Editorial 

Desafios e Contribuições Contemporâneas para a Teologia

Donizete José Xavier 
Editor-chefe da Revista Eletrônica Teológica


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A teologia contemporânea se move no limiar entre a perenidade da tradição cristã e as urgências de um mundo em transformação. Sustentada pela riqueza da Revelação divina e pela Tradição Viva, ela enfrenta as complexidades de uma realidade marcada por rápidas mudanças culturais, sociais e tecnológicas. Esse enfrentamento não é meramente um exercício intelectual, mas um compromisso pastoral de interpretar, anunciar e encarnar o Evangelho em contextos hodiernos.

Na Cristologia, encontra-se a tarefa de confessar Jesus Cristo, o acontecimento histórico, como Senhor, Palavra viva e eficaz, capaz de dialogar com os anseios e dúvidas de nosso tempo. A centralidade do mistério da Encarnação e da Páscoa convida a refletir sobre como a humanidade de Cristo, que é a humanização de Deus, ilumina o drama humano e resgata sua dignidade mais profunda.

Na Cristologia, encontra-se a tarefa de confessar Jesus Cristo, o acontecimento histórico, como Senhor, Palavra viva e eficaz, capaz de dialogar com os anseios e dúvidas de nosso tempo. A centralidade do mistério da Encarnação e da Páscoa convida a refletir sobre como a humanidade de Cristo, que é a humanização de Deus, ilumina o drama humano e resgata sua dignidade mais profunda.

A Eclesiologia, por sua vez, busca renovar a compreensão do mistério da Igreja como povo peregrino, chamado a ser sacramento de comunhão em um mundo fragmentado. É necessário refletir sobre sua missão evangelizadora em chave sinodal, dialogando com as culturas, promovendo a unidade sem anular a diversidade, e testemunhando a força transformadora do Reino de Deus. O trinômio Igreja, Reino e Mundo será, cada vez mais, um desafio para nossa reflexão teológica e nossa prática pastoral, pois essas dimensões estão inter-relacionadas.

A Antropologia Teológica, ao explorar a identidade e a vocação humanas à luz da graça divina, questiona o reducionismo que desfigura a pessoa, resgatando a visão de um ser criado à imagem de Deus, chamado a uma existência plena na comunhão com o outro e com o Criador.

Na Teologia Moral, surge o desafio de discernir caminhos éticos em meio a dilemas contemporâneos, promovendo uma moralidade profundamente enraizada na vida de Cristo e nas bem-aventuranças. Essa reflexão propõe um agir cristão que alie a justiça à misericórdia e a verdade à caridade, como nos tem ensinado o Papa Francisco.

A Cosmovisão Cristã, com sua capacidade de integrar ciência, cultura e espiritualidade, é uma resposta ao secularismo e ao individualismo que obscurecem o sentido da criação como dom de Deus. Este é um campo que clama por uma espiritualidade ecológica, ancorada na teologia da criação e no cuidado da Casa Comum.

Finalmente, o Diálogo Inter-religioso representa um dos maiores desafios e promessas para a teologia contemporânea. Este diálogo exige humildade, escuta atenta e reconhecimento da ação do Espírito Santo na história e nas religiões, promovendo um encontro que enriquece a compreensão da verdade e fomenta a paz entre os povos.

Cada uma dessas áreas, como mosaicos de um grande quadro, contribui para que a teologia contemporânea seja um espaço de fidelidade criativa: fiel ao depósito da fé e criativa ao discernir sua aplicação em realidades novas. Assim, ela cumpre sua vocação de iluminar a fé e a vida, ajudando a Igreja e a humanidade a responderem, com esperança e coragem, aos desafios de um mundo em constante transformação.

Nesse sentido, os artigos desta edição percorrem as trilhas da reflexão teológica com olhar atento e compromisso pastoral. Cada texto é um convite à reflexão teológica e à ação.

José Nobre, em “Maria, Mãe de Deus e Modelo da Igreja: um pensamento conciliar sob a orientação de Paulo VI”, reflete sobre a figura de Maria, Mãe de Deus e modelo da Igreja, destacando sua importância dentro da tradição cristã. O artigo enfatiza que, quanto mais se estuda a vida de Maria, mais se experimenta sua graça e mais a Igreja se fortalece, oferecendo uma reflexão profunda sobre seu papel central na história da salvação e sua relação com a Igreja.

Devair José de Assis e Gláucio Farias de Souza, em “A humanidade de Jesus como contraponto à cultura do descarte humano”, analisam a “Cultura do Descarte Humano”, proposta por Papa Francisco, conectando-a com as ideias de sociólogos como Zygmunt Bauman. A partir da ética de Jesus, o estudo confronta essa cultura com uma visão humanizadora, propondo que a dignidade humana é inegociável, em oposição ao consumismo e individualismo da modernidade.

Luciano Betim, em “Teologia Batismal em perspectiva reformada”, visa examinar a teologia batismal sob a perspectiva reformada, especificamente no contexto da Igreja Presbiteriana do Brasil. O foco está na importância do batismo como um rito de iniciação na comunidade cristã e na reflexão sobre a fundamentação bíblica e teológica que o sustenta, com base nos escritos de João Calvino e na Confissão de Westminster.

Carolyne Santos Lemos, em “Bolsonarismo e teologia da prosperidade”, explora as conexões ideológicas entre o Bolsonarismo e a Teologia da Prosperidade, analisando como essas ideologias influenciam as políticas sociais no Brasil. O estudo discute como o Bolsonarismo e a Teologia do Domínio defendem um Estado mínimo e meritocracia, resultando em políticas que perpetuam desigualdades sociais, e propõe alternativas para promover a justiça social.

Ana Carolina, em “A visão da cosmovisão cristã sobre o conceito de pessoa e o princípio da dignidade humana” examina como a cosmovisão cristã define a pessoa e como essa definição contribui para a observância do princípio da dignidade humana. O estudo, baseado em uma abordagem qualitativa e dedutiva, propõe que a cosmovisão cristã influencia diretamente atitudes e ações sociais em relação à valorização da vida e ao respeito pelos direitos humanos.

Igor Gabriel Mendes Neves Miranda e Paulo Sergio Lopes Gonçalves, em “O diálogo inter-religioso na relação do cristianismo com as outras religiões: Análise das contribuições da Declaração Nostra Aetate”, analisam as contribuições da Declaração Nostra Aetate para o diálogo inter-religioso, destacando sua importância histórica e teológica. O estudo explora como a declaração, oriunda do Concílio Vaticano II, promove o entendimento e a cooperação entre religiões, enriquecendo a fé cristã e combatendo o fundamentalismo, ao reconhecer a experiência de Deus nas diversas tradições religiosas.

Em “Contribuições da Espiritualidade para Gestores Escolares”, Márcio Teixeira de Souza investiga como a espiritualidade pode influenciar diretamente a gestão escolar, promovendo uma abordagem mais humana e colaborativa. 

Com base em autores como Murad, Balbinot e Barbosa, a pesquisa, de caráter bibliográfico, analisa o conceito de espiritualidade e sua relação com os pilares da gestão escolar. O estudo evidencia que a espiritualidade pode contribuir para um ambiente escolar mais harmônico, favorecendo relações horizontais e a transição de perspectivas individuais para coletivas. Além disso, destaca que a integração entre gestão escolar e espiritualidade possibilita práticas de liderança mais humanas e eficazes, impactando positivamente as ações e decisões dos gestores.

Resenha

A obra FRANCISCO, papa. Carta Encíclica Dilexit nos sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo. São Paulo: Paulinas, 2024, é resenhada por Diego Augusto Gonçalves Ferreira, destacando que a A encíclica Dilexit Nos, publicada em 24 de outubro de 2024, celebra os 350 anos das aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque. Ela apresenta uma reflexão sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, sendo a quarta encíclica do Papa Francisco. O documento está dividido em cinco capítulos que abordam o contexto histórico, a natureza do Coração de Jesus, a devoção a Ele, e como esse amor se traduz em espiritualidade e prática missionária. Francisco analisa a sociedade moderna, caracterizada pela superficialidade e desumanização, e propõe o “Coração de Jesus” como um contrapeso ao ethos “anticoração” que domina a cultura contemporânea. Ele destaca a necessidade de retornar ao “coração”, o centro da pessoa, para recuperar um sentido profundo de existência e amor. O Papa enfatiza a centralidade da experiência do Coração de Jesus como um caminho de cura e transformação, tanto pessoal quanto social, sugerindo que a verdadeira espiritualidade é encontrada no encontro com Cristo, cujos gestos e palavras de amor oferecem um modelo de ação concreta e sólida. Dilexit Nos reforça a importância da devoção ao Sagrado Coração como um meio de restaurar a humanidade a partir do amor incondicional de Cristo.

Os textos apresentados nesta sessão dialogam com os desafios contemporâneos para a teologia e suas implicações para a sociedade e a Igreja. Que este número inspire em todos um novo compromisso com a vivência da fé, como expressão de uma missão salvífica que se traduz em gestos concretos de amor e esperança. Desejamos a todos uma excelente leitura!