O pensamento neoliberal no discurso religioso

A ideologia empreendedora na Igreja Universal do Reino de Deus

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23925/1677-1222.2024vol24i1a9

Palavras-chave:

Neopentecostalismo, Neoliberalismo, Crise financeira, Austeridade

Resumo

Este trabalho explora a aproximação do discurso da Igreja Universal em Portugal, durante a crise financeira e o programa de austeridade, ao pensamento político neoliberal, recorrendo à centralidade do conceito de empreendedorismo na retórica de ambos. Analisa-se a produção escrita da Universal no seu jornal Folha de Portugal entre os anos 2010 e 2012, pesquisando todas as referências a empreendedorismo e conceitos relacionados, fazendo a análise do discurso. Os dados recolhidos apontam para uma sobrevalorização do empreendedorismo como solução para a crise, relativizando os constrangimentos provocados pela crise e austeridade e, assim, para o alinhamento com a ideologia e habitus neoliberal.

 

Biografia do Autor

Ana Maria Santos, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Licenciada em História (2015) e Mestre em História, Relações Internacionais e Cooperação (2020) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Doutoranda em Sociologia (IS-UP/FLUP) com uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Ref. 2022.13279.BD).

Referências

ATTANASI, Katherine; YONG, Amos (Eds.). Pentecostalism and Prosperity: The Socio-Economics of the Global Charismatic Movement. London: Palgrave Macmillan, 2012.

BRISSOS-LINO, J.; MONIZ, J. B. Secularização e populismo religioso em Portugal. Estudos de Religião, v. 37, n. 1, pp. 15-42, 2023.

BROWN, Wendy. In the Ruins of Neoliberalism: The Rise of Antidemocratic Politics in the West. New York: Columbia University Press, 2019.

CARMO, L. J. O.; ASSIS, L. B.; JÚNIOR, A. B. G.; TEIXEIRA, M. B. M. Entrepreneurship as a neoliberal ideology. Cadernos EBAPE.BR, v. 19, n. 1, Rio de Janeiro, pp. 18-31, 2021.

CNE. Partido da Gente. 2023. Disponível em: <https://www.cne.pt/partido/partido-da-gente>. Acesso em: 29 dez. 2023.

COELHO, P.; SÃO JOSÉ, J. de; MARTINS, J. E. Um olhar sociológico sobre a “prova” da crise e da austeridade junto dos mais velhos. Sociologia, Problemas e Práticas, n. 101, Lisboa, pp. 117-133, 2023.

DAMÁSIO, Sara. Crise: a ferramenta para o sucesso. Folha de Portugal, Lisboa, n. 404, 18 set., 2011a, p. 6.

DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DE EMPREGADA a patroa. Folha de Portugal, Lisboa, n. 403, 11 set. 2011, p. 5i.

DE FUNCIONÁRIA a dona. Folha de Portugal, Lisboa, n. 356, 17 out. 2010, p. 6i.

DEUS supera expetativas. Folha de Portugal, Lisboa, n. 356, 17 out. 2010, p. 2i.

DINIS, Rita; PEREIRA, Helena. Pedro e os mitos. O que Passos disse e não disse – em oito frases polémicas. 19 jun. 2015. Disponível em:<https://observador.pt/2015/06/19/7-frases-polemicas-passos-coelho-disse-mesmo-isto/>. Acesso em: 29 dez. 2023.

DO MÍNIMO ao máximo. Folha de Portugal, Lisboa, n. 403, 11 set., p. 6i.

ÉSTHER, A. B. A política de identidade do empreendedorismo: uma análise na perspectiva da sociologia figuracional e da psicologia social crítica. Cadernos EBAPE.BR, v. 17, Edição Especial, Rio de Janeiro, 2019.

FARNSWORTH, K.; IRVING, Z. Austerity: Neoliberal dreams come true?. Critical Social Policy, v. 38, n. 3, London, pp. 461-481, 2018.

FILIPE, João. Ficar ou mudar?. Folha de Portugal, Lisboa, n. 361, 21 nov., 2010a, p. 2.

FILIPE, João. Troika começa a doer!. Folha de Portugal, Lisboa, n. 402, 4 set., 2011a, p. 2.

FILIPE, João. Empreendedorismo: faltam pessoas com esta qualidade. Folha de Portugal, Lisboa, n. 411, 6 nov., 2011b, p. 11.

FILIPE, João. Crise, o fim ou o início?. Folha de Portugal, Lisboa, n. 404, 18 set., 2011c, p. 2.

FILIPE, João. Trabalho temporário: bom ou mau?. Folha de Portugal, Lisboa, n. 390, 12 jun. 2011, p. 2.

FRESTON, Paul. Evangelicals and Politics in Asia, Africa and Latin America. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

GAUTHIER, François; MARTIKAINEN, Tuomas (Eds.). Religion in the Neoliberal Age: Political Economy and Modes of Governance. Surrey: Ashgate, 2013.

HARVEY, David. A Brief History of Neoliberalism. New York: Oxford University Press, 2005.

LÖVHEIM, Mia; LINDBERG, Jonas; BOTVAR, Pål Ketil; REINTOFT CHRISTENSEN, Henrik; NIEMELÄ, Kati; BÄCKSTRÖM, Anders. Religion on the political agenda. In: FURSETH, Inger (Ed.). Religious Complexity in the Public Sphere: Comparing Nordic Countries. London: Palgrave Macmillan, 2018, pp. 137–191.

MAIS do que tinha pedido. Folha de Portugal, Lisboa, n. 367, 2 jan. 2011, p. 5i.

MAFRA, Clara. Na Posse da Palavra. Religião, conversão e liberdade pessoal em dois contextos nacionais. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2002.

MARTI, Gerardo. “I Determine My Harvest”: Risky Careers and Spirit-Guided Prosperity in Los Angeles. In: ATTANASI, Katherine; YONG, Amos (Eds.). Pentecostalism and Prosperity: The Socio-Economics of the Global Charismatic Movement. New York: Palgrave Macmillan, 2012, pp. 131-150.

MUNIZ, Marco Ogê. A única explicação para estar desesperado com a crise. 2016. Disponível em:<https://administradores.com.br/artigos/a-unica-explicacao-para-estar-desesperado-com-a-crise>. Acesso em: 22 dez. 2023.

PASSOS diz que é preciso aprender com os erros do passado para poder progredir. Jornal de Negócios, 6 mar. 2015. Disponível em: <https://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/passos_diz_que_e_preciso_aprender_com_os_erros_do_passado_para_poder_progredir>. Acesso em: 29 dez. 2023.

POSSAMAI, Adam. The i-zation of Society, Religion, and Neoliberal Post-Secularism. London: Palgrave Macmillan, 2018.

REIS, José (Org.). A Economia Política do Retrocesso: Crise, Causas e Objectivo. Coimbra: Almedina, 2014.

SAINT-GEORGES, Pierre de. Pesquisa e crítica das fontes de documentação nos domínios económico, social e político. In: ALBARELLO, Luc et al. Práticas e Métodos de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1997, pp. 15-47.

SALGADO, J.; SANTOS, L. D. P. Usos da «fé inteligente»: a hermenêutica empreendedora da Iurd. Comunicação Mídia Consumo, v. 15, n. 43, São Paulo, pp. 346-365, 2018.

SEQUEIRA, C.; SÁ, L.; CARVALHO, J. C.; SAMPAIO, F. Impacto da crise financeira e social na saúde mental. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, n. 14, Porto, pp. 72-76, 2015.

SWATOWISKI, Claudia. Avoiding Stigmas and Building Bridges: The Universal Church of the Kingdom of God in Portugal. In: BALKENHOL, Markus; BLANES, Ruy Llera; SARRÓ, Ramon (Eds.). Atlantic Perspectives: Places, Spirits and Heritage. New York, Oxford: Berghahn Books, 2020, pp. 111-128.

THOMAS, Scott M. Introduction: The Struggle for the Soul of the Twenty-First Century. In: THOMAS, Scott M (Org.). The Global Resurgence of Religion and the Transformation of International Relations: the Struggle for the Soul of the Twenty-First Century. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2005, pp. 1-19.

VAZ, Carla. Um outro regime, uma nova pessoa e uma vida transformada. Folha de Portugal, Lisboa, n. 384, 28 abr. 2011, p. 9i.

VILAÇA, Helena; OLIVEIRA, Maria João. A religião no espaço público português. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019.

WALTON, Jonathan L. Stop Worrying and Start Sowing! A Phenomenological Account of the Ethics of “Divine Investment”. In: ATTANASI, Katherine; YONG, Amos (Eds.). Pentecostalism and Prosperity: The Socio-Economics of the Global Charismatic Movement. New York: Palgrave Macmillan, 2012, pp. 107-129.

WOODHEAD, Linda; KAWANAMI, Hiroko; PARTRIDGE, Christopher (Ed.). Religions in the Modern World: Traditions and Transformations. Oxfordshire: Taylor & Francis, 2009.

Downloads

Publicado

2024-08-09

Edição

v. 24 n. 1 (2024): Dinâmicas religiosas e políticas: novos atores, novos contextos

Seção

Seção Temática

Licença

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:

    1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Attribution-NonCommercial 4.0 International, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
    2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.