Vitalidade da ótica feminina: Adélia Prado poeticamente habita na mística.
Vitality of the female perspective: Adélia Prado poetically dwelled into the mystic.

Josias da Costa Júnior* Kellen Irene Rabelo Borges**
* Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade do Estado do Pará. josiasdacosta@gmail.com.
** Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ciências da Religião. Email: kellen.borges@htmail.com.
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Resumo
Este artigo é resultante das pesquisas desenvolvida pelo projeto “Mística e Vitalidade na poética de Adélia Prado”. A proposta inicial é apresentar a poética adeliana no espaço das discussões a respeito da mística. Para esse objetivo, as reflexões interdisciplinares e multidisciplinares proporcionam a finalidade de analisar as relações entre literatura – no estilo poesia – e a teologia – na categoria do estudo da mística. As contribuições teóricas são de cunho literário, filosófico, teológico e a metodologia é de caráter bibliográfico. Em uma concepção eliadiana, o mundo é sagrado e as pessoas estão passíveis à experiência religiosa através dos meios que a cultura possibilita. Tal experiência é relatada através de vários gêneros literários, como por exemplo, a poesia. Os diálogos traçados entre literatura e teologia impulsionam questões a respeito da relação e da comunicação que ocorre entre humano e divino. Quando essa comunicação acontece a partir da ótica de uma vitalidade feminina com o sagrado, essa temática ganha um contorno diferente, ainda mais se a poesia é a ferramenta utilizada. Em Adélia Prado sua vitalidade se expressa na poética que também a faz habitar na mística.

Palavras chave: Vitalidade, Mística e Poesia.

 

Abstract
This article is the result of research carried out by the project “Mystic and Vitality into the poetics of Adelia Prado”. The initial proposal is to introduce Adelia into the poetic space of discussions regarding to mystic. To this objective interdisciplinary and multidisciplinary reflection provide the aim to analyze the relationship between literature - poetry in style - and theology - the study of mystic category. The theoretical contributions are on literature, philosophy, theology and the methodology is bibliographical. In an eliadian design, the world is sacred, and people are likely to the religious experience through the means that culture allows. This research is reported by various genres, such as poetry. The dialogues drawn between literature and theology boost questions about the relationship and the communication that occurs between the human and the divine. When this communication takes place from the perspective of a female vitality with, the sacred on this theme takes place on a different shape, especially if poetry is the tool used. In Adelia Prado vitality is expressed in poetic also makes dwell on the mystic.

Keywords: Vitality, Mystic and poetry.

Considerações Iniciais

Neste artigo apresentaremos a poética de Adélia Prado a partir da ótica das Ciências da Religião, pois essa área possibilita maior flexibilidade em abordagens interdisciplinares, especialmente no que diz respeito ao tema da mística. Categorias como a vitalidade do olhar feminino que se reconhece no universo cristão, assim como mística e poesia são importantes para se traçar discussões a respeito da hierofania. É a partir dessas categorias que se darão o diálogo com a poética adeliana sem que a mesma perca a sua expressividade através das análises que foram realizadas. Apresentar sua poética é possibilitar um espaço para desenvolvermos nossas reflexões mediadas pelos temas propostos.

Inúmeros são os registros deixados por aquelas que professam ter se encontrado ou se perdido em união com a realidade imanente/transcendente. Edith Stein, Simone Weil, Etty Hillesum são mulheres cristãs que possibilitaram obras com olhares díspares a respeito de seus contextos e suas experiências com deus. Diversos gêneros literários foram usados como ferramentas para relatar essas experiências avassaladoras de teor religioso.Dentre esses gêneros destacamos a poesia como instrumento artístico que auto se expressa, sem interditos da estética ou da gramática, todas as experiências dos seres humanos. Na poesia há espaço para expor o quase indizível de experiências profundas e arrebatadoras, como, neste caso, a mística cristã.

A produção literária de Adélia Prado expõe o ousado olhar de uma mulher cristã que percebe a hierofania na realidade material, incluindo aí o corpo humano como instrumento onde igualmente deus mora e se revela, algumas vezes inesperadamente, causando espanto e deleite. Esse corpo, antes reprimido pela teologia agostiniana, é, para Adélia Prado, só inocência e beleza, repleto de desejos que correspondem à sua própria natureza. O corpo é a ferramenta humana que guarda, busca e conhece experiências. É também uma ferramenta que sente e comunica a presença de deus, além de ser o espaço de intensas coletâneas de sensações.

Nosso percurso terá início com as questões relacionadas à tensão entre vitalidade e espiritualidade. Alguns pensadores modernos entenderam que não havia possibilidade de conciliar uma com a outra. Percebemos que essa tensão não precisa necessariamente se manter, dessa forma procuramos investigar as bases de tal pensamento e trazer a discussão que propusemos realizar. Além disso, tal conflito não se verifica na poética de Adélia Prado, pois, no universo ficcional tecido por sua letra, o corpo é o lugar da experiência com deus.

Em seguida, passamos para a reflexão sobre o tema da mística para abrir espaço e discutir uma poética mística de cunho adeliana. Além disso, faremos algumas pontuações a respeito da poética de algumas mulheres que tiveram profundas experiências religiosas como forma de apresentar reflexões entre a ideia de vitalidade e espírito. E por fim, recolhemos alguns poemas de Adélia Prado em que estão presentes a relação que se estabelece entre mística e poesia, pois o universo poético adeliano é permeado por uma aura de mistério, de tal modo que a experiência poética e a experiência religiosa se equivalem e harmonizam-se.

A vitalidade do olhar feminino


Um homem do mundo me perguntou:
O que você pensa de sexo?
Uma das maravilhas da criação, eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara: o destino do homem é a santidade.
(PRADO, 1991, p. 212).

Com as influências neoplatônicas no cristianismo, o abandono e a repressão do corpo e até mesmo a renúncia da vida material, eram vistos como necessários para que a alma pudesse se encontrar com deus, segundo a visão teológica de Agostinho. Nascido em 430 na cidade de Hipona, atualmente Argélia, o teólogo Agostinho foi uma das personalidades que mais se destacaram na história do cristianismo. Para Magee, antes de se reconhecer finalmente como um cristão católico, ele teria frequentado diferentes posições intelectuais até retornar à Igreja Católica com suas concepções filosóficas que seriam fundidas ao cristianismo.

As influências agostinianas na moral cristã tiveram consequências de grandes proporções que se perduram até hoje na mentalidade ocidental, especialmente na ideia que se cristalizou a respeito do corpo e da alma. Posteriormente, alguns pensadores modernos traçaram ferozes críticas ao pensamento agostiniano, entre eles, destacamos o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que dirigiu críticas muito ácidas ao cristianismo por entender que essa religião inibia a vida. Nietzsche compreendia que essa inibição da vitalidade humana tinha como causa central a moral cristã, responsável pela tensão criada entre corpo e espírito. Ele ainda alegava que o cristianismo havia condenado todos os prazeres e valores da terra, aliou-se a “tudo que é fraco, baixo, deficiente”, opondo-se assim ao elementar instinto de sobrevivência da vida sob a alegação de pecado (NIETZSCHE, 1996, p. 29). A partir de sua perspectiva, a moral cristã funcionaria como um tipo de amordaça que prendem e inibe a autonomia do ser humano em viver de acordo com a sua natureza de vitalidade.

De um lado, a tradição agostiniana se estabeleceu e reverberou na sociedade ocidental criando uma mentalidade que coloca corpo e espírito em conflito. Do outro, pensadores modernos e, especialmente, Friedrich Nietzsche argumenta como a moral cristã dificultou a vitalidade do ser humano. A questão não é discutir a respeito das especificidades dessas diferentes correntes intelectuais, mas apresenta-las como abordagens reflexivas às discussões sobre a literatura contemporânea produzida a partir de uma ótica feminina que afirma sua vitalidade a partir de uma poieses hierofanica.

Como propomos discutir a respeito da vitalidade a partir da ótica feminina, que interage com o cristianismo, ressaltamos primeiramente que o aspecto da repressão do corpo, de modo geral, tem sua raiz afundada em Agostinho e se solidifica na Idade Média, ou seja, o nascedouro dos conflitos criados entre corpo e espírito. Ao delimitarmos a mulher dentro desse universo medieval, a ideia de inferioridade, submissão, fragilidade entre outros aspectos que a deixava em segundo plano, nascem da organização de uma sociedade patriarcal em que transbordavam argumentos a partir da ideia de Pecado Original e culpando principalmente Eva (a mulher) como responsável pela corrupção humana (KROBATH, 1996, 387-388).

Agostinho foi, como já sinalizamos, a grande influência que sugeriu o abandono do corpo e do mundo na busca por deus e pela alma. Em Agostinho estão as bases teológicas da espiritualidade ocidental que provocou demasiada desvalorização do corpo e também da natureza. O bispo de Hipona falava da peregrinação da alma rumo ao além, a fim da mesma encontrar-se com deus. Para esse fim, esse teólogo alega que impera a necessidade de abandonar tudo aquilo que é terreno. A fundamentação teológica agostiniana, portanto, alimentou o pensamento medieval e, consequentemente, a mística e a espiritualidade nesse período (MOLTMANN, 1999, p. 96).

As alegações feitas à mulher durante a Idade Média acabaram por coibir sua vitalidade na medida em que ela foi considerada um ser repleto de malícia. Segundo Larissa Leal, as mulheres perante a visão dos religiosos eram previamente tomadas como pecadoras, sendo muito próximas dos prazeres do corpo. Tal argumento advém da hipótese segundo a qual todas as mulheres descendem de Eva, a culpada pela decadência de toda a humanidade. Logo, seriam “filhas pecadoras de Eva” (LEAL, 2012, p. 4). Durante essa época, além da ideia do corpo está em constante conflito com o espírito, a mulher era vista como atrativo de sagacidade por causa da concepção de malicia em que foi compreendida, dessa forma se tentou silenciá-la colocando-a em submissão ao patriarcado.

Acima de toda a discussão gestada no medievo entre corpo e espírito, a presença de deus parece se manifestar sem os interditos dos dogmas e discursos teológicos, no que diz respeito ao corpo e especialmente ao corpo da mulher cristã. Das recentes pesquisas sobre o medievo que transitam pelo tema mulheres cristãs e que deixaram materiais exuberantes sobre suas experiências com o divino, destacamos alguns nomes, como por exemplo, Ildegarde de Bingen (1098-1179), Catarina de Siena (1347-1380) e Teresa D’Ávila (1515-1582). Dessas três cristãs, quem é sempre lembrada por sua inteligência, pelo estilo atraente de seus escritos, autora de belíssimos discursos sobre sua relação com deus e doutora da Igreja, é a mística cristã Teresa D’ Ávila. Em um dos seus escritos alega:

Eu costumava vivenciar, às vezes, como já disse, de uma forma elementar e mui fugaz, o que passarei chamar a descrever. Enquanto visualizava Cristo do modo que já mencionei, e às vezes mesmo quando lendo, eu costumava vivenciar inesperadamente, uma consciência da presença de Deus de tal monta que eu não podia sequer duvidar de que ele estivesse dentro de mim ou de que eu estivesse totalmente engolfada nele. (SANTA TERESA in MCGUINN, 2012, p. 13).

Em Teresa D’Ávila é possível observar o que Bernard McGuinn chama de “consciência da presença divina” (2012, p.13). Na produção textual de Tereza as passagens consideradas eróticas revelam a vitalidade de uma experiência mística que corre em instâncias cognoscível/sensível mediado pelo corpo. Em sua obra as questões teológicas se revelam a partir do olhar de uma mulher que se reconhece no universo cristão e transita com os elementos religiosos do mesmo. A produção literária de Teresa D’ Ávila está no espaço onde é possível discutir mística seja a partir de uma teologia da mística, ou a mística sobre a teologia.

Santa Tereza D’Ávila é um dos nomes feminino mais ressaltado no cristianismo e até mesmo estudado nos espaços acadêmicos. A partir desse universo, à primeira vista, poucas são as vozes femininas que se reconhecem no universo cristão e produziram ou produzem literaturas a respeito de experiências com a divindade. Experiência essa de busca e encontro com deus sem se restringir às tensões que foram criadas entre corpo e espírito. No entanto, é bom observarmos mais uma vez que recentemente, tem-se produzido belos trabalhos a respeito dessa mulher que interagiu ou interage com o mundo cristão de modo ousado tornando-se excepcionais durante esse século também (BINGEMER, 2004, p. 79). Dessa forma, abre-se um leque para aprofundar ainda mais essa temática que ainda está emergindo nos espaços de pesquisas tendo seu inicio em meados do século passado.

Quando nos voltamos ao século XX e procuramos literaturas cristãs que apontam uma vitalidade feminina encontramos igualmente abordagens admiráveis. É bom ressaltarmos que o início do século XX é apontado, em algumas oportunidades, como o começo da busca pela consolidação de uma nova ideia sobre a mulher e sua vitalidade. Tal episódio reverbera atualmente trazendo mais rachaduras ao paradigma vigente de uma sociedade construída pelo patriarcado cristão. De fato, há diversos trabalhos que abordam a mulher em sociedade afirmando uma identidade contrária àquela de fragilidade, pois a perspectiva atual aponta para posturas menos rígidas em torno dos “papeis desempenhados por homens e mulheres na sociedade”, tanto na esfera doméstica quanto na pública (GEBARA, 1997, p. 13).

Diversos gêneros literários são ferramentas com as quais a sexualidade, a partir do olhar feminino, é expressa em diferentes instâncias. As discussões a respeito da erotização poética na perspectiva do olhar feminino remontam desde meados do século passado. O universo da sexualidade feminina na poesia, a título de informação, é um tema, por exemplo, empoderado por Maria Teresa Horta, com poemas que exploram o prazer do corpo sem que haja as restrições morais ou religiosas, mas, ao contrário, com total liberdade. “Maria Teresa Horta traz, portanto, poemas eróticos que buscam uma nova invenção no que diz respeito à palavra, propondo às mulheres que busquem a expressão, o desejo, a satisfação” (HERNANDES, 2009, p. 38).

Temos, portanto, muitas literaturas que apontam para a afirmação da mulher repleta de vitalismo. Dentro do universo cristão, também é possível encontrar tal característica. “As amigas de Deus e as amigas da vida” (BINGEMER, 2004, p. 83): Edith Stein (1891-1942), Simone Weil (1909-1943), Etty Hillesum (1914-1943) afirmam incondicionalmente a paixão pela vontade de viver. O teólogo alemão Jürgen Moltmann expõe concepções a respeito da afirmação da vida que se configuram como verdadeira celebração da existência, de tal modo que não há nenhuma tensão entre espiritualidade e vitalidade, pois seu conceito de vitalidade deve ser entendido como “amor à vida” (MOLTMANN, 2001, p. 89), onde toda vida e a vida toda deve ser afirmada incondicionalmente. Isso implica oposição a todos os processos artificiais vitalistas forjados pela sociedade tecnocrata, assim como implica correr riscos e sofrer todas as ameaças que estão envolvidas nesse processo, como testemunham os corpos dessas amigas de deus citadas no início deste parágrafo.

Essas três mulheres que viveram entre o século XIX e o século XX, acima citadas, apresentam também os discursos a respeito de se estar consciente da presença de deus. Uma relação em que transcorrem as categorias de experiência religiosa, discurso teológico e sexualidade que se espalham em uma admirável literatura mística presente em seus diários que revelam, antes de tudo, um ser humano repleto de desejos, convicções, procuras e união com o divino (BINGEMER, 2004, p. 136).

No conjunto desse olhar feminino, mais especificamente, a ótica da mulher que interage com símbolos, narrativas míticas e ritos do universo cristão, a produção literária de Adélia Prado entra nesse espaço de discussão acerca de uma vitalidade e experiências com deus. Em sua lírica, temas que estariam envoltos a uma tradição que remontam o período medievo, perde a obscuridade e completa abstração da noção de pecado, como, por exemplo, o sexo ser uma das maravilhas da criação, que é dito em um dos versos do poema Entrevista.


Um homem do mundo me perguntou:
o que você pensa de sexo?
Uma das maravilhas da criação, eu respondi.
Ele ficou atrapalhado, porque confunde as coisas
e esperava que eu dissesse maldição,
só porque antes lhe confiara: o destino do homem é a santidade.
A mulher que me perguntou cheia de ódio:
você raspa lá? Perguntou sorrindo,
achando que assim melhor me assassinava.
Magníficos são o cálice e a vara que ele contém,
peludo ou não.
Santo, santo, santo é o amor, porque vem de Deus,
não porque uso luva ou navalha.
Que pode contra ele o excremento?
Mesmo a rosa, que pode a seu favor?
Se ‘cobre a multidão dos pecados e é benigno,
Como a morte duro, como o inferno tenaz’,
descansa em teu amor, que bem estás.
(PRADO, 1991, p. 214)

Não há, como se pode perceber, nenhum interdito do eu-poeta para falar de sexo e isso revela o quanto pode desestabilizar uma estrutura de pensamento que separa espiritualidade/santidade de sexo. Em sua poética há uma integração que é empenhada em recolher os cacos da existência humana. Cacos que existem por causa da tradição que compreendeu haver distinção entre corpo e alma. No espaço poético adeliano, essa questão perde a expressividade e ganha cotornos que evoca a vitalidade humana em pleno exercício com as experiências vindas da esfera do fenômeno religioso, no caso, o cristianismo. Dessa forma, em sua poesia revelase a possibilidade de conjugar fé e vitalidade ao mesmo tempo.

Na poesia anteriormente apresentada, há também um discurso teológico que evoca a questão da santidade ser o amor, porque este advém de deus. Esse verso propõe o suporte para refletirmos que tudo que vem de deus é santo, dessa forma, o amor está repleto de santidade. Sendo assim em sua poesia visualizamos a integralidade entre corpo e alma em um contínuo exercício da própria natureza humana, a vitalidade. De fato, a poética adeliana revela uma vivência que consideramos profunda ao buscar o divino e que compreender onde ele pode se encontrar. É uma lírica que transita nas abordagens de cunho erótico e que exala aquilo que é nomeado de mística.

A mística que habita na poesia

Se utilizarmos a etimologia da palavra mística podemos dizer que o termo mística é uma transcrição do adjetivo grego mistikós, que se deriva da raiz indo-europeia my e que, por sua vez, é encontrada em myein, que vem a significar “fechar os olhos”, “calarse”. Isso oferece suporte ao termo “mistério” e oportuniza também que se fale daquilo que é oculto, ou seja, sobre o qual não se pode falar (VELASCO, 2004, p. 16). Além da relação entre as palavras “mística” e “mistério”, também há uma terceira que aparece para denunciar uma relação linguística entre elas, que é “mito”. Segundo Karen Armstrong, todas as três palavras derivam do verbo grego musterion (mistério). Com isso, segundo Armstrong, essas três palavras “mergulham as suas raízes numa experiência de trevas e de silêncio” (ARMSTRONG, 2006, p. 240-241). Essa linha de raciocínio permite conceituações iniciais da mística como vivência interior profunda e misteriosa.

Para Bernard McGinn, o estudo da mística no século passado teria resultado em um imenso corpus de produção literária. Suas afirmações chegam a aludir para o fato de que não muito recentemente houve problemas referentes às análises hermenêuticas de muitos textos considerados místicos, por não haver devidas atenções a respeito do contexto, do gênero e da estrutura que gerasse melhor entendimento dessas obras místicas, que também se “aproximavam muito do gênero” poesia ou “autobiografia” (MCGINN, 2012, p. 15).

Quanto às problemáticas entre teologia mística e mística, McGinn aborda a respeito das conexões complexas e inquebráveis entre a mística, concebida como um modo de vida, e a teologia mística, que havia sido concebida em modelos e distinções entre experiência e compreensão. A teologia mística não seria algo secundário da mística, mas aquilo que precedeu tal experiência na vida daqueles que são considerados conscientes da presença de Deus.

Quando falo de mística como envolvendo uma consciência imediata da presença de Deus, estou tentando salientar uma reivindicação central que aparece em quase todos os textos místicos. Os místicos continuam a firmar que seu modo de acesso a Deus é radicalmente diferente daquele encontrado na consciência comum, mesmo da consciência de Deus atingida através das comuns atividades de prece, sacramento e outros rituais. Como crentes, eles afirmam que Deus de fato se faz presente nessas atividades, mas não de algum modo direto ou imediato. (MCGUINN, 2012, p. 21).

O estudo a respeito da mística esbarra em uma série de fatores que McGuinn propõe, como, por exemplo, considerar o estudo do contexto em que estão inseridos esses místicos. O estar consciente da presença de Deus na metade do século XX, a partir dos diários das amigas de Deus e da vida, ocorre em meio a um cenário de grande obscuridade, violência e horror. Apesar de nunca terem se conhecido pessoalmente – Weil era francesa, Stein, alemã e Hillesum, holandesa – elas estavam irmanadas na violência, é verdade, mas também na profunda “experiência com Deus em meio a essa situação-limite” (BINGEMER, 2004, p. 135). Das explorações das fábricas francesas ao terrível holocausto, essas três mulheres expuseram essa consciência da presença de Deus a partir de suas experiências nutridas nesses locais que pareciam não emanar nenhum fio de esperança ou fé.

Apesar dos locais inóspitos elas encontram centelhas divinas que causam experiências profundas que envergam para experiências de teor místico. Em certo sentido, de acordo com Cleide Oliveira, a mística pressupõe o mistério e a possibilidade de seu desvelamento em uma verdade sujeita à apreensão cognoscível/ sensível (OLIVEIRA, 2013, p. 150). O estar consciente da presença de Deus, ou quando se acessa e até mesmo habita essa hierofania, ocorre na dimensão de uma realidade concreta onde o corpo é o espaço para tais experiências que podem ser conhecidas e até mesmo compreendidas.

A partir de Adélia Prado, compreendemos a concepção de mística com algo também relacional e, que a experiência poética e a experiência religiosa seriam uma coisa só, ou seja, ambas nascem da mesma fonte e habitam o mesmo espaço sem distinções, como ela mesma afirma na seguinte entrevista:

Mística e poesia são fenômenos que procedem da mesma nascente. Não vêm da lógica da razão e se expressam em discursos intercambiáveis: um texto místico tem a atmosfera poética, o texto poético respira mística independentemente da confissão religiosa do poeta ou mesmo de seu ateísmo. Usa paradoxos, metáforas, fala de sentimentos, de experiências e não de pensamentos. São fenômenos vivos (PRADO, 2011, p. 214).

Em sua poética revela particularidades do cristianismo a partir de sua ótica feminina do cotidiano e isso possibilita uma nova forma de aborda-lo e compreendê-lo. Quando a experiência mística e a experiência poética são equiparadas, a inspiração e a hierofania andam juntas. Como se pode notar, no poema Paixão observamos essa característica: “De vez em quando Deus me tira a poesia. / Olho pedra, vejo pedra mesmo”. (PRADO, 1991, p. 201). O eupoeta afirma que há possibilidade de lhe faltar à palavra poética na medida em que Deus, por alguma razão, não a concede e, nesse sentido, as coisas se tornam unívocas, sem a característica de um sentido além do que está dado.

A respeito da produção literária sobre as experiências místicas, os recursos das figuras de linguagens são usados para evocar o que é quase indizível das experiências arrebatadoras. A compreensão dessa experiências se deslocam de contemplação para os recursos da linguagem, pois esse melhor transcreveriam essas situações. As palavras através de gêneros literários como, por exemplo, a poesia, tem a capacidade de apontar o indizível de tal experiência, em vista que:

as palavras ‘... poeticamente o homem habita... ’ dizem muito mais. Dizem que é a poesia que permite ao habitar ser um habitar. Poesia é deixar-habitar, em sentido próprio. Mas como encontramos habitação? Mediante um construir. Entendida como deixar-habitar poesia é um construir. (HEIDEGGER, 2012, p. 167).

Ao considerar que a humanidade poeticamente habita as palavras e a poesia é um construir, sua construção ocorre no contexto cultural em que essa pessoa se encontra. Ao trazer essa discussão à poética de Adélia Prado, é presumível abordar que essa produção estética ocorre em seu cotidiano onde Deus a assombra inesperadamente, revelando-se em diversos lugares e objetos, mesmo os mais simples que aparentam ser, como um guarda-chuva encostado em canto da casa: “Guarda-chuva, guarda-sol,/ guarda memória pungente/ de tudo que foi em nós/ um pouco ridículo e inocente./ Guarda-vida, arquivo preto,/ cão de luto, cão jazente.” (PRADO, 1991, p. 147). O teor reflexivo desses versos transignifica os objetos e as coisas para um significado além de seu sentido primário. Isso ocorre pela capacidade profunda de contemplação dos mesmo.

Para Adélia Prado, a linguagem poética requer um “despojamento, desarmamento. Despojamento do orgulho da mente” 1. Dessa forma, o despir-se e o desarmar-se para colher a poesia é similar ao ato de esvazia-se de conteúdo e deixar que lírica atue. Não é somente para interpretar o que se diz, mas também sentir aquilo que expressam os poemas, porque é pela poesia que sobressalta o entendimento da beleza presente nas palavras, por isso, com razão, afirma Martin Heidegger: “na palavra pode ser dito o mais puro e o mais oculto.” (HEIDEGGER, 1994, p. 24). Dessa forma, o guarda chuva transignificado, exprimi mais do que seu sentido, ele evoca reflexões profundas da existência.

Octávio Paz (1982, p. 121), na esteira de Heidegger, reconhece a poesia como conhecimento, salvação, poder e abandono. Seria uma atividade de teor revolucionário com exercício espiritual de liberdade do eu interior. Tais propriedades encontram-se na poética adeliana, como veremos a seguir, pois ela ousa se tornar quem de fato é: uma mulher repleta de vitalidade que professa o catolicismo e que contém suas interfaces de filha, esposa e mãe em coexistência.

Uma lírica que exala hierofania


Como um tumor maduro
a poesia pulsa dolorosa,
anunciando a paixão:
“Ó crux ave, spes única
Ó passiones tempore.
(PRADO, 1991, p. 199).

Apresentar a poética de Adélia Prado no espaço onde se discute mística cristã é considerar que esse fenômeno é, antes de tudo, uma experiência pessoal. Consideramos a produção poética de Adélia Prado como produtora de um sentido particular, onde o subterfúgio se encontra a partir de sua experiência religiosa cristã que está em constante exercício de contemplação consciente da presença de deus em sua vida. Observamos que sua poesia seria o locus sem interdições, um instrumento que auto expressa e também revela a consciência da presença de Deus.

A vitalidade humana na poética adeliana interage com os elementos do cristianismo em plena harmonia, ou seja, não há tensão entre o ardente desejo pelo divino e a paixão pela vida em sua dimensão objetiva e material. O corpo na tradição cristã é local de morada do Espírito Santo, sendo assim ele está também envolvido por uma sacralidade, pois na perspectiva da teologia cristã é uma das obras de Deus. No poema “Deus não rejeita a obra de suas mãos”, Adélia Prado expõe, de maneira muito singular, a característica de o corpo não ter obscuridades, mas apenas inocência e beleza.


É inútil o batismo para o corpo,
o esforço da doutrina para ungir-nos,
não coma, não beba, mantenha os quadris imóveis.
Porque estes não são pecados do corpo.
À alma sim, a esta batizai, crismai,
escreverei para ela a Imitação do Cristo.
O corpo não tem desvãos, só inocência e beleza,
tanta que Deus imita
e quer casar com sua Igreja / e declara que os peitos
de sua amada são como filhotes gêmeos da gazela.
É inútil o batismo para o corpo. O que tem suas leis as cumprirá.
Os olhos verão a Deus. (Prado, 1991, p. 320).

Do ponto de vista do método, podemos dizer que o poema destacado acima resguarda inequivocamente sua condição de produção estética e, ao mesmo tempo, toca em aspectos muito caros à teologia cristã. Ou seja, não estamos apenas diante de uma abordagem casual ou inocente acerca de um aspecto religioso, antes de uma reflexão crítica de aspectos teológicos, que acontece no interior do próprio poema. Essa observação se aplica aos demais poemas elencados nesse espaço. Nesse sentido, compartilhamos aqui a ideia segundo a qual o texto literário já propõe que se repense sobre elementos referentes à fé cristã. Um procedimento que se dá não apenas no reconhecimento de que a produção literária, por estar num contexto histórico-cultural marcado pela religião, terá que lidar com os temas religiosos. O texto literário já problematiza os aspectos da religião cristã. Portanto, trata-se de fazer uma leitura teológica na obra literária.

Quanto ao exercício interpretativo, a repressão do corpo perde sua força quando as questões entre corpo e alma são ressaltadas em instâncias devidas. O corpo está configurado a uma natureza específica que clama por suas atividades e vitalidades, e o sexo é um deles, da mesma forma que comer e dormir. Torna-se inútil tentar doutriná-lo a uma função que não pertence a ele já que o mesmo tem suas funções naturais. Sendo assim, é inútil o batismo do mesmo jeito que é regra-lo a outros sacramentos e doutrinas que limitam o corpo e o fazem manter uma postura que não lhe diz respeito porque sua constituição é outra. No entanto na poesia, essas observâncias devem ser aplicadas à alma.

Na poética adeliana, os símbolos pertencentes ao universo religioso são marcas características. Nessa perspectiva, é bom destacamos que o símbolo religioso está acoplado a uma narrativa mítica que tem grande teor sagrado para o homo religiosus, servindo, muitas vezes, como mediador para uma experiência com o transcendente ou o imanente. No poema seguinte, Guia, é possível notar símbolos do catolicismo envolvidos em uma teia de termos sagrados. Podemos, entre outros aspectos, pensar que o papel da poesia, nesse caso, é ser chave interpretativa que ajuda o eu-poeta a entender a paixão que Jesus teve pela humanidade.


A poesia me salvará.
Falo constrangida, porque só Jesus
Cristo é o Salvador, conforme escreveu
um homem – sem coação alguma –
atrás de um crucifixo que trouxe de lembrança
de Congonhas do Campo.
No entanto, repito, a poesia me salvará.
Por ela entendo a paixão
que Ele teve por nós, morrendo na cruz.
Ela me salvará, porque o roxo
das flores debruçado na cerca
perdoa a moça do seu feio corpo.
Nela, a Virgem Maria e os santos consentem
no meu caminho apócrifo de entender a palavra
pelo seu reverso, captar a mensagem
pelo arauto, conforme sejam suas mãos e olhos.
Ela me salvará. Não falo aos quatro ventos,
porque temo os doutores, a excomunhão
e o escândalo dos fracos. A Deus não temo.
Que outra coisa ela é senão Sua Face atingida
da brutalidade das coisas? (Prado, 1991, p. 61).

Nessa poesia, encontramos versos que se delineia em conjunto com um símbolo que busca representar Jesus Cristo – no caso, o crucifixo enquanto símbolo aponta para além de si um sentido profundo de expressão para o cristianismo, em especial o catolicismo. Na poesia esse símbolo não só aponta uma transignificação do próprio objeto, mas também une duas realidades que coexiste: a do crucifixo – ou seja, o que ele representa – e a de nossa poetisa. Estamos aqui nos valendo da noção de símbolo como linguagem que ajuda ampliar o sentido do objeto, alvo de nossa aproximação. A mística ou o estar consciente da hierofania dialoga com as linguagens em que o sagrado se manifesta: mitos sagrados, ritos e seus símbolos.

Essas características ponderadas no parágrafo anterior sobre as linguagens em que o sagrado pode se revelar também observamos na poética adeliana. Com isso, não estamos dizendo, que a produção literária de Adélia Prado pode ser reduzida a um simples manual de reflexões teológico ou das ciências da religião, mas afirmamos que sua literatura é, sobretudo, estética, ou seja, é poesia que exprimi elementos que transitam no fenômeno religioso. Mesmo a poesia de Adélia Prado mantendo sua autonomia poética, propõe, ao mesmo tempo, desafios teológicos, como ressaltamos acima que perpassam e geram discussões e reflexões realizadas no âmbito das ciências humanas.

Para Adélia Prado, a poesia salva porque é um recurso que ajuda entender a paixão de Cristo pela humanidade. Dessa forma, a poesia seria o instrumento que possibilita a compreensão para a experiência religiosa do eu-poeta com Deus no espaço atemporal cognoscível e sensível, para além das amarras racionais do pensamento humano. A experiência com o catolicismo é antes de tudo o fio que conduz aos momentos inesperáveis em que o universo ficcional de Adélia Prado percebe a presença de Deus. Uma revelação para contemplar o mysterium tremendum et fascinans. Dessa forma é por intermédio do corpo que a poesia se manifesta intelectualmente, e por meio da poesia, no caso do poema Guia, o eupoeta entende a paixão que Jesus Cristo teve ao morrer na cruz.

Compartilhamos da ideia segundo a qual o texto literário já propõe que se repense sobre elementos mordentes referentes à fé cristã, como já dissemos. Certamente Adélia Prado é fonte inesgotável para exprimir essa intimidade da teologia na obra literária, como pode ser visto no poema A catecúmena.


Se o que está prometido é a carne incorruptível,
é isso mesmo que eu quero, disse e acrescentou:
mais o sol numa tarde com tanajuras,
o vestido amarelo com desenhos semelhando urubus,
um par de asas em maio é imprescindível,
multiplicado ao infinito, o momento em que
palavra alguma serviu à perturbação do amor.
Assim quero “venha a nós o vosso reino”.
Os doutores da Lei, estranhados de fé tão ávida,
disseram delicadamente:
vamos olhar a possibilidade de uma nova exegese
deste texto. Assim fizeram.
Ela foi admitida; com reservas. (PRADO, 1991, p. 145)

Chamamos a atenção, uma vez mais, para o fato de que há no texto adeliano acima uma total autonomia como literatura e, ao mesmo tempo, interessantes desafios teológicos estão presentes, pois sua poesia emerge reflexões sobre aspectos importantes da teologia. A condição de finitude (carnal) e sua relação com o símbolo da encarnação, com uma compreensão do reino de Deus extremamente humana são tratados criticamente no texto. É central a incorruptibilidade do corpo que manifesta o desejo de viver e crer. A problematização é crítica a um discurso religioso e teológico, além de mostrar a dificuldade que representantes oficiais da instituição demonstram quando lidam com outras experiências da verdade que defendem.

A profunda sensibilidade que observamos na poética permite-nos interpretar que Adélia Prado enxerga a dimensão sacra do mundo em seu cotidiano, local onde tudo que ela sente esbarra em deus. Uma presença que emana de todos os lugares revelandolhe um conhecimento que só a poesia é capaz de trazer compreensão. É por meio das linguagens que o sagrado se manifesta. Portanto, a experiência religiosa que emana do universo ficcional de Adélia Prado está em exercício, pois o corpo é considerado espaço da morada do Espírito Santo, por onde Deus pode também se revelar trazendo a possibilidade de sentir o pulsar das coisas (PRADO, 1997, p. 5).

Nessa perspectiva de experiências religiosas, Mircea Eliade propõe que o indivíduo religioso está acessível a uma infinita série de experiência que poderia ser chamada de “cósmicas” (ELIADE, 2001, p. 29). Essa experiência seria então sempre religiosa, pois o mundo seria concebido como algo sagrado. Tal assertiva é possível ser alargada para os horizontes da poética adeliana, pois também encontramos essa realidade sagrada que se apresenta de diversas formas e que deságuam em poesia. A profundidade poética de Adélia Prado transita pelas esferas da cultura possibilitando inúmeras reflexões a respeito de sua experiência religiosa coexiste com a experiência poética. Dessa forma, observamos então uma poética que além de exprimir vitalidade também enverga um caminho para habitar na mística.

Considerações Finais

Ao fim deste percurso em que nos aventuramos refletir sobre alguns aspectos entre poesia e mística a partir da poética de Adélia Prado, observamos que atualmente discutir a respeito da temática mística na perspectiva da religião cristã requer uma reflexão interdisciplinar que proporcione um diálogo compreensivo sem desvelar a aura presente nos textos místicos. Ter contato com esses fascículos é compreender uma parte da unidade que existe de produção literária nesse assunto, uma vez que, ao considerar que cada interlocutor tem uma experiência específica em união com a divindade, logo se presume uma habilidade diferente de relatar esse acontecimento.

Teresa D’ Ávila, Edith Stein, Simone Weil, Etty Hillesum e também Adélia Prado e seu mundo ficcional, são mulheres ousadas de diferentes contextos, que expõem em suas obras a vitalidade desde a ótica feminina que busca deus. A profundidade existente em obras produzidas pela perspectiva feminina e sua experiência com o cristianismo, dispõe de um novo universo que faz parte daquilo que foi proposto por McGuinn (2012, p. 15): “qual o significado de seus escritos, autobiograficamente místicos ou não, na história da mística cristã?”. Investigar esses escritos em seus devidos contextos abre espaço para outras discussões como, por exemplo, a afirmação de uma nova mulher que passa a ter uma postura diferente sobre as suas experiências no meio religioso e suas perspectivas em relação à expressão religiosa cristã.

Visto que se deus se revela de diferentes formas, inclusive no tecido das palavras, é possível, para o leitor, observar nos poemas de Adélia Prado inúmeras maneiras que são expostas sobre essa presença divina que se verbaliza através de poesias. Mediante a tantos problemas sociais e as justificativas que poderiam resultar no chamado trânsito religioso, questões como: onde é possível enxergar esse divino em meio a uma sociedade que por todos os lados parece apresentar só violência, desgosto, e tristeza? A poética adeliana se apresenta como uma unidade da vasta produção a respeito do olhar que enxerga a presença do Sumo Bem que as religiões dão diversos nomes em lugares inimagináveis como, por exemplo, no simples cotidiano repleto de objetos que evocam lembranças e despertam o completar de uma consciência da presença de deus.

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Notas

[1]Entrevista de Adélia Prado no Agenda.