O Evangelho segundo o pastor gaúcho: um estudo dos paratextos presentes em suas pregações no facebook
The gospel by the Pastor Gaúcho: a study on the paratexts present in his preaching on Facebook

Salma Ferraz* e Camila Ambrosini**
*Doutora em Letras pela UNESP. Professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Contato: salmaferraz@gmail.com
**Formada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), possui dupla habilitação no Curso de Letras Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa, tendo concluído a licenciatura no ano de 2014, e o bacharelado, com ênfase no Tópico do Fantástico na Literatura Infantojuvenil, em 2015. Possui experiência como revisora de textos e também na área da educação, na qual já atuou como professora de Língua Portuguesa. Atualmente, é aluna do Curso de Mestrado em Literatura, na Linha de Textualidades Híbridas, pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura da UFSC. Contato: camila.ambrosini@hotmail.com.
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Resumo
Este artigo tem por objetivo realizar um breve estudo acerca dos paratextos que integram as pregações que são realizadas pelo Pastor Gaúcho, personagem oriundo das mídias digitais, mais especificamente de redes sociais como o facebook, o twitter e o instagram, o qual costuma reescrever diversos excertos da Bíblia Cristã a partir do dialeto gaúcho com a finalidade de, dessa forma, evangelizar – por um viés regionalista e também lúdico – os cristãos que o seguem. Dentre os elementos paratextuais a serem analisados em suas pregações no facebook, serão destacados: o título, as ilustrações e o linguajar gaudério (típico dos habitantes dos pampas gaúchos), uma vez que, claramente, representam aspectos de fundamental importância para a composição da obra.

Palavras chave:Temor e Tremor, Suicídio filosófico, Crítica à razão, Mito de Abraão, Caim.

 

Abstract
This article aims to conduct a brief study about the paratexts that integrate sermons that are held by Pastor Gaúcho, a character derived from digital media, specifically social networks like Facebook, Twitter and Instagram, which usually rewrite several excerpts of the Christian Bible from the gaucho dialect in order to evangelize – by a regionalist and funny bias – Christians who follow. Among the paratextual elements to be analyzed in their preaching on Facebook, it is possible to highlight: the title, the illustrations and the Gaudério language (typical of the inhabitants of the gaucho pampas), since it clearly represent fundamental aspects which are important to the composition of the work.

Keywords: Pastor Gaúcho. Paratexts. Gospel. Christian Bible.


Em seguida ouvi a voz do Senhor, que dizia: “Quem hei de enviar?
Quem irá por nós?”, ao que respondi: “Eis-me aqui, envia-me
a mim”. Ele me disse: “Vai e dize a este povo (...)”1.

Introdução

Considerada livro basilar da literatura ocidental, a Bíblia Cristã, embora comumente seja vista apenas como uma obra de cunho teológico, ligada a instituições religiosas pertencentes ao Cristianismo, e desvinculada de tudo o que é literário, não só dialoga com a literatura, como, igualmente, a influencia, sendo de fundamental importância para a criação de muitas produções literárias – e também teatrais, visuais, artísticas –, as quais, sem que seus autores tivessem se inspirado nos textos bíblicos, provavelmente jamais teriam sido desenvolvidas.

A literariedade bíblica fica nítida ao analisá-la a partir de sua vasta gama de narrativas, as quais estabelecem uma relação de interdependência umas com as outras, seguindo uma “(...) certa continuidade que existe nas ‘biografias’ de seus personagens, algo importante para boa parte da literatura” (MAGALHÃES, 2008, p.01). Ainda, suas histórias, repletas de suspense e criatividade, serviram e continuam a servir de exemplo para muitos escritores, que se baseiam nelas para escrever suas obras, como, por exemplo, Machado de Assis, em Esaú e Jacó2 (1904). Isso sem contar quando seu trabalho está diretamente relacionado à própria Bíblia, a partir da reescrita e da adaptação de seus textos, como faz o sul rio-grandense Anderson Alves da Luz, criador do Pastor Gaúcho, personagem que realiza pregações de excertos extraídos da Bíblia Sagrada do Cristianismo, após adaptá-los para o dialeto gaudério.

Enquanto muitas obras se ocupam com a produção de sátiras, paródias e outras produções de cunho zombeteiro acerca do livro sagrado para o Cristianismo, como, por exemplo, a série de TV estadunidense Os Simpsons3, que já exibiu diversos episódios que trabalham com o conteúdo narrado em várias passagens da Bíblia, nos quais costumam questionar dogmas e valores cristãos a partir do uso humor – costumeiramente apoiados na paródia e no riso de escárnio – valendo destacar Histórias Bíblicas4, pertencente à décima temporada; o pregador dos pampas do Rio Grande do Sul, o Pastor Gaúcho, por sua vez, ainda que também possua caráter humorístico, trabalha com os textos bíblicos, do ponto de vista de nossa análise, de forma muito respeitosa e sem alterar a mensagem por eles passada, visto não pretender questionar o seu conteúdo e nem as religiões surgidas a partir deles, mas sim pregar a palavra de Deus, segundo a Bíblia Cristã, aos seus seguidores (usuários do facebook, principalmente) e, em especial, aos gaúchos, uma vez que tais pregações se caracterizam por serem uma produção regionalista, e é daí que vem boa parte do riso causado pela mesma.

Embora os sermões do pastor dos pampas gaúchos não modificarem o sentido dos excertos bíblicos com os quais trabalha, e os quais reescreve para o gauchês, é possível afirmar que a obra é autêntica, e, portanto, caracteriza-se como uma adaptação bíblica com um toque de humor, visto que o ponto central da mesma não se restringe meramente aos textos que são passados para o dialeto gaudério, mas concentra-se nas pregações que são feitas pelo personagem-título, o qual atua como um verdadeiro orador ao discursar sermões bíblicos aos fiéis que buscam a ele para receberem a palavra de Deus. Assim sendo, o presente artigo visa expor e analisar, ainda que brevemente, os paratextos, segundo Gérard Genette os trata em Paratextos Editoriais (2009), que compõem os discursos religiosos, ou melhor, as pregações que são feitas pelo Pastor Gaúcho, em sua página na rede socialfacebook, especificamente.

O pastor é Gaúcho, Tchê!

Anderson da Luz5, radialista gospel gaúcho, objetivando pregar o Evangelho de forma que fosse possível alcançar não somente seus ouvintes, os gaúchos da cidade, como também os dos pampas, teve a ideia, em maio de 2011, de usar os ditados e o dialeto gaúcho para proferir seus sermões bíblicos de uma maneira diferente, mais lúdica e próxima da cultura e do linguajar dos cristãos que acompanhavam o seu trabalho: os gaúchos – os do campo, principalmente –, e deu à luz, então, o personagem Pastor Gaúcho, hoje muito conhecido por suas pregações e seu vestuário tipicamente gaudérios, tanto dentro do Brasil quanto no exterior.

Figura 1 - Pastor Gaúcho pregando o Evangelho em gauchês 6 7

Inicialmente, seus discursos foram realizados via twitter8, momento no qual, ao mesmo passo em que pregava a palavra de Deus aos fiéis que o seguiam nessa rede social,

“O guri de apartamento” começou a estudar a linguagem dos gaúchos do campo e caprichou nas suas pregações em versão gauchesca que chamaram a atenção não só dos evangélicos, mas também de pessoas de outras crenças, principalmente os que gostam de preservar a cultura e se identificam com o sotaque do Pastor Gaúcho. No ano seguinte Anderson criou a fanpage no Facebook, e é considerado um sucesso na internet9.

Seus sermões, proferidos segundo o gauchês, embora, segundo ele, tenham sido sempre muito respeitosos para com a Bíblia enquanto uma literatura de cunho teológico de importância inenarrável para os cristãos, foram vistos, inicialmente, por alguns seguidores do Cristianismo, como uma afronta, “(...) pois acharam desrespeitoso e diziam que o personagem estava tirando sarro da palavra de Deus, como muitos fazem na internet. Mas a maioria recebeu muito bem, entenderam que era sério e era uma forma de falar dos ensinamentos bíblicos de um jeito diferente”10.

Aos poucos, a adaptação dos excertos bíblicos, efetuada por Anderson da Luz ao pregar o Evangelho segundo o Pastor Gaúcho, tanto pelo fato de preservar a cultura gaudéria, quanto por atribuir um toque de humor aos textos bíblicos e levar os leitores ao riso por conta da tipificação regionalista do gaúcho dos pampas sem, para isso, no entanto, deturpar o sentindo das escrituras originais, não só tornou-se bem-sucedida e ganhou espaço no youtube11 e em cultos e eventos religiosos fora da internet, locais, esses, nos quais o pregador tornou-se de carne e osso, como, ao reescrever passagens da Bíblia Cristã, vem ajudando a “(...) manter viva a obra anterior (...)” (HUTCHEON, 2013, p. 234), e mostrando, também, que “A adaptação não é vampiresca: ela não retira o sangue de sua fonte, abandonando-a para a morte ou já morta” (ibidem, p. 234), ao contrário, o Pastor Gaúcho, ao adaptar trechos bíblicos, além de retirar um pouco do ar erudito que apresentam os textos que compõem a Bíblia Sagrada do Cristianismo e, com isso, tornar sua leitura mais acessível, leve e compreensível, também ajuda a preservar a circulação, leitura e existência da mesma.

Um estudo dos paratextos presentes nas pregações do Pastor Gaúcho no Facebook

Conforme afirma Genette (2009, p. 09),

A OBRA LITERÁRIA CONSISTE, EXAUSTIVA OU essencialmente, num texto, isto é (definição mínima), numa sequência mais ou menos longa de enunciados verbais mais ou menos cheios de significação. Contudo, esse texto raramente se apresenta em estado nu, sem o reforço e o acompanhamento de certo número de produções, verbais ou não, como um nome de autor, um título, um prefácio, ilustrações, que nunca sabemos se devemos ou não considerar parte dele, mas que em todo caso o cercam e o prolongam, exatamente para apresentá-lo, no sentido habitual do verbo, mas também em seu sentido mais forte: para torná-lo presente, para garantir sua presença no mundo, sua “recepção” e seu consumo, sob a forma, pelo menos hoje, de um livro. Esse acompanhamento, de extensão e conduta viáveis, constitui o (...) paratexto”.

Embora a obra aqui trabalhada não constitua um livro, e sim pregações de um Evangelho de natureza regionalista, voltadas para os habitantes do Rio Grande do Sul, mais especificamente com a finalidade de pregar a palavra de Deus e, ao mesmo tempo, preservar a cultura e os costumes gaudérios, de maneira bem-humorada e divertida – e transmiti-los àqueles que entram em contato com as pregações, sejam cristãos ou não –,para que esses discursos deixem de ser apenas um texto e tornem-se o que são: o Evangelho segundo o Pastor Gaúcho, necessitam de inúmeros paratextos que auxiliam na composição dos mesmos, e, sem os quais, talvez, a criação de Anderson Alves da Luz não pudesse ser considerada uma adaptação da Bíblia Cristã, mas sim uma simples interpretação, a partir das próprias palavras do autor, de partes das narrativas bíblicas, ou melhor, uma paráfrase de suas passagens.

No Pastor Gaúcho, há uma riqueza no uso de peritextos, os quais seriam, como nos traz Gérard Genette (ibidem), os paratextos que, embora não façam parte do texto, estão ao seu redor, ao longo da obra, e auxiliam na caracterização e na originalidade da mesma. Esses seriam, por exemplo: o título, o uso de ilustrações, o meio em que circula a obra, e, no caso das pregações realizadas pelo gaudério pastor, especificamente, o uso do dialeto gaúcho também pode ser considerado um peritexto, pois ajuda a direcionar o olhar do leitor que procura e acessa os sermões proferidos pelo pregador, um típico habitante dos pampas gaúchos que, assim como os demais discursadores do Cristianismo, prega a palavra de Deus presente não apenas no Novo Testamento, como também no Antigo.

Quando se pega um livro nas mãos pela primeira vez, é costume analisar a sua capa e os elementos que fazem parte dela, tais como: o título, a presença ou ausência de ilustrações, a textura da capa, o conteúdo de sua sinopse. No caso do Pastor Gaúcho, devido ao fato de suas pregações circularem nas redes sociais, enquanto não há a possibilidade de estudar alguns peritextos, como a textura da capa, outros ganham ainda mais ênfase, como o título, o uso das ilustrações e, neste caso, o meio em que circula: as redes sociais, aqui, designadamente, o facebook, pertencente à internet, a qual, “(...) de fato, reproduz antigas formas de transmissão do saber e da vida comum, exibe nostalgia, dá forma a desejos e valores tão antigos quanto o ser humano” (SPADARO, 2012, p. 16), e, portanto, nos parece de uso essencial para a transmissão e a comunhão da fé na contemporaneidade, visto que a “(...) rede é necessariamente uma realidade que cada vez mais diz respeito à vida do crente e influi em sua capacidade de compreensão da realidade e, portanto, da fé e de seu modo de vivê-la” (ibidem, p. 22).

Figura 2 - layout de apresentação da fanpage do Pastor Gaúcho no facebook12

O primeiro contato que se tem com as pregações escritas do Pastor Gaúcho é através do acesso de sua página no facebook, e, por esse motivo, antes de ler os seus sermões, o leitor se depara, inicialmente, com o título, com as ilustrações e com a descrição do personagem constantes na parte superior da timeline. Sobre o último ponto, o modo como é classificado o pastor dos pampas: humorista, é possível afirmar que esse é um conceito que consolida o fato de que a obra é, ao mesmo tempo, uma adaptação de cunho teológico e humorístico, visto que, busca, ao mesmo tempo, evangelizar e levar seus seguidores ao riso ao transmitir a palavra de Deus a partir do gauchês e da tipificação do gaúcho dos pampas.

Já em relação ao título, esse deve ser analisado não apenas pelo nome que apresenta para a obra, e sim também pelas cores que o integram e pela grafia da letra “ú”, presente em “Gaúcho”:

• O nome, Pastor Gaúcho, por si só já condiciona a leitura por uma via regionalista, voltada para o Rio Grande do Sul, e, somado à letra “ú”, grafada em um formato que lembra uma cuia de chimarrão, e também destacada por ser a única a ser colorida de amarelo, uma das cores da bandeira do Estado, cria uma atmosfera fortemente ligada à cultura gaudéria;

• O nome da obra, e também do personagem-título, é escrito com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul, representando a tradição e o patriotismo gaúchos.

Para além do título, e ao mesmo tempo ligada a ele, tem-se a ilustração do evangelizador que representa a obra:

Figura 3 - O Pastor Gaúcho, a Bíblia, o chimarrão e a ovelha por ele guiada.13

• O pastor é caracterizado usando as vestes do tradicional gaúcho dos pampas: vestindo bombacha e com um nó triangular vermelho14 atado ao pescoço;

• Na mão esquerda, carrega uma Bíblia Cristã (representada pela cruz em sua capa) e, na direita, uma cuia de chimarrão. Para os cristãos (e) gaúchos, ambos são considerados sagrados, visto a roda de chimarrão ser tida como o momento da comunhão na cultura gaudéria, uma vez que nela a cuia é dividida com familiares e amigos como se estivessem repartindo o “pão” uns com os outros, o que faz com que, de certa forma, comunguem entre si e realizem um momento de “[...] fortalecimento espiritual de cada membro do corpo de Cristo. Um momento único e especial” (SANCHEZ, 201115), o qual é retratado nos textos que compõem as narrativas contadas na Bíblia Cristã, considerada sagrada para os cristãos por ter como temática principal a vida de Jesus Cristo, considerado, por eles, o filho de Deus que desceu dos céus para comungar com a humanidade e a ela salvar;

• Ao seu lado direito, encontra-se uma sempre fiel ovelha, a qual, por sua vez, remete o leitor à questão do pastor de ovelhas, que a elas orienta, assim como um pregador orienta aos seus fiéis e, no caso do Pastor Gaúcho, seguidores, os quais acompanham o Evangelho segundo ele por meio das postagens que o pastor efetua em sua linha do tempo, no facebook;

• A mesma ilustração, que faz parte das imagens de perfil e de capa da fanpage do pregador gaudério, acompanha praticamente todas as suas pregações, indicando que elas estão sendo proferidas pelo Pastor Gaúcho.

Figura 4 - Salmos 35:1 sendo pregado segundo o Pastor Gaúcho, evangelizando sempre acompanhado de sua fiel ovelha, e com o chimarrão na mão direita e a Bíblia Sagrada na esquerda16.17

Cabe dizer, ainda, que, em relação às ilustrações – tanto as que integram o título, como as que fazem parte das pregações –, que o mais correto não seria chamá-las de peritexto da obra, e sim dizer que cumprem a função de perigrafia do texto, como afirma Eliana Muzzi (2008, p. 60), ao criar esse termo para definir os paratextos que, na verdade, são frutos de um trabalho gráfico e estético, e não escrito.

No que diz respeito às pregações realizadas pelo evangelizador, é possível afirmar que elas são, na verdade, um conjunto formado pelo próprio título e pelas ilustrações que fazem parte da obra, pelo dialeto gaudério aplicado aos excertos bíblicos que pelo Pastor Gaúcho são adaptados e discursados, pelo meio em que elas circulam, pela finalidade a que se propõem as mesmas, pelos seus destinatários e até mesmo pelo seu próprio destinador, afinal, caso os sermões discursados pelo gaudério pastor não possuíssem tantos peritextos, pelo criador e também editor da obra, Anderson Alves da Luz, selecionados, o Evangelho segundo o Pastor Gaúcho não seria possível, uma vez que, é justamente essa seleção específica dos paratextos que ajuda a compor a produção, que confere a ela um caráter de originalidade, tornando-a a adaptação dos textos bíblicos que é.

Conforme consta na própria descrição da página do pastor no facebook, as pregações, por ele realizadas em gauchês, possuem a finalidade de pregar o Evangelho cristão, assim como as que são proferidas por qualquer pregador que se dedique a catequisar seus fiéis a partir da leitura e de discursos oriundos da Bíblia Cristã e de temas a ela e ao Cristianismo relacionados. Ele, contudo, a partir de uma seleção de ditados tradicionais do Rio Grande do Sul e do próprio dialeto gaudério, os quais fazem parte de “(...) uma linguagem que caiu em desuso, principalmente na região metropolitana” (PEREIRA)18, a qual ele busca resgatar, e que, fundida às passagens bíblicas pelo pregador selecionadas para escrever seus discursos, formam uma espécie de Evangelho segundo o Pastor Gaúcho que, além de apresentar uma leitura divertida, fruto da tipificação do gaúcho dos pampas, devido em parte à variação linguística causada pelo sotaque e por expressões gauchescas, frutos, por exemplo, da realização da “(...) apical múltipla na região Sul (churrasco, espeto corrido e chimarrão na voz dos gaúchos) (...) do /R/ (o de carro)” (BASSO; ILARI, 2006, p. 167) e o uso do tu como pronome de segunda pessoa;mais do que buscar levar a palavra de Deus a todos que procuram a ele para recebê-la, independentemente do motivo que os leva a acessar a sua página no facebook – pela fé ou pelo riso –, objetiva torná-la mais acessível e interessante aos próprios gaúchos, e, mais do que isso, preservar e divulgar a cultura gaudéria entre os que já fazem parte dela e aqueles que simpatizam ou queiram conhecê-la, visto que, como consta na descrição de sua fanpage,

Entre os que o seguem na web tem gente do Uruguai, da Argentina e muitos gaúchos que estão em outros estados e até no exterior, que matam a saudade do estado através de suas postagens. Também há pessoas que nunca vieram ao estado, mas que tem contato com alguém do sul e acabam curtindo a página para conhecer um pouco da nossa cultura (PEREIRA)19.

Na pregação a seguir, extraída de 1João 4:4, publicada na timeline da página do Pastor Gaúcho no facebook, no dia 29 de maio de 2016, nota-se o uso de expressões típicas do Rio Grande do Sul, como: gurizada, que se refere a garotada, a jovens, e que substitui filhinhos; peleia, que vem de pelejar, e significa “Batalhar, combater” (HOLANDA, 2010, p. 575), servindo como termo equivalente a: os (eles, os oponentes); e baita, usada, normalmente, pelos gaúchos para designar algo grande, maior, e que, de fato, se equipara ao verbete maior. Juntamente com a ilustração do pregador, colocada no canto inferior direito do sermão, e do título, colado no canto inferior esquerdo, as palavras destacadas, pertencentes ao dialeto gaudério, conduzem o olhar do leitor, de certa forma, a uma leitura voltada para um cristianismo regionalista, que tem como foco evangelizar o povo gaúcho e perpetuar a sua cultura.

Figura 5 – Texto original: “Vós, filhinhos, sois de Deus, e vós os vencestes. Porque o que está em vós é maior do que aquele que está no mundo”20.21

Por circularem na internet, espaço no qual há uma constante e rápida troca e atualização de informações, as pregações precisam ser mais compactas, claras e apelativas, a fim de chamarem a atenção do público, o qual é formado pelos leitores em potencial de seus discursos, o que é algo que Anderson da Luz realiza muito bem com o Pastor Gaúcho, pois o pregador, de bigode proeminente e de bombacha, costuma evangelizar a partir de curtas passagens bíblicas, não desenvolvendo um texto muito extenso, além de se utilizar de ditados e de expressões pertencentes ao dialeto gaudério que, além de oferecem uma característica mais gauchesca à obra, também levam seus leitores ao riso, e tornam a leitura mais lúdica e leve, o que acaba por prender sua atenção e ganhar a sua simpatia, além de aproveitar, de forma eficaz, a própria internet que,

(...) com a sua capacidade de ser, ao menos potencialmente, um espaço de comunhão, faz parte do caminho do homem para esta consumação em Cristo. É preciso, então, ter uma visão espiritual da rede, vendo Cristo que chama a humanidade para ser cada vez mais unida e ligada (SPADARO, 2012, p. 11).

Além disso, por se tratar de uma evangelização feita à distância, através da rede formada pela web, seu destinador, no caso, não o autor, Anderson da Luz, mas o personagem-título, o pregador Pastor Gaúcho, não possui como foco transmitir a palavra de Deus aos cristãos que procuram somente por ambientes tradicionalmente religiosos, como as igrejas, para orarem, e sim aqueles que não visualizam a internet como uma realidade paralela, mas como “(...) um espaço antropológico interconectado na fonte com os outros espaços de nossa vida” (ibidem, p. 18), e que, portanto, procuram nela locais, como a fanpage que o gaudério pregador possui no facebook, nos quais possam orar, comungar e exercer a sua fé.

Considerações finais

Após realizar este breve estudo acerca dos paratextos que integram as pregações do Pastor Gaúcho no facebook, mais especificamente de seus peritextos, visto que foram analisados apenas alguns elementos extratextuais que se encontram em torno do mesmo e dentro da obra, excluindo possíveis epitextos, uma vez que se pretendia examinar somente os elementos paratextuais que compõem os sermões do pregador dos pampas, e não os que, embora relacionados a eles, se encontram fora do objeto de estudo, tais como: resenhas e críticas; e, mais do que isso, amparando-se em Genette (2009, p. 09) que, por sua vez, afirma que

(...) o paratexto é aquilo por meio de que um texto se torna livro e se propõe como tal a seus leitores, e de maneira mais geral ao público. Mais do que um limite ou uma fronteira estanque, trata-se aqui de um limiar, ou – expressão de Borges ao falar de um prefácio – de um “vestíbulo”, que oferece a cada um a possibilidade de entrar, ou de retroceder,

é possível afirmar que os peritextos que integram a obra, mais do que apenas enfeitá-la, são responsáveis por caracterizá-la, e permitem que se torne algo mais do que um texto, e sim uma obra propriamente dita, no caso, não um livro, como analisa Gérard Genette em Paratextos Editoriais (ibdem), mas um Evangelho segundo o Pastor Gaúcho, como nos traz o título deste trabalho.

Fica evidente, portanto, que a escolha e a utilização dos paratextos que foi e ainda é realizada por Anderson Alves da Luz ao desenvolver as pregações do evangelizador dos pampas gaudérios para o facebook, não se deu de forma gratuita, uma vez que, unidos aos textos bíblicos por ele adaptados, esses componentes peritextuais, tais como: a ilustração do evangelizador de bigode proeminente vestido como um típico habitante dos campos sul rio-grandenses, sempre carregando uma cuia de chimarrão na mão direita e a Bíblia Sagrada na esquerda, e acompanhado de sua fiel ovelha branca, bem como o constante e crucial uso de ditados e expressões provenientes do dialeto gaúcho – como: tchê e peleia –,permitem que, tanto ele quanto a sua criação, o Pastor Gaúcho, cumpram seu maior objetivo: evangelizar os cristãos a partir do uso do gauchês, que, embora apresente um bairrismo característico da cultura gaudéria, não impede que o pregador gaudério leve a palavra de Deus a todos as querências, pertençam elas ao Rio Grande do Sul ou não.

Albert Camus não arroga para si o conceito de Absurdo, longe disso, ele o procura avidamente naqueles que o antecedem, como em Kierkegaard. Não obstante sua contribuição mais original não seria apenas reconhecer o Absurdo na existência, ou em diversos autores consagrados do existencialismo, sua ousadia consiste precisamente em não negá-lo, não perdê-lo de vista nas veredas do suicídio. Seu pensamento o torna notável por resistir ao salto metafísico, empenhado na descoberta dos limites do homem absurdo uma vez lançado nestes desertos da existência – sob os escombros da razão e privado dos consolos da fé.

Herdeiro de uma longa tradição de crítica ao racionalismo, Camus se situa sobre as ruínas da razão quedada. O que Camus chama de “a tradição do pensamento humilhado” (CAMUS, 2013a, p. 35) permaneceu ainda mais viva depois das duas grandes guerras do século XX. Neste ínterim de crítica da razão, a perspectiva camusiana conota uma considerável influência do pensamento kierkegaardiano. Adiante, Camus tece alguns comentários sobre Kierkegaard, em O Mito de Sísifo, para demonstrar neste a concepção do Absurdo da existência e para exemplificar o que Camus compreende como Suicídio Filosófico. dição do pensamento humilhado” (CAMUS, 2013a, p. 35) permaneceu ainda mais viva depois das duas grandes guerras do século XX. Neste ínterim de crítica da razão, a perspectiva camusiana conota uma considerável influência do pensamento kierkegaardiano. Adiante, Camus tece alguns comentários sobre Kierkegaard, em O Mito de Sísifo, para demonstrar neste a concepção do Absurdo da existência e para exemplificar o que Camus compreende como Suicídio Filosófico.

A comunhão temática existente entre Camus e Kierkegaard, assim como a influência literária deste último sobre Camus, torna possível aproximar para observação as suas distintas compreensões acerca da fé. Para tanto, a história bíblica do mito de Abraão nos serve aqui como paisagem comum para confrontar dois olhares que divergem sobre as implicações éticas desta narrativa. A saber, duas perspectivas foram retiradas desta mesma história milenar que narra origem do povo hebreu: ou Abraão era um crente ou um louco assassino. Enquanto Kierkegaard aventura-se em explicar a natureza incognoscível desta fé abraâmica, Albert Camus e José Saramago apostam no crime de Abraão.

Do suicídio de Kierkegaard – Um olhar camusiano

A respeito dos pensadores do irracional, testemunhas do Absurdo, a Camus interessa a concordância existente entre eles sobre o tema. Entretanto, nota em alguns deles formas de evasão ante o Absurdo, ou seja, Camus observa “fugas metafísicas”, de cunho filosófico ou religioso, presentes em estimados autores da filosofia existencial, como Jaspers, Kierkegaard, Chestov e Husserl. Tais “fugas” ele chama de suicídio filosófico.1

Para chegar ao suicídio filosófico, o caráter contraditório do Absurdo deve ser acentuado. Camus atenta que o Absurdo nasce da desproporção entre as intenções do homem e a indiferença do mundo sob o qual ele fora jogado para existir. No mais, essa premissa se torna fundamental para que se possa pensar no Absurdo como confrontação, nem presente no homem e nem no mundo, mas no choque entre eles. Camus não tece uma definição mais concreta do Absurdo, ele contenta-se em, ao longo de seus ensaios, enumerar sentimentos do Absurdo e realçar o tônus deste estado, como nesta passagem a seguir:

É um exílio sem solução, porque está privado das lembranças de uma pátria perdida ou da esperança de uma terra prometida. Este divórcio entre o homem e sua vida, o ator e seu cenário é propriamente o sentimento do absurdo (CAMUS, 2013a, p. 21).

Camus se atém a filosofia existencial, e nela encontra formas de “fuga” do Absurdo por meio de uma evasão essencialmente religiosa, a seu ver. A filosofia existencial de seu tempo visitou atentamente os escombros da razão, todavia não soube o que reconstruir sobre esse mundo despedaçado da modernidade e, assim, aventurou-se a procura de “esperanças forçadas”. E nesta procura, o pensamento chocado com a absurdidade da vida, de repente nega a si mesmo, nega por completo a razão humana, e salta aspirando ao eterno (CAMUS, 2013a, p. 50).

A título de exemplo, Camus evidencia que o suicídio filosófico incorre no erro de divinizar, por vez, o irracional ou a própria razão. Sob os muitos disfarces modernos o Absurdo continuava a ser negado, ou nas palavras do próprio Camus: “Assim como a razão soube aplacar a melancolia plotiniana, ela fornece a angústia moderna os meios de se acalmar nos cenários familiares do eterno” (CAMUS, 2013a, p. 55).

Nesta apreciação camusiana, Kierkegaard fora o exemplo mais toante de “suicida filosófico” por render-se estupefato – levado por intensa atração – ao fascínio incomensurável do irracional. Também para Kierkegaard, nota O Mito de Sísifo, “a antinomia e o paradoxo se tornam critérios do religioso. [...] O cristianismo é o escândalo e o que Kierkegaard pede com simplicidade o terceiro sacrifício exigido por Inácio de Loiola, aquele com que Deus mais se delicia: ‘o sacrifício do Intelecto’” (CAMUS, 2013a, p. 47).

Não são espíritos rasos, ou indoutos, aqueles que resignaram a razão para oferecê-la num abnegado sacrifício, são antes espíritos absurdos consumidos impiedosamente pela natureza antinômica da existência – e dela tentam escapar. No ver desassossegado de Camus, uma adesão incondicional e resignada a esta condição absurda calou – com mordaças metafísicas – o grito da revolta, tão necessário diante deste quadro paradoxal da existência. A inquietação camusiana nasce deste lanço descabido e apaixonado em direção do irracionável – ou como bem explicita Gouvêa nesta “paixão pelo paradoxo”.2 Este título toca no ponto fontal do pensamento kierkegaardiano que, pelas palavras de Camus, “arranca sua esperança do seu contrário, que é a morte” (CAMUS, 2013a, p. 48), e assenta sobre o este insolúvel paradoxo toda uma elevação que se encerra em Deus.

Em subida pelo monte Moriá, o mito de Abraão exemplifica esta jornada que leva ao irracional – uma subida de fé movida por um ato deveras inexplicável em termos éticos ou racionais. Abraão caminhou para sacrificar o filho, e na adesão incondicional a esta loucura inconcebível consistiu à força da sua fé – é nas veredas do absurdo que Deus labora o cavaleiro da fé. A esse respeito Camus coloca: “Se substituir seu grito de rebeldia por uma adesão furiosa, ele será levado a ignorar o absurdo que o iluminava até então e a divinizar a única certeza que daí por diante terá: o irracional” (CAMUS, 2013a, p. 47-48).

Fugir do Absurdo, diria Camus, é vê-lo divino. Maquiar Deus com as aparências obscuras do irracional e caminhar cegamente ao seu encontro, levado pela força do absurdo – sob os escombros da razão e a inobservância da ética – esta é a jornada do cavaleiro da fé. A improvável esperança abraâmica forçosamente esperou recuperar Isaac depois de sacrificá-lo e, a despeito do fim desta história, a fé de Abraão também exigiu dele o sacrifício do seu intelecto – posto mortalmente ao lado de Isaac. Isaac não seria sacrificado sozinho, em silêncio às alturas do Moriá, Abraão ofereceu ainda sua lucidez. Ou ainda, nas palavras camusianas, Abraão cometera suicídio filosófico.

Aliás, o único ato lógico de Abraão era reagir ao ditame de Deus. Revoltar-se até a rouquidão de tanto negar aos céus aquela vontade absurda. E nesta negação do absurdo consiste a revolta camusiana, se corporifica na resistência humana à loucura divina que impele o pai contra seu filho – não na adesão incondicional a este destino absurdo que os deuses quiseram. Camus prefere a tragédia de Édipo à reconciliação de Abraão, a fuga furiosa da soberania dos deuses – ainda que esta seja inútil – à adesão apaixonada ao despotismo de um Deus.

Contrário à fé movida pela força do Absurdo, Camus assevera: “O absurdo, que é o estado metafísico do homem consciente, não conduz a Deus” (CAMUS, 2013a, p. 49). O Absurdo é antes uma condição ignóbil de um homem consciente das fronteiras da razão, lançado em um mundo opaco, inexplicável senão por raciocínios errôneos – e neste “universo repentinamente privado de ilusões e de luzes, pelo contrário, o homem se sente um estrangeiro” (CAMUS, 2013a, p. 21). Todavia, retoma ele, o engano está em afeiçoar-se ao Absurdo, como a vítima que se afeiçoa ao seu agressor. O que excede a lucidez é enxergar-se acolhido neste sequestro da existência, nesta falsa pátria, “e me asseguram [pontua Camus] que essa ignorância explica tudo e que essa noite é a minha luz. Mas aqui não respondem à minha intenção e esse lirismo exaltante não pode me esconder o paradoxo” (CAMUS, 2013a, p. 49).

Sobre Kierkegaard, Camus acentua o empenho desvairado desta inteligência em subtrair-se do caos antinômico em que fora posto, e do desespero a ele inerente, paradoxalmente recorrendo – lançando-se confiadamente – ao irracional. À vista disso, da irracionalidade desta vida, o rosto de Deus é rascunhado por Kierkegaard – e descrito pela força do mito na narrativa abraâmica – com os atributos do incompreensível, da injustiça e da inconsequência (CAMUS, 2013a, p. 48). Entrementes, quando se dedica a expor a falta de razoabilidade do sacrifício de Isaac, o trunfo kierkegaardiano é pô-lo para além das medidas humanas, acima da linha que separa o ético-racional dos campos verdes da fé. Camus, porém, assegura que as medidas humanas são as únicas que aos homens foram dadas. Afinal, os homens não são Cristos: “todo meu reino é deste mundo” (CAMUS, 1996, p. 107). Camus, confundindo Deus propositalmente com a paixão pelo irracional, pondera sobre os limites da razão:

Não depreendo daí uma negação, mas ao menos não quero fundamentar coisa alguma no incompreensível. Quero saber se posso viver com o que sei, e só com isso. Dizem-me ainda que a inteligência deve sacrificar aqui o seu orgulho e a razão, se inclinar. Mas se reconheço os limites da razão, nem por isso a nego, reconhecendo seus poderes relativos. Só quero continuar neste caminho médio onde a inteligência pode permanecer clara (CAMUS, 2013a, p. 49).

No Lugar de Abraão

Dois espíritos do século sopravam ventanias. Kierkegaard fazia longos retornos às narrativas germinais dos textos bíblicos. Buscava atualizá-las para seus dias. Ele rememorou tais histórias, fora buscar nas origens, no gênese, sentidos esquecidos a termos já há muito esvaziados de significado – tal como a fé – para uma Dinamarca protestante do século XIX, cuja religião tornara-se outro hábito insípido do cotidiano burguês. Poucos anos depois, em terras alemãs e luteranas, Nietzsche proclamava em pleno meio-dia – demasiadamente louco com uma lanterna nas mãos – a “Morte de Deus”. Mesmo sem anunciá-la explicitamente, Kierkegaard lera a Morte de Deus também nos vitrais da igreja protestante ao perguntar pelo lugar de importância da fé entre as muitas preocupações do sujeito protestante dinamarquês – como diria Nietzsche mais tarde: “O que são estas igrejas além de túmulos e monumentos funerários de Deus?” (NIETZSCHE, 1978, p. 125).

A obra kierkegaardiana provoca confessos cristãos e revela os frágeis limites da sua fé, ou de outra, inquire pelo preço barato da fé na modernidade. Como em Temor e Tremor, quando através da radicalidade abnegada do sacrifício de Abraão, Kierkegaard questiona até onde se está realmente disposto a ir, e a sacrificar, quando se está numa relação de fé absoluta. Temor e Tremor retorna aos dias de Abraão e, quando de volta à Copenhague cristã do século XIX, torna clara a fragilidade de uma fé sem paixão, fronteiriça – indisposta à incondicionalidade. Kierkegaard não só assumira a morte de Deus, como se esforçou em revelá-la no dia a dia de seus contemporâneos. E, antes de propor uma vereda de sentido sob as inspirações da fé cristã, antes do salto, o filósofo chama atenção à perigosa realidade de uma existência estética de aparência religiosa, e por assim dizer também anuncia – como um profeta nietzschiano – que igrejas entoam, ainda que despercebidas, o lúgubre funeral de Deus.

Herdeira da Renascença, a reforma protestante também erigiu sua fundamentação doutrinária no retorno às fontes. E em seus embates contra o catolicismo, a igreja protestante encontrou nas escrituras bíblicas a autoridade e legitimação que lhe faltava. Depois de séculos de expansão e estruturação, Kierkegaard empreendeu no seio do protestantismo dinamarquês um retorno semelhante ao da reforma, trouxe de volta as escrituras interpretando-as novamente, desta vez visando afetar a apatia religiosa, a fé marginal e condicionada, do fiel protestante. Nestes vieses, a obra Temor e Tremor se movimenta em direção à história primeva do patriarca Abraão, especialmente a esta passagem medular:

Passado algum tempo, Deus pôs Abraão à prova, dizendo-lhe: “Abraão!” Ele respondeu: “Eis-me aqui”. Então disse Deus: “Tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto num dos montes que lhe indicarei” (Gn 22. 1-2).

Às voltas com seus personagens literários de personalidade própria, Kierkegaard mergulhou na narrativa abraâmica sob seu pseudônimo, Johannes de Silentio. O pseudônimo lhe permitiu, de certa forma, adentrar nesta história de modo impetuoso, ou seja, Kierkegaard caminha com facilidade entre o elogio à fé de Abraão e os problemas ou questões que nascem com uma leitura atenta à narrativa. Problemas estes, por um lado, normalmente ignorados em virtude da sacralidade ou desatenção ao texto, e por outro lado acessados com mais liberdade para pô-los em evidência – um sintoma moderno que impele ao direito e o dever de duvidar da tradição. Neste ínterim, Kierkegaard constrói diversas perspectivas – com o atrevimento literário que o distingue à parte dos exegetas – sobre esta passagem fundamental em que Abraão foi posto à prova pelo próprio Deus.

Kierkegaard compôs detalhes e possibilidades imaginativas para a jornada de Abraão, desde que fora posto à prova até o momento decisivo do sacrifício, quando levantou a faca contra seu próprio filho.

No primeiro reconto de Kierkegaard – com a riqueza literária que lhe é peculiar – ele ressaltou o mutismo de Abraão ao longo da trajetória que o levava ao monte Moriá, lugar que sacrificaria Isaac. Nas entrelinhas da narrativa bíblica, ele especulou a saída encontrada por Abraão frente aquele ato monstruoso que estava prestes a cometer. Ao chegar ao lugar indicado, o pai aterrorizou o filho expondo seu desejo e seu prazer naquele ato. Assim Abraão reguardou Deus do ódio de Isaac: “Murmurou porém Abraão dizendo para consigo: ‘Senhor nas alturas, graças te dou; bem melhor é que acredite que eu sou um monstro do que a vir perder a fé em Ti” (KIERKEGAARD, 2009, p. 59).

A leitura pronta, carregada de interpretações pré-estabelecidas, sem o trabalho devido e atencioso do texto é indesejável na opinião de Kierkegaard (KIERKEGAARD, 2009, p. 81). Isto presumivelmente explica o tempo que dispõe em considerar, e especular, as variantes nascidas das entrelinhas desta história bíblica, tal como o provável ódio que no coração de Isaac nasceu ao ouvir de seu pai a ordem que Deus lhe imputou. Qualquer sensibilidade mínima pensaria na monstruosidade daquela ordem. Fora realmente crível tal possibilidade, esta que Deus, em algum instante daquela história, tornou-se um monstro aos olhos de Isaac.

No segundo reconto de Kierkegaard, Abraão não revela a Isaac a ordem de Deus. Tudo ocorrera em silêncio. O pai apenas lembrava o quanto amava Isaac, seu significado, o quanto lhe custava um ato tal como aquele, sacrificá-lo. Entretanto, Abraão foi até o fim, puxou a faca sobre seu filho, quando viu então o cordeiro que o aliviaria daquele fardo. Isaac permanecera vivo, tudo foi apenas um teste. Porém, nesta versão kierkegaardiana da história, Abraão perdera toda a alegria de viver, pois “Daquele dia em diante Abraão envelheceu, não conseguia esquecer o que Deus dele exigira” (KIERKEGAARD, 2009, p. 60).

Ir além do texto, sem medo do labor implicado nesta ida, é também considerar o quanto valia Isaac para existência de Abraão, o lugar especial que aquele filho prometido assumira, e a substância da vida de Abraão, nele, representada. A possibilidade de perdê-lo – por suas próprias mãos – poderia de fato afetar Abraão pelo resto de sua vida. A dor seria ainda maior a cada encontro da memória com aquela lembrança terrificante, Deus lhe exigira a morte do seu filho amado.

O terceiro reconto de Kierkegaard se passa após Abraão ter puxado a faca. Isaac não fora sacrificado, mas Abraão pensou no seu dever como pai, por isso pediu a Deus que lhe perdoasse “o pecado de ter querido oferecer Isaac em holocausto” (KIERKEGAARD, 2009, p. 61). No entanto, Abraão pensou outra vez, conclui que não lhe faltava amor para com seu filho, e se porventura esse amor houvesse faltado, seu pecado seria de sobremodo imperdoável.

Kierkegaard prossegue ao longo de Temor e Tremor favorável a esta hipótese, pois não equipara Abraão a um pai de hediondo desapego, ao invés, dar-se a entender que Isaac era toda a vida de Abraão, posta ali, em sacrifício.

No quarto e último reconto de Kierkegaard, os detalhes tornam a narrativa vívida, de um modo a afetar o seu leitor com o desespero de Abraão que o fizera contorcer-se no último instante em que o filho via a morte pela faca do pai. Tudo se passou bem como se sabe, mas “Isaac havia perdido a fé” (KIERKEGAARD, 2009, p. 63).

Esta conjectura sobre as reverberações daquele momento desesperador coloca o leitor sob o olhar de Isaac, no lugar da vítima. Também transparece o profundo desespero de Abraão, torturado pelo amor ao filho que, porém, não sobrepunha a sua fé absoluta e incondicional.

Cada hipótese rememora a talvez esquecida profundidade, ou complexidade, do ato de Abraão, as ressonâncias daquela assustadora atitude para vida de ambos, pai e filho, verdugo e vítima. Tal ato não pode ser lido, sem por ele ser afetado.

Camus e Caim

Albert Camus de certo lera cada uma destas especulações, ele não deixou por escrito o quanto fora afetado por elas ou a sua versão da história de Abraão, somente em breves passagens fez alusão à narrativa abraâmica original. Porém, Camus respondeu ao pensamento de Kierkegaard contrapondo o ponto fundante de sua filosofia, o salto de fé kierkegaardiano. E por sobre este encontro intencional de Camus e Kierkegaard poder-se-á inferir a perspectiva camusiana sobre o drama de Abraão, assim como notar pontos de ruptura e de retorno entre estes dois autores. Kierkegaard declara:

Se no homem não houvesse uma consciência eterna, se na origem de tudo se encontrasse apenas uma força bravia e lêveda que ao contorcer-se em escura paixão tudo criasse, o que fosse grande e o que fosse insignificante; se um vazio sem fundo, nunca saciado, sob tudo se escondesse, que outra coisa seria a vida a não ser o desespero? (KIERKEGAARD, 2009, p. 112)

Camus sem furtos responde a Temor e Tremor:

Kierkegaard pode gritar [...] Este grito não pode deter o homem absurdo. Buscar o que é verdadeiro não é buscar o que é desejável. Se, para fugir da pergunta angustiante: “o que seria então a vida?”, é preciso alimentar-se, como o asno, das rosas da ilusão antes que se resignar à mentira, o espírito absurdo prefere adotar sem tremor a resposta de Kierkegaard: “o desespero” (CAMUS, 2013a, p. 50).

Assumir a retórica de Kierkegaard sem o devido tremor apregoado pela obra, como Camus o faz, é uma posição de enfrentamento ao argumento kierkegaardiano. Nascido quase precisamente um século depois de Kierkegaard, Camus fora de fato um herdeiro do lastro existencialista legado pelo filósofo dinamarquês, isto o possibilitou absorver as intuições kierkegaardianas no que toca a existência e, imerso neste discurso, renunciar a etapa que cruza as fronteiras da razão e repousa na guarida da fé. Em outras palavras, Camus acompanha Kierkegaard na decisiva e necessária superação do estético e na passagem para o ético, todavia hesita frente o “salto de fé”, o lanço no estágio religioso da existência.

Conforme as orientações de Gouvêa3, o feito de Abraão explicita a passagem do ético ao religioso, o movimento de fé particular que relativiza o universal. Ou, nas próprias considerações de Kierkegaard: “Através do seu acto, excedeu inteiramente o ético e atingiu um τέλος [fim] superior fora dele, em relação ao qual suspendeu o ético” (KIERKEGAARD, 2009, p. 118).

Na determinante suspensão do ético reside o drama de Abraão, não se pode negar a centralidade desta escolha, nem os juízos que dela suscitam. Ora, aos olhos de um viajante qualquer, de passagem justamente quando a faca luziu não permitindo dúvidas sobre o que ocorreria, Abraão fora outro pai ignóbil, sanguinolento, à imagem do demônio a quem obedecia cegamente. Todavia, a igual privação ética que o faria deveras imperdoável o fez também, reconhecidamente, o pai da fé. Visto dos ares religiosos da existência, mais do que qualquer pai Abraão amava seu filho, pois o não amá-lo desfaria assim o valor do sacrifício, e nisto consiste a grandiosidade do seu ato. Visto do chão pueril de um transeunte qualquer, Abraão estava prestes a sujar-se com o sangue do seu filho e nada nesse mundo poderia justificá-lo.

Camus, ainda consternado pelos horrores do século das grandes guerras mundiais, labora sua obra como amparo intelectual de absoluta negação ao assassinato justificado, seja ele um construto político, religioso ou étnico – Camus nunca esquecera o odor putrefato dos campos de concentração nazista, ou os pressupostos religiosos que historicamente legitimaram o assassinato. De certa forma seria dizer que a versão camusiana do mito abraâmico, presumivelmente, conotaria uma blasfema recusa à fé, ou à salvação, em nome de um valor moral, como o fez Ivan Karamázov antes dele, no emblemático romance de Dostoiévski. Confundindo suas próprias palavras com a revolta metafísica de Ivan, Camus acentua sua recusa à fé, se esta pressupõe a suspensão do ético ou a aceitação do mal. Ele comenta:

Ivan recusa explicitamente o mistério e, por conseguinte, o próprio Deus como princípio de amor. Só o amor pode nos fazer ratificar a injustiça feita a Marta, aos operários das dez horas, e, mais adiante, admitir a morte injustificável das crianças. “Se o sofrimento das crianças”, diz Ivan, “serve para completar a soma das dores necessárias à aquisição da verdade, afirmo desde já que essa verdade não vale tal preço” (CAMUS, 2013b, p. 75).

A morte de Isaac seria de certo um preço alto demais como condição à fé, neste ínterim. E qualquer outro expectador que não seja Deus, imediatamente – diante daquele cenário de terror – ao ouvir o grito de Isaac se poria em favor da pobre vítima. Através de seu herói de A Peste o doutor Rieux, entre o sacerdote e o cordeiro do sacrifício Camus confessa sua escolha: “Sinto-me mais solidário com os vencidos do que com os santos” (CAMUS, 2013c, p. 222). Talvez outra perspectiva, narrada recentemente, melhor se adequaria, ou melhor representaria a versão camusiana deste mesmo mito fundante.

José Saramago não escondeu seu ateísmo, ou sua indignação frente os ditames arbitrários e antiéticos de Deus, como a bíblia os conta. Seu romance Caim o insere no universo sagrado das narrativas do Primeiro Testamento, como alguém disposto a perturbar tais histórias, contorcê-las, de modo a recontá-las da maneira mais herética possível. Seu fim é revelar o verdadeiro caráter genocida do Deus bíblico, assim como a substância amoral que constituí esse tipo de literatura canônica.

A versão de Saramago segue em linhas gerais o mito bíblico, todavia o personagem Caim adentra, como um intruso rebelde, à história de Abraão. Como Kierkegaard também o fez, Saramago recorda a ordem divina e reescreve as entrelinhas desta história:

O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim (SARAMAGO, 2009, p. 79).

Abraão já havia deitado o filho sobre o altar, obediente aos céus, estava prestes a corta-lhe a garganta, quando um anjo segurou-lhe ferozmente o braço dizendo:

Que vai você fazer, velho malvado, matar o seu próprio filho, queimá-lo, é outra vez a mesma história, começase por um cordeiro e acaba-se por assassinar aquele a quem mais se deveria amar, Foi o senhor que o ordenou, foi o senhor que o ordenou, debatia-se abraão, Cale-se, ou quem o mata aqui sou eu, desate já o rapaz, ajoelhe e peça-lhe perdão, Quem é você, Sou caim, sou o anjo que salvou a vida a isaac (SARAMAGO, 2009, p. 80).

Pelas mãos de Caim – o primeiro homicida – José Saramago impedira Abraão, na tentativa de recobrar-lhe a decência digna de um pai. Seu abuso das entrelinhas do texto soa como um desafio à ordem divina. Ele enfim disse o sonoro “não” aos céus, aquele que Abraão não conseguira dizer. Sua ousadia imagina os diálogos entre pai e filho, depois daquela interrupção oportuna de Caim. Isaac não compreende porque o pai quisera matá-lo, Abraão justifica-se alegando que a ideia foi do Senhor, pois queria por em prova a sua fé. Isaac compreende menos ainda a ordem de Deus:

E que senhor é esse que ordena a um pai que mate o seu próprio filho, É o senhor que temos [...] E se esse senhor tivesse um filho, também o mandaria matar, perguntou isaac, O futuro o dirá, Então o senhor é capaz de tudo, do bom, do mau e do pior (SARAMAGO, 2009, p. 82).

Isaac continua a interrogar Abraão a respeito do Deus que lhe pedira tamanho absurdo. Abraão persuade o filho a esquecer daquele ignóbil ocorrido, o jovem porém não se julga capaz de tal feito – ainda revia a faca a luzir e o seu corpo imóvel atado aquele destino –, poderia a vítima esquecer-se do seu algoz? Saramago redefine aquela história, vista desta vez pelos olhos da vítima, diz Isaac: “Pai, a questão, embora a mim me importe muito, não é tanto ter eu morrido ou não, a questão é sermos governados por um senhor como este, tão cruel como baal, que devora os seus filhos” (SARAMAGO, 2009, p. 83).

Como aquele que herda muito de quem o antecede, Saramago compartilha com Camus um mesmo olhar, de lentes éticas, quando ambos olham para o Deus das escrituras judaico-cristãs. Eles também se opõem, ou ignoram, a perspectiva kierkegaardiana que atribui virtude no ato sacrifical de Abraão. Quando Caim – como um anjo – salva a vida de Isaac, ele o faz, pois, até aquele momento, Deus não o fizera. O sofrimento daquele pai e daquela criança era assistido passivamente por Deus. Todavia, o fim da história testemunha em favor de Deus e, embora um mistério sombrio – um silêncio torturante – reinasse antes do fim, Isaac não seria sacrificado por mero capricho divino. A intervenção de Caim fora sua impaciência contra os céus – e esse seu mistério sádico. Ele assim o diz em conversa com anjos:

Os desígnios de deus são inescrutáveis, nem nós, anjos, podemos penetrar no seu pensamento, Estou cansado da lengalenga de que os desígnios do senhor são inescrutáveis, respondeu caim, deus deveria ser transparente e límpido como cristal em lugar desta contínua assombração, deste constante medo, enfim, deus não nos ama (SARAMAGO, 2009, p. 135).

Camus, de igual modo, recusa-se a resignação diante do mistério infligido, ou da paciência que assiste o sofrimento dos homens passivamente. Como Caim ele se opõe à morte justificada, segura o braço direito de Abraão com violência indignada sem aguardar pelos anjos celestes – pois eles frequentemente se atrasam.4 Caim, quando enfrenta Abraão, encena como por parábolas o conceito camusiano de Revolta. Em solidão metafísica, que Deus lho impôs, Caim contesta a morte de Isaac sem sequer olhar para os céus. Camus – como quem já fizera o mesmo alhures – também o diz recorrendo a seu romance A Peste: “Já que a ordem do mundo é regulada pela morte, talvez convenha a Deus que não acreditemos Nele, e que lutemos com todas as nossas forças contra a morte, sem erguer os olhos para o céu, onde Ele se cala” (CAMUS, 2013c, p. 115).

Outra vez comentando Dostoiévski, Camus assevera: “A fé conduz à vida imortal. Mas a fé pressupõe a aceitação do mistério e do mal, a resignação à injustiça” (CAMUS, 2013b, p. 75). Quando Camus estabelece, à sombra de Ivan Karamázov, a oposição entre Deus e a Justiça retorna às inspirações kierkegaardianas de necessidade de superação do estágio ético pelo religioso. Camus ou Caim tomam o partido dos homens, ou seja, elevam a ética acima da divindade. A existência assim se inverte na necessária passagem, desta vez, do religioso para o ético e não o contrário. Saramago, por sua vez, alça além, não apenas ergue a justiça e diminui a divindade, mas ele também condena o Deus bíblico pelas próprias medidas da justiça. Caim continua a esbaforida conversa com os anjos, e arrota seus juízos contra Deus:

Camus, de igual modo, recusa-se a resignação diante do mistério infligido, ou da paciência que assiste o sofrimento dos homens passivamente. Como Caim ele se opõe à morte justificada, segura o braço direito de Abraão com violência indignada sem aguardar pelos anjos celestes – pois eles frequentemente se atrasam.4 Caim, quando enfrenta Abraão, encena como por parábolas o conceito camusiano de Revolta. Em solidão metafísica, que Deus lho impôs, Caim contesta a morte de Isaac sem sequer olhar para os céus. Camus – como quem já fizera o mesmo alhures – também o diz recorrendo a seu romance A Peste: “Já que a ordem do mundo é regulada pela morte, talvez convenha a Deus que não acreditemos Nele, e que lutemos com todas as nossas forças contra a morte, sem erguer os olhos para o céu, onde Ele se cala” (CAMUS, 2013c, p. 115).

Outra vez comentando Dostoiévski, Camus assevera: “A fé conduz à vida imortal. Mas a fé pressupõe a aceitação do mistério e do mal, a resignação à injustiça” (CAMUS, 2013b, p. 75). Quando Camus estabelece, à sombra de Ivan Karamázov, a oposição entre Deus e a Justiça retorna às inspirações kierkegaardianas de necessidade de superação do estágio ético pelo religioso. Camus ou Caim tomam o partido dos homens, ou seja, elevam a ética acima da divindade. A existência assim se inverte na necessária passagem, desta vez, do religioso para o ético e não o contrário. Saramago, por sua vez, alça além, não apenas ergue a justiça e diminui a divindade, mas ele também condena o Deus bíblico pelas próprias medidas da justiça. Caim continua a esbaforida conversa com os anjos, e arrota seus juízos contra Deus:

Sobretudo quando manda matar, uma só criança das que morreram feitas tições em sodoma bastaria para o condenar sem remissão, mas a justiça, para deus, é uma palavra vã, [...] Cuidado, caim, falas de mais, o senhor está a ouvir-te e tarde ou cedo te castigará, O senhor não ouve, o senhor é surdo, por toda a parte se lhe levantam súplicas, são pobres, infelizes, desgraçados, todos a implorar o remédio que o mundo lhes negou, e o senhor vira-lhes as costas (SARAMAGO, 2009, p. 135-136).

Saramago transparece nitidamente intuições camusianas nestas palavras citadas, precisamente no que toca o mutismo divino contraposto diante da agonia dos miseráveis desta terra, perturbados pela morte e pelo sofrimento. O Absurdo, como Camus o entendia, consiste exatamente nessa realidade nascida do remédio que os homens imploram, a cura que o mundo lhes nega, e a indiferença do Deus que virou-lhes as costas. De maneira axiomática – por serem contemporâneos – estes dois autores refletem os sintomas de um mundo pós-guerras e caminham juntos sobre os escombros da razão moderna. Partilham da mesma sombra pessimista que varreu a Europa naquele século, e do mesmo céu trevoso de onde Deus, silenciosamente, assiste o sofrimento dos homens. Camus e Saramago foram aparentados por sua revolta e, de certo, uma versão camusiana do mito de Abraão em muito se pareceria com Caim.

Viajantes da História

Imaginou-se, na discursiva anterior, que no instante do ato crucial em que Abraão decidiu-se por sacrificar seu filho Isaac, Camus e Saramago absurdamente transitavam próximos aquela cena, como dois observadores atentos aos limites existenciais do velho patriarca. Como dois viajantes do tempo, que desembocaram nas alturas do Moriá sob o pretexto de levar a júri aquele feito indigesto, sem precedentes capazes de justificálo, e enfim corrigir o engano milenar que coroou Abraão pai da fé. Camus e Saramago presumivelmente julgaram pelo mesmo parecer, ou seja, Abraão premeditou a morte do filho, e de certo o faria quando, inesperadamente, fora impedido. A natureza do que o impediu não importava tanto assim aos observadores, que anotavam aos blocos cada sintoma da mente atormentada daquele homem. Não havia dúvidas, Abraão era culpado, senão como assassino ao menos o seria como louco! Violara o dever visceral de um pai e, ensandecido, degolaria o filho como a um burrego de seu rebanho. O deixaria queimar, e assim cairia nas graças do seu Deus. Condenado – diriam os juízes do futuro – por abandonar a ética sem motivos razoáveis.

Saramago acusa também aquele que ditou a ordem assassina, Deus. Acusa-o de sadismo, de torturar aquela família com seus caprichos misteriosos – e o faria novamente com o pobre Jó. De levar à loucura, e ao desespero, aquele velho tolo impressionável. A história foi enfim corrigida, o crime julgado, o certo e o odiento postos em seus devidos lugares.

Juízos tais como estes – conclusões modernas e pós-modernas sobre o mito de Abraão – foram tratados antecipadamente por Kierkegaard. Ele sabia muito bem que a ventura de Abraão não poderia ser compreendida por nenhum transeunte da história, pois justamente neste inexplicável paradoxo reside a constituição exemplar da fé de Abraão. Aliás, a contestação era totalmente lógica e perde a razão aquele que não a fez; no limiar da heresia – fazendo lembrar a irreverência de Saramago – Kierkegaard recoloca a questão: “Hegel não tem razão ao falar da fé; perde a razão por não contestar, alto e bom som, o facto de Abraão gozar de honra e glória como pai da fé; ao passo que devia ser apresentado a tribunal e denunciado como assassino” (KIERKEGAARD, 2009, p. 113). Em síntese, o caminho primeiro para entender o mito abraâmico é, outra vez, contestá-lo – o que até aqui foi feito por este artigo.

Assim, Kierkegaard distingue Abraão dos heróis trágicos, pois, diferente destes últimos, o patriarca movia-se seguramente pela força do absurdo (KIERKEGAARD, 2009, p. 115). Nas narrativas homéricas, um de seus exemplos, Agamêmnon sacrifica aos deuses sua filha. Ele tinha em vista, entretanto, os ventos favoráveis que soprariam suas naus na direção da guerra e, por assim dizer, da glória do povo grego. Crível ou não, virtuoso ou vulgar, este sacrifício se faz compreensível a qualquer viajante da história, pois “o herói trágico permanece ainda dentro do ético” (KIERKEGAARD, 2009, p. 118), pontua o filósofo. Embora obscureça a relação entre pai e filha, o episódio de Agamêmnon enaltece um fim que é de interesse do povo, o que faz do ato trágico também um ato heroico. Isso não se aplica a Abraão, no entanto. Nada dentro dos parâmetros humanos poderia justificá-lo, nada o livra da monstruosidade do seu ato. Seu feito excede o ético, de modo a torná-lo deveras absurdo.

Restou àquele velho pai somente o silêncio abafado da jornada trágica, pois como se expressaria? Quem o compreenderia? Nada do que dissesse faria sentido, uma vez que os homens se expressam na esfera do universal, do ético-racional, qualquer uma de suas palavras excederiam tais fronteiras para incorrer, outra vez, no absurdo indefensável da fé. O caminho de Abraão estreitava-se para um homem só, para um fazer solitário. Aqueles que – neste vasto mundo da imaginação literária – o acompanhassem não suportariam o peso dilacerante daquele paradoxo e de certo, presume o autor, “Não é possível chorar por Abraão. Aproximamo-nos dele com um horror religiosus, como Israel se aproximou do monte Sinai” (KIERKEGAARD, 2009, p. 120).

O horror religioso que assalta o leitor atento, ante a narrativa abraâmica no decorrer dos séculos, tomou em susto a sensibilidade moderna de autores como Camus e Saramago, fazendo-os trêmulos acossados pela força do paradoxo. Na fuga do inominável, restou-lhes rechaçar a face obscura do irracional com violência e destreza literária. Seguindo um rastro kierkegaardiano, a jornada de Abraão torna-se incompreensível devido à força religiosa do irracionável que salta o texto no decurso das eras.

Num afluente inverso, Kierkegaard também treme ante o horror encarnado naquela primitiva incoerência – o pai prestes a sangrar seu filho –, porém, marchando avesso ao racionalismo, assume a narrativa do patriarca hebreu como modelo inconteste do que ultrapassa os parâmetros da reflexão, do racionalizável, e do pensamento hegeliano que acredita tudo explicar. O erro recorrente que torna Abraão inapreciável para quem o observa eticamente, e ao mesmo tempo elogiado de forma demasiadamente impensada por alguns religiosos, é olhá-lo tão somente por lentes teóricas, sem o envolvimento imbricado àquela investida de fé. É como se o pensamento fosse inadequado quando se trata de mediar o acontecimento da fé. Este escopo kierkegaardiano tenta realocar a fé à parte de qualquer intermediário, de qualquer racionalização, o que a mantém paradoxal, acresce ele:

A fé consiste precisamente no paradoxo de o singular enquanto singular ser superior ao universal, estar justificado perante ele, não ser seu subordinado [...] Este ponto de vista não pode ser mediado; pois toda a mediação acontece precisamente por força do universal; é e permanece para toda a eternidade um paradoxo, inacessível ao pensamento (KIERKERGAARD, 2009, p. 114).

Outro equívoco – comum no contexto protestante no qual o autor se insere – é não ater-se ao princípio e ao desenlace da história – lê-la como se lê um manual – e julgá-la admirável apenas pelo seu desfecho. A abstração que não permite adentrar com a devida seriedade no drama desta história – acompanhar Abraão monte acima – “omite a adversidade, a angústia, o paradoxo” (KIERKEGAARD, 2009, p. 123). E, destituído de seu paradoxo, da ética que o tentou para que desistisse, – ou da angústia de erguer-se contra quem ama na espera absurda de tê-lo de volta, sem saber ao menos explicar “o como” ele lhe seria devolvido – sem a adversidade insolúvel daquela escolha Abraão seria outro entre tantos pais que, naqueles dias, queimavam seus filhos para saciar deuses famintos.

Ademais, sua grandeza consiste em suportar o paradoxo do seu ato, a saber, acreditar no absurdo de reaver Isaac estando prestes a sacrificá-lo. Tal absurdidade insana, esta loucura, o moveu até o fim de sua provação. Ora, ao certo ninguém que o observava poderia entendê-lo, nem mesmo escritores geniais como Camus ou Saramago, pois “é por força do absurdo que pode reaver Isaac. Em momento algum, portanto, é Abraão herói trágico, é antes algo completamente diferente: ou um assassino ou um crente” (KIERKEGAARD, 2009, p. 115). A fé de Abraão consiste neste paradoxo: ele sacrifica o finito para obter o infinito à espera que o finito lhe seja devolvido. Do substrato do Absurdo irrompe sua fé inegociável. Ela é, portanto, inapreensível do ponto de vista do racional, e, visto por estes olhos da pura razão, não foi outro senão um assassino o pai da fé.

O mito de Abraão suscita horror, ao mesmo tempo em que fascina pela sua grandeza. A desproporção destas reações em cada leitor, ao logo do tempo, fez-lho exemplar, para a crença ou para descrença em Deus.

Conclusão – Sedução, Suspeita e Aversão

Fitando as alturas de uma fé abraâmica, ou seja, visando à superação das camadas estéticas e éticas da existência, Kierkegaard ressuscitou a presença do irracional, esta força esquecida, recôndita no fundo das pretensões do racionalismo ou das aparências religiosas tão bem harmonizadas com a vida em sociedade. Kierkegaard está entre os primeiros a desfigurar as ilusões modernas – desnudar a fragilidade do pensamento – e perturbar a hipocrisia religiosa burguesa de seu século. Corroeu, pouco a pouco, a pureza da razão erigida tão perfeitamente pelos seus antecessores, e isto o fez ironicamente através da fé, ou ainda, do irracionável a ela atrelado. A fé exemplar de Abraão – encontradiça fora e além dos parâmetros ético-racionais – serviu-lhe no ataque que faria ruir a pretensiosa razão na modernidade. Muitos outros pensadores seguiram pelas frestas e rachaduras que Kierkegaard abriu no monumento da razão, entre eles o já tardio Camus reconheceu-se herdeiro deste legado, ele diz um século mais tarde: “Essa razão universal, prática ou moral, esse determinismo, essas categorias que explicam tudo fazem o homem honesto dar risada” (CAMUS, 2013a, p. 33-34).

Kierkegaard reconheceu a incoerência primeira, o imenso vazio de sentido e de razoabilidade da vida, e a tudo isso Camus chamou de Absurdo. Todavia, neste ínterim kierkegaardiano – após o esvaziamento de todas as instâncias da existência desde o estético ao ético – após tudo resignar, como ocorrera com Abraão, o indivíduo encontra-se a um salto de distancia da fé. O cavaleiro da fé se ergue por sobre o Absurdo em que fora plantado e o ultrapassa, encontrando assim um sentido fora do mundo – além das medidas humanas e racionais. É a ida ao infinito com retorno marcado ao finito.

Camus conversa com Kierkegaard tão somente durante a travessia do deserto existencial – no reconhecimento do desespero do homem e do Absurdo da existência – no entanto quando Kierkegaard ousa cruzar as fronteiras deste deserto, quando ousa saltar para fora dele num voo apaixonado em direção ao irracional, Camus titubeia e permanece no limiar da razão. Sabia ele que a razão era limitada, entretanto, fora dela também não havia esperança. Saltá-la incorreria no suicídio filosófico.

Kierkegaard fora, afirma Camus, aquele que contemplou o Absurdo em sua face mais real e mais bravia, ele fragmentou os absolutos e multiplicou as contradições. Nem a moral – que assumira um lugar privilegiado no pensamento racional – foi poupada pelas assertivas kierkegaardianas. O exemplo de Abraão foi a agulha com a qual provocou a razão, assim pôde argumentar sobre a existência de imperativos que superam até mesmo a ética.

Antes da jornada espiritual sugerida em Kierkegaard, Camus encontrara nele uma testemunha do Absurdo, alguém que como ele viu um mundo ainda informe e vazio, onde as luzes do racionalismo não sabiam iluminar. No entanto, Camus peregrinou solitário neste deserto do Absurdo, pois Kierkegaard – como tantos outros existencialistas a seu ver – incorrera no suicídio filosófico. Sacrificou, ao lado de Isaac, sua razão nos altares do imponderável. Não suportara viver naqueles ares pestilentos do desespero e, para calar o Absurdo com as rosas da ilusão, Kierkegaard escapou ao desespero. Embora Abraão retorne para casa trazendo outra vez Isaac vivo, pouco antes, estava absorvo no completamente insano, a mercê da loucura e tentado pelo ético. Esta coragem de perder-se dessa forma – apaixonadamente levado pelo irracional – esta confiança resignada, para Kierkegaard, estabelece a fé e reconcilia os homens com seu mundo. Para Camus esta é a coragem de um suicida que, incapaz de atentar contra o corpo, sacrifica seu intelecto. Destarte, o homem lúcido é aquele que aprendeu a não temer o desespero.

O passo de Kierkegaard em direção ao Absurdo foi seguido, mais tarde, por Camus. Todavia, este último se nega acompanhar Abraão em sua caminhada absurda e, nas extremidades do Moriá, recusa-se ao salto de fé kierkegaardiano para deixar-se ceder propositalmente, e inequívoco, à tentação ética que atribulou aquele pai. Camus permanece, a todo custo – embora açoitado pelo desespero –, nas camadas éticas da existência sem atrever-se nem sequer um passo depois delas. Abraão deixara-se levar, em deslumbramento, possuído pelo mistério até o lugar onde sacrificaria o próprio filho, Camus hesitou ante o caminho escuro da fé. Nas margens rasas da razão Camus resiste ao estágio religioso, e por assim dizer sentencia Abraão e seu mais ávido defensor, Kierkegaard, acusa-os do abandono da ética e do suicídio da razão – respectivamente.

Por sua permanência ética, e por não reduzi-la em nenhuma hipótese – nem sob as ordens de Deus – Camus se aproxima do tino literário do português, também romancista, José Saramago. Aparentados pela revolta metafísica, Camus e Saramago negam o mistério divino em nome de um valor moral. Ambos tomam partido dos homens e, para tanto, lhes ocorrera desafiar o Deus bíblico e seus ditames antiéticos. Enquanto Camus nega o salto religioso, seu herdeiro mais jovem, Saramago, alça à revelia e – não apenas nega o salto Kierkegaardiano – impele ousadamente o retorno do homem religioso ao estágio ético da existência. Saramago chama os crentes ao arrependimento, convoca-os de volta ao esclarecimento e aos princípios do humanismo.

Saramago passeia pela bíblia, especialmente por seu Primeiro Testamento, levado pela rebeldia de seu personagem, Caim. Ele toca, com maior insistência, neste imperativo divino, dado a Abraão, que levanta um pai contra o filho. E, indo deveras além das prerrogativas camusianas, Saramago não apenas recusa-se a “saltar” por falta de razoabilidade, ele também nega Deus, incisivamente, através de critérios éticos.

Tem-se, finalmente, entre Kierkegaard e Saramago, perpassando indesviavelmente por Camus, três gradações de percepção da metafísica cristã. A primeira delas é harmônica, e retorna a Kierkegaard e ao seu duelo com a razão hegeliana. Como Prometeu desafiou os deuses de outrora, Kierkegaard erguera-se em defesa do irracional lho reconhecendo nas origens e nas tessituras da existência. A imensidade deste “mistério tremendo”, entrementes, o seduziu. Ele encontrara nesta desmedida sagrada as medidas de sentido para existência e a cura para o desespero. Em termos camusianos, ele fugiu ao Absurdo e enfim fora reconciliado.

A percepção metafísica de Albert Camus singulariza, como numa moldura vazia, o silêncio de Deus. Esta ausência displicente suscita suspeita e revolta. Camus, como Kierkegaard, também principia pelo reconhecimento do Absurdo alastrado nas veredas da existência, porém, como que acorrentado por vontade, ele não pretende saltá-lo em nenhuma hipótese. Prefere o desespero à ilusão e suspeita daquilo que lhe é irracionável. Sabe dos limites da razão, porém sabê-la limitada não implica necessariamente em rejeitá-la. Camus não nega nem afirma a existência de Deus – pois a negação já é em si uma forma de afirmação – porém o recusa como quem não deseja fundar sua vida por sobre um mistério abismal. A ética é o limiar camusiano, portanto, em favor dos homens, ou em favor de Isaac, Camus rejeita a adesão obstinada ao irracional.

Em Saramago, a terceira gradação de olhar metafísico, o paradoxo absurdo da existência – sua razão pueril – permanece como em Kierkegaard ou em Camus, porém, desta vez conota ainda mais pessimismo literário e desemboca na total descrença em Deus. Nas intuições deste ateísmo agressivo, Saramago encontra nas escrituras bíblicas apenas a existência literária de um Deus essencialmente mau. Como num processo de divórcio existencial com Deus, após a paixão de Kierkegaard, a suspeita de Camus, o irracional será totalmente repelido por Saramago.

Tendo em mãos o legado filosófico camusiano e o notável romance Caim, foi possível transpor José Saramago e Albert Camus, como viajantes do tempo, para o dramático percurso que Abraão fizera com seu filho Isaac. Como qualquer transeunte da história, Camus e Saramago condenariam Abraão pelo abandono do ético. Kierkegaard, por sua vez, à luz de Temor e Tremor, antecipou tais sentenças e as julgou insatisfatórias, pois sabia que fora daquela relação absoluta com o Absoluto Abraão não poderia de fato ser compreendido. Nenhuma teoria, por mais próxima que esteja daquele momento, aclararia aquele ato com a precisão exigida pela modernidade, e isto Kierkegaard bem o sabia. O que restou às ciências humanas, e o que este artigo tentou ousar, são aproximações, comparações e rememorações instrutivas – isto com o devido temor e tremor.

Referências Bibliográficas

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Notas

[1]Excerto extraído de Isaías: 6: 8-9 (p.1263-1264), da Bíblia de Jerusalém (Editora Paulus: São Paulo, 2015, 10ed).

[2]O romance narra a história de Pedro e Paulo, gêmeos que, embora fossem fisicamente idênticos, possuíam personalidades completamente diferentes, e passaram a vida toda se desentendendo, vivendo um breve período de trégua logo após a morte da mãe, Natividade. De forma semelhante, os personagens bíblicos Esaú e Jacó, também univitelinos, passaram quase a vida toda brigados, após Jacó ter fugido depois de enganar o pai, Isaque, que estava à beira da morte, e recebido a bênção que deveria ter sido dada a Esaú, o filho mais velho. Aqui, na narrativa bíblica, entretanto, os irmãos fazem as pazes, e terminam próximos um do outro.

[3]Para conhecer um pouco melhor a série de desenhos animados destinada ao público adulto, porém, vista também pelo infanto-juvenil, é possível acessar o site oficial de Os Simpsons, em inglês: http://www.simpsonsworld.com/region-simpsons/. Fonte acessa em: 02 de junho de 2016.

[4]O episódio completo pode ser assistido a partir do link a seguir, disponibilizado no youtube: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[5]Embora tenha nascido em uma família católica, o criador do Pastor Gaúcho tornou-se evangélico quando tinha aproximadamente dez anos de idade, e hoje frequenta a Igreja Batista Brasa, situada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, conforme declarou durante uma entrevista realizada com ele no dia 07 de junho deste ano, 2016, nas dependências do Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina. Além disso, Anderson Alves da Luz afirma que, apesar de não possuir uma formação em Teologia, o personagem por ele criado, o evangelizador dos pampas gaúchos, por sua vez, é o único Tchêologo do Rio Grande do Sul.

[6]Versão original, retirada da 10ª edição da Bíblia de Jerusalém, publicada pela Editora Paulus: “Penso, com efeito, que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós” (Romanos 8:18).

[7]Imagem disponível em: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[8]Perfil do Pastor Gaúcho no twitter, disponível em: < https://twitter.com/PastorGaucho>. Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[9]Referência retirada da página oficial do Pastor Gaúcho, no facebook. Disponível em: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[10]Referência retirada da página oficial do Pastor Gaúcho, no facebook. Disponível em: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[11]O Pastor Gaúcho possui um canal no youtube que, embora não seja utilizado por ele com tanta frequência, contém algumas postagens de pregações efetuadas pelo mesmo. O mesmo pode ser acessado pelo link: . Fonte acessada em: 03 de junho de 2016.

[12]Imagem disponível em: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[13]Imagem disponível em: . Fonte acessada em: 02 de junho de 2016.

[14]Também conhecido como papagaio, amizade e soledade. Disponível em: . Fonte acessada em 02 de junho de 2016.

[15]Excerto retirado do texto O que significa a Santa Ceia ou a Ceia do Senhor? Disponível na página da internet: . Fonte acessada em: 14/05/2016.

[16]Versão original retirada da 10ª edição da Bíblia de Jerusalém, publicada pela Editora Paulus: “Iahweh, acusa meus acusadores, combate os que me combatem!”.

[17]Imagem disponível em: . Fonte acessada em: 03 de junho de 2016.

[18]Excerto retirado do texto escrito por Marcos Vinícius Pereira, e publicado na descrição da fanpage do Pastor Gaúcho no facebook. Disponível em: . Fonte acessada em: 03 de junho de 2016.

[19].Excerto retirado do texto escrito por Marcos Vinícius Pereira, e publicado na descrição da fanpage do Pastor Gaúcho no facebook. Disponível em: . Fonte acessada em: 03 de junho de 2016.

[20]Passagem extraída da 10ª edição da Bíblia de Jerusalém, publicada pela Editora Paulus.

[21]Imagem disponível em: . Fonte acessa em: 03 de junho de 2016.