Francisco, 10 anos de Pontificado

Prof. Dr. Glaucio Alberto Faria de Souza
Editor


Quando  a  Igreja  celebra  o  décimo  ano  do pontificado do Papa Francisco, a Revista  Eletrônica  Espaço  Teológico (Reveleteo), se une a todos aqueles que trabalham para que o espírito do Concílio Vaticano II se mantenha vivo na Igreja e que alcance a todos os seres humanos de boa vontade. A relação entre o pontificado de Francisco e os ensinamentos conciliares tornou-se um lugar fecundo para a Teologia, em razão de que a prática do atual pontífice  representa  uma  síntese  madura  do Concílio Vaticano II.Na esteira das reflexões conciliares, o Papa Francisco se apoia na convicção de que a vida histórica, sanada e reabilitada, é o espaço concreto da salvação. Afinal, a linguagem salvífica sempre desmascara as imposturas que afetam a dignidade humana. Por isso, a comunidade cristã deve estar atenta à realidade e de prontidão para sair dos confinamentos institucionais. O movimento de saída, proclamado pelo Papa, implica na superação do comodismo e da apatia por parte dos cristãos, na forma de reação à indiferença, à miséria, às guerras, à intolerância e aos processos desumanizadores e destruidores da vida, que estão em andamento na atualidade. Em consequência disso, Francisco, apoiado na Encarnação do Verbo, torna-se solidário a todos os seres vivos, praticando seu exercício contínuo de fraternidade e de amadurecimento humano. Em linha com o pensamento exposto, o artigo 10 anos do pontificado do Papa Francisco e a igreja dos pobres recupera a relação Francisco e Vaticano II, relembrando a necessidade da Igreja se reorientar em direção ao Evangelho e aos mais frágeis, especialmente os mais pobres. Cuidadosamente, os autores abordaram o tema da pobreza como uma inquietação que pertence à história da Igreja, relacionando-a com os discursos e gestos do Papa Francisco.Nesta  edição,  dois  artigos  manifestam  a  atualidade  da  Antropologia Teológica. O primeiro artigo de Elias Fernandes Pinto, Cibercultura e antropologia cristã: luzes e desafios para se pensar o humano, considera a contribuição da Antropologia Teológica no contexto cibernético, salientando a revolução cultural que o mundo em rede produz, como novos espaços de relacionamentos. O segundo texto, intitulado Pessoa humana à imagem e semelhança de Deus no ciberespaço, exprime sua relação direta com o magistério de Francisco. Nele, a autora Guadalupe Corrêa Mota, aborda os elementos fundamentais da Antropologia Teológica como o conceito de pessoa e a sua dignidade inalienável, com autores do campo da Comunicação e da Cibercultura Digital, ressaltando a necessidade de estabelecer e de se promover experiências pessoais e comunitárias nestes ambientes. Além disso, o texto reflete sobre uma nova gramática para o ser humano no ciberespaço e sua implicação teológico-pastoral. Jungley de Oliveira Torres Neto, no artigo Reflexões Fenomenológicas sobre a Religião: o aspecto relacional da experiência religiosa, discorre sobre o papel crucial da Fenomenologia para a compreensão da experiência religiosa. Segundo o autor, a “experiência religiosa é, intrinsecamente, uma vivência relacional, que envolve os âmbitos subjetivos, objetivos e intersubjetivos”. Neste sentido, pelo viés fenomenológico, o texto avança explorando as experiências de percepção em relação ao objeto religioso. Essa vivência de plenitude espiritual e de desdobramentos de significados é o cerne da experiência religiosa na qual o método fenomenológico se propõe a lançar lumes.O fenômeno moderno das pessoas que não se declaram religiosas está no centro da reflexão de Anderson Nunes de Carvalho Vieira e Jozy Mary Nogueira Souza Guimarães. No artigo, Os sem religião no Brasil: Um estudo sobre o crescimento dos irreligiosos no país de 1940 a 2010 e possível cenário para 2050, os autores refletem sobre o aumento deste fenômeno, por meio de uma análise de gráficos e termos como desigrejados e indiferença religiosa. Além disso, baseados em dados estatísticos, apresentam uma perspectiva futura sobre essa temática.A relação atual entre o discurso religioso e as ideologias políticas está contemplada no artigo A fala do pastor ungido: Malafaia e o discurso bolsonarista. Nele, o autor Alessandro de Mello Gomes analisa as estratégias emocionais, os aspectos subjetivos, a força do discurso do representante religioso, como aquele que fala em nome de Deus, que assume um status mitológico, detentor da verdade e das soluções para os problemas sociais. Por fim, um discurso religioso, ideológico, autoritário a serviço da candidatura de Jair M. Bolsonaro. Izabel Patuzzo, no seu artigo Uma leitura intertextual das narrativas exodais em Apocalipse 15, faz uma análise intertextual de uma das mais ricas temáticas da tradição bíblica que perpassa as Sagradas Escrituras até o Apocalipse: as narrativas exodais. Seu foco está no Êxodo, na visão das pragas das sete taças de Ap 15, a qual proporciona a mais significativa apresentação sistemática e teológica acerca da memória do Êxodo no Livro do Apocalipse. Por fim, esta Edição faz uma singela homenagem ao Padre César Teixeira, que faleceu no dia 08.12.2023, aos 68 anos. O professor César desenvolveu pesquisas na área do Antigo e Novo Testamento, era Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino, em Roma. Lecionou na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde também ocupou o cargo de Diretor Adjunto e trabalhou diretamente nesta Revista, como membro do Conselho Científico.

Boa leitura!