a 81), constitui um horizonte de esperança para a secularização e o aparecimento de uma “espiritualidade sem carne” no mundo líquido (cf. nº 87).

Após apresentar a moldura bíblico-teológica que envolve o culto ao amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, o pontífice propõe um aprofundamento sobre esse amor que, sendo amado pelo Pai desde a eternidade e repleto do ardor do Espírito Santo (cf. n. 70), numa forte perspectiva trinitária, resume todo o evangelho (cf. n. 89) ao distribuir-se largamente sobre os corações feridos da humanidade a fim de curá-los dos males de uma era que canonizou a liquidez e a superficialidade como ideais de uma civilização “anticoração”. Para isso, Francisco expõe nos dois últimos capítulos de sua carta aspectos importantes da devoção ao Coração de Jesus, a saber: a devoção como experiência espiritual pessoal para o aprofundamento da fé (dialogando subliminarmente com a carta Lumen fidei) e enquanto compromisso sócio-missionário em vista da transformação das relações humanas e, consequentemente, ecológicas (recuperando, ainda que nas entrelinhas, aquilo que já havia escrito nas cartas sociais Fratelli tutti e Laudato si’).

Sob o título “O amor que dá de beber”, o quarto capítulo sobre o aspecto espiritual e pessoal da devoção ao Coração de Jesus é desenhado pela mística que carrega o binômio sede-água, elementos que aparecem na Sagrada Escritura para falar do desejo ontológico do coração humano por Deus e do seu preenchimento pela acolhida da presença divina. Após uma extensa recuperação dos textos bíblicos que tratam da sede humana do amor de Deus a partir de uma teologia imagética da água (n. 93-100), provando que no Coração de Cristo estão escritas todas as manifestações de amor presentes na Bíblia (cf. n. 101), o papa afirma que esse amor é água que mata a sede existencial do ser humano porque é o lugar do encontro pessoal com o Senhor (cf. n. 103). O verdadeiro amor, que é aquele provado pela entrega de Jesus em favor do seu povo, conduz o coração humano para o lugar no qual ele deve estar para saciar-se, ou seja, no próprio Coração de Jesus (cf. n. 105). O interessante é que, criticando anteriormente a liquidez do mundo globalizado, Francisco compara o amor do Coração de Cristo a um líquido que é capaz de satisfazer a pessoa no seu caminho de recentramento, a partir de uma experiência espiritual: enquanto a liquidez da cultura “anticoração” rouba o ser humano do seu centro constitutivo, a liquidez nutrícia do amor de Jesus reconduz a pessoa ao seu mistério existencial, ao seu núcleo, ao seu coração. O amor de Cristo é um paradigma alternativo e necessário frente ao controle político do amor líquido no mundo moderno “anticoração”!

Para ilustrar de que forma o culto ao Sagrado Coração produziu seus frutos de saciedade espiritual na história humana, o papa relembra o testemunho de homens e mulheres que beberam do amor de Jesus a partir de uma experiência interior sólida em diferentes épocas que manifestaram liquidezes próprias: na vida contemplativa, como os monges (cf. n. 110-113); na santificação da vida ordinária, como São Francisco de Sales (cf. n. 114-118); no encontro pessoal com Jesus, como Santa Margarida Maria Alacoque (cf. n. 119-124); no aprofundamento da vida espiritual, como São Cláudio de La Colombière e Santo Inácio de Loyola (cf. n. 125-128; 143-147); e no despojamento para a vida missionária, como São Charles de Foucauld e Santa Teresinha do Menino Jesus (cf. n. 129-142). Todas essas manifestações do amor de Jesus presentes na vida dos santos apontam para a devoção ao Seu Coração como uma sólida proposta de espiritualidade, por meio da qual cada cristão é chamado a um duplo empenho pessoal: viver segundo a dignidade da fé que professa, consolando o Coração de Cristo que é continuamente crucificado pela hipocrisia da liquidez religiosa (cf. n. 151-157); e reconhecer a própria condição de pecador, num ato de humilde compunção, para acolher-se a si mesmo e aos irmãos em suas liquidezes, fragilidades (cf. n. 158-163).

A carta franciscana é concluída com um capítulo dedicado à dimensão sócio-missionária da devoção ao amor humano e divino do Coração de Jesus, “O amor por amor”. Numa época líquida “anticoração”, constituída por tantos desafios concretos que devem incomodar o cristianismo, uma espiritualidade sem comprometimento comunitário é tão volátil e superficial quanto a cultura na qual se encontra. Por tanto, o amor de Cristo exige reciprocidade e um encontro, que está sempre em estado de atraso, com o outro (cf. n. 168), para participar da obra libertadora iniciada pelo Sagrado Coração (cf. n. 171). Se a consolação e a compunção, apresentadas no parágrafo anterior, são atitudes que nascem de uma experiência espiritual pessoal com o amor humano e divino de Jesus, a reparação é uma obrigação sócio-eclesial para todo cristão: reparar o Coração machucado de Jesus é concretizar o “milagre social” de reconstrução da dignidade humana à luz da solidez do amor (cf. n. 181).

A reparação é uma ação evangelizadora para irradiar o amor de Jesus (cf. n. 177-180) aos corações humanos que estão feridos (cf. n. 185-186) e necessitados de perdão (cf. n. 187-190), criando uma dinâmica sócio-eclesial que seja capaz de restaurar o bem (cf. n. 183). A proposta reparadora de Francisco, portanto, é essencialmente missionária (cf. n. 205), já que pretende que o mundo se enamore de Jesus a partir de um testemunho apaixonado do cristão que bebeu do “amor que se dá de beber” e se torna fonte para os outros através da fraternidade solidária (cf. n. 173-176). Ao escrever sobre esta dimensão sócio-missionária, que naturalmente é uma questão de amor (cf. n. 208), o pontífice deseja que o culto ao Sagrado Coração colabore para que o amor de Jesus inflame tudo o que está em estado mórbido de liquidez, curando as feridas do mundo e da Igreja (cf. n. 200). Para ele, a missão primordial do cristão é facilitar que os outros amem a Jesus (cf. n. 210), livrando-se da hipocrisia religiosa do muito fazer as coisas de Deus e do pouco ou quase nada experimentar o amor humano e divino do Coração de Jesus (cf. n. 208) no serviço comunitário (cf. n. 212) aos irmãos mais necessitados (cf. n. 214).

Ao presentear os cristãos com a encíclica Dilexit nos, às vésperas da celebração do primeiro jubileu ordinário[8] do terceiro milênio, que começa em 24 dezembro de 2024 e vai até 06 de janeiro de 2026, o papa Francisco convida a Igreja a recuperar, numa época líquida “anticoração”, a solidez do amor divino e humano do Coração de Jesus Cristo. Nos meados da terceira década de um século em que o ser humano parece ter perdido o rumo de seu centro constitutivo, não reconhecendo-se como pessoa numa comunidade, o texto franciscano é um grito profético que denuncia a lógica do mundo sem coração e anuncia, com a eloquência de um grande líder global e a linguagem afetuosa de um já conhecido amigo, que o amor de Cristo está fora dela (cf. n. 218) e que pode modificá-la. Enquanto muitos cristãos tendem a invalidar o potencial revolucionário do amor de Jesus, sufocando a esperança com visões sociológicas, antropológicas, ecológicas e eclesiológicas pessimistas, apocalípticas e deterministas em meio ao caos ético-civilizacional atualmente estabelecido pela liquidez generalizada, o papa escancara uma porta jubilar para os que vão pelo mundo “anticoração” como peregrinos ao afirmar, com destemida convicção, que o sólido amor humano e divino de Coração de Cristo é a esperança que “tornará possível uma nova humanidade” (n. 219).

------------

Notas

[1] Para compreender a fundamentação histórico-teológica da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, cf. PIO XII, papa. Carta Encíclica Haurietis Aquas sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus. 1956. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_ 15051956_haurietis-aquas.html>. Acesso em: 03. dez. 2024.

[2] Para conhecer a história das aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida, cf. BELTRAMI, André. Santa Margarida Maria Alacoque: a esposa do Sagrado Coração de Jesus. São Paulo: Escolas profissionais do Lyceu C. de Jesus, 1932. Disponível em: <https://alexandriacatolica .blogspot.com/2011/03/esposa-do-sagrado-coracao-de-jesus.html>. Acesso em: 03. dez. 2024.

[3] As comemorações que festejam os três séculos e meio das aparições de Jesus à irmã visitandina francesa, no convento de Paray-le-Monial, na Borgonha, se estendem de 27 de dezembro de 2023 a 27 de junho de 2025. A freira Margarida Maria Alacoque, nas quase duas décadas em que recebeu a visita do Senhor (17 anos), foi incumbida por Ele de consolidar e difundir no mundo a devoção ao seu Coração, estabelecendo, sobretudo, a solenidade litúrgica em honra ao Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira após a celebração de Corpus Christi.

[4] Francisco escreveu outras três encíclicas: 1) Lumen fidei, em parceria com o papa Bento XVI, sobre a fé (29 de junho de 2013); 2) Laudato si’ sobre o cuidado da casa comum (24 de maio de 2015); e 3) Fratelli tutti sobre a fraternidade e a amizade social (3 de outubro de 2020).

[5] O papa recupera a categoria sociológico-filosófica de “mundo líquido” desenvolvida pelo pensador polonês Zygmunt Bauman (1925-2017), pela qual se deve compreender o fenômeno da globalização. A liquidez enquanto característica social, ética e intelectual é produzida pelo capitalismo neoliberal, cujo escopo é substituir a solidez pela inconstância a fim de que as relações na sociedade, as ações do sujeito e seu pensamento sejam enfraquecidos e se mantenham reféns da lógica mutável-mercantil do lucro e do poder desenfreados. Cf. BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2021. 

[6] O título do capítulo foi retirado dos relatos de Santa Margarida Maria Alacoque sobre as aparições do Sagrado Coração de Jesus, em 1675, segundo as quais o Senhor, ao mostrar seu Coração, disse à freira: “Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor”.

[7] A “união hipostática” do Verbo é o termo teológico tecnicamente utilizado para falar da união substancial que existe das naturezas humana e divina em Jesus Cristo. Considerando que, em grego, hypostasis (ὑπόστᾰσις) designa a realidade permanente de um ser (pessoa), a união hipostática é a confissão de fé segundo a qual na segunda pessoa da Santíssima Trindade, isto é, no Filho, subsistem simultânea e inseparavelmente, sem que haja a absorção de uma pela outra, a substância divina e humana: Jesus, portanto, é plena e eternamente Deus, em virtude de sua participação desde sempre na substância trinitária, e plena e eternamente homem devido à sua encarnação. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 468. Disponível em: <https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/ p1s2cap2_422-682_po.html>. Acesso em: 03. dez. 2024.

[8] Inspirado no costume judaico de comemorar a cada 50 anos um “tempo de graça” no qual o povo   de Israel recordava as maravilhas da libertação operada por Javé(cf. Lv 25), o jubileu ordinário da Igreja consiste na celebração de um Ano Santo, a cada 25 anos, para render graças a Deus, Senhor do tempo e da história, pelos benefícios com os quais cumula o seu povo. O jubileu de 2025 possui como tema “Peregrinos da esperança”.