Um protocolo de leitura bíblica: o códice 2437 - fólio 151 recto
Languages about Jesus: a summary of the work of J. B. Libanio
Dimas Macedo Filho, Maria Alves Viana, Renato Gomes Alves, e Rodrigo Antonio Silva.
Alunos de Mestrado em Teologia do PEPG em Teologia da PUC SP.
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Resumo
Falar sobre Jesus é um desafio sempre vivo e atual para a Teologia. Diante de seu mistério, não é possível permanecer em silêncio, tampouco utilizar qualquer linguagem para expressá-lo. Em um resumo, busca-se apresentar os quatro volumes da obra intitulada Linguagens sobre Jesus, escrita pelo teólogo jesuíta João Batista Libanio. Em cada volume, são apresentadas diversas linguagens abordadas, detalhadamente, em seus aspectos positivos e deficitários. Com isso, expõem-se os diversos modos de exprimir o mistério maior da fé cristã e alarga-se o horizonte de compreensão da linguagem possível e aplicável à pessoa de Jesus Cristo.
Palavras chave: Linguagem teológica; Jesus Cristo; J. B. Libanio
Abstract
Talking about Jesus is a living and current challenge for Theology. In the face of its mystery, it isn’t possible to remain silent, nor use any language to express it. In a summary, it is sought to present the four volumes of the work entitled Linguagens sobre Jesus, written by the jesuit theologian João Batista Libanio. In each volume, several languages are presented, in detail, in their positive and deficient aspects. In this way, the various ways of expressing the greater mystery of the Christian faith are expounded and the horizon of understanding of the language possible and applicable to the person of Jesus Christ is extended.
Keywords: Theological language; Jesus Christ; J. B. Libanio.
As linguagens: tradicional, neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal
O primeiro volume da obra Linguagens sobre Jesus é composto por três capítulos. Nele aborda-se uma linguagem dita tradicional, referente ao universo católico e evangélico, e outras denominadas neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal. Em cada uma delas, abordam-se alguns aspectos positivos e deficitários.
A linguagem tradicional, tanto para os católicos quanto para os evangélicos, foi considerada suficiente durante muito tempo para contar de modo literário a vida de Jesus. No entanto, no último século, percebese a mudança deste cenário com o apoio da linguística, das descobertas arqueológicas, dos instrumentos teóricos interpretativos e do estudo exegético protestante, necessitando-se de uma atualização no campo hermenêutico.
Nesse sentido, a linguagem neotradicional pós-moderna difere-se da linguagem tradicional, uma vez que visa responder à situação existencial das pessoas que se destinam a mensagem de Jesus e não tanto ao aspecto literário de sua vida. Todavia, ela não assume uma exegese bíblica crítica em particular e desconsidera a hermenêutica moderna.
A linguagem carismática também é desenvolvida na cultura pósmoderna. Apesar de manter seu caráter primigênio, isto é, voltado para início de seu objeto – a missão de Jesus – ela não aprofunda a origem carismática de Jesus, que se voltava para a construção e a transformação social. Por sua vez, a linguagem espírita no Brasil tem sua origem nas tradições afro-ameríndias, evidenciada pela literatura e mídia espíritas. Ela acaba por revelar um Jesus-Mestre e uma comunhão plena entre o céu e a terra.
Por último, a linguagem neopentecostal parece desconhecer um método hermenêutico. A Bíblia é tida como um livro das promessas e bênçãos para solucionar, entre outras coisas, problemas cotidianos. Nesta linguagem, Jesus Cristo é conhecido e anunciado por meio da análise de alguns discursos dos adeptos de uma confissão positiva ou, principalmente, da “Teologia da prosperidade”.
As linguagens: narrativa e exegética moderna
O segundo volume das Linguagens sobre Jesus enfoca dois aspectos principais: a linguagem narrativa e a linguagem da exegese moderna. De forma objetiva, apresenta-se aquilo que ambas têm a contribuir na apresentação do Cristo da fé aos homens de hoje, que buscam conhecer o Jesus de Nazaré, em sua historicidade. Propõe-se uma linguagem atual e necessária sobre Jesus baseada em dois eixos fundamentais: a narração e a exegese.
O livro divide-se em três capítulos apresentando, primeiramente, as duas linguagens – narrativa e exegética moderna – e, em seguida, uma aplicação prática de ambas nos evangelhos sobre Jesus, de modo a demonstrar a aplicabilidade da sua exposição.
A linguagem narrativa é precedida por uma apresentação sobre a narração: sua definição, importância e as grandes crises sofridas por ela na pós-modernidade. Salientam-se as quatro características da narração, sendo elas: descrever os fatos reais da vida; estabelecer o vínculo entre o narrador e o ouvinte; necessidade de ser contada e transmitida; e impulsionar para a ação e a tomada de atitude.
Em seguida, verifica-se a presença da narração na Teologia. Por meio dela, é possível perceber a ação de Deus na história, que pode ser narrado de diversos modos, traduzindo dessa forma as diversas experiências de fé. Surge, assim, aquilo que se chama de Teologia Narrativa, cujo objetivo não é ensinar um conjunto de ideias fechadas que outros elaboraram, mas contar acontecimentos reais para descobrir neles sinais da presença de Deus. Por essa razão, tal linguagem apresenta limites na sua compreensão, como, por exemplo, deixar de lado os aspectos científicos na interpretação dos textos, não aprofundar os conceitos utilizados pelos autores e projetar nestes mesmos autores elementos narrativos criados por pela criatividade de quem os interpreta.
Para superar esses limites, apresenta-se, de modo complementar, a linguagem da exegese moderna, que tem suas bases na crítica científica e na história. Tal linguagem, aplicada aos evangelhos, permite refletir melhor sobre o problema do Jesus Histórico e do Cristo da fé. Dessa forma, permite-se definir o contexto com uma afirmação da fé no ministério e nas obras realizadas por Jesus Cristo durante sua vida pública, mesmo após três fases de investigação histórica e uma profunda crise cética sobre sua existência.
As linguagens: de Cristo carpinteiro a Cristo cósmico
O terceiro volume das Linguagens sobre Jesus faz uma descrição de Jesus na visão da Igreja Católica, na corrente do Jesus Histórico, no contexto do diálogo inter-religioso, na linguagem do Cristo Cósmico e na linguagem anônima sobre Jesus.
O traço fundamental da visão católica sobre Jesus é a garantia da verdade. Portanto, é possível observar traços de uma linguagem apática, precisa e focada no Jesus Senhor e Mestre (Pantokrator), difundida pelos vários séculos de sua história através dos ensinamentos oficiais, dos concílios e dos sínodos. Neste sentido, a Igreja compreende a si mesma como guardiã da verdade acerca de Jesus e, por isso, qualquer detalhe que lhe pareça contrário ao seu ensinamento é logo rejeitado como linguagem inadequada ou inaceitável. Sendo assim, a figura humana de Jesus é deixada em segundo plano.
A linguagem na corrente do Jesus Histórico prescinde da herança patrística, magisterial e hierárquica da Igreja para prestar atenção à pesquisa científica e literária. A linguagem anônima de Jesus Cristo mostra-se ainda mais simples: parte do sujeito que se interessa pela vida de Jesus, sem se vincular ao discurso oficial da Igreja. É uma linguagem não muito bem aceita em alguns ambientes eclesiais, por tocar em muitos aspectos da humanidade de Jesus, que, na visão de alguns, podem comprometer a sua divindade.
A pessoa de Jesus não se restringe aos muros do cristianismo, por essa razão também aparece no contexto inter-religioso. Com diferentes concepções, as grandes religiões percebem Jesus de uma maneira variada e por isso mesmo apresentam linguagens com diferentes ênfases e aspectos de sua pessoa. O fundamental desta linguagem é a articulação de sua pessoa com a dimensão fundamental do ser humano.
As linguagens: das juventudes e da libertação
O último volume das Linguagens sobre Jesus aborda o impacto de Jesus na vida dos jovens da atualidade. Embora as expressões juvenis no momento de interpretar e se relacionar com Jesus são muito complexas, procurou-se identificá-las a partir de algumas características em comum.
Desse modo, ao menos quatro expressões ou tendências de jovens são identificadas com suas respectivas linguagens sobre Jesus: a tendência religiosa cristã tradicional; a tendência cristã carismática, renovada, pentecostal; a tendência religiosa cristã independente; a tendência religiosa cristã politizada, sociolibertadora, secularizada e eco-libertadora.
Na última parte, o livro é dedicado às linguagens da libertação, que se evidencia em três expressões próprias: primeiro, a falta de espaço para a acomodação diante das injustiças sociais; segundo, o exprimirse por meio da realidade do Reino; e terceiro, a aquisição da forma da liberdade.
“Quem dizem os homens que eu sou? (...) e vós, quem dizeis que eu sou? (...) Tu és o Cristo” (Mc 8, 27-29). O evento pode ser histórico ou não, a declaração de Pedro pode ser textual ou não. Está assim narrada, é perfeitamente verossímil e, com o que se conta a respeito do personagem, é a definição de sua identidade no texto: ele é o Messias. É o que o texto procura afirmar, se pudéssemos falar de uma intencionalidade do texto. Mais que isso, o que se diz é que a identidade messiânica de Jesus é definida pelas narrativas feitas a seu respeito. O texto como que vai estabelecendo este caminho de leitura para que os leitores não se percam na paisagem e possam, no final, compreender e afirmar que Jesus é o Cristo, e engajar sua vida e sua identidade pessoal a partir daí. Donde a teologia que reflete sobre o significado da afirmação de fé. Aquele que a afirma em liberdade, com estas ou outras palavras, como aquelas do centurião ao pé da cruz (Mc 15,39), por exemplo, ou outras que serão formuladas mais tarde na Igreja, engaja sua vida e define sua forma de viver no mundo, ao menos enquanto horizonte de possibilidades. O texto evangélico não é uma relação historiográfica de eventos da vida de Jesus. Também não é um tratado de teologia ou um compêndio de doutrina. É uma narrativa sobre Jesus, aliás uma narrativa plural, pois são textos evangélicos. A história ou histórias que se contam sobre ele, pois, apontam para a sua identidade narrativa, configuram sua identidade pela narração. Não definem para o Jesus Histórico, cuja pesquisa pertence à ciência e cuja identidade pode não ser nunca definida, na medida em que personagens do passado são inalcançáveis. Não definem o Cristo da Fé, na medida em que a proclamação da Igreja será feita, sim, a partir de tais narrativas mas se desdobrando em doutrina que se tornará vivência de quem crê. Elas apontam para o Messias do texto, edificam a identidade narrativa de Jesus a partir de sua messianidade e afirmam, assim, um espaço que une os três elementos, o Jesus, o Cristo e o Messias. Ou a história, a teologia e a literatura, três irmãs reunidas em um esforço que lhes permite aceder, por caminhos diversos ou similares, ao conhecimento da verdade do Reino edificado por Deus através de seu Ungido.
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Bibliografia
LIBÂNIO, João Batista; CUNHA, Carlos. Linguagem sobre Jesus: as linguagens tradicional, neotradicional pós-moderna, carismática, espírita e neopentecostal. São Paulo: Paulus, 2011. Vol. 1.
LIBÂNIO, João Batista. Linguagens sobre Jesus: linguagem narrativa e exegética moderna. São Paulo: Paulus, 2012. Vol. 2.
LIBÂNIO, João Batista. Linguagens sobre Jesus: de Cristo carpinteiro a Cristo cósmico. São Paulo: Paulus, 2013. Vol. 3.
LIBÂNIO, João Batista; GUIMARÃES, Edward. Linguagens sobre Jesus: as linguagens das juventudes e da libertação. São Paulo: Paulus, 2013. Vol. 4.