Habitados por dentro e rodeados por fora: a mística cósmicounitiva de Ernesto Cardenal
Inhabited on the inside and surrounded on the outside: the cosmic-unitive mystique of Ernesto Cardenal

Elisângela Aparecida Souza Alves*
* Mestre e Doutoranda em Ciências da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Contato: elisapalves@oi.com.br.
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Resumo
O objetivo desse trabalho é apresentar uma possibilidade de leitura do último livro de Ernesto Cardenal, intitulado Assim na Terra como no Céu, pontuando o fato de que essa publicação é voltada para uma mística que enseja mostrar que todos juntos – animais, vegetais e minerais que compõem o (s) universo (s) – entoamos um “cântico cósmico”. A fim de desenvolver essa proposta, será necessária uma breve exposição a respeito da mística singular de Cardenal, pautada em carícias, beijos e abraços, uma mística que usa de imagens eróticas a fim de fazer ver que acessamos o Uno a partir do instante em que nos relacionamos com o outro. Nessa nova obra, o místico nicaraguense continua a apresentar ideias as quais já defendera em outras publicações, como o fato de que somos espelhos que refletem o criador, de que é necessário entendermos estar o Céu - tão aguardado por muitos - aqui, basta, para isso, que abramos os olhos e, libertos das amarras do egocentrismo, percebamos essa verdade. Cardenal defende o fato de que é mister lutar contra a injustiça, a exploração do homem e a destruição do meio ambiente. Dessa forma, estaremos amando a Deus, mesmo se duvidarmos de sua existência.

Palavras chave:Cardenal. Mística. Poesia. Cântico. Cosmos.

 

Abstract
The objective of this work is to present a possibility of reading the last book of Ernesto Cardenal, titled “On Earth as in Heaven”, pointing out the fact that this publication is geared towards a mystique that shows that all together - animals, plants and minerals that make up the universe (s) - we sing a “cosmic song”. In order to develop this proposal, a brief exposition will be needed on the unique mystique of Cardinal, based on caresses, kisses and hugs, a mystique that uses erotic images in order to show that we access the One from the moment when we relate to each other. In this new work, the Nicaraguan mystic continues to present ideas that he has already defended in other publications, such as the fact that we are mirrors that reflect the creator, that it is necessary to understand that Heaven - awaited by many - here, enough ,for that, we open the eyes and, freed from the chains of egocentrism, perceive this truth. Cardinal defends the fact that it is necessary to fight against injustice, the exploitation of man and the destruction of the environment. In this way, we will be loving God, even if we doubt his existence.

Keywords:Cardenal. Mystical. Poetry. Song. Cosmos.

Introdução

O objetivo desta comunicação é apresentarmos uma faceta da produção poética do místico poeta nicaraguense Ernesto Cardenal, a qual preconiza sermos partes de um todo que, enquanto todo, revela a face de Deus, um ser que nos rodea por fora e nos habita por dentro.

O aporte literário usado na construção desse artigo é, principalmente, o último livro publicado por Cardenal: Así en la tierra como en el cielo. Esse livro foi apresentado ao público em janeiro de 2018 por ocasião da comemoração dos 93 anos do poeta em questão e foi publicado em fevereiro desse mesmo ano.

Para que possamos iniciar nossa exposição, começaremos narrando sucintamente a história da vida e da experiência mística vivida por Cardenal, contando um pouco de sua trajetória para que, desse modo, o leitor consiga entender as construções de vida que levaram à construção literária em questão.

Um breve relato da vida de Cardenal: da Infância ao êxtase místico

Ernesto Cardenal é um homem, um poeta, um monge, um revolucionário e um místico que nasceu na Nicarágua no ano de 1925. Começamos dizendo que Ernesto foi um homem que, antes da conversão, experimentou o amor pelas mulheres, os abraços, os beijos e o sexo. Isso foi fundamental para a construção do místico Cardenal. Segundo ele mesmo nos afirma, no primeiro volume de seus diários – Vida Perdida -

o amor que tive pelas mulheres me fez saber como é Teu amor [referência ao amor de Deus]. Sim, como me amas. Porque eu também amei. Bem sei o que é o amor possessivo. O que é estar loucamente enamorado, perdido por uma pessoa. Eu sei, pois, o que sentes por mim. (CARDENAL, 2003a, p. 239)

Ter vivenciado o amor humano antes de viver a experiência extático-mística possibilitou ao místico em questão explicar seu encontro amoroso com Deus, usando, com propriedade, o vocabulário erótico. Não foi por acaso que, ao falar desse encontro, relata ter tido uma coisa com Ele e não foi um conceito (CARDENAL, 2012, p. 385).

Cardenal cantou em prosa e em verso seu encontro amoroso com o “Criador do céu e da terra”. As imagens construídas apresentam um cunho erótico, a linguagem usada, nesta narração, corrobora isso. Mostraremos, para exemplificar, a primeira narrativa, a qual é de um lirismo arrebatador:

De repente a alma sente sua presença numa forma em que não pode equivocar-se, e com tremor e espanto exclama: “tu deves ser aquele que fez o céu e a terra! ”. E quer esconder-se e desaparecer dessa presença e não pode, porque está como entre a espada e a parede, está entre ele e ele, e não tem aonde escapar, porque essa presença invade céus e terra e invade também a ela totalmente, e ela está em seus braços. E a alma que perseguiu a felicidade toda a sua vida sem saciar-se nunca e procurando todos os instantes a beleza, o prazer e a felicidade e o gozo, querendo sempre gozar mais e mais, agora em agonia, afogada num oceano de deleite insuportável, sem margens e sem fundos exclama: “basta, basta! Não me faças gozar mais, se me amas, porque eu morro! ”. Penetrada de uma doçura tão intensa que se transforma em dor, uma dor indescritível, como algo agridoce que fosse infinitamente amargo e infinitamente doce. Tudo é talvez em um segundo, e talvez não voltará a repetir-se em toda a sua vida, mas quando esse segundo passou a alma entende que toda a beleza e as alegrias e gozos da terra ficaram desvanecidos, são “como esterco”, como disseram os santos (skybala, “merda”, como diz São Paulo) e já não poderá gozar jamais em nada que não seja isso e vê que sua vida será a partir de então uma vida de tortura e de martírio porque enlouqueceu, está louco de amor e de nostalgia do que provou, e vai sofrer todos os sofrimentos e todas as torturas contanto que venha provar uma segunda vez, um segundo mais, uma gota mais, essa presença. (CARDENAL, 1979, p. 63,64).1

Podemos perceber o prazer, o gozo, resultante do ato da penetração de Deus na alma. Prazer esse capaz de saciar todos os apetites terrenos ao ponto de “amizades, vinho, mulheres, viagens, festas, tudo se desvanecer para sempre e a alma já não conhecerá jamais outra alegria maior do que a felicidade que sentiu” (CARDENAL, 1979, p. 64).

Essa linguagem erótica, já vista em outros autores como São João da Cruz e Tereza de Ávila, ou no livro Cântico dos Cânticos da Bíblia, é uma marca do poeta Cardenal, não só ao descrever sua experiência mística, mas também ao cantar a relação unitiva entre os seres que compõem os “multiversos”, assunto que será abordado mais à frente em nosso texto.

Vivida a experiência mística, Cardenal torna-se monge, um religioso bastante singular. Alguém que buscou, como primeira opção para mergulhar na vida contemplativa, o monastério Trapense de Nossa Senhora de Gethsemani – ordem extremamente rígida que valorizava o silêncio, a oração e a vida em comunidade. Os membros dessa Ordem não podiam escrever profissionalmente, não podiam ser fotografados e “havia o grande silêncio da noite que ia das sete da noite às sete da manhã” (CARDENAL, 2003, p. 107 – tradução nossa). A justificativa para essa escolha encontra-se em seu diário Vida Perdida quando diz:

para me entregar totalmente a Deus, eu devia renunciar a tudo. Poderia ter escolhido a ordem beneditina, que é da família da trapa, e que se dedica principalmente às artes e às letras, mas então não haveria renunciado a meu grande amor: a poesia. Também poderia ter entrada em um seminário e ser sacerdote na Nicarágua, mas então não teria renunciado a outro grande amor: minha terra e meus lagos. Eu devia ir a Deus despojado de tudo.
(CARDENAL, 2003, p. 14 e 15 – tradução nossa)

Quando ingressou na Trapa, Fr. M. Lawrence, nome com o qual Cardenal passou a ser chamado, foi discípulo de Thomas Merton, o mestre de noviços que se tornou, além de orientador espiritual, um amigo para a vida, um pai. O homem que ajudou Ernesto a idealizar Solentiname e a entender que sua “vida era a única ‘vida espiritual’ que podia ter” (CARDENAL, 2003, p. 146 – tradução nossa).

Motivado por problemas de saúde, Frei Lawrence deixou a Ordem trapense e, após passar por Cuernavaca, terminou sua formação em uma região montanhosa da Colômbia, nos Andes. Ordenado Sacerdote, fundou uma comunidade contemplativa às margens dos lagos da Nicarágua. Essa recebeu o nome de Solentiname e se singularizou por ser um lugar que recebia, como hóspedes, todos os que desejassem estar ali: poetas, escritores, camponeses. Um espaço de encontros onde se tinha liberdade de falar sobre fé, sobre amor e sobre revolução.

A construção poética de Ernesto Cardenal

No que diz respeito à produção poética, Ernesto Cardenal já era apaixonado pelas letras antes de viver o êxtase místico. Em entrevista concedida a Sonia Mereles, em 2002, mediante à pergunta feita por essa entrevistadora sobre o que o havia levado à poesia, assim responde o poeta: “Isso foi minha vocação. Assim nasci. Desde pequeno eu comecei a escrever, desde os sete anos, e ainda desde antes, o que entendia como poesia” (OLIVERA, 2002, p. 15 – tradução nossa).

Uma vez percebida já prematuramente sua vocação, destinou seus estudos ao aperfeiçoamento das letras. Assim, bacharelou-se em Filosofia e Letras pela Universidade Nacional Autônoma do México e, logo em seguida, partiu rumo aos Estados Unidos com o intuito de especializar-se em poesia contemporânea norte-americana. Essa estadia em solo americano, segundo autores contemporâneos de Cardenal, como Cuadra, foi fundamental para o amadurecimento literário do poeta.

Escolheu a obra de Ezra Pound e dos poetas do Imagismo seus objetos de trabalho. Isso justifica o fato de ser visível a influência de Pound na obra cardenaliana. Segundo Sylma Gonzáles, “os traços de Pound aproveitados (e adaptados) por Cardenal são: a concepção do poeta como historiador, a consciência do idioma como meio de expressão e o retorno aos poetas latinos Catulo e Marcial como fontes de criação poética” (GONZÁLES, 2011, p. 36 – tradução nossa). Cabe ressaltarmos que, segundo essa mesma autora, há traços, na obra de Cardenal, que não encontraremos em Pound, como os elementos referentes à política e à religião.

Após Nova Iorque, houve a temporada em Madri e o retorno à Nicarágua, em 1950, ano em que fundou sua pequena editora. Sylma Gonzáles afirma ter sido o período em que se dedicou à tradução de poesia norte-americana, que iniciou a criação de poemas históricos como os que resultaram na obra Homenaje a los indios americanos e o período em que deu início ao movimento exteriorista em parceria com Coronel Urtecho.

Esse movimento literário teve curta duração, mas Cardenal manteve-se fiel às suas características. Na revista publicada na Argentina e dedicada ao exteriorismo, Alfredo Veiravé assim define exteriorismo: “uma poesia das coisas exteriores, objetivas, reais, verdadeiras, concretas” (VEIRAVÉ, 1974, p. 39 – tradução nossa).

Essa definição foi o ponto de partida para um fazer vanguardista que daria origem mais tarde a um neorrealismo, “caracterizado por uma linguagem que rompe as fronteiras entre o narrativo e o poético” (VEIRAVÉ, 1974, p. 39). Movimento semelhante ao ocorrido no Brasil na década de 30 do século passado, notadamente na prosa, e que se caracterizou por uma linguagem seca, destituída de adjetivação e voltada para a denúncia de problemas nacionais, como seca, indústria da seca, coronelismo, latifúndio, além, é claro, de algumas questões políticas. Um exemplo desse neorrealismo no Brasil é a obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

A respeito da evolução que possa ter ocorrido na sua poética exteriorista, na anteriormente mencionada entrevista a Sonia Mereles, Cardenal afirma o seguinte:

Não creio que se tenha modificado o exteriorismo em Cântico Cósmico [na época sua mais recente publicação] no que diz respeito a ser uma mirada poética do concreto. Declaro, assim, todo o poema no sentido em que, quando falo de coisas científicas não é algo abstrato nem deixa de ser exteriorismo. Algo que não tinha havido em minha poesia anterior é a parte subjetiva, no sentido mais pessoal, mas não está apartada essa faceta do exteriorismo de forma alguma. É uma questão anedótica, concreta e realista. (OLIVERA, 2001, p. 10 e 11 –tradução nossa)

No livro Así en la tierra como en el cielo, continuamos a vislumbrar o exteriorismo que se concretiza em imagens como a seguinte:

Billones de galaxias con billones de estrellas
(hay más de cien mil millones de galaxias)
nuestra galaxia de trillones de estrellas
apenas una entre millones de galaxias
un gas de estrellas
y un gas de galaxias
abro la ventana y miro
las estrellas de donde venimos
(CARDENAL, 2018, p.1)

Voltando a apresentar as características do fazer poético cardenaliano, é mister mencionarmos que foi nessa época – início da década de 1950 – que se intensificam os “enamoramentos” de Cardenal e também o seu dilema “as muchachas ou Deus”. Desses enamoramentos resultam alguns de seus epigramas, como o seguinte, dedicado a Cláudia.

Al perderte yo a ti tú y yo hemos perdido:
Yo porque tú eras lo que yo más amaba
Y tú porque yo ere lo que te amaba más.
Pero de nosotros dos tú pierdes más que yo:
Porque yo podré amar a otras como te amaba a ti
Pero a ti no te amarán como te amaba yo.
(CARDENAL, 2001, p. 13)

Cabe ressaltarmos que há outros epigramas, no mesmo livro, com viés político, resultado, conforme nos comprova Sylma, de “sua militância contra a ditadura somozista”. Exemplo disso é o poema abaixo:

Se oyeron unos tiros anoche.
Se oyeron del lado del Cemeterio
Nadie sabe a quién mataron, o a quiénes
Nadie sabe nada.
Se oyeron unos tiros anoche.
Eso es todo
(CARDENAL, 2001, p. 27)

E há outros em que o poeta mescla amor e engajamento político, como é o caso do texto abaixo:

Yo he repartido papeletas clandestinas,
gritando: ¡VIVA LA LIBERTAD! en plena calle
desafiando a los guardias armados.
Yo participé en la rebelión de abril:
pero palidezco cuando passo por tu casa
y tu sola mirada me hace templar.
(CARDENAL, 2001, p. 19)

Essa mistura entre relacionamento amoroso e política é recorrente na obra de Cardenal. Não foi por coincidência o fato de o episódio que deflagrou o êxtase místico experimentado pelo poeta ter acontecido no momento em que ele ouve a sirene anunciando que Somoza, o ditador nicaraguense, passava voltando das bodas contraídas por um parente com Ileana, a moça que havia sido noivo do poeta. Mostraremos esse fato em um poema mais adiante.

Cardenal acrescentou, ainda na supracitada entrevista a Mereles, informações a respeito do seu fazer literário: “Eu diria antes [que uso] a técnica do jornal para dar um sentido mais concreto ao que está sendo expresso. Por exemplo, em Cântico Cósmico, esse sentido é o de um texto que se pode abrir e ler a partir de qualquer parte e o fato se presta como referência” (OLIVERA, 2002, p. 11).

Explicar o fazer poético sempre foi uma preocupação para o poeta em questão. Não foi por acaso que ele compôs o texto “regras para escrever poesia” o qual preconiza, entre outros elementos, o uso de versos brancos e livres, sem ritmo regular, presença de flashes, aproximação entre fala e escrita (Gonzáles, 2011, p. 57-58). Preceitos encontrados também na poética modernista do Brasil que se inicia em 1922 com a Semana de Arte Moderna.

Para fechar essa parte do trabalho, cabe salientarmos a influência visível de poetas norte-americanos, de quem aprendeu o imagismo, como Walt Whitman, Robert Frost e o já mencionado Pound.

A poesia mística de Cardenal

Comecemos a apresentar a produção místico-poética de Cardenal. Em um de seus diários, revela que, se ele não tivesse vivido o encontro amoroso com Deus, provavelmente se definiria como um pequeno burguês. Mas o encontro se deu e, a partir dele, entregou-se totalmente, deixando ficar “nos braços do Amado”. Esse acontecimento mudou sua vida e, consequentemente, seu fazer literário modificou-se. Não foi uma mudança radical de estilo, mas a incorporação de novos elementos. No que diz respeito à temática, podemos perceber uma mudança maior, marcada pelo erotismo, ao falar do encontro amoroso com “a muchacha das muchachas” – maneira pela qual um de seus companheiros denominou Deus; pela entrega ao sagrado; pela luta em prol das “milícias do não” e pelo canto cósmico, resultante de uma nova visão mística a qual Sylma Garcia denomina “mística cósmica”.

Apesar de já ser poeta, houve, após a experiência místico-extática, uma mudança. Na verdade, toda a sua existência passou a ser movida pelo que viveu naquele 02 de junho de 1956: sua atuação política, literária, sua vivência religiosa. A esse respeito fala-nos Luce Lopez-Baralt, em seu livro El Cántico místico de Ernesto Cardenal:

Também sua literatura é resultado de uma entrega sem reservas a Deus. [...] Desde Vida no Amor, todos os seus livros em que aborda sua vida espiritual dão fé de que esse rapto místico ficou selado para sempre em sua alma. Não importa quão escura possa parecer sua noite espiritual, nem quão profundo possa ser sua decepção política, não há livro de poemas nem coleção de ensaios onde não deixa claro o testemunho de uma vida vivida sempre à luz da eternidade (LOPEZ-BARALT, 2012, p. 39 – tradução nossa).

Algumas características marcam o discurso místico de Ernesto Cardenal e a “mística cósmica” o singulariza.

Comecemos pelos traços presentes no canto místico cardenaliano. O primeiro ponto que merece destaque é o “tema religioso” o qual, segundo nos afirma Sylma Gonzáles, é perceptível em seus textos, “há uma espiritualidade que ultrapassa a religiosidade tradicional” (GONZÁLES, 2002, p. 70).

Outras peculiaridades, se compararmos a escrita do místico nicaraguense em questão à de outros místicos, são o exteriorismo e o uso de imagens eróticas mais agressivas, como podemos perceber no seguinte poema de Telescopio en la noche oscura:

Cuando aquele mediodía del 02 de junio, un sábado,
Somoza García pasó como rayo por la Avenida
Roosevelt
sonando todas las bocinas para espantar el tráfico,
en ese mismo instante, igual que su triunfal caravana
así triunfal tú también entraste de pronto dentro de

y mi almita indefensa querendo tapar sus vergüenzas.
Fue casi violación,
pero consentida,
no podia ser de outro modo,
y aquella invasión del placer
hasta casi morir,
y decir: ya no más
que me matás.
Tanto placer que produce tanto dolor.
Como una espécie de penetración.
(CARDENAL, 1993, p. 67-68)

Há uma nítida aproximação, no campo da linguagem, entre a penetração de Deus na alma e um ato sexual humano, com os sentimentos e os sentidos nela envolvidos. Nesse poema, exemplificamos esses elementos quando o eu-lírico mostra a timidez ao se expor (“y mi almita indefesa querendo tapar sus vergüenzas”), quando deixa o leitor perceber a experimentação do grande prazer vivido durante esse ato (“y aquella invasión del placer/ hasta casi morir”), quando aponta ao leitor que sentiu um misto de prazer e dor (“Tanto placer que produce tanto dolor”) e ao comparar a entrada do Uno em sua alma como uma penetração em si (“Como una espécie de penetración”). Isso confirma o que Gonzáles diz em seu livro já referenciado nesse trabalho.

Imagens com semelhante força, no que concernem ao erotismo, marcam outros livros, como Cántico Cósmico.

Yo tuve una cosa con él y no es un concepto.
Su rostro en mi rostro
y ya cada uno no dos
sino un solo rostro.
Cuando exclamé aquella vez
Vos sos Dios.
[...]
Oh dos nadas del todo desnudadas
el todo con la nada
una nada en su todo desnudadas
el todo con la nada
una nada en su todo transformada
quedeme y olvideme
dejando mi passado
entre los cuasares olvidado.
Se siente
y no se siente
se siente
pero es como que no se siente
o en verdade es que no se siente.
Algo dentro de mí, no en mi cuerpo sino más adentro
Es abrasado, abraza y es abrasado,
unidos habiendo de algún modo dos en uno, dos uno,
goce del outro goce, los dos goces uno
Sin que nada se sienta sensiblemente conste:
es como que he abrasado la noche
negra y vacía
y estoy vacío de todo
y nada quiero
es como si me hubiera penetrado
la Nada.
(CARDENAL, 2012, p. 385-387)

Nesse poema, observamos, além das construções imagéticas ligadas ao erotismo, a materialidade das imagens, o quanto elas são concretas, influência do exteriorismo cardenaliano. Não é por acaso que o autor menciona que “Yo tuve una cosa con él y no es un concepto”. Além disso, as consequências para quem vive o êxtase místico também são apresentadas nesse texto: a união mística (“unidos habiendo de algún modo dos en uno, dos uno”), o esvaziamento de tudo e a sensação de saciedade uma vez que fora possuído pelo Nada (“y estoy vacío de todo/ y nada quiero / és como si me hubiera penetrado /la Nada”). É o sagrado mostrando a Cardenal que o habita por dentro.

Em todos esses textos, percebemos a aproximação entre o vocabulário erótico e a linguagem mística, em seu lirismo, em suas imagens sensuais e também em seus paradoxos. No poema anterior, por exemplo, há os versos “Se siente / y no se siente” os quais bem exemplificam essa figura de linguagem. Essas construções ocorrem porque o vocabulário humano, como já dissemos, não dá conta de explicar “a intimidade com o infinito”.

No que concerne a Cántico Cósmico e, por extensão, aos demais livros do poeta que tratam da “mística cósmica” é

fundamental, no discurso místico cardenaliano, sua afinidade com as ideias evolucionistas do sacerdote-cientista francês Pierre Teillard de Chardin e do monge trapista Thomas Merton. [...] Chardin intentou esboçar um esquema provisional de uma síntese segundo a qual deviam integrar-se o Evangelho Cristão e a consciência evolutiva do homem moderno. (GONZÁLES, 2002, p.71- tradução e destaque nossos).

Para Chardin, a mais poderosa força do universo é o amor. Essa ideia é aproveitada e aplicada por Cardenal em vários de seus livros dentre os quais está Así en la tierra como en el cielo, o qual começaremos a analisar para reafirmar o que Cardenal afirma em alguns de seus livros: o que nos rodeia por fora nos preenche por dentro.

Así en la tierra como en el cielo: um canto místico em prol dos habitantes do cosmos em direção a Deus

Antes de iniciarmos a análise dessa obra, é necessário citarmos mais uma vez Sylma Gonzáles a fim de esclarecermos a opção de Cardenal pelo trabalho com uma “mística cósmica”. Segundo essa cientista,

o pensamento teillardiano passa por um processo de evolução na obra cardenaliana, já que, em Cântico Cósmico [e também em Así en la tierra como en el cielo], adverte que aquele amor do qual participava todo o universo [...] se transformou, ou melhor dizendo, transcendeu em amor à humanidade. (GONZÁLES, 2002, p. 71-72 – tradução nossa)

Mencionadas essas palavras, podemos afirmar que o último livro de Cardenal é um canto de reafirmação da força criadora e recriadora do Amor, de um Amor que nos envolve, como já dissemos, por fora e nos habita por dentro. Isso ocorre porque, no poema, Ernesto faz uso dos elementos que compõem os muitos universos conhecidos para mostrar fazermos, todos, parte de um conjunto que, unidos pelo amor, nos permite vislumbrar a face do Criador.

Na obra Versos do Pluriverso, há um trecho que define a mística cardenaliana. Segundo esse, mística é “Esse antiguo dialogo con la eternidade / y con lo cotidiano” (CARDENAL, 2005, p. 69). Para costurar esses elementos, o poeta nicaraguense incorpora as linguagens das ciências exatas, das narrativas mitológica e as do cotidiano. Conforme nos afirma Luce Lopez-Baralt, na introdução do livro de Sylma Gonzáles

Cardenal pondera sobre o mistério último das estrelas, de cujos elementos constitutivos somos feitos, assim como as partículas subatômicas, possíveis chaves que o ajudariam a entender o cosmo [e] planeja suas perguntas ontológicas com a linguagem da física quântica, da astrofísica e o evolucionismo darwiniano. [assim, ] as teorias de Einstein [e de Eddington], de Neils Bohr e de Darwin estão agora a serviço do discurso místico. Não é pouco. (2002, p.13 – tradução nossa)

Pensando nessa nova linguagem utilizada e nos teóricos em questão, podemos exemplificar tais ocorrências em diversos versos dessa última publicação de Cardenal, como nos seguintes:

El tempo en una sola dirección
del passado caliente al futuro frio
la segunda ley de la Termodinámica
es que todo tiene que morir
extraño que sea segunda de algo
suprema ley le llamó Eddington
(CARDENAL, 2018, p. 9)

Nesse trecho do poema, podemos dizer que o místico nicaraguense em questão revisita teorias da Física, como a segunda Lei da Termodinâmica, para explicar que o mundo caminha em direção ao frio, associando essa temperatura à morte. Isso porque tal lei preconiza que o calor flui espontaneamente de um corpo quente para um corpo frio até que ocorra um equilíbrio térmico; porém, nessa transferência sempre há perda de energia. Assim, o calor, pouco a pouco, vai se dissipando (“segunda Lei da Termodinâmica” in: http//www.if.ufrgs.br. Acesso em 26/07/2018).

Esse trecho remete-nos ainda à ideia de morte, a qual é vista, para Cardenal, não como um fim, mas como porta de entrada para algo novo, para um novo reino, no qual não haverá mais entropia.

Mas qual será a mensagem que Ernesto quer nos deixar com a publicação de Así en la tierra como en el cielo? Luce Lopez-Baralt, em El Cántico místico de Ernesto Cardenal, escreveu que “o misticismo de Cardenal é unitário: o cosmos está em prazerosa interdependência, e todo o sagrado nele” (LÓPEZ-BARALT, 2012, p. 62 – tradução nossa). Analisando o poema em questão, percebemos que essas palavras de López-Baralt estabelecem um perfeito diálogo com o texto. A voz que fala nesse último livro de Cardenal apresenta-nos imagens bastante interessantes concernentes a essa interdependência. Ele começa relatando que “parece que el universo tuvo un propósito (CARDENAL, 2018, p.1). Em seguida, escreve que

el universo consciente de sí mismo:
polvo de estrelas que puede en la noche
mirar las estrelas
nacidos de explosión de supernovas
hijos de Sol y del Sistema Solar”
(CARDENAL, 2018, p. 1)

Além disso, apresenta a ideia de que nós somos estrelas que se admiram. Essa ideia de fazermos parte de um todo é revisitada em outras partes do poema. Em um trecho chega a dizer que Jesus também é pó de estrelas, mostrando a humanidade do filho de Deus:

Junto con nosotros
y con Jesús en la misma evolución
aprendió a hablar y caminhar como nosotros
el carbón de su cuerpo es de las estrellas
polvo de estrellas también él.
(CARDENAL, 2018, p. 8)

Isso faz parte da ideia defendida por Cardenal de que todos nós, juntos, formamos a unidade que nos permite vislumbrar a face do Uno. Essa tese é apresentada no poema nos seguintes versos:

La explicación de por que hay universo
o no hay explicación
evolución consciente de sí misma
y humanidade creciendo hacia Dios
con una innata tendência a la unidad
a la agrupación de la humanidade
[...]
todos nacidos de dos
creados por el Amor
no están arriba las estrellas
ellas son átomos como nosotros
nacidos de polvo de estrellas
(CARDENAL, 2018, p. 8 e 9)

O título do livro também, ao retomar um trecho da oração Cristã “Pai Nosso”, mostra que “Así en la tierra como en el cielo” essa é a verdade: “como em uma obra de arte se reflete a alma do artista que a criou, assim também na mais íntima estrutura das coisas se reflete Deus” (CARDENAL, 1979, p. 115).

Se somos reflexos do Criador e compomos o universo ou os “multiversos”, como afirma Cardenal, qual seria o propósito do universo? Segundo o poeta, no livro objeto desse trabalho, a razão do universo existir é o amor de Deus: “O Dios nos amó / por lo que hay universo” (CARDENAL, 2018, p. 2). Se o universo é fruto de um ato de amor, nós, humanos que dele participamos, também somos frutos desse amor e somos “nosotros consciencia del universo/ debiendo completar el universo /aunque somos incompletos todavia” (CARDENAL, 2018, p. 4). Assim, somos – animais e minerais - criações do Amor, de um Ser que tanto nos amou que se fez “Dios humano y humano Dios” (CARDENAL, 2018, p. 4) para tudo conectar e tudo unificar.

Nessa obra, o poeta faz-nos ver que, se juntos espelhamos o Criador, somos “espécies de relação”, e, portanto,

Nada existe solo
ser es ser unido
ser es ser con outro
todos conectados con todo
y nada está desconectado
todos los seres vivos emparentados
(CARDENAL, 2018, p. 2 e 3)

Se somos membros de uma grande família cósmica, é mister que percebamos que “El universo no es solo para el hombre/ y la Buena Nueva es para toda la creación (CARDENAL, 2018, p. 4), para todos os seres, conforme já dissemos. Dessa maneira, “debíamos hacer algo bello en el cosmos / reconstruir el paraíso / hasta donde sea posible / y la meta es la igualdad” (CARDENAL, 2018, p. 5 e 6 – destaque nosso). E o sonho de Deus é que “no haya pobre entre ustedes”. Isso justifica a luta por igualdade e pela extinção da pobreza ser uma constante tanto na vida, quanto na obra de nosso poeta místico.

Foi essa luta em prol das “milícias do não”, motivada por essa noção de que, se refletimos o Criador, não devem existir diferenças entre nós, o fator motivador para Cardenal escrever muitos de seus livros, como por exemplo o livro Salmos. Nele, o poeta mostra a real face do opressor e dá-nos uma amostra do quanto a violência está presente no mundo atual. Os versos a seguir, do Salmo 5, exemplificam isso:

[...]
Escucha mi protesta
Porque no eres tú un Dios amigo de los dictadores
ni partidário de su política
[...]
Hablan de paz en las Conferencias de Paz
y en secreto se preparan para la guerra
[...]
Hablan con las bocas de las ametralladoras
Sus lenguas relucientes
Son las bayonetas...
(CARDENAL, 1978, p.91 e 92)

Em um de seus últimos livros, Cántico Cósmico, reitera a ideia de que é preciso lutar contra aquilo que impede a união de todas as partes que compõem o todo

La liberación no sólo la ansiaban los humanos.
Toda la ecología gemía. La revolución
es también de lagos, ríos, árboles, animales.
(CARDENAL, 2012, p. 142)

Em seu último livro, reitera a ideia do sofrimento cósmico em versos como “el mundo enterro con gritos de parto”. Cabe salientarmos a beleza dessa imagem, pois o parto é sim uma dor, mas é uma dor que precede o nascimento, é, portanto, o anúncio de uma nova vida. Assim, esses versos parecem mostrar que, após o sofrimento, algo novo nos espera, revitalizando nossas esperanças.

Apresenta, ainda nessa obra, a solução para aplacarmos as dores do cosmos. Essa solução passa por atendermos ao desejo de Deus, o qual “nos quiere en un mundo diferente / sin los pecados de la desigualdade / los ricos más ricos y los pobres más pobres / donde nadie domine a nadie / todo de todos” (CARDENAL, 2018, p. 5).

Objetivando mostrar o caminho para se vencer a desigualdade e a dominação de poucos sobre muito, Cardenal evoca, com frequência, a figura de Jesus. Em Cántico Cósmico, por exemplo, mostra um Jesus revolucionário que disse a Pilatos “mi sociedad no es de este Establishment” (CARDENAL, 2012, p.198), numa clara linguagem irônica própria do modernista. Em Así en la tierra como en el cielo, Jesus é a luz – “’yo soy la luz’ dijo Jesús / luz y comida / y la luz hecha sándwich y hecha vino” (CARDENAL, 2018, p. 3).

Mostra-nos ainda que estamos destinados à ressurreição – “y la resurrección nuestro futuro / todos juntos en el centro del cosmos” (CARDENAL, 2018, p. 5) – que a meta final dos habitantes do cosmos é “que la tierra se cubra de igualdad / igualdad que es como Dios” (CARDENAL, 2018, p. 6)

Cardenal recorre à linguagem da ciência para mostrar que todos falam a mesma coisa, cada um usando um vocabulário diverso – fator que nos diferencia. Aquilo que o cientista busca provar é o que o místico sempre soube: somos espécie de relação e não há contorno que separa o humano do restante do cosmos. Esses limites são criações da mente humana que ainda não “abriu os olhos”, não enxergou que “Todo se interpenetra con todo” (CARDENAL, 2005, p.15). E, se tudo está conectado e é parte de tudo, “materia viva y no viva son lo mismo / como también no hay vacío / y todo el universo es energia/ que a veces toma forma de materia” (CARDENAL, 2005, p.15).

Entendendo isso, o homem compreenderá também que “El Reino de los Cielos es biológico” (CARDENAL, 2005, p. 14), uma vez que há “millones de galáxias en el universo / con la misma composición de nosotros” (CARDENAL, 2018, p. 3). Desse modo, “desde la humilde quark a la galáxia /la matéria [es] en evolución hacia Dios” (CARDENAL, 2018, p. 3).

Se vislumbramos essa evolução para Deus, percebemos também que tudo o que foi criado é “sino el romance de Dios con nosotros” (CARDENAL, 2018, p. 4). De um Deus amoroso que faz amor com o cosmos, que se permite ser um pouco menos, para sermos um pouco mais, um ser o qual entende que tudo tende à unificação e está consciente que o sexo “es el grito de que estamos incompletos” (CARDENAL, 2018, p. 5), porque, mais uma vez recordamos, Ele criou os beijos, as carícias e o sexo.

Assim, somos parte de um todo e entoamos, com esse todo, uma oração de união com o Criador. Essa união só não se faz completa, segundo o poeta, porque “Entre Tu e eu há um eu que me atormenta” (CARDENAL, 2012, p. 386).

Cardenal reafirma, nesse último livro, que

Dios es necessariamente más de uno
Porque es Amor
Es dos y es tres
Dios Amor no es motor inmóvil
Sino cambio y evolución
(CARDENAL, 2018, p. 7)

E estamos todos em “evolução para Deus”. Assim como surgimos de “un dia sin ayer” (CARDENAL, 2018, p. 8), de uma explosão, o Big Bang, para evoluirmos, teremos, conforme já mencionamos, que morrer. O sacrifício das estrelas, sua explosão, “ensina-nos a morrer” (CARDENAL, 2018, p. 9).

É fato que morreremos; todavia, o poeta afirma-nos que “La muerte es real / pero no definitiva” (CARDENAL, 2018, p. 10). Além disso, “no volverá todo al vácio del que vino / Hará una creación nueva [...] em um perpetuo hoy / transformados por el Amor” (CARDENAL, 2018, p. 12).

O poeta nicaraguense termina seu canto apresentando a história de uma Santa que, após toda uma vida esperando uma nova criação, viveu a tentação de duvidar da existência de Deus e superou-a, dizendo: “aunque no existas yo te amo” (CARDENAL, 2018, p. 12). Isso é mística: amá-Lo mesmo não tendo certeza de que existe, mas percebendo a sua presença na criação que nos envolve e da qual fazemos parte.

CONCLUSÃO

Parece que toda a obra de Cardenal é pautada em um buscar a Deus em todas as coisas, na natureza, nos homens; enfim, em todas as criaturas que formam, juntas, o cosmos. Para esse místico, é possível achar Deus na flor que desabrocha, “nos vazios espaços interestelares”, naqueles que fazem sofrer, naqueles que aliviam a dor, no sorriso da “muchacha”. Segundo ele, há “nesse universo um único ritmo da gravitação universal, que é a força de uma coesão de matéria caótica e a que une as moléculas e faz com que umas partículas de matéria se reúnam em um ponto determinado do universo e que as estrelas sejam estrelas, e esse é o ritmo do amor” (CARDENAL, 1979, p. 22).

Assim, todos somos “espécie de relação”, pois fazemos parte de uma coisa só, e o elo que nos une é o amor, um amor que nos conduz ao amado, Deus, um Ser que nos habita por dentro e nos rodea por fora e, em “sua direção, movem-se todos os astros, e a expansão do universo é um ir até Ele de onde saíram todos os astros e de onde saiu o primeiro gás original, que somente n’Ele descansará o universo” (CARDENAL, 1979, p. 23).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

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Notas

[1]Neste trabalho, utilizamos, nos textos em prosa, traduções. Ou são traduções feitas por Thiago de Mello – é o caso de Vida no Amor - ou foram traduções nossas. Quanto aos poemas, optamos por deixá-los, no texto, na versão original, a fim de manter a sonoridade e o ritmo.